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12 fevereiro 2011

Lançamento do livro “Corpo de Abrigo” de Edgardo Xavier

Honrando uma vez mais o convite feito pelo nosso amigo Rogério Edgardo Xavier, tive o prazer em estar presente na sessão de lançamento do seu novo livro "Corpo de Abrigo". 
Foram muitos os amigos (alguns cubalenses) que estiveram presentes. Com agrado e estima, aqui publico os testemunhos deste evento, saudando o Edgardo Xavier por nos honrar e presentear com mais esta sua obra poética.
Ruca (Rui Gonçalves)
NB: Caso queiram enriquecer estes testemunhos (legendando as imagens), façam os comentários no local próprio, neste blogue.

 Capa do Livro
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Edgardo Xavier e José Paulista
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Edgardo Xavier e Rui Gonçalves (Ruca)
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Edgardo Xavier e Rui Gonçalves (Ruca)

Alguns Links relacionados com o Edgardo Xavier
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07 fevereiro 2011

VIDA REAL Nº 1 - Por Eduardo A. Flórido

À minha querida e Santa Mãe…
Uma noite destas escutava, como o faço diariamente, o telejornal (20 horas) de uma qualquer Televisão, quando com honras de abertura, a jornalista emocionadíssima, abria o mesmo de uma forma sensacionalista e direi um tanto ou quanto oportunista, ao frisar que numa prova de cabal demonstração e de dignidade absoluta, uma professora, por sinal pertencente ao Governo, que nos rege (da qual me recuso dar o nome, pois jogamos em equipes e posições diferentes), depois de ter dado à luz, sete, sim digo bem, sete horas depois, saiu da maternidade onde se encontrava internada e pelo seu próprio pé, foi dar o resto das aulas programadas para esse dia… Segundo a mesma o dever estava acima de tudo, e havia necessidade de dar exemplos destes para ninguém se convencesse que não seria sem espírito de sacrifício, que este pedacinho à beira mar plantado, iria para a frente. Louvável, exemplarmente louvável… Direi mesmo, convenientemente louvável. Tão exemplificadamente louvável, que sem dar por isso, desenfreadamente atravesso a barreira do espaço e do tempo e num regresso sem programa dou comigo em 1953, no Cubal mais propriamente na Fazenda Elisa, Abril, noite de 16 para 17. Irene de seu nome (eu preparava-me para dar entrada na estratosfera terrestre), gritava de janela aberta, para uma vizinha de nome Maria para que esta lhe acudisse. No entanto devido ao avançado da hora a mesma Senhora infelizmente não a escutava pois a distância ainda era alguma. Júlia e Joaquim Manuel, entretanto acordados devido aos gritos da mamã Irene, encontravam-se assustados pois pela primeira vez assistiam àquela mulher de aço, quase a vergar-se pelo ímpeto da mãe natureza. Júlia, ainda uma menina, sem saber aquilo que se passava dirige-se à mãe e pergunta-lhe porque ela gritava tanto e o que a afligia. A mãe sorri-lhe e diz-lhe, vão-se deitar, e não se preocupem, estou a gritar para afugentar um lobo, que passou diversas vezes pela nossa janela. Mas a irrequietude traquina de Júlia, debaixo da capa que só as crianças conseguem ter, diz-lhe docemente: Mãe, se é um lobo porque não fechas a janela? Irene olha para ele e sorri, e diz-lhe então, rápido meus filhos, preparem-se que vamos a casa da Dª Maria. Cada vez mais, sem perceberem nada do que se estava a passar, Júlia e o irmão Joaquim Manuel, tentam acompanhar a mãe, em vão, já que esta numa impressionante corrida, chega a casa da vizinha e apressadamente acorda-a e pede-lhe ajuda, contando-lhe que eu inesperadamente já tinha começado a minha viagem de entrada neste mundo. Dª Maria de pronto prepara-se e diz-lhe que de imediato a seguirá. Como entretanto as dores, aumentam a impaciência de Irene aumente tb., grandemente e de imediato corre novamente para casa, acompanhada pelos dois filhos Júlia e Joaquim Manuel, que quase morrem de medo, devido à escuridão que se fazia sentir, pensando no lobo do qual mamã Irene tinha falado e com medo que o mesmo lhe pudesse aparecer. Entretanto aí chegados, não suportando mais, o esforço que houvera feito em corrida acelerada (cerca de 300metros, ida e volta), Irene sem aguentar por mais tempo, cai e eu à entrada do quarto, dou comigo a berrar em cima de um tapete, porque não tinha tido a melhor aterragem no planeta Terra.
Uma estreia pouco auspiciosa.
00H 05M, marcava o controlador do tempo…
Dª. Maria entretanto chegada, vira-se para aquele que me acabara de dar à luz, e diz que não sabia nem o faria, cortar-me o cordão umbilical, pois também se tratava de uma grande responsabilidade, ao qual a minha mãe sorri, e pede-lhe para trazer o álcool, e uma tesoura, que ela mesmo faria isso. Dito e feito, esta mulher de armas, do qual me orgulho de ser filho, sem hesitações, corta-me o cordão umbilical, e deixa-me a navegar a partir daí entregue à sorte de ser mais um terrestre, componente do clã FLÓRIDO.
Quando o meu pai chega, ainda não tivera a oportunidade de o conhecer, fica embasbacado, porque era acompanhado pela Srª Dª Alda Pais, Enfermeira-Parteira, que em principio viria assistir à m/ Chegada. Mas apenas vem confirmar, que a minha querida mãe, já me tinha dado banho, já tinha lavado a roupa que entretanto se sujara, continuando calmamente a trabalhar naquilo que havia necessidade de fazer. Eu começava ali, a minha ODISSEIA TERRESTRE, que já vai em 57 anos…
Regresso ao presente, fecho a televisão. Vou à janela e sinto que há uma estrela que brilha mais do que todas as outras, no firmamento. Sei que me vê, eu sei que ela está lá, e sei que está a sorrir pelo milagre que uma professora pertencente aos homens que nos governam foi noticia de abertura de um qualquer Telejornal, por ter ido dar aulas depois de sete horas de ter sido mãe e ser convenientemente amparada numa maternidade.
Senti que a minha saudosa mãe me piscou o olho, e entre dentes disse: OUTROS TEMPOS, OUTRAS MÃES E LOCUTORAS SENSACIONALISTAS…

P.S. – Um agradecimento especial à minha irmã Júlia (Mãe do Ruca) sem a qual esta 1ª VIDA REAL, seria impossível, por ela me ter dado as dicas de um Passado, perpetuado já nas memórias do VIVIDO.
OBRIGADO JÚLIA.
OBRIGADO MÃE.

*Eduardo A. Flórido.