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05 novembro 2011

A RELÍQUIA , por Fernanda Valadas

A RELÍQUIA
(Juro que nao vou plagiar o nosso Eca de Queiroz)
Fevereiro de 1965, quadra antecedente ao Carnaval, o que equivale a dizer que estávamos em plena fase dos assaltos. A "malta" do Instituto, incluindo os professores, combinaram um assalto a casa do Insp. Marques Monteiro. Ficou tudo organizado antecipadamente. As mulheres levavam os "comes" e os homens os "bebes" (não sei se ainda se usam estes termos, mas no meu tempo era assim), o Alexandre Fonseca iria buscar as raparigas na sua carrinha Chevrolet, verde. Chegou o dia e a azafama foi grande já que tínhamos de providenciar os "comes" ,as fantasias e as mascaras. As 20,30h o Alexandre passou por minha casa, já com a Tucha e Anabela Espinha e dirigimo-nos para a casa da Palmira e Olga Santos, em frente ao Clube Recreativo. Aí, estava um grupo grande de rapazes que aproveitaram a boleia e de imediato subiram para a carrinha. Ficamos a espera da Olga e da Palmira, e como elas estavam a demorar muito, eu, a Tucha e Anabela resolvemos descer e ir ver o que se passava. A Palmira andava feita "barata tonta" a ultimar os preparativos com um semblante fechado e com a mãe D. Felismina seguindo-lhe os passos com uma recomendação: -Mirinha, tem cuidado com o prato! É muito antigo. Era da minha mãe! Acreditem que esta recomendação era tão repetitiva que mais parecia um disco rachado e cuja agulha não saia do mesmo lugar. A Palmira, já saturada, respondia: -Esta bem , mãe! Eu já ouvi isso! Esteja descansada que eu trago-lhe o prato. Ela la se despachou e saiu com o dito prato na mao, com um guloso e apetitoso pudim de leite condensado (convém explicar aos mais novos que naquele tempo nao existiam , nem sacos plasticos, nem de viagem onde se pudessem acondicionar as coisas). Todos levavam as maos ocupadas. Ja eatavamos a arrancar e ainda ouvimos a D. Felismina dizer:-Mirinha, cuidado com o prato A carroceria da carrinha estava super-lotada e todos de pe e encostados uns nos outros la nos iamos equilibrando. O Alexandre, sempre com aquele espirito brincalhao e jovial, arrancou da casa da Palmira com uma velocidade, um tudo ou nada, excessiva. A proxima paragem era na casa da Cidalia, mais ou menos em frente a loja do Sr Pereira de Lemos e Parque Infantil. Ao chegar a casa da Cidalia, o Alexandre em vez de reduzir gradualmente a velocidade fez uma travagem brusca. Resultado: fomos todos jogados para a frente e o que levavamos nas maos estatelou-se no "chao" da carroceria. Foi uma algazarra, uma gargalhada geral, uma alegria. Mas... no meio de toda aquela algazarra, começou-se a ouvir alguem a chorar e em panico dizia: -Ai o prato!!! Ai a minha mae! O que e que eu lhe vou dizer?!!! O que e que eu faço?!!! O que vai se de mim?!!!Ela avisou-me tantas vezes para ter cuidado!... Quando nos apercebemos estava o prato estatelado no "chão" todo em pedaços e o pudim todo espapacado. Nos, naquela euforia dos nossos 15 anos, nao compreendemos o dilema da Palmira e respondiamos: -O prato e o menos, pena e o pudim tao bom que se perdeu! La fomos para o assalto onde eu e todos os outros nos divertimos imenso ate altas horas da noite. So a Palmira nao  desfrutou dessa alegria e sempre com um ar muito preocupado, volta que nao volta, punha a mao na testa e murmurava: -Ai a minha mae. O que e que eu lhe vou dizer?Eu nao tenho coragem e nem quero pensar! Quando a festa terminou, cada um recolheu os seus haveres e fomos para casa. No dia seguinte todos estavamos curiosos para saber como a Palmira se tinha saido com a mae. Pois é, a Palmira pregou uma mentirinha a mae dizendo que tinhamos de ir limpar a casa do Insp. Marques Monteiro e entao nessa altura traria o prato. Como acabou esta estoria, sinceramente ja nao me recordo, mas acredito que nao foi muito facil a Palmira enfrentar a verdade perante a mae. Alo Palmira, um grande abraco.

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Luís Monteiro Caro Ruca, como calculas li com emoção a tua relíquia uma vez que destino da tão falada relíquia (prato antigo) era a casa do meu pai. Nessa altura devia eu estar na Escola de Oficiais em Mafra e longe dos "assaltos" da tão alegre e tropical Angola (vim depois como alferes para N.Lisboa). Penso que também estaria lá a minha irmã Teresa e o meu irmão mais novo Carlos. Beijão a todos e avisem-me do próximo assalto.

23 outubro 2011

RECORDAÇÕES DOS BONS VELHOS TEMPOS NO CUBAL, por Fernanda Valadas


 Clube Beneficente e Recreativo do Cubal
Tema:- Cinema e seus envolvimentos
1ªParte
Anos 50/60

ÀS 4ªs e sábados todas as tardes uma carrinha com uma grande campânula percorria as ruas do Cubal anunciando o filme da noite, através da voz do Bibito Guerra, acompanhado dos últimos sucessos musicais da época, rock and roll.
Após o almoço, era grande a azáfama em minha casa, já que éramos uma família grande e tínhamos de cuidar das toilettes. Passava-se a roupa a ferro (de carvão), punha-se goma nos saiotes e laçarotes (água com farinha de trigo), engraxavam-se os sapatos (de verniz com azeite e os brancos com Blanco), vincavam-se as calças do meu pai e irmãos, punham-se as palhetas nos colarinhos das camisas, limpavam-se os casacos de fazenda com café. Depois de tudo pronto, estendiam-se as roupas nas camas respectivas para serem usadas na devida altura.
Jantava-se mais cedo e depois, cada um ia preparar-se para a grande sessão.
Eu e a Anita éramos despachadas em primeiro lugar. As minhas irmãs Olga e Lisete penteavam-nos e punham-nos uns laçarotes no cabelo com 6 ou 7 cm de largura, cheios de goma que na cabeça mais pareciam umas borboletas gigantes. Diga-se de passagem, que nunca gostei muito desses atavios, mas, naquele tempo, o regime era: come e cala!
A Olga e a Lisete levavam mais tempo nos seus preparativos. Ripavam o cabelo para poderem fazer grandes poupas e para isso usavam água e limão para as mesmas ficarem bem firmes. Punham pó de arroz, rouge, creme Pound's, batom e no fim o perfume muito em voga, Tabu.
Tudo pronto, havia ainda que por uns cintos muitos largos que eram apertados ao máximo para fazerem uma cinturinha o mais estreita possível.
Todos estes preparativos levavam o seu tempo e o meu pai impaciente a espera no portão.
A sessão começava as 21 horas, ia-se sempre com antecedência por causa das praxes.

Quando se chegava ao clube, já os rapazes estavam no cimo da escadaria em alegres cavaqueiras, mas sempre atentos a chegada das suas eleitas. Naquele tempo, um a simples troca de olhares era uma grande emoção e felicidade.
Os homens levavam as mulheres aos seus lugares dentro da sala, sem que antes o Alexandrino cortasse os bilhetes, saiam e iam para o salão jogar bilhar, "ping pong", beber uma cerveja ou fumar. As senhoras, dentro da sala, saiam dos seus lugares e iam ter umas com as outras e aproveitavam aquele tempinho para porem a conversa em dia.
Nós, as crianças, entravamos com os nossos pais, mas depressa nos escapávamos e íamos para fora jogar as escondidas ou ao "canhe", ou então andar num celebre baloiço que o Zé Lemos tinha feito numa acácia em frente ao clube.

Às 21 horas começava a sessão.

2ª Parte
O CINEMA

Tal como o meu pai, havia um certo número de pessoas que tinham lugar cativo, o que equivale a dizer que existiam um determinado grupo de crianças e jovens que marcavam presença em todas as sessões. Crianças até 12 anos não pagavam" bilhete".
Vou fazer uso da minha memória fim de enumerar o nome das crianças que, salvo raras excepções, não faltavam a uma sessão.
Anabela e Zé Simões, Graça Gouveia, Dália Botelho, Olga Santos, Palmira, Maria Sampaio, Céu Canais, Ana Maria Paulista, Gaby Ferreira, Teresa Mota, Anita e Nanda Valadas, Henrique Faria, Carlos e Silvério Falcão, Zé e Quim Queirós, Zé Lemos, Chico Valadas, Hernâni Cabral, Fernando Alexandre, Luís e Cabolas, Vítor (hotel) e Vítor (algarvio), Canais, Armando Ferreira, Necas e Carlos Abreu, e… outros mais que não recordo de momento.
A sala era composta por cadeiras de madeira todas ligadas umas as outras e a frente duas idas de bancos corridos de cada lado da coxia. O lado direito era destinado aos rapazes e o esquerdo as raparigas - não haviam misturas, homens eram homens e mulheres eram mulheres- cada um no seu canto...
Naquele tempo, as habituais tinham o seu lugar marcado e se a sala ficava superlotada, os não habituais
Sentavam-se no chão, onde por sinal dormiam grandes sonecas por não estarem habituados aquela rotina.
A sessão abria com "bonecos animados", O Sr. Pitosga, Tom e Jerry, Bugs Bunny, para nossa tristeza eram apenas 5 ou 10 minutos. Seguidamente vinha um documentário, umas vezes interessante, outros aborrecidos, para nas crianças, claro!
Completo delírio eram os três estarolas. Ai sim! Toda a sala vibrava com gargalhadas hilariantes.
Para nos, filmes bons, eram aqueles em que o "artista" matava todos e nunca morria, tais como: Índios e cow boys-Randolph Scott, John Wayne, Gary Cooper.Espadachins- Zorro, Errol Flyn, Tyrone Power.Tarzan, Cantinflas, Fernandel, Sissi e posteriormente filmes bíblicos, tais com Os 10 Mandamentos, Ben Hur,etc.. Quando o filme não nos interessava, tínhamos duas alternativas, ou dormíamos nos bancos ou íamos lá para fora brincar.

3ª Parte
O BALOIÇO

O Zé Lemos teve a ideia de fazer um baloiço numa acácia que havia em frente ao clube velho.
Só que não era um baloiço convencional, eu explico:
-Ele, Zé Lemos, arranjou duas cordas de sisal das mais grossas e amarrou-as a uma pernada da acácia a distância de 1,5/2 metros uma da outra. A fazer de assento, pôs um pau de bambu dos mais grossos. Como sabem o bambu tem uma superfície demasiado lisa, para além de ser cilíndrico.
Como já frisei anteriormente, nos intervalos dos filmes ou quando achávamos que o mesmo era um "barrete" íamos lá para fora brincar.
Naquele tempo a primazia era ainda das meninas e, como tal, nos éramos as primeiras a saltar para o baloiço e eles tratavam de nos empurrar. Até ai, tudo bem!
Conseguíamo-nos sentar cinco ou seis, tal era o comprimento do mesmo. As que ficavam nos extremos, agarravam-se as cordas, as outras agarravam-se umas as outras.
Quando nos começavam a empurrar e o balanço já era grande, ai começava o festival do desequilíbrio...as do meio escorregavam, agarravam-se as companheiras do lado que por sua vez também se desequilibravam e acabávamos por ficar penduradas pelas articulações das pernas, tipo trapezista, e com as mãos a segurar o pau de bambu, já que os nossos apoios dos lados não nos serviam de nada. Ficávamos com o rabo todo para baixo e os rapazes continuavam sempre a dar cada vez mais balanço e o resultado eram tombos valentes com algumas esfoladelas mas, nem isso nos fazia desistir, o que queríamos era andar.
Um certo dia, para grande tristeza de todos, o baloiço já lá não estava, foi retirado.
Pelo que vim a saber depois, começaram a surgir vozes de protesto de alguns pais, cujos filhos apareciam com arranhões e esfoladelas, portanto, era uma diversão perigosa.
Tiraram-nos uma das melhores diversões, hoje reconheço que com toda a razão, mas quando me recordo ainda sinto vontade de rir pelas situações cómicas que o dito baloiço nos proporcionava.

4ª Parte 

O DESAPARECIMENTO MISTERIOSO

Certo dia, o filme que projectavam era demasiado monótono, sem acção, compondo-se apenas de diálogos, e já se sabe, para crianças isso não dá!
Eu, a minha irmã Anita, a Anabela Simões, a Graça Gouveia e a Maria Sampaio, nesse dia, éramos as únicas meninas espectadoras, a sala estava vazia.
Após o 2 intervalo, e como o filme estava a ser um grande "barrete" para nos, uma a uma fomo-nos deitando nas fiadas das cadeiras e adormecemos profundamente.
O filme terminou e todo mundo saiu, incluindo os nossos pais pois não nos vendo nos bancos pensaram que estávamos lá fora a brincar como tantas vezes acontecia.
Ao chegarem lá fora, as meninas não estavam lá e então começaram a perguntar as pessoas que ali estavam, só que a resposta era negativa. Pergunta aqui, pergunta ali, começou-se a gerar pânico e como e natural, todo o mundo começou a procurar-nos a volta do clube. Chamavam por nós mas...qual quê? Lá dentro não se ouvia e nos estávamos na 3a dimensão do sono.
A certa altura a Maria Sampaio acordou e ficou espantada por sermos as únicas pessoas dentro do salão e estando o mesmo a media luz. Acordou-nos a todas e o nosso  espanto também era grande. Não compreendíamos nada do que se estava a passar!
As páginas tantas, surge a mãe da Graça Gouveia, lá em cima no palco, onde ficava a máquina de projectar e, mal nos viu, sem que nada nos dissesse, saiu a correr lá para fora. Ai, ainda ficamos mais confusas, mal sabendo nos que a senhora foi a correr avisar os outros do nosso aparecimento.
Tudo isto durou cerca de 30/40 minutos após o término do filme. Calculem a preocupação dos nossos pais.
Apesar de não termos cometido nenhuma falta, não nos foram poupados alguns ralhetes com a ameaça de que nunca mais nos levariam ao cinema.
Na próxima sessão lá estávamos de novo, pois tudo tinha sido esquecido

5ª e última Parte

UM SOM DESLOCADO

Grande concentração no filme. Sala cheia. Silencio absoluto.
Alguém, confiado no controlo dos seus gases intestinais, achou que podia dominar "aquele" que a viva força queria vir para a rua. Entreabriu-lhe a porta para que "ele" saísse silencioso. Mas...qual quê?
O dito cujo tinha estado tão oprimido, que, quando viu a porta da liberdade ali mesmo em frente, abriu as goelas e deu um berro tão alto que ecoou por toda a sala.
Gargalhada geral, risos convulsivos.
Houve-se uma voz:
-Oh Valadas, o que foi isso?!!!!
-Valadas:
-Oh Valentim, não tentes disfarçar!
Gargalhadas redobradas.
De repente, ouve-se lá atrás uma voz:
-Esse não pagou renda. Foi despejado!...
As gargalhadas subiram de tom. Já ninguém dava atenção ao filme.
Do lado de fora quase se jurava que se estava a assistir a uma comédia hilariante.
Ficou-se na dúvida. Quem foi o autor? Valadas ou Valentim?

Lá no assento eterno onde te encontras, perdoa-me meu pai, mas fiquei sempre com a desconfiança de que foste tu.

Termina aqui o ciclo do cinema e seus envolvimentos.


13 março 2011

TRAQUINICES DE INFÂNCIA, por Fernanda Valadas


Andava eu no 1º ano do ciclo, no colégio do Sr. Vítor, quando o Farinha nos disse que existia um enorme  enxame de abelhas  numa acácia amarela em frente a sua casa. Por sorte, ou azar, tivemos um "furo" de uma hora e como fiquei com a pulga atrás da orelha, convidei a Amélia Cravo para irmos ver o dito enxame.

A Amélia que era tão ou mais malandra que eu, embora não parecesse,  alinhou de imediato. Lá fomos as duas  até a árvore ver o enxame de tamanho descomunal.

Olhamos e remiramos aquele grande cacho de abelhas. De repente lembrei-me de apanhar umas pedras e comecei a atirar com o propósito de lhes acertar. A Amélia fez a mesma coisa e como a nossa pontaria não era ma  as abelhas iam-se espalhando e nos sempre insistindo! A certa altura, a pontaria foi tão certeira que metade do enxame se despegou e estatelou-se no chão. Missão cumprida. Eu e a Amélia fugimos e regressamos as aulas. Tudo  isto se passou na parte da manha, naquele tempo não tínhamos aulas a tarde.

Tudo esquecido! Não mais nos lembramos das abelhas. A minha irmã Olga fazia parte do coro da igreja e nesse dia tinha ensaio por volta das 16 horas e antes de sair de casa deu-me uma carta para eu por nos correios. Eu, para não ir a pé, esperei que o meu pai chegasse para ir de motorizada.

Para quem não saiba, os correios ficavam onde mais tarde se localizou o Bar Karivera.
Convidei a Elizete Mendes para ir comigo, ela encavalitou-se na motorizada e lá fomos as duas.

Subi pela rua da igreja e virei a esquerda, ou seja para o lado do quartel. A minha irmã e as colegas, ainda estavam a porta da igreja e quando ela me viu, acenou-me e dizia-me qualquer coisa que não percebi, mas entendi o gesto. Ela, fez o gesto de não, e apontou para o lado da casa Macaco. O que é que eu entendi, não vás por ai, vai pelo outro lado, da casa Macaco, claro!

Faço a inversão de marcha e vou para o lado que não devia. Nem sequer me lembrava do que tinha feito.
Entro na rua e quando já estava a meio, perto da casa do padre, começo a sentir pequenas partículas a baterem-me na cara e a agarrarem-se nos meus cabelos. Levanto o olhar e vejo milhares de abelhas no espaço. Paro a motorizada, pu-la no descanso, no meio da rua, e vá de correr ao mesmo tempo que tentava sacudir as abelhas do cabelo.
Na esquina  estava o Alexandre Fonseca, O Ramos do café e o Sr. Valente e eu naquela aflição e toda coberta de abelhas, pensando estar ali a minha tábua de salvação, corri para eles, mas, qual quê...em vez de me socorrerem fugiram a sete pés, eu levava o enxame atrás de mim. Eu tinha 11 anos e estava completamente desorientada e aqueles que me poderiam socorrer fugiram.
O Alexandre teve um rebate de consciência, voltou atrás e começou a ralhar com os outros dois.
Sem se chegar muito perto de mim, encaminhou-me para a oficina do Raul, mostrou-me uma torneira e mandou-me meter a cabeça debaixo da mesma e com todo o cuidado e a medo lá abriu a mesma.
As abelhas molhadas ficaram inofensivas, mas só eu sabia o quanto sentia as dores das dezenas de ferroadas.
Dei uma volta enorme para ir para casa e quando lá cheguei, estava a Elizete debulhada em lágrimas por ter sido picada num dedo da mão, uma única ferroada.
O meu pai quando me viu naquele estado, ficou alarmado, foi buscar o livro, "O Médico do Lar", e seguiu as instruções. Por cada ferrão tirado punha uma pedra de gelo. Por incrível que pareça foram-me retirados trinta e tal ferrões só no couro cabeludo e dezenas de abelhas agarradas ao cabelo.
Não fui ao médico, não tomei nada, só que andei bastante tempo sem poder tocar  em parte alguma do pescoço para cima, para além de um ligeiro inchaço.
Aprendi a lição e nunca mais na minha vida me meti com abelhas, onde as houver, eu passo ao largo.
Moral da estória: CÁ SE FAZEM, CÁ SE PAGAM!

12 março 2011

Recordando um grande cubalense: MANUEL VALENTIM


Hoje vou lembrar um cubalense, uma figura muito peculiar que animava os bailes do Cubal. Infelizmente já nos deixou fisicamente, mas estou em crer que todo o cubalense se recorda dele:

O Sr. Manuel Valentim

Vou recorda-lo numa faceta muito sua de ditar o quino (bingo).
Lembram-se como ele associava os números a pessoas, factos, animais, etc.?
Antes de ditar o número, ele dizia o significado a que ele nos tinha habituado  e toda a gente já sabia o número.

Será que ainda se lembram das conotações que ele dava a certos e determinados números?

Pois então, eu vou recorda-las com muita saudade.

          1 - o pilinhas
          5 - Cinqui (era o Sr. Zé ilhéu, que como madeirense dizia cinqui)
         11 - as pernas do Sr. Faria (carimbo) enfiadas nos botins
         13 - Nossa Senhora de Fátima
         15 - Quinzinho vem a mamã
         22 - dois patinhos
         33 - anos de Cristo
         44 - cacas las carracas (?) -nunca soube o que isto significa.
         55 - quinques berlinquinques (?)
         69 – p’ra cima e p'ra baixo
         77 - os dentes do  Chico feio
         90 - Nas ventas, ou então, a barriga do Fernandes (pai do saudoso Aníbal Fernandes).

Dá saudades, não dá?

Ele era um animador nato. Punha toda a gente a rir.
O Sr. Valentim para além de ser um animador no quino, era também um baterista sem igual.
Ele era o baterista da orquestra Aurora e era vê-lo a inventar batidas sobretudo nos passes dobles, aqueles pratos vibravam e a animação era grande.
Devemos recorda-lo com saudade, mas acima de tudo com muita alegria pelo privilegio de o termos tido como cubalense.

Fernanda Valadas
Imagem: Adaptada de imagens cedidas por Hernâni Cabral

01 março 2011

Memórias de uma infância e juventude plena, por Fernanda Valadas

Há anos que tento organizar a minha memória a fim de poder expor por escrito, retalhos da minha vida cubalense desde a infância a adolescência, e, acreditem, são tantas as histórias (estórias) e situações por que passei que me causam uma certa dificuldade na escolha.
 
Vou iniciar este ciclo falando de mim: 
-Quem não conhecia aquela   miúda "Maria Rapaz" que andava de calções, jogava a bola e hóquei em patins, andava de motorizada, brigava, e, sobretudo brincava de igual para igual com os rapazes e que sem saber já impunha o direito e igualdade dos sexos?
-Onde fui buscar inspiração para ter sido como fui? 
-Lembram-se dos livros da escritora britânica Enid Blyton?
-Lembram-se dos seus livros " As Aventuras dos Cinco"?  Comecei a ler esses livros quando andava na 3 classe, aos 8 anos de idade e quem mos emprestava era a Nazaré Miranda.
Eu lia e relia aquelas aventuras e... Como me faziam sonhar.
 A Zé era o meu ídolo e a personagem com a qual me identificava e foi a poder disso que tive uma infância e juventude recheadas de aventuras com situações caricatas, dramáticas, cómicas, de coragem, de perigo, de brigas, etc., etc., etc..
 
Poderia desde já começar a narrar essas situações, mas, vou guarda-las para mais tarde e poder assim recordar os grandes e bons velhos amigos que fui fazendo nessa época e que ainda hoje persistem no meu coração.
 
Quero agradecer a todos eles o facto de terem contribuído na formação do meu carácter e personalidade.
 
Da próxima vez começo a contar os flagrantes da minha vida.
 
Até lá,
Um grande abraço 
Fernanda Valadas

02 fevereiro 2011

Olá MÃE ANGOLA! (texto de Olga Valadas, escrito em 1993)

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Hoje dia 02 de Fevereiro, seria o aniversário da nossa saudosa Olga Valadas. 
Sua irmã Fernanda, envia-nos este belo texto pedindo que o mesmo seja partilhado através do nosso blogue.
Aqui fica a nossa homenagem. 

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Olá MÃE ANGOLA!

Digo apenas olá, para não deixar que em mim morra a ilusão de que foi ontem que nos despedimos num longo abraço, tão longo e apertado, que magoou nossos corpos e feriu nossas almas.
Não te pergunto como estás, porque sei que cada dia que passa te sentes mais fraca, mais combalida e mais agonizante. Sentes-te angustiada por veres correr no teu solo o sangue dos teus filhos que não te abandonaram e que continuam a lutar para te defender na esperança de que um dia, talvez não muito distante, possam conquistar a alegria e a paz, para poderem viver no ambiente de respeito e amor em que tu nos criaste.
Talvez tu, MÃE, nos julgues traidores por há dezoito anos termos sido obrigado a dizer-te adeus. Perdoa-nos MÃE, se inconscientemente te desiludimos, mas acredita: falando em mim, falo também por todos os teus filhos que hoje vivem errantes pelos quatro cantos do mundo.
Todas as noites no meu leito, deixo vaguear o meu pensamento e e com um sentimento misto de dor e alegria que recordo os momentos tão felizes que passei junto de ti, sempre protegida pelos teus braços vigorosos de imbondeiro.
De mãos dadas percorríamos os campos verdes onde os regatos de agua cristalina corriam livremente, saciando a sede dos homens e dos vários animais selvagens que contem a tua fauna.
Lembro-me tão bem, MÃE ANGOLA, quando me lavavas com mil cuidados nas tuas dambas, nos teus rios e depois me mostravas, orgulhosa, as cascatas e florestas em galeria... percorro mentalmente todo o teu corpo e em cada recanto descubro belezas inconfundíveis e incomparaveis, difíceis de descrever. Percorro as savanas onde tu tantas vezes subiste as árvores para colheres os seus frutos que me davas com tanta ternura e que eu saboreava com volúpia e avidez. A manga, o lohengo, o mamão, a goiaba e tantos outros cujo sabor, por vezes se mistura com o sabor salgado das minhas lágrimas.
Quando a tarde chega e o sol anuncia a sua partida, uma tristeza estranha invade todo o meu ser e recordo com intensidade as vezes que ambas, de cima de uma colina, víamos esse astro rei avermelhado e majestoso, esconder-se lentamente, por detrás das tuas florestas luxuriantes, ou então, por entre o cume das montanhas azuis, enquanto ouvíamos longínquos sons de cantares e batucadas ou ainda, o som grave e forte do rugido do leão; espectáculo maravilhoso digno de figurar na tela de um grande mestre e que todos os Homens deveriam ter o privilegio de ver, para que melhor pudessem amar e preservar o enorme paraíso que tu és.
Sei que choras neste momento, mas, MÃE ANGOLA, seca as tuas lágrimas. Se forte! Se sempre a MÃE coragem que os teus filhos conheceram. Lembra-te. O teu ventre e ainda jovem, e ainda fértil, e tal como outrora, ele voltará a fecundar e a povoar esse rincao de África onde nasci.
Perdoa-me MÃE! Mas sem querer duas lágrimas teimosas rolam-me pelas faces... também estou a chorar. Sinto a garganta apertada e os soluços incontidos irrompem fazendo o meu peito estremecer.
Na solidão da noite apuro os meus ouvidos e julgo escutar na voz do vento, o som indeleveldos teus gemidos e... lentamente, ergo os meus olhos aos céus e numa prece muda, mas sentida, peco ao Senhor meu Deus, que na sua Bondade e Omnipotência, se compadeça do nosso sofrimento e nos conceda a graça de nos podermos rever mais uma vez.
MÃE, não quero morrer sem voltar a ver-te, sem voltar a estreitar-te nos meus braços. Mas, se isso acontecer longe de ti, quero levar comigo para a tumba fria, um pedaço de terra vermelha arrancada do teu ventre. Quero que guardes na lembrança a ternura do meu último beijo em tua face, tão ardente como o calor tropical que emana do teu corpo.

Quero que guardes eternamente em teu generoso coração, a certeza de que:

- Mesmo para alem da morte, continuarei a amar-te e a chorar de saudade.

Amo-te, Angola minha MÃE!!!
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texto de Olga Valadas escrito em 1993

27 novembro 2010

Cubal e cubalenses, por Fernanda Valadas

Pede-se a colaboração de todos para a legendagem destas belas imagens cubalenses, partilhadas pela amiga Fernanda Valadas, a quem envio um forte abraço 
Ruca

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em pe: Alferes Brazao (treinador), Fernanda Silva,Celeste Almeida, Fernanda Valadas, Teresa
em baixo: Faro, Gaby Ferreira, Lilia Almeida e Cidalia.
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