Decisão apoiada em falsos testemunhos, sem procurar provas com «sumo» e que ditaram uma infeliz determinação: Irradiação de dois futebolistas do Recreativo do Cubal.
A “bomba rebentou” no Cubal já há duas semanas. O nosso jornal não «alinhou» em sensacionalismos. Mas a verdade dos factos é tão pura, que entendemos ser nosso dever entrar no assunto, apesar de estar em causa uma pena máxima de irradiação para dois atletas que de corpo e alma se dedicam ao desporto Rei. Está muito mais além o facto de ter sido tomada uma decisão por pessoas altamente responsáveis, sem provas básicas e reais que tal atitude justificasse. Se as penas tivessem justificação a bom grado a cidade aceitaria os castigos aplicados. Mas, NÃO! E é por este não, pela falta de verdade, de honestidade, de nobreza e pelo excesso de orgulho pessoal de uma ou de outra pessoa que não teve coragem de desdizer algo, que sem pensar possa ter afirmado; e que assim induziu em erro os eminentes julgadores, que nós aqui estamos!
E note-se, só viemos depois de auscultar dezenas de pessoas que assistiram no Campo Eng.° Raimundo Serrão ao encontro de futebol entre o Recreativo do Cubal e Sporting de Benguela o que deu aso a tão tristes acontecimentos os futebolistas do Cubal estão disciplinadamente revoltados. E estão revoltados só porque os castigos aplicados aos jogadores Porto e Bibesinho, não foram justamente julgados. E perguntam: em que bases assentaram os membros que fizeram, o julgamento para aplicar as penas de irradiação anunciadas? Num inquérito mal feito? Nas informações de um árbitro que praticou erro sobre erro e que no final, completamente desorientado, preenche um boletim de jogo? Justiça, essa nobre palavra, não pode ser palavra vã!
A nossa reportagem, no Cubal, ouviu dezenas de adeptos do desporto.
A repulsa é enorme! Gravamos muitas dezenas de metros de fita magnética. Ouvimos muitas e muitas pessoas. Umas mais exaltadas e mais facciosas. Outras mais calmas e conscientes. A nossa missão informativa teria que ser imparcial.
Um dos depoimentos, foi de António de Matos Carrasqueiro: A par da nossa ideia e do assunto que a ela presidiu, disse-nos:
4.O Ex-Presidente do Recreativo, Matos Carrasqueiro, depõe.
«Fui durante o ano findo Presidente da Direcção do Recreativo do Cubal. Ao ter tido conhecimento dos castigos que foram aplicados aos jogadores Valdir, Telmo e Canais, fiquei deveras entristecido pois elees eram por si só uma injustiça. São três homens absolutamente correctos e educados. Estou certo que qualquer árbitro ou elemento da nossa Associação pensa da mesma maneira. A suspensão dos jogadores Montez, Bibe e Porto causaram-me admiração, mas aguardei o desfecho. Veio o resultado. As irradiações de Porto e de Bibezinho são para mim uma completa e grande injustiça e uma enorme traição à moral desportiva. O senhor inquiridor escolheu a dedo as pessoas que quis ouvir para formar o inquérito. Acaso só ouviu directores de clubes neolisboetas sobre autênticas «barracadas» em que apitou o Senhor Duarte de Carvalho? Vi o jogo do Lobito. Se a alguém seria bem aplicada a irradiação, ela teria recaído sobre o árbitro do encontro. Ele, sim. Merecia a irradiação. Falta de conhecimentos t técnicos, falta de personalidade nos julgamentos patenteando um complexo nevrálgico e por fim, e ainda por cima dotado de uma falta de honestidade, flagrantíssima. Mas não fica por aqui! Num desafio em que a equipa do Cubal participou, esse senhor árbitro (perdão) esse árbitro, foi, não sei porquê, apupado por uma parte da assistência,tendo no final afirmado que o Cubal haveria de pagar. E a vingança surgiu, como se vê nesse jogo contra, o Sporting de Benguela. Os meus agradecimentos ao Quim Costa, ex-jogador treinador dos «leões» de Benguela pelo desassombro das declarações que prestou ao Rádio Clube de Benguela afirmando total repulsa pela decisão final tomada. Mas este senhor, testemunha ocular de tudo o que se passou no campo, não teve interesse em ser incluído no tal inquérito fantasma! E ao «Sul», os meus agradecimentos por me ter facultado estas declarações».
Depois, Rodrigo Guerra, Director do Emissor Regional do Cubal e nosso camarada de Imprensa foi também abordado.
5.Rodrigo Guerra opina.
«Ouvi comentários de pessoas que assistiram ao encontro e que, embora divergindo num ou noutro ponto, foram sempre concordes e acervos no tocante à actuação do árbitro da partida
apontando-o como principal responsável pela situação gerada. As declarações prestadas por Quim Costa, ex-treinador jogador do Sporting de Benguela, pessoa idónea e abalizada, em que afirma ter o jogador Porto colaborado com ele no sentido de acalmar os ânimos mais exaltados, vêm agora trazer-nos a certeza que efectivamente algo ficou por esclarecer. Por outro lado, declara o Senhor Tesoureiro da AFB que foi informado da falta de segurança do árbitro ao pronunciar os nomes dos jogadores ditos implicados que até, tendo já indicado quatro nomes a um director do Recreativo, os substituiu por outros posteriormente. Tudo isto me leva a crer, portanto, que muito falta esclarecer em abono da verdade.
«Aliás, Telmo, Canais e Valdir, jogadores muitíssimo correctos e possuidores de um grau de cultura de certo modo elevado, foram também injustamente punidos. Mas, estas irradiações são inadmissíveis. «Sobre o comportamento do árbitro Senhor Duarte Carvalho, nada posso afirmar, pois como já disse não assisti ao jogo. Mas, é facto que infelizmente em Angola não podemos contar com número suficiente de árbitros à altura pois é frequente verificarmos irregularidades de arbitragens que atribuiremos à incompetência, favoritismos, falta de personalidade, etc. O que é facto é que o esforço de 22 homens não pode continuar a ser jogado a bel prazer de árbitros e seus coadjutores, como uma bola de praia nas mãos de crianças! Esta é uma situação a que urge pôr cobro sem demora, sob pena de se ver destruída uma melhor hipótese de vida futura no nosso futebol. Há por exemplo um Luciano Calado e um Francisco Serra (sem desprestígio, para outros possíveis árbitros do nosso distrito de igual gabarito) que sabem conduzir uma partida com marcada personalidade. Cabe às Associações, pensar desta maneira.
«Voltando ao assunto terminou por nos dizer: «Penso que o inquérito que ditou as penas de irradiações aos jogadores Porto e Bibezinho, foi mal feito, por intenção. Esclarecendo outros pontos, a sentença teria sido bem diferente.
E a nossa reportagem prosseguiu.
Humberto Carvalho da Silveira, funcionário camarário e membro do Departamento de Futebol do Recreativo, foi por nós abordado variadas vezes tentando sempre esquivar-se. Depois de muito instado, declarou:
«Que mais poderei dizer deste caso que tanta tinta já fez correr?
«Que o futebol em Angola caminha para o descalabro porque os seus responsáveis que eu considero irresponsáveis — só querem «penacho»?
«Que protegem escandalosamente meia dúzia de Clubes das capitais?
«Que continuam a perseguir os chamados «clubes do mato» com receio que surja um novo «Independente» que domine tudo e todos nos rectângulos de jogo?.
«Que o Recreativo do Cubal, este ilustre desconhecido não pode prosseguir na sua carreira triunfal pois é inadmissível que com apenas três anos de actividade, tenha conquistado contra todos os vaticínios e desejos, o Campeonato Distrital?
«Que, não pode conquistar, porque não lhe permitem esse direito, um lugar ao sol, que mancharia os pergaminhos dos meninos bonitos a quem tudo é permitido?
«Que, é pertinente perguntar porque não foram irradiados os jogadores que cometeram agressões em Nova Lisboa, nos Coqueiros e noutros campos da Província, só porque única e simplesmente estavam em causa as tradições dos intocáveis ?
«Que, se deviam fazer exames psicotécnicos aos árbitros, quantas vezes quase analfabetos e que se interessam unicamente pela gratificação que recebem?
«Que, porque a Direcção do Clube e a própria população cubalense considera injusta ,triste e lamentável a situação criada, todos em uníssono irão até onde a Lei lhes permitir?
E muitos mais QUÊS, tinha Humberto Silveira para nos dizer, mas...
Com gravadores, flash e máquinas a nossa reportagem continuou.
FALAM AS GRANDES VITIMAS, BIBESINHO E PORTO!
7.O guarda-redes Bibesinho, espera apenas que seja feita justiça.
O número um e o número onze de uma equipa de futebol. O guarda-redes e o extremo esquerdo.
João Carlos Manuel (Bibesinho) começou por nos dizer que se iniciou nos juniores do Portugal. Em 1971, mudou de ares e veio para o Cubal, onde foi campeão distrital.
Perguntámos-lhe como estava a sua ficha na Associação. Respondeu--nos: «Completamente limpa, até este caso. Nunca fui castigado».
Sobre o jogo que deu origem aos castigos, disse-nos que no final dos noventa minutos regulamentares foi dos últimos jogadores a dirigir-se às cabines, por ser até o que estava mais distanciado, no seu posto, na baliza. Ao passar a vedação e ao dirigir-se para as cabines, viu público a discutir com o árbitro e talvez até a agredi-lo. Mas, cônscio das suas responsabilidades seguiu o seu caminho, ouvindo entretanto, o fiscal de linha chamar a atenção do árbitro indicando o número um (o número da sua camisola) como um possível agressor. Já nas cabines, e como teria de haver prolongamento, teve conhecimento pelo treinador do Recreativo que não podia continuar em campo, porque havia sido expulso. Admirado, acatou a decisão. Ficou admirado com a suspensão, e agora, absolutamente incrédulo ao ter conhecimento da pena de irradiação que lhe foi aplicada.
Insistimos: Mas a que atribui o motivo porque o árbitro do encontro indicou no Boletim, culpabilidade sua?
Cabisbaixo, respondeu -nos: «Questão de azar! O senhor árbitro não pode reafirmar com verdade qualquer falta da minha parte. A sua consciência não pode estar tranquila. Nada fiz para que me fosse aplicada tal pena ou qualquer outro castigo. Nunca lhe faltei ao respeito. É possível que tenha sido agredido por qualquer elemento da assistência, mas para isso lá estava a PSP para testemunhar, mas por mim ou por qualquer outro colega, não foi concerteza. Para condenar é preciso provas. Pergunto só: se ninguém pode testemunhar qualquer ofensa verbal ou corporal é possível que pessoas responsáveis me tenham castigado? Com o devido respeito, por isso continuo calmamente a confiar na consciência dos homens que nas altas esferas dirigem o desporto.
Porto, estava com pressa. A hora do treino aproximava-se, e ele confiante, lá está sempre. Confirmou as palavras do seu colega e disse: «A minha irradiação, foi uma decisão totalmente absurda. Durante todo o jogo acatei disciplinadamente todas as resoluções tomadas pelo Senhor árbitro. Até ajudei a que os meus colegas as acatassem também. Fiquei admiradíssimo quando soube que ia ser sujeito a um inquérito e mais ainda perplexo até, ao ter conhecimento da pena que me foi aplicada. Estou convencido que o próprio senhor árbitro não soube bem o que escreveu. Havia muitos nervos, o público muito «quente» e o senhor árbitro estava desorientado. E eu fui a vítima». Lamentando-se, e a terminar disse-nos:
« Espero e confio na justiça dos Homens.
Depois já quase noite, no Estádio Municipal, ouvimos o velho Zé Manel um nome que todo o Distrito de Benguela conhece e que actualmente é o responsável pelo team cubalense. A queima roupa, perguntámos-lhe: Que pensa das penas de irradiação aplicadas aos jogadores Porto e Bibesinho?
8. Zé Manel, o treinador confia
Respondeu-nos:
«Vi o jogo e apesar de depois deste terminado ter conhecimento das declarações feitas pelo árbitro no boletim, nunca me passou pela cabeça que pessoas responsáveis pudessem ter a leviandade de aplicar a duas penas de irradiação que estão em causa aos jogadores Porto e Bibesinho (Carlos Manuel).
«O senhor árbitro Duarte de Carvalho patenteou plenamente não possuir as mínimas condições para dirigir um encontro desportivo. Ele próprio levou os jogadores de ambas equipas a cometerem actos de indisciplina, quer admitindo entradas às margens das leis, quer em não acatar as suas decisões. Ele estragou o jogo e no final foi vítima do público exaltado. Os jogadores depois foram as vítimas. Estive sempre perto dos jogadores do Cubal, portanto também dos dois jogadores agora injustamente irradiados e posso afirmar que nenhum deles agrediu o árbitro. Considero este facto, as irradiações, PURA INJUSTIÇA.
Perguntámos depois: Que pensa das possibilidades da equipa cubalense na presente época?
«Lutaremos pela conquista de um lugar cimeiro que nos faculta a entrada na primeira divisão.
8.O Presidente do Conselho Fiscal, Jorge Paulista, usando da palavra em resposta a centenas de cubalenses presentes na manifestação.
Mas na cidade cheirava a esturro! Uma enorme manifestação estava preparada. E efectivamente, no domingo pela manhã, muitas centenas de pessoas, muitas delas empunhando dísticos alusivos ao assunto tais como
CUBAL CAMPEÃO DISTRITAL PEDE JUSTIÇA — REPUDIAMOS A DECISÃO DA ASSOCIAÇÃO PROVINCIAL DE FUTEBOL — PORTO E BIBESINHO VITIMAS DE INJUSTIÇA etc., se agruparam em frente da varanda do Clube Beneficente e Recreativo do Cubal, manifestando o seu desagrado pela injustiça feita aos dois atletas e pedindo à Direcção do Clube que não se conforme e que insista até onde for necessário até que consiga que a decisão seja alterada e que justiça seja feita.
Nós vimos isto tudo! E sinceramente, raciocinando que onde há culpa não há força, somos cultos a pensar que as centenas de pessoas ali presentes das quais muitas dezenas assistiram ao jogo do Lobito, têm a razão por «seu lado. E esta gente, onde o suor e o sol queima as faces, não se conforma com injustiças.
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Ruca