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12 julho 2018

CUBAL: ORIGEM E MITOS

Segundo o regedor Daniel Samuel, natural do Cubal e um estudioso da sua região, a origem da palavra Cubal está relacionada com uma senhora que vivia na Ganda e curava os populares com ervas e plantas. O seu dom fez com que fosse considerada pelos chefes da região, como quimbanda (feiticeira), pelo que foi expulsa da região indo então viver para a zona da Hanha.
Mas mesmo distante, os seus “doentes” continuaram a procurá-la e ela continuou a curá-los. Um belo dia, dois responsáveis da região onde agora vivia, encontraram-na e perguntaram-lhe como era possível ter tanta carne seca e ter uma horta tão bonita e farta. Ela respondeu que o seu marido era caçador e agricultor e ela, dedicava-se única e, exclusivamente, a curar pessoas e a praticar o bem. Os ditos responsáveis ficaram bastante impressionados e, a partir daquela data, chamaram aquela região Cuvalê, que era o nome da senhora. Com a chegada dos portugueses à região e talvez devido a alguma dificuldade em pronunciar a palavra “Cuvalê”, resolveram mudar o nome para Cubal. Porém, existem outras teorias que mostram que o nome Cubal provém da expressão Okuvala que na língua nativa Umbundu significa “principiar onde ninguém mais chegou”. Esta misteriosa simbologia é a que identifica uma das mais belas cidades da província de Benguela que dista a 150 quilómetros do litoral. O Cubal ascendeu à categoria de cidade a 23 de Janeiro de 1968. O seu nascimento está relacionado com os Caminhos-de-ferro de Benguela e com o nome de Joaquim Francisco Ferreira, mais conhecido por “Yiola-yiola” (alcunho popular), um comerciante de nacionalidade portuguesa que chegou às terras da Hanha em 1878. Instalou a sua primeira Fazenda com a designação de Vareal de São João de Lutuima.Por se envolver de corpo e alma nos julgamentos de diferendos humanos e sociais dos nativos, foi lhe atribuído o estatuto de Juiz. Joaquim Ferreira chegou mesmo a convencer o Soba Katoto a abolir a pena de morte que vigorava na região e que os nativos aceitavam como castigo em obediência às Leis Tradicionais. Por mérito próprio, o Cubal ascendeu à categoria de cidade pela Portaria 1537 e Decreto 48033 de 11 Novembro 1967, por despacho do então Governador-geral de Angola, Camilo Augusto de Miranda Rebocho Vaz. Os primeiros povos que habitaram aquela região foram da tribo Muhanha, depois chegaram os Munanos provenientes do Planalto Central (Huambo) e os Ovambuelo da Região da Huíla. Exímios dedicantes da pastorícia e da agricultura, o Cubal cresceu e desenvolveu-se graças à aliança entre os Caminhos-de-ferro e a Industria sisaleira que tinha as Fazendas Alto-Cubal, Kiskerof, Elisa, Banja-banja e Rio Bom como os seus expoentes de produção. Das recordações do antigamente, ficam o Comboio-mala do Planalto e o Camacove do Litoral que se cruzavam naquela cidade por volta das 22 ou 23 horas, fundido saudades do hiterland de Angola.

11 outubro 2010

CAMINHO DE FERRO DE BENGUELA - Cubal

Estação CFB Cubal



Em 1908, chegou pela primeira vez o comboio ao Cubal. Não foi fácil este percurso devido ao terreno acidentado e árido desta zona. A título de exemplo, no quilómetro 54, foi necessário utilizar um sistema complicado de cremalheiras, porque em 2 quilómetros de percurso, o comboio passava da cota 97 no Lengue para a cota 236 em São Pedro. Em 1948, as cremalheiras foram substituídas, dando lugar à construção da variante do Lengue. Entre 1972 e 1974, foi construído um novo trajecto entre o Lobito e o Cubal, denominado de variante do Cubal. Esta variante trouxe vários benefícios como: a distância entre o Lobito e o Cubal, passou de 197 para 153 quilómetros. O número de curvas, passou de 415 para 122 e o raio mínimo de 100 para 350 metros. Na conversa que tivemos no início do ano, com o Director Geral do Caminho-de-ferro de Benguela (CFB), Daniel Quipaxe, um dos objectivos da sua direcção, para o início de 2005, era o comboio chegar ao Cubal. Tal aconteceu até Março deste ano, para depois haver um interregno até finais de Junho. O comboio é vital para esta região. O CFB, não pode pôr o comboio a funcionar por algum tempo e depois tirar o “presente”. O CFB, tem uma linha de 1.301 quilómetros que vai do Lobito ao Luau, para recuperar. O CFB, de acordo com a informação que nos foi dada por Daniel Quipaxe, vai dispôr, para a sua recuperação de um financiamento na ordem dos 500 milhões de dólares, concedido pelo banco chinês Exibank. Sabemos que não é fácil a reconstrução do CFB, é necessário fazer obras de arte (pontes), é necessário ter uma linha adaptada aos comboios actuais... mas, já é tempo de mostrar trabalho, de uma forma continuada, pelo menos na linha Lobito-Cubal. Na audição que fizemos junto de vários populares, todos foram unânimes em dizer quão importante e vital é o comboio para eles. Deixam de viajar nas “Heaces”, têm melhor comodidade e podem levar mais mercadoria e/ou haveres. A importância do comboio, não se faz sentir só nos residentes no Cubal, também gente das redondezas pernoita naquela cidade para poder viajar no comboio. Para o comerciante Fernando Cangola, o CFB, é extremamente importante «e falo com experiência, isto porque quando era mais novo, trabalhava no Huambo, e recebia mercadoria transportada pelo CFB, que para além de ser mais rápida, tinha melhor preço. Com o seu bom funcionamento, é possível desenvolvermos ainda mais a nossa actividade». Para o jovem empresário Joaquim Monteiro o CFB traz «todas as vantagens e, no meu caso concreto, vou passar a utilizar menos a minha carrinha e de certeza que o preço do frete ferroviário, é mais barato que as despesas que tenho a nível da viatura: conservação, seguro, combustível... Por outro lado, através do CFB, é possível encomendar mais mercadoria e fazer stocks, em suma, passo quase de certeza a ganhar mais no meu negócio». Olímpia Pereira, mais concisa e mais sarcástica, limitou-se a dizer «traz-me mais clientes». •

AGÊNCIA BANCÁRIA NO CUBAL

Lagoa do Cubal


O Administrador Municipal referiu «no tempo colonial o Cubal era servido por cinco bancos, pelo que o desenvolvimento que hoje temos, justifica pelo menos a existência de uma agência bancária». O grande Mestre, Jaime Lopes de Amorim, no seu livro “Digressão através do vetusto Mundo da Contabilidade” escreveu «...a introdução do crédito no mundo dos negócios é muito mais antiga do que muitos certamente julgarão, podendo mesmo afirmar-se que ela remonta aos longínquos tempos das sociedades primitivas», em suma, o crédito é a pedra de toque do desenvolvimento socio-económico e quem pode conceder crédito é a Banca, porque é a base do seu negócio. Os Bancos instalam-se onde está o dinheiro. Onde há progresso económico e infra-estruturas mínimas e no caso concreto de Angola, o litoral reúne melhores condições que o interior. Para estarem no interior, tal como nos disse um director bancário «já há cidades no interior que justificam a nossa presença. O problema prende-se com o transporte do dinheiro, que sendo por via terrestre ainda não há uma segurança absoluta no seu transporte. Sendo por via aérea, implica que essas cidades tenham pistas de aviação minimamente capazes, para que o custo do transporte seja menor». Ora, esta justificação é plausível, pelo que implica um esforço conjunto entre as Administrações Municipais e/ou Governo e os respectivos bancos, no sentido de criarem as tais infra-estruturas, ou seja, se for o transporte por via aérea, melhorarem as pistas de aviação. Para o gerente comercial Fernando Cangola, «há bancos que querem instalar-se no Cubal. Seria deveras importante, a sua instalação, porque deixaríamos de levar o dinheiro para Benguela», e advinha múltiplas vantagens «menor risco de perder o dinheiro em assaltos; entrada imediata no circuito bancário; comunicar de imediato à entidade patronal o apuro feito; poder recorrer ao crédito». Quer Fernando Monteiro quer Olímpia Pereira afinam pelo mesmo diapasão, tendo acrescentado «o que fazemos tem de ser com capitais próprios» e quem conhece as regras do equilíbrio financeiro, sabe que muitas vezes devemos recorrer aos capitais alheios, mais propriamente à Banca.


REGEDOR DO CUBAL

Daniel Samuel
Angola ainda tem autoridades tradicionais e, em particular, o Cubal, tem um regedor natural desta cidade - Daniel Samuel. O seu trabalho consiste em «mediar conflitos. Assim, compete-me pôr a Administração Municipal ao corrente do que se passa nas comunas sobre a minha jurisdição ou seja, faço a ponte entre o povo e o poder. A minha autoridade é a palavra, que felizmente é aceite de bom grado». Quem dera que em todas as sociedades, o poder da palavra fosse suficiente para resolver os conflitos sociais. Julgamos que, quanto mais evoluído é uma comunidade maior é complexidade dos seus problemas, ou seja, maior dificuldade de resolução – basta olharmos para o Mundo dito civilizado. Com o fim do conflito armado, em Angola, Daniel Samuel, corrobora do pensamento do seu Administrador Municipal, ou seja, «há um regresso da população aos seus lugares de origem e, nesta zona, já se começa a fazer sentir, isto porque a agricultura foi retomada evitando desta forma a vinda por avião de produtos agrícolas doutras zonas, nomeadamente de Benguela». Relativamente à juventude, o regedor observou «os jovens têm de ser humildes, têm de sentar e ouvir os mais velhos, é verdade que sofreram muito, mas têm de acreditar no futuro da nossa terra». A voz do “mais velho” em Angola, sempre foi muito respeitada e, acreditamos, veemente na profecia do velho regedor.

O ADMINISTRADOR MUNICIPAL DO CUBAL

Veríssimo Sapalo

Entre a população cubalense, Veríssimo Sapalo é um autarca querido, por tudo aquilo que tem feito pela região e por não ser um homem acomodado. A Valor Acrescentado trocou impressões com este antigo professor, de 47 anos, casado e pai de seis filhos, que a partir de 1984, enveredou pela vida politica e, desde 1996, é Administrador do Cubal.



Quantos munícipes, tem o Cubal?


O Cubal tem cerca de 306 mil munícipes. Aquando da guerra, este município do interior, foi o que albergou o maior número de refugiados vindos do Huambo,Bié e doutras províncias. Com o acabar da guerra e com a consolidação da paz,começa haver o regresso de uma forma
paulatina e ordenada desses refugiados às suas origens.

Quais são as maiores dificuldades sentidas como Administrador do Cubal?

O país esteve paralisado durante muitos anos, tudo tem de ser reposto, temos muitas frentes de trabalho, muita coisa tem de ser começada do zero e, os recursos de que dispomos, ainda são escassos para fazer face a tudo o que é necessário.

O que existe no Cubal a nível de agricultura, indústria, comércio e serviços?

O comércio começa a florescer, as lojas estão praticamente todas abertas. A nível de indústria, está parada e eu costumo dizer, “não podemos ter indústria enquanto não tivermos o problema da energia eléctrica resolvido”, mas começa a aparecer no mercado empresas, ligadas à panificação, carpintaria, moagem. Esta região é sobretudo agro-pecuária. No tempo colonial, havia cerca de 300 fazendas agrícolas e hoje estão praticamente todas inactivas e abandonadas. A sua ocupação é para nós uma grande preocupação,pelo que criámos incentivos, no sentido de entregar tais fazendas a pessoas que as queiram reabilitar. Felizmente tem havido candidatos. Já foram entregues fazendas a sete empresários, tendo sido previamente analisados os seus requerimentos e formulários de candidatura. Na altura, a principal cultura era o sisal, mas devido ao avanço tecnológico, a sua fibra foi substituída pelas fibras sintéticas.Assim é importante que sejam criadas outras culturas ou alternativas, que possam ser rentáveis aos fazendeiros.A pecuária pode ser uma boa alternativa. Até 2001, praticamente não tínhamos gado hoje temos cerca de 12mil cabeças, ou seja, houve uma evolução que consideramos positiva. Para o efeito, houve a colaboração do Governo, através de um programa específico que ainda está em vigor, em que foram dadas cabeças de gado reprodutor a criadores nativos, que depois da sua reprodução têm a obrigação de dar vitelos a outras famílias, e como efeito multiplicador, vamos conseguir o repovoamento animal - principal objectivo do programa do Governo. Para além deste gado, já há criadores a comprar gado noutras paragens, nomeadamente na Huila, com o fim de possibilitar o seu cruzamento.

Cidade de Cubal

Como está a saúde no Cubal?
Temos uma rede sanitária que cobre as necessidades da população. Temos um Hospital Municipal que é do Estado, com dois médicos, um angolano e outro coreano e um Hospital Missionário com cinco médicos, todos estrangeiros. Este último, faz tudo, inclusive,grande cirurgia - tem um cirurgião russo. Para uma população de cerca 306 mil habitantes, há uma média de cerca de 6 mil doentes o que é mau, mas comparando com outros municípios do interior estamos bem. Estes Hospitais são complementados com 8 postos médicos espalhados pelos bairros e pelas aldeias que distam da cidade 10 quilómetros. Esses postos são pertença do Estado e da Cruz Vermelha, que no tempo da guerra fez um trabalho digno construindo com o apoio das comunidades 4 postos, que agora com a paz, vão ser entregues ao Ministério da Saúde.

Como está o ensino no Cubal?
O nosso ensino vai da iniciação ao ensino médio. Temos a funcionar o Instituto Médio Normal de Educação (INE) que está mais vocacionado para a formação de professores. Temos cerca de 154 escolas, distribuídas pelos diversos graus de ensino (básico e médio). A maioria das escolas, estão na cidade do Cubal, arredores e nas sedes comunais. Infelizmente, ainda não conseguimos cobrir toda a nossa área de jurisdição, mas vamos consegui-lo com o tempo, dependendo muito da dotação orçamental que o Governo nos der. Temos uma média de mil e trezentos professores para todos os níveis, que não são suficientes. Neste ano lectivo, foram matriculados cerca de 45 mil alunos e temos quase um número igual ou superior de alunos fora do sistema de ensino. Para o bom funcionamento do ensino, teríamos de dotar as nossas escolas, com mais mil e quinhentos professores. Infelizmente o concurso para professores, está terminado e deram-nos apenas cerca de 300 professores. Este deficit, é uma grande preocupação que temos e é comungada pelos responsáveis pelas comunas e pelos próprios encarregados de educação. Esta situação obriga infelizmente, que muita criança fique fora do ensino e, tal situação,é verdadeiramente nefasta para o país em geral e em particular para a nossa terra.O ensino médio começou há cerca de cinco anos e já devíamos ter alunos com a12ª classe. Infelizmente, só neste ano lectivo,tal vai ser possível, isto porque mais uma vez, refiro a falta de professores.Assim, tudo indica que no final deste ano lectivo, teremos cerca de 150 alunos coma 12ª classe, preparados para entrarem no mercado do trabalho.Temos estado a pensar em criar uma escola a nível de ensino médio, virada para as especificidades da nossa zona, mais propriamente a agro-pecuária. Seria bom para o Cubal, isto porque passaria a ter profissionais capazes nessa área e, por outro lado, muitos alunos vão para o INE, porque não têm outra alternativa, assim teriam mais possibilidades de escolha.

Que apoios têm os alunos que pretendem frequentar um curso superior em Benguela, Lobito ou noutro local do país?

Não há apoios. Hoje já há bolsas anuais dadas aos alunos da 8ª classe do interior, para prosseguirem os seus estudos em Benguela. Ora, a mesma metodologia devia ser usada para os alunos do INE. Em Benguela, o ISCED (Universidade Agostinho Neto), tem valências ligadas ao ensino, o que iria permitir aos alunos do INE, com bom aproveitamento, avançarem com os seus estudos superiores. Também seria importante, que houvesse um compromisso escrito por parte desses alunos, que depois de concluírem os seus estudos superiores, teriam de regressar à terra para aplicar os seus conhecimentos a nível de trabalho. Por outro lado, seria importante que nesses meios universitários fossem criadas residências universitárias, no intuito dos estudantes do interior terem melhores condições de alojamento e tornar mais profícuo a aquisição de conhecimentos. A Província de Benguela, tem quatro cidades: Lobito, Benguela, Cubal e Ganda, as duas primeiras no litoral e já com ensino universitário e as outras no interior sem tal ensino. As duas cidades do interior, distam cerca de 50 quilómetros e têm boas condições para o desenvolvimento agro-pecuário. A Ganda, tem o Instituto Veterinário de Angola (IVA) a funcionar pelo que a implementação da escola agrária que atrás referi, poderia ser numa destas duas cidades, ou nas duas, em que numa seriam dadas as aulas teóricas e na outra aulas práticas

O Caminho-de-ferro de Benguela já chega ao Cubal. Já se nota alguma melhoria no aspecto sócio-económico?

A reabertura do ramal do Lobito-Cubal, está numa fase experimental. O comboio funcionou até Março de 2005 (oficialmente disseram-nos que passaria a funcionar a partir de 01/07/2005). Com a reabertura, verificamos uma melhoria a nível de transporte de pessoas e bens, até porque os passageiros pediram que fosse aumentado o número de composições e também uma maior frequência de viagens neste ramal (duas vezes por semana). Havia pessoas das comunas que se deslocavam para o Cubal, no sentido de viajarem no comboio para Benguela. Com tudo isto, conclui-se a importância do comboio para o desenvolvimento sócio-económico da nossa região.

O que diz da abertura de agências bancárias no Cubal?

Já houve várias sondagens para instalação de agências bancárias. E um director regional de um banco,concluiu que há mercado. Hoje, quer o Banco Poupança e Crédito quer o Banco de Fomento de Angola estão interessados em instalarem-se na cidade. É importante dizer que no tempo colonial o Cubal era servido por cinco bancos, pelo que o desenvolvimento que hoje temos, justifica pelo menos a existência de uma agência bancária. Por outro lado, é importante dizer que uma agência bancária aqui implementada, também impulsiona o desenvolvimento económico do meio.

O que diz sobre a recuperação da cidade, mais propriamente a nível de infra-estruturas?

Há programas de investimento público. Há prioridades como o saneamento básico, as condutas de águas pluviais que estão quase todas partidas e, há zonas da cidade, onde quando chove, não há escoamento das águas o que causa grandes transtornos em todo o sentido da palavra. É importante mudar mentalidades, visto que muita gente continua a pensar que “ainda estamos em guerra”. É um trabalho que requer paciência e perseverança e muita psicologia para mudar essas mentalidades. Não se pode pensar que o Estado é a panaceia miraculosa de todos os nossos problemas. É necessário que o povo tenha iniciativa, pelo que começamos a vender casas à população cujo restauro e recuperação consoante os seus rendimentos têm de ser por sua conta. Tal vai permitir a entrada de empresas de construção civil para fazer tais trabalhos e por consequência maior emprego.

A nível de lazer, o jovem tem lugares para praticar desporto e há actividades lúdicas?

Temos um poli desportivo. Temos um campo de futebol de 11, que é considerado o melhor da Província. Durante muito tempo a juventude teve como principal preocupação a defesa da pátria, hoje temos de criar condições de lazer e de recreio não só para os jovens, como para todos os cidadãos. No passado mês de Maio estiveram cá jovens vindos de Luanda, que doaram aos nossos, equipamento de futebol, andebol... o que foi deveras bom para eles, porque para além do convívio, já têm melhores meios para praticar desporto. Há actividades recreativas, como passeios às comunas. Temos um cinema, que temos de pôr a funcionar.

SITUAÇÃO GEOGRÁFICA E AUTORIDADES DO CUBAL

Provincia de Benguela
A autoridade no município do Cubal é exercida por um Administrador Municipal, por Administradores Comunais, um Regedor e Sobas. No que respeita ao poder local a constituição da República refere no seu artigo 272º que “As autarquias locais são pessoas colectivas públicas territoriais correspondentes ao conjunto de residentes em certas circunscrições do território nacional e que asseguram a prossecução de interesses específicos para a vida local mediante órgãos próprios, representativos das respectivas populações” e, o artigo seguinte, diz “os municípios são as pessoas colectivas cujo objectivo é prosseguir a realização dos interesses das populações residentes na respectiva área territorial”. No primeiro encontro da administração local, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos referiu: “o Governo tem a intenção de adoptar um programa global e faseado que lhe permita, num primeiro momento, conduzir a reforma da administração do Estado e, a seguir, criar as condições para a institucionalização de um poder local autónomo e autárquico, adequado às especificidades do nosso país, no domínio histórico e cultural”. Julgamos que não há necessidade de alterar o artigo 272º da Constituição, mas é necessário dar corpo ao que afirma José Eduardo dos Santos “criar as condições para a institucionalização de um poder local autónomo e autárquico”, porque será a forma mais profícua para o desenvolvimento sócio-económico de Angola, porque os responsáveis pelas autarquias, ao serem nomeados por sufrágio, têm de lutar pelo desenvolvimento dos seus “territórios” e se pretenderem ter mais mandatos têm de fazer sempre mais.

ORIGEM DO TERMO “HANYA”

O termo pode ter origem da expressão “okusanya” em umbumbu, que na região se pronuncia “okuhanya” que quer dizer ser incandescente. O seu significado é “o incandescente”, “o brilhante”, “o invencível”, “aquele que procura o medo”. Os ahanya fazem tatuagens no seu corpo, sobretudo no abdómen e nos braços, como distintivo ou identificação. Assim,se por qualquer razão for cortada a cabeça a um hanya, o seu corpo pode ser identificado pela a tatuagem. A sociedade dos ahanya é dominada por valores sagrados como a solidariedade, partilha, hospitalidade, reputação, gratidão, saudação e conservadorismo. Por exemplo, se uma família tiver problemas, em caso de morte, o bairro ou a aldeia desta pára os seus afazeres, reúnem-se no local para solidarizarem-se com o sofrimento desta família. Não merecem esta honra, aqueles que se suicidam, os que morrem por uma doença contagiosa por exemplo epilepsia, lepra “otchilundu” ou quando morre um dos gémeos, para evitar que o sobrevivente por estar muito ligado ao outro fique aborrecido podendo até causar também a sua morte. Eles são sociáveis a fumarem, a beberem e a comerem. Um bom número de pessoas pode fumar do mesmo cachimbo, satisfazendo o “ekwanyo”(desejo de fumar), beber da mesma caneca e comer do mesmo “eholo”(recipiente onde é recolhido o leite ordenhado mungido). Para os ahanya, quando alguém chega a casa do outro, e o encontrar a meio da refeição, este convida imediatamente o visitante a servir-se, com a seguinte expressão: - “tusiñgwa la vyo” (estamos a comer), ao que o visitante responde: estando interessado –“vaketu” ou “mwe” - se for mulher – “ka” “kawe” ; não estando interessado – “ndakala lavyo ale” (já comi, obrigado). Ainda que apareçam na aldeia pessoas não conhecidas fornecem-lhes os cuidados necessários, desde o alojamento à comida. Pois, para eles o hóspede é uma graça e, por isso, deve merecer todo o cuidado. Os anciãos, nos ahanya tem grande poder e direito em todas as situações que se passam, mesmo o soba respeita-os porque são os detentores do saber, nada fazem sem os consultar, daí o provérbio “akulu vakola vamwile suku ondunda” (os anciãos são sagrados comunicam a graça e a sorte aos que lhes ouvem). Isto é característico nas sociedades africanas, o velho pelo seu tempo de vida viveu muitas experiências que se vão transmitindo de geração em geração. Assim é que, quando morre um velho é uma biblioteca que desaparece.
“Nda wanda musengue kukalipendule, oviti
omanu” (quando andares pela selva, não
andes nu pois alguém pode estar de baixo
de uma árvore e denunciar-te).
O bom-nome, o ser chamado ou considerado justo e honesto significa a maior riqueza que um homem deve ter na vida, e, para isto, utilizam os dizeres dos mais velho “nda wanda musengue kukalipendule, oviti omanu” (quando andares pela selva, não andes nu pois alguém pode estar de baixo de uma arvore e denunciar-te). Quer dizer, é necessário, que em qualquer lugar que nos encontremos mantenhamos a nossa reputação. Os Ahanhas agradecem do fundo do seu coração todas as oferendas e avisos que lhes façam. Este agradecimento é feito repetidas vezes “obrigado, obrigado, obrigado” ou seja “kawe”, “otike”, “mbá”. Sobre essa questão, dizem “watchikulihã okusole, pwahi u wakusapwila ko wavelapo” (aquele que nos conhece é nosso amigo. Mas aquele que nos avisa sobre algo que de nós conhece é nosso maior amigo). Quanto à saudação, eles têm uma típica que varia segundo a idade, sexo e o tempo de separação. Por exemplo, o visitado deseja as boas vindas ao visitante com as expressões “vakweto veya” (sejam bem vindos) e o visitante responde “vaketo”, “mwe”, “ká”, “kawe” (obrigado). Em seguida o visitado recebe a bagagem do visitante e prepara os lugares para que este se possa sentar. Quando todos estiverem confortáveis, de acordo com o período do dia, o visitante saúda “okupasula” (bom dia); “okulañgisa” (boa tarde) e “okusikama” (boa noite). Perante essas saudações, o visitado responde “vaketu”, “mwe”, “talé”, “ká”, “kawé” (obrigado) para qualquer período do dia. Depois da saudação, segue-se o diálogo – ulonga.
Undele ukwene kakupumbisa
okulya omuku” (a civilização
do outro não nos faz
com que nós não façamos
aquilo que é nosso)

Conservadores natos, os ahanhas não se envergonham da sua tradição, assim dizem “undele ukwene kakupumbisa okulya omuku” (a civilização do outro não faz com que nós não façamos aquilo que é nosso). Quando se lhes pergunta a localização de determinada área, ainda que diste por aí vinte ou mais quilómetros, dizem sempre que é próximo, basta fazer esta ou aquela curva, atravessar este ou aquele rio e já chegou, quando por vezes ainda falta uma boa caminhada que pode levar horas a fazer. Tudo isto, com o objectivo de não precipitar o visitante - devido à distância - a ponto de desistir da caminhada.

OS AHANHAS, UMA TRIBO EM POTÊNCIA

Na variante Cubal (Cubal e Caimbambo) onde rasga a linha dos Caminhos-de-ferro de Benguela, está localizada uma das mais importantes sub-tribos etnolinguísticas da região Centro do País, os Ahanhas. Os Ahanhas integram o Grupo etnolinguístico Ovimbundu que abrange as províncias de Benguela, parte do Kwanza-Sul, Huambo e Bié. Eles constituem um povo localizado no Centro Oeste de Angola, na zona interior da Província de Benguela, na latitude 13º Sul e longitude 14º Este, entre três grandes rios: o Katombela (Catumbela) a Norte e que além destes vivem os “Va Tchisandji”, a Sul do rio Kuporolo (Coporolo) e que imediatamente além, estão os “Va chilenge”. A Leste confinamse com os “a nganda”e a Oeste está o território Ndombe. Geograficamente falando, os Ahanhas, habitam no coração do vale superior do Kuporolo entre 800 e 1000 metros de altitude, ocupando uma privilegiada área de Angola constituída por um círculo de montanhas que contrastam com a paisagem de outras regiões do país. Um estudo recente dos licenciados em História, António de Oliveira e Cipriano Lialunga, sobre a cultura Hanya na história dos povos Ovimbundu, sustentado por depoimentos de anciãos considera três hipóteses: a) Que os Ahanhas seriam descendentes do Reino da Tchiaca, região de Quinjenje que tinha na actualidade como um dos seus príncipes, o falecido escritor Raul Mateus David. Na busca de melhores condições de vida, andavam à deriva, onde Hanya, um dos integrantes notórios da caravana viria perder a vida entre os rios Luembe, Lutira e o rio Kuporolo, passando este nome a prevalecer como referencia ao local onde morreu Hanya.

Caninguiri: pinturas rupestres

b) Que os Ahanhas teriam vindo do Norte do Reino de Benguela, nas proximidades do actual rio Longa. Instalaram-se próximo da costa marítima, na actual Hanya do Norte, ou Hanya das Palmeiras. Para escapar dos conflitos internos e familiares, um dos antepassados deste subgrupo decidiu deslocar-se com a família para a região que é a actual Hanya. De acordo com a obra “A Vida Eterna na Subtribo Hanya”, do Padre Pedro Puto, o antepassado desertor da Hanya das Palmeiras, não teria sido ele em pessoa a subir a actual região Hanya, mas alguns familiares, seus descendentes que teriam construído as suas casas onde é hoje o jardim em frente à Administração Municipal de Benguela e o Banco Nacional de Angola, desalojando bochímanes, no período da proto-história. A partir do séc. XVII, depois da conquista militar de Cerveira Pereira, que motivou a chegada de contingentes de origem europeia, pressionou os ahanya a abandonarem a área que ocupavam e instalarem-se no actual Ndombe que, posteriormente, também se viram obrigados a abandonar pelas mesmas razões e ou pelo péssimo clima de Benguela, subindo para as terras do Planalto Central, donde também com a chegada do branco, voltaram mais tarde para a actual região da Hanya. Dessa emigração teriam surgido as sub-tribo “ahanya”, “va nganda” e “va tchiyaka”. c) A terceira suposição é de Gabriel Canivete que ventila a ideia de que excluindo a primeira, então seria provável que os ahanya tivessem origem na sub-tribo Quilengue, pelo facto de apresentarem poesias líricas comuns aos dois grupos, o “ochitita” (poesia relativa ao boi e às situações de crise social – a morte, a fome,a miséria, etc.) o “ulonga” (síntese, que os mais velhos fazem, de tudo quanto aconteceu, desde o ultimo momento em que estiveram juntos), “okusikala” (iniciação masculina e feminina), entre outras. Os ahanya, na tentativa de fugirem da fome endémica e da guerra que vitimou o soba Kapoko, separaram-se dos “vatchilenge”, dirigindo-se para Sudeste de Tchongoroi e acabando por se instalar entre as montanhas Lumbili e Kavalakanha, Ngandja e Indongolo, zonas férteis dos rios Kwi e Tchikwã. Mais tarde, foi daí que se dirigiram em maior número para o Norte, Noroeste e Nordeste habitando no actual território dos “ahanya” fundindo-se com outros povos aí encontrados. Por outro lado, há antropónimos que se usam entre os “va hanya” que nos fazem perceber que muitos deles vieram da sub-tribo dos “va tchilenge”.Segundo o Padre Tchombela “há também um fenómeno químico - natural que, estudado com características consanguíneo – genealógicas devolve muitos “va hanya” ao “vatchilenge”.

Ahanya e sua filha
É o facto de não poderem dormir na pele de cabrito, de onça, de veado, não poderem pisar com o pé nu onde foram queimados os vasos e ou panelas feitas de argila (panelas de barro) para as fortificar; não poderem comer carne de certos animais, répteis e aves... tudo isso com o risco de contraírem graves enfermidades ou infecções no corpo.E, bem investigados, estes homens têm próxima ou remota linhagem consanguínea com os “vatchilenge”. Contrariamente às opiniões anteriores, Monsenhor Luís Alfredo Keiling, adianta que os ahanya formam com os “va nganda” um único grupo étnico, devido às características comuns que apresentam nos costumes e no estilo de vida voltada para a pastorícia. Essa opinião é corroborada pelo Padre Mário Lukunde. Esse grupo teria sido originário de Ngola – Luanda, passando pelo actual reino do Bailundo e mais tarde para o território da hanya.