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28 maio 2008

Poesia de Henrique Faria


DE ONDE EU VENHO

De onde eu venho
Não há dunas de areia
Águas soltas no céu
Pingando gengibre e doce mel
Rios, sim.

De onde eu venho

Estremecem paludismos
Fogueiras devoram as noites
Desejos por saciar
Estalam ruidosamente os ossos do tempo.

De onde eu venho
Há cabaças de kissangua e hidromel
Virgens parindo ternuras
Sede da terra
Rios velhos, sim.

De onde eu venho
Planam girassóis ao vento
Gestos de vidro e luz de mil cores
Amores alucinados
Carne viva.

De onde eu venho
Há imbondeiros preguiçando ao sol
Sombras voam na floresta
Faúlhas dançam no escuro
Rios novos, sim.

De onde eu venho
Há mulheres dilacerando os milhos
Borboletas azuis
Ritmos da memória antiga
Rios pedregosos, sim.

De onde eu venho
Jovens ensaiam juras de amor
Luares derramados nas copas
Serpentes prateadas, nevoeiro
Rios serenos, sim.

De onde eu venho
Há meninos rindo, na casa do meio
Nuvens brancas, girassóis
Corpos sedentos, febris
Rios mágicos, sim.

De onde eu venho
Kissanges e batuques perfumam a noite
Fogueiras e pirilampos
Palavras apenas sussurradas
Rios sem margens, sim.

De onde eu venho
Acendem-se candeias ao jantar
Despem-se silêncios desiguais
Águas gordas, grávidas
Rios primevos, sim.

Henrique


1 comentário:

  1. "De onde nós viemos", diria... Parabéns e obrigado ao Henrique pelo lindo poema que partilha com a nossa comunidade de amigos! abraço

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