05 novembro 2011

A RELÍQUIA , por Fernanda Valadas

A RELÍQUIA
(Juro que nao vou plagiar o nosso Eca de Queiroz)
Fevereiro de 1965, quadra antecedente ao Carnaval, o que equivale a dizer que estávamos em plena fase dos assaltos. A "malta" do Instituto, incluindo os professores, combinaram um assalto a casa do Insp. Marques Monteiro. Ficou tudo organizado antecipadamente. As mulheres levavam os "comes" e os homens os "bebes" (não sei se ainda se usam estes termos, mas no meu tempo era assim), o Alexandre Fonseca iria buscar as raparigas na sua carrinha Chevrolet, verde. Chegou o dia e a azafama foi grande já que tínhamos de providenciar os "comes" ,as fantasias e as mascaras. As 20,30h o Alexandre passou por minha casa, já com a Tucha e Anabela Espinha e dirigimo-nos para a casa da Palmira e Olga Santos, em frente ao Clube Recreativo. Aí, estava um grupo grande de rapazes que aproveitaram a boleia e de imediato subiram para a carrinha. Ficamos a espera da Olga e da Palmira, e como elas estavam a demorar muito, eu, a Tucha e Anabela resolvemos descer e ir ver o que se passava. A Palmira andava feita "barata tonta" a ultimar os preparativos com um semblante fechado e com a mãe D. Felismina seguindo-lhe os passos com uma recomendação: -Mirinha, tem cuidado com o prato! É muito antigo. Era da minha mãe! Acreditem que esta recomendação era tão repetitiva que mais parecia um disco rachado e cuja agulha não saia do mesmo lugar. A Palmira, já saturada, respondia: -Esta bem , mãe! Eu já ouvi isso! Esteja descansada que eu trago-lhe o prato. Ela la se despachou e saiu com o dito prato na mao, com um guloso e apetitoso pudim de leite condensado (convém explicar aos mais novos que naquele tempo nao existiam , nem sacos plasticos, nem de viagem onde se pudessem acondicionar as coisas). Todos levavam as maos ocupadas. Ja eatavamos a arrancar e ainda ouvimos a D. Felismina dizer:-Mirinha, cuidado com o prato A carroceria da carrinha estava super-lotada e todos de pe e encostados uns nos outros la nos iamos equilibrando. O Alexandre, sempre com aquele espirito brincalhao e jovial, arrancou da casa da Palmira com uma velocidade, um tudo ou nada, excessiva. A proxima paragem era na casa da Cidalia, mais ou menos em frente a loja do Sr Pereira de Lemos e Parque Infantil. Ao chegar a casa da Cidalia, o Alexandre em vez de reduzir gradualmente a velocidade fez uma travagem brusca. Resultado: fomos todos jogados para a frente e o que levavamos nas maos estatelou-se no "chao" da carroceria. Foi uma algazarra, uma gargalhada geral, uma alegria. Mas... no meio de toda aquela algazarra, começou-se a ouvir alguem a chorar e em panico dizia: -Ai o prato!!! Ai a minha mae! O que e que eu lhe vou dizer?!!! O que e que eu faço?!!! O que vai se de mim?!!!Ela avisou-me tantas vezes para ter cuidado!... Quando nos apercebemos estava o prato estatelado no "chão" todo em pedaços e o pudim todo espapacado. Nos, naquela euforia dos nossos 15 anos, nao compreendemos o dilema da Palmira e respondiamos: -O prato e o menos, pena e o pudim tao bom que se perdeu! La fomos para o assalto onde eu e todos os outros nos divertimos imenso ate altas horas da noite. So a Palmira nao  desfrutou dessa alegria e sempre com um ar muito preocupado, volta que nao volta, punha a mao na testa e murmurava: -Ai a minha mae. O que e que eu lhe vou dizer?Eu nao tenho coragem e nem quero pensar! Quando a festa terminou, cada um recolheu os seus haveres e fomos para casa. No dia seguinte todos estavamos curiosos para saber como a Palmira se tinha saido com a mae. Pois é, a Palmira pregou uma mentirinha a mae dizendo que tinhamos de ir limpar a casa do Insp. Marques Monteiro e entao nessa altura traria o prato. Como acabou esta estoria, sinceramente ja nao me recordo, mas acredito que nao foi muito facil a Palmira enfrentar a verdade perante a mae. Alo Palmira, um grande abraco.

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Luís Monteiro Caro Ruca, como calculas li com emoção a tua relíquia uma vez que destino da tão falada relíquia (prato antigo) era a casa do meu pai. Nessa altura devia eu estar na Escola de Oficiais em Mafra e longe dos "assaltos" da tão alegre e tropical Angola (vim depois como alferes para N.Lisboa). Penso que também estaria lá a minha irmã Teresa e o meu irmão mais novo Carlos. Beijão a todos e avisem-me do próximo assalto.

1 comentário:

Luís Monteiro disse...

aststCaro Ruca, como calculas li com emoção a tua relíquia uma vez que destino da tão falada relíquia (prato antigo) era a casa do meu pai. Nessa altura devia eu estar na Escola de Oficiais em Mafra e longe dos "assaltos" da tão alegre e tropical Angola (vim depois como alferes para N.Lisboa). Penso que também estaria lá a minha irmã Teresa e o meu irmão mais novo Carlos. Beijão a todos e avisem-me do próximo assalto.
Luís Monteiro