Entre a população cubalense, Veríssimo Sapalo é um autarca querido, por tudo aquilo que tem feito pela região e por não ser um homem acomodado. A Valor Acrescentado trocou impressões com este antigo professor, de 47 anos, casado e pai de seis filhos, que a partir de 1984, enveredou pela vida politica e, desde 1996, é Administrador do Cubal.
Quantos munícipes, tem o Cubal?
O Cubal tem cerca de 306 mil munícipes. Aquando da guerra, este município do interior, foi o que albergou o maior número de refugiados vindos do Huambo,Bié e doutras províncias. Com o acabar da guerra e com a consolidação da paz,começa haver o regresso de uma forma
paulatina e ordenada desses refugiados às suas origens.
paulatina e ordenada desses refugiados às suas origens.
Quais são as maiores dificuldades sentidas como Administrador do Cubal?
O país esteve paralisado durante muitos anos, tudo tem de ser reposto, temos muitas frentes de trabalho, muita coisa tem de ser começada do zero e, os recursos de que dispomos, ainda são escassos para fazer face a tudo o que é necessário.
O que existe no Cubal a nível de agricultura, indústria, comércio e serviços?
O comércio começa a florescer, as lojas estão praticamente todas abertas. A nível de indústria, está parada e eu costumo dizer, “não podemos ter indústria enquanto não tivermos o problema da energia eléctrica resolvido”, mas começa a aparecer no mercado empresas, ligadas à panificação, carpintaria, moagem. Esta região é sobretudo agro-pecuária. No tempo colonial, havia cerca de 300 fazendas agrícolas e hoje estão praticamente todas inactivas e abandonadas. A sua ocupação é para nós uma grande preocupação,pelo que criámos incentivos, no sentido de entregar tais fazendas a pessoas que as queiram reabilitar. Felizmente tem havido candidatos. Já foram entregues fazendas a sete empresários, tendo sido previamente analisados os seus requerimentos e formulários de candidatura. Na altura, a principal cultura era o sisal, mas devido ao avanço tecnológico, a sua fibra foi substituída pelas fibras sintéticas.Assim é importante que sejam criadas outras culturas ou alternativas, que possam ser rentáveis aos fazendeiros.A pecuária pode ser uma boa alternativa. Até 2001, praticamente não tínhamos gado hoje temos cerca de 12mil cabeças, ou seja, houve uma evolução que consideramos positiva. Para o efeito, houve a colaboração do Governo, através de um programa específico que ainda está em vigor, em que foram dadas cabeças de gado reprodutor a criadores nativos, que depois da sua reprodução têm a obrigação de dar vitelos a outras famílias, e como efeito multiplicador, vamos conseguir o repovoamento animal - principal objectivo do programa do Governo. Para além deste gado, já há criadores a comprar gado noutras paragens, nomeadamente na Huila, com o fim de possibilitar o seu cruzamento.
Cidade de Cubal
Como está a saúde no Cubal?
Temos uma rede sanitária que cobre as necessidades da população. Temos um Hospital Municipal que é do Estado, com dois médicos, um angolano e outro coreano e um Hospital Missionário com cinco médicos, todos estrangeiros. Este último, faz tudo, inclusive,grande cirurgia - tem um cirurgião russo. Para uma população de cerca 306 mil habitantes, há uma média de cerca de 6 mil doentes o que é mau, mas comparando com outros municípios do interior estamos bem. Estes Hospitais são complementados com 8 postos médicos espalhados pelos bairros e pelas aldeias que distam da cidade 10 quilómetros. Esses postos são pertença do Estado e da Cruz Vermelha, que no tempo da guerra fez um trabalho digno construindo com o apoio das comunidades 4 postos, que agora com a paz, vão ser entregues ao Ministério da Saúde.
Como está o ensino no Cubal?
O nosso ensino vai da iniciação ao ensino médio. Temos a funcionar o Instituto Médio Normal de Educação (INE) que está mais vocacionado para a formação de professores. Temos cerca de 154 escolas, distribuídas pelos diversos graus de ensino (básico e médio). A maioria das escolas, estão na cidade do Cubal, arredores e nas sedes comunais. Infelizmente, ainda não conseguimos cobrir toda a nossa área de jurisdição, mas vamos consegui-lo com o tempo, dependendo muito da dotação orçamental que o Governo nos der. Temos uma média de mil e trezentos professores para todos os níveis, que não são suficientes. Neste ano lectivo, foram matriculados cerca de 45 mil alunos e temos quase um número igual ou superior de alunos fora do sistema de ensino. Para o bom funcionamento do ensino, teríamos de dotar as nossas escolas, com mais mil e quinhentos professores. Infelizmente o concurso para professores, está terminado e deram-nos apenas cerca de 300 professores. Este deficit, é uma grande preocupação que temos e é comungada pelos responsáveis pelas comunas e pelos próprios encarregados de educação. Esta situação obriga infelizmente, que muita criança fique fora do ensino e, tal situação,é verdadeiramente nefasta para o país em geral e em particular para a nossa terra.O ensino médio começou há cerca de cinco anos e já devíamos ter alunos com a12ª classe. Infelizmente, só neste ano lectivo,tal vai ser possível, isto porque mais uma vez, refiro a falta de professores.Assim, tudo indica que no final deste ano lectivo, teremos cerca de 150 alunos coma 12ª classe, preparados para entrarem no mercado do trabalho.Temos estado a pensar em criar uma escola a nível de ensino médio, virada para as especificidades da nossa zona, mais propriamente a agro-pecuária. Seria bom para o Cubal, isto porque passaria a ter profissionais capazes nessa área e, por outro lado, muitos alunos vão para o INE, porque não têm outra alternativa, assim teriam mais possibilidades de escolha.
Que apoios têm os alunos que pretendem frequentar um curso superior em Benguela, Lobito ou noutro local do país?
Não há apoios. Hoje já há bolsas anuais dadas aos alunos da 8ª classe do interior, para prosseguirem os seus estudos em Benguela. Ora, a mesma metodologia devia ser usada para os alunos do INE. Em Benguela, o ISCED (Universidade Agostinho Neto), tem valências ligadas ao ensino, o que iria permitir aos alunos do INE, com bom aproveitamento, avançarem com os seus estudos superiores. Também seria importante, que houvesse um compromisso escrito por parte desses alunos, que depois de concluírem os seus estudos superiores, teriam de regressar à terra para aplicar os seus conhecimentos a nível de trabalho. Por outro lado, seria importante que nesses meios universitários fossem criadas residências universitárias, no intuito dos estudantes do interior terem melhores condições de alojamento e tornar mais profícuo a aquisição de conhecimentos. A Província de Benguela, tem quatro cidades: Lobito, Benguela, Cubal e Ganda, as duas primeiras no litoral e já com ensino universitário e as outras no interior sem tal ensino. As duas cidades do interior, distam cerca de 50 quilómetros e têm boas condições para o desenvolvimento agro-pecuário. A Ganda, tem o Instituto Veterinário de Angola (IVA) a funcionar pelo que a implementação da escola agrária que atrás referi, poderia ser numa destas duas cidades, ou nas duas, em que numa seriam dadas as aulas teóricas e na outra aulas práticas
O Caminho-de-ferro de Benguela já chega ao Cubal. Já se nota alguma melhoria no aspecto sócio-económico?
A reabertura do ramal do Lobito-Cubal, está numa fase experimental. O comboio funcionou até Março de 2005 (oficialmente disseram-nos que passaria a funcionar a partir de 01/07/2005). Com a reabertura, verificamos uma melhoria a nível de transporte de pessoas e bens, até porque os passageiros pediram que fosse aumentado o número de composições e também uma maior frequência de viagens neste ramal (duas vezes por semana). Havia pessoas das comunas que se deslocavam para o Cubal, no sentido de viajarem no comboio para Benguela. Com tudo isto, conclui-se a importância do comboio para o desenvolvimento sócio-económico da nossa região.
O que diz da abertura de agências bancárias no Cubal?
Já houve várias sondagens para instalação de agências bancárias. E um director regional de um banco,concluiu que há mercado. Hoje, quer o Banco Poupança e Crédito quer o Banco de Fomento de Angola estão interessados em instalarem-se na cidade. É importante dizer que no tempo colonial o Cubal era servido por cinco bancos, pelo que o desenvolvimento que hoje temos, justifica pelo menos a existência de uma agência bancária. Por outro lado, é importante dizer que uma agência bancária aqui implementada, também impulsiona o desenvolvimento económico do meio.
O que diz sobre a recuperação da cidade, mais propriamente a nível de infra-estruturas?
Há programas de investimento público. Há prioridades como o saneamento básico, as condutas de águas pluviais que estão quase todas partidas e, há zonas da cidade, onde quando chove, não há escoamento das águas o que causa grandes transtornos em todo o sentido da palavra. É importante mudar mentalidades, visto que muita gente continua a pensar que “ainda estamos em guerra”. É um trabalho que requer paciência e perseverança e muita psicologia para mudar essas mentalidades. Não se pode pensar que o Estado é a panaceia miraculosa de todos os nossos problemas. É necessário que o povo tenha iniciativa, pelo que começamos a vender casas à população cujo restauro e recuperação consoante os seus rendimentos têm de ser por sua conta. Tal vai permitir a entrada de empresas de construção civil para fazer tais trabalhos e por consequência maior emprego.
A nível de lazer, o jovem tem lugares para praticar desporto e há actividades lúdicas?
Temos um poli desportivo. Temos um campo de futebol de 11, que é considerado o melhor da Província. Durante muito tempo a juventude teve como principal preocupação a defesa da pátria, hoje temos de criar condições de lazer e de recreio não só para os jovens, como para todos os cidadãos. No passado mês de Maio estiveram cá jovens vindos de Luanda, que doaram aos nossos, equipamento de futebol, andebol... o que foi deveras bom para eles, porque para além do convívio, já têm melhores meios para praticar desporto. Há actividades recreativas, como passeios às comunas. Temos um cinema, que temos de pôr a funcionar.
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