23 novembro 2010

O MEU PAÍS

 
Dentro da minha cabeça
Tenho uma caixa de lápis de cor

Com que pinto os sonhos.

Neste

Pego no lápis castanho escuro

E pinto duas muanhas altivas

Que passavam perto de mim.

Dou-lhes mais um pequeno toque

Para que se veja o andar

Que só as gentes do sul têm

E que nós tão bem conhecemos

E para podermos ouvir

Os chocalhos amarrados na canela.

Peguei nos verdes, ah os verdes

E tive que usar todos os tons

Para pintar as matas densas

Passei levemente por cima

O lápis cinzento

Como esquecer-me dos cacimbos

Que tantas vezes me arrepiaram a pele?

Lá ao longe dois morros de basalto

Cortam o horizonte da savana

Pinto-os com o lápis preto.

Com o lápis amarelo dourado

Pinto a imensa anhara

Onde tantas vezes me perdi

E me encontrei.

No meu sonho tinha chovido

Uma chuva bravia, poderosa

Desenhando alinhavos no pano da tarde

E cheirava intensamente

Aquele cheiro da terra depois da chuva

Não o pintei, não consegui

Afinal

De que cor se pinta o cio da terra?

Com o lápis vermelho

Pintei o sol enorme de fim de tarde

E vi no mar

Aquele imenso rasto de sangue

Por fim, com o lápis azul

Sempre o lápis azul

Coloquei no canto direito

A minha assinatura

Esperando, ansiando

Que gostem deste sonho.

Não o vendo, apenas o ofereço

Afinal,

Que preço pode ter um país?
Henrique Faria

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