(autor deste texto e do seguinte)
1930 - Ano de chegada a Angola
SUBSÍDIOS PARA A MONOGRAFIA DO CUBAL;
Fazer história é tarefa ingrata, especialmente, quando se pretende relatar o passado, com verdade e sem paixões.
O presente apontamento, que tenta contribuir para uma monografia do Cubal, é um trabalho sem pretensões. Apenas o incluímos, neste livro (Três Continentes uma Vida), por achar pertinente integrar algumas páginas dedicadas à nossa terra de adopção.
Elaborámos este esboço monográfico a partir de elementos recolhidos ao longo dos 44 anos que vivemos na região à qual, orgulhosamente, oferecemos, permanentemente, o melhor da nossa capacidade e dedicação.
Para fazer a História do Cubal há dois factores fundamentais a considerar: os factores humano e físico. Ainda que ambos sejam interdependentes, consideramos neste capítulo a componente humana, pois a componente física — o Caminho de Ferro de Benguela — será abordada em capítulo diferenciado.
Como premissa básica queremos começar por destacar que a região da Hanha, onde se insere o Cubal, conheceu relativa importância, antes da construção do caminho de ferro.
Em 1878 a área Administrativa de Benguela era vastíssima. Abrangia toda a zona litoral desde Benguela a Novo Redondo, penetrando para o interior até às regiões do Seles, Bailundo, Huambo, Caconda, estendendo-se ainda até Camocuio, perto de Moçâmedes.
Só em Caconda existia uma pequena ocupação de europeus, um Posto Militar, designado por Capitania Mor, e em Quilengues uma Missão Católica.
A força militar instalada em Caconda funcionava como filtro coordenador da nossa penetração a partir de Benguela, via Dombe Grande, pelas margens do Rio Coporolo.
Em Quilengues definiam-se como que dois novos e importantes ramos de penetração: um, via Hoque para a Huila, onde estava já implantada uma Missão Católica; o outro dirigido a N'Gola, Caconda e Bié.
Era em N'Gola que os nativos hostis ofereciam tenaz resistência à penetração dos portugueses que pretendiam atingir o “interland” designação genérica que se dava a todo o interior.
N'Gola podia considerar-se então uma zona, altamente, estratégica, tal como em terminologia moderna, hoje diríamos. Estava localizada sobre a montanha no prolongamento da Serra da Cheia. No sopé existiam picadas que facilitariam a almejada penetração.
Os nativos não viam, entretanto, com bons olhos o devassar das suas terras. Parece-nos que não haveria justificação plausível para a hostilidade dos nativos, quanto a nós, explicada, apenas, na existência de heterogéneos grupos tribais e, especialmente, na falta de contactos com o litoral onde, pelo contrário, a presença portuguesa era bem aceite.
O certo é que foi necessário ultrapassar múltiplas dificuldades para que a nossa penetração se concretizasse. E, ela só foi possível, não, como muitos poderão supor, pela força das armas mas pela instalação dos verdadeiros colonizadores pacíficos: os comerciantes, que tal como Silva Porto, Fraga e tantos outros, foram verdadeiros «heróis da Paz».
Corria, como já referimos, o ano de 1878. Surge, em Luanda um homem que, com uma coragem indómita, arrostando, praticamente, com o desconhecido, pretende dirigir-se a Caconda. Inicia a viagem, a pé, em Luanda seguindo pelas margens do Rio Cuanza. Em seguida atravessa a região do Seles, Benguela e Dombe Grande. Ao longo das margens do Rio Coporolo atinge a Hanha, segue para Caluquembe até que, finalmente, chega a Caconda, terra, ao tempo, com certa influência europeia.
A viagem empreendida por Joaquim Francisco Ferreira, assim se chamava o intrépido sertanejo, não teve grandes problemas na zona onde os nativos, obstinadamente, nos eram hostis. Essa facilidade resultou do traçado inteligente que imprimiu ao seu caminho, pois a cerca de cem quilómetros de Quilengues, continuou a marcha pela margem do Rio Coporolo, rumo a Caluquembe, já em pleno planalto de Caconda evitando, assim, tacticamente, a passagem por N'Gola.
Poder-se-á imaginar, entretanto, no aspecto físico e psicológico, a dimensão da empresa a que Joaquim Francisco Ferreira meteu ombros. Os seus instrumentos de orientação eram apenas uma bússola e um rudimentaríssimo mapa da região. Quanto às condições de sobrevivência basta que as imaginemos em pleno sertão e recuando, no tempo, até 1878.
A distância que percorreu estima-se, em termos rodoviários, actuais, em mil cento e cinquenta quilómetros!
Fazer história é tarefa ingrata, especialmente, quando se pretende relatar o passado, com verdade e sem paixões.
O presente apontamento, que tenta contribuir para uma monografia do Cubal, é um trabalho sem pretensões. Apenas o incluímos, neste livro (Três Continentes uma Vida), por achar pertinente integrar algumas páginas dedicadas à nossa terra de adopção.
Elaborámos este esboço monográfico a partir de elementos recolhidos ao longo dos 44 anos que vivemos na região à qual, orgulhosamente, oferecemos, permanentemente, o melhor da nossa capacidade e dedicação.
Para fazer a História do Cubal há dois factores fundamentais a considerar: os factores humano e físico. Ainda que ambos sejam interdependentes, consideramos neste capítulo a componente humana, pois a componente física — o Caminho de Ferro de Benguela — será abordada em capítulo diferenciado.
Como premissa básica queremos começar por destacar que a região da Hanha, onde se insere o Cubal, conheceu relativa importância, antes da construção do caminho de ferro.
Em 1878 a área Administrativa de Benguela era vastíssima. Abrangia toda a zona litoral desde Benguela a Novo Redondo, penetrando para o interior até às regiões do Seles, Bailundo, Huambo, Caconda, estendendo-se ainda até Camocuio, perto de Moçâmedes.
Só em Caconda existia uma pequena ocupação de europeus, um Posto Militar, designado por Capitania Mor, e em Quilengues uma Missão Católica.
A força militar instalada em Caconda funcionava como filtro coordenador da nossa penetração a partir de Benguela, via Dombe Grande, pelas margens do Rio Coporolo.
Em Quilengues definiam-se como que dois novos e importantes ramos de penetração: um, via Hoque para a Huila, onde estava já implantada uma Missão Católica; o outro dirigido a N'Gola, Caconda e Bié.
Era em N'Gola que os nativos hostis ofereciam tenaz resistência à penetração dos portugueses que pretendiam atingir o “interland” designação genérica que se dava a todo o interior.
N'Gola podia considerar-se então uma zona, altamente, estratégica, tal como em terminologia moderna, hoje diríamos. Estava localizada sobre a montanha no prolongamento da Serra da Cheia. No sopé existiam picadas que facilitariam a almejada penetração.
Os nativos não viam, entretanto, com bons olhos o devassar das suas terras. Parece-nos que não haveria justificação plausível para a hostilidade dos nativos, quanto a nós, explicada, apenas, na existência de heterogéneos grupos tribais e, especialmente, na falta de contactos com o litoral onde, pelo contrário, a presença portuguesa era bem aceite.
O certo é que foi necessário ultrapassar múltiplas dificuldades para que a nossa penetração se concretizasse. E, ela só foi possível, não, como muitos poderão supor, pela força das armas mas pela instalação dos verdadeiros colonizadores pacíficos: os comerciantes, que tal como Silva Porto, Fraga e tantos outros, foram verdadeiros «heróis da Paz».
Corria, como já referimos, o ano de 1878. Surge, em Luanda um homem que, com uma coragem indómita, arrostando, praticamente, com o desconhecido, pretende dirigir-se a Caconda. Inicia a viagem, a pé, em Luanda seguindo pelas margens do Rio Cuanza. Em seguida atravessa a região do Seles, Benguela e Dombe Grande. Ao longo das margens do Rio Coporolo atinge a Hanha, segue para Caluquembe até que, finalmente, chega a Caconda, terra, ao tempo, com certa influência europeia.
A viagem empreendida por Joaquim Francisco Ferreira, assim se chamava o intrépido sertanejo, não teve grandes problemas na zona onde os nativos, obstinadamente, nos eram hostis. Essa facilidade resultou do traçado inteligente que imprimiu ao seu caminho, pois a cerca de cem quilómetros de Quilengues, continuou a marcha pela margem do Rio Coporolo, rumo a Caluquembe, já em pleno planalto de Caconda evitando, assim, tacticamente, a passagem por N'Gola.
Poder-se-á imaginar, entretanto, no aspecto físico e psicológico, a dimensão da empresa a que Joaquim Francisco Ferreira meteu ombros. Os seus instrumentos de orientação eram apenas uma bússola e um rudimentaríssimo mapa da região. Quanto às condições de sobrevivência basta que as imaginemos em pleno sertão e recuando, no tempo, até 1878.
A distância que percorreu estima-se, em termos rodoviários, actuais, em mil cento e cinquenta quilómetros!
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in Sebastião das Neves -"TRÊS CONTINENTES UMA VIDA"
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Ruca