ESPAÇO DEDICADO AO CUBAL E ÀS SUAS GENTES COM HISTÓRIAS VERDADEIRAS PASSADAS, POR ALGUNS DOS SEUS FILHOS, DESCONHECIDAS (Histórias) DE TODOS. NO CUBAL E NÃO SÓ.
ANO 1974.
RELEMBRANDO O MANUEL FERNANDO CARONA, ESSE GRANDE AMIGO…
Depois de um Curso de Sargentos Milicianos (durabilidade de mais ou menos 6 meses, entre recruta e especialidade), cursado na E.A.M.A., (Escola de Aplicação Militar de Angola), Nova Lisboa e que infelizmente devido a um 25 de Abril muito mal camuflado, sou quatro dias depois, por ordens superiormente emanadas, promovido a 2º Furriel, eu e todos quantos frequentamos a dita, para mais, dois dias volvidos, nos caírem em cima as divisas de 1º Furriel (Como entretanto devido a provas físicas excelentes, e com valorização em todos os testes, sou chamado ao comandante da E.A.M.A., onde me perguntam, se eventualmente, não teria interesse em ingressar no Curso de Oficiais Milicianos, havendo no entanto um senão que foi a origem da não aceitação, teria que começar de novo em Janeiro de 75, uma nova recruta visionada a Oficiais. Penso e chego à conclusão que não seria em nada vantajoso, pois perderia cerca de um ano de exército, assim sendo mostro-me irredutível e avanço 12 meses no espaço e no tempo) … Para quem esperava que as mesmas divisas) só aparecessem 18 meses depois, começava tudo por ser airoso e de certo modo até interessante, a vida militar que tínhamos de fazer voluntariamente obrigados… e com o ordenado que pagavam, como estava desarranchado e Caconda era considerada, como zona de 50% de guerra (17.250$00, salvo erro), sentia-me como um rei, na barriga, inchadíssimo.
Antes porém, devo acrescentar, que muita malta da minha idade, vou fazer em 17 de Abril 58 anos, tinha assentado praça na dita E.A.M.A., casos do MANUEL FERNANDO CARONA, FERNANDO JORGE VAZ FAUSTINO, FERNANDO REBELO DE FREITAS E OUTROS DOS QUAIS JÁ NEM ME RECORDO NOMES (onde estão meus amigos?), mas que directa ou indirectamente, continuam no sótão do pensamento, por nos terem separado e mandado, em prol da defesa de uma Pátria que hoje e aqui em Lisboa teria que ser muito mais bem guardada, já que o grande mal que avassala este País, nunca foi as Províncias Ultramarinas e sim os tachos que se iam perdendo, enquanto as ditas (províncias Ultramarinas) estavam cada vez mais seguras, fruto duma estreita colaboração de pessoas de bem, independentemente de raças e credos, fortalecidas por estruturas humanas, vincadamente superiores, mas enfim isso não são contas do meu rosário.
Aquando da especialidade, sou abordado pelo meu grande amigo, MANUEL FERNANDO CARONA que me pergunta sem pestanejar: Eduardo, que especialidade escolheste? Sem as mínimas reticências digo-lhe apenas Atirador Especial e tu NANDO? Eu, eh pá, pela adrenalina, vou para os pára-quedistas. Fiquei boquiaberto, mas enfim, o NANDO, contra-ataca, porque vais para atirador? Tento explicar-lhe que aquela era a especialidade que me obrigaria de todo, saber um pouco de tudo e sentir-me-ia muito mais à vontade controlar do que ser controlado. Entre um abraço e um sentimento de irmão despeço-me do meu grande amigo, ficando quase com a convicção que certamente não o voltaria a encontrar tão cedo, mas a vida, a vida, sempre a vida, surpreende-nos, em cada esquina dobrada…
Depois da respectiva promoção, esfrego as divisas no chão, para não parecer um novato e sim velhinho de guerra e vou directamente para o Regimento de Infantaria, Sá da Bandeira, onde, devido às excelentes provas prestadas na E.A.M.A., peço para ingressar nessa bela Vila de Caconda, para onde aliás de imediato sou destacado. Para ali, CACONDA, só havia uma vaga e essa por direito próprio, pelas notas, conseguidas na recruta e como era o primeiro a escolher, nem hesitei. Relativamente perto de casa, estava como queria, passava o dia na pensão de Caconda, pensão do Sr. Lito, indo ao quartel de quando em vez para não dar muito nas vistas, embora me tivessem dado, toda a responsabilidade do PAIOL, DA SECÇÃO DE JUSTIÇA E DE INFORMAÇÕES SECRETAS. Nada mau, para um puto de 20 anos, nada mau… Uma odisseia, no mínimo. Na pensão LITO, a quem mando um abraço se me estiverem a ler, sou tratado que nem um LORD. O Lito e a sua esposa davam-se ao trabalho de terem a posta de Bacalhau assada e preparada para diariamente ser devorada às 7,30H, da manhã, posta de Bacalhau e um bife com um ovo a cavalo e respectivas batatas fritas, tudo isto muito bem regadinho com café com leite, à disposição, até quanto bastasse, ainda com pãozinho com manteiga (mensalidade de 1750$00, pequeno-almoço, almoço, jantar, cama e roupa lavada, caríssimo não?) …
Assim vou passando os dias…
Até que um dia, encontrava-me de Sargento de Dia, e estando no meu gabinete (lindo, não?) da Secção de Justiça, um cabo avisa-me, Furriel está lá fora, outro camarada seu, que foi destacado aqui para Caconda e pretende apresentar-se. O.K., vamos lá conhecer o homem. Entretanto o Cabo balbucia-me entredentes, o homem tem um cabedal que é de meter medo. Não acredito no que oiço porque de imediato me vem à cabeça que era o Carona (mais tarde baptizado por mim como sendo KIKO), que teria sido destacado para CACONDA. Não, penso, devo estar a sonhar o CARONA estará infelizmente nos pára-quedistas, impossível ser esse meu grande amigo. Chego à varanda e vejo com os olhos humedecidos pela emotividade da situação, o FERNANDO CARONA, ali especado à espera que alguém lhe pudesse dar as boas vindas. Grito-lhe e de imediato parto ao seu encontro, que numa confraternização de irmão de sangue se deliciam por se terem voltado a encontrar, sem imaginar, as histórias que iriam perpetuar naquela vilazeca do interior, e que histórias SANTO DEUS.
E como em todo o conto verídico há aquelas que naturalmente se podem falar e há e haverá sempre as outras que são tabu, de serem reveladas, pois por si só elas são de uma grandiosidade tão tremendamente forte que se fossem delatadas, certamente seriam, delapidadas do seu valor de preciosismo e tornar-se-iam como se de vulgaridades se tratassem, e quando no real nada disso sucede, dessas no entanto, não falarei.
Caconda era uma vila conhecida, por ser uma zona esotérica, como deverão e por uma questão de respeito a mim próprio e às intervenientes, apelidá-las-ei de Senhoras XXX. E esotérica porque corria por Angola inteira que havia uma água muito especial, nessa dita vila, que quem lhe a desse e caso se bebesse era casamento garantido.
Entretanto o Carona, desarrancha-se e começa por comer tb., na pensão do Sr. LITO e respectiva esposa. Ponho o BOM GIGANTE, ao par de todas as situações, e com o passar do tempo como nada há a fazer, informo-o como bom amigo, o cuidado a termos pelos convites que naturalmente surgissem, indo eu ao cumulo de lhe dizer que quando lhe oferecessem algo, o aceitasse sempre com a mão esquerda, maneira correcta de a água não fazer efeito, e cortar todo o mal que naturalmente pudesse conter, pois todos sabemos que não há bruxas, mas que existem, existem, isso não duvidem.
Começa a correr por Caconda entretanto a noticia que havia dois furriéis, solteirinhos, bons mocinhos, que nada tinham a ver com os outros porque estes eram mais finos, nem dormiam no quartel, e comiam na pensão LITOS, onde diariamente à hora do almoço, se começou a ver um movimento feminino demasiadamente inusitado, e muito distinto do que aquilo que até há bem pouco tempo se passava. Começam tb., a chover convites para festas particulares que duma forma subtil, vamos nos esquivando, aterrorizados pela tal dita água que podia contaminar, qualquer comida ingerida, lembrando no entanto eu, ao Carona, que se naturalmente nós fossemos, pegar tudo com a esquerda, não fosse o diabo tecê-las. Mas a muito custo, diga-se de passagem, sempre nos esquivámos com desculpas mais esfarrapadas e inocentes possíveis, pois os nossos 20 anos, sem a maturidade de hoje, eram uma catástrofe. E como havia tanta tentação de 30 e tantos anos… mas havia que aguentar, aquilo não estava para folias, e o casamento obtido daquela forma muito menos no n/ horizonte. Abro aqui um parêntesis, muito especial à Lucília, esposa do Carona, porque tenho a certeza que o ÓPTIMO GIGANTE KIKO, nada lhe escondeu, e ela na sua bondade certamente compreenderá tudo quanto se passou e aliás o que vou contar a seguir, já foi motivo de risota na sua bela casa, onde vivem.
Um belo dia, almoçava eu o NANDO, na pensão, quando aparece alguém a perguntar pelo furriel Flórido ou Carona.
De imediato uma mocinha aparece, trazendo um pudim de leite feito pelas Senhoras XXX, que nos diz, que as mesmas teriam muito gosto que nós o comêssemos como sobremesa naquele dia. Comovidos agradecemos e prontificamo-nos a provar o mesmo, assim que acabássemos de Almoçar. Findo o mesmo, olhamos para o pudim e dividimo-lo ao meio ou seja metade para cada um e vai daí a primeira colherada, eis que eu solto um grito que se ouve na pensão toda: Cuidado Nando, olha a água. O Nando de imediato pára e desatámo-nos a rir, mas pelo sim e pelo não, não houve pudim de leite para ninguém.
O Sr. LITO e a esposa, tinham nessa altura um cão que andava sempre solto no quintal da Pensão e vai daí o nosso bom iluminado Carona, propõe-me: Eh! Pá, se isto nos faz mal a nós, tb., certamente fará ao Cão, vamos-lhe dar a ver o que acontece, dito e feito. Chamado o cão, o mesmo não se faz rogado comeu o pudim inteirinho em menos de um fósforo, ou enquanto o diabo esfrega um olho…
Esquecemos o assunto cada um foi para o seu quarto, tratar da sua higiene pessoal, e sinceramente nunca mais nos lembrámos, nem do pudim, nem do cão, nem das Senhoras XXX.
Como sempre depois de uma soneca, uma hora, arrancamos para o quartel. A casa das ditas senhoras, ficava perto do mesmo e forçosamente teríamos de passar à porta. E foi aí que os nossos corações de homens de 20 anos, gelaram totalmente quando avistamos o cão a quem tínhamos dado o pudim, a espumar e a ladrar desenfreadamente, com o rabo todo esticado, mostrando um rosnar que nunca tínhamos visto naquele bicho que lidava connosco diariamente, num frenesim de loucura total, como se buscasse algo que ainda hoje não percebi o que seria, apenas que era possuído por força estranha e demasiadamente assustadora. DIREI MESMO ATERRADORA.
Gostaria que o meu grande amigo Carona fizesse a confirmação desta história.
Mas finalizo, que se não houvera, jamais houve festa que fosse frequentada por nós…
Foi um exemplo demasiadamente ATERRADOR, que tem o seu término, volvidos dias, quando o cão sem saber-se porquê, morre repentinamente.
Com cordialidade…
Até um dia destes,
*Eduardo A. Flórido
Edasilf@live.com.pt
Caro Eduardo e Fernando,
ResponderEliminarXiça!!!! Será que o cão morreu apaixonado?? ahahahaha
Grande abraço para ambos e obrigado ao meu Tio Furriel Eduardo ;-)) por esta bela e arrepiante história...
xiça.... abrenuncio!! ahahahaha
Caro Eduardo:confirmo tudo o que escreves, apenas com um senão...é que o cão já andava bastante doente.Aproveito também para enviar um grande beijinho a todas aquelas lindas raparigas que viviam em Caconda e Caluquembe.Tão lindas que acabei por casar com uma delas.Meu grande amigo Eduardo,continua a contar as nossas histórias pois como sabes dariam um belo livro, mas nunca contes a do combóio mala...
ResponderEliminarUm abraço para todos
Desculpem o anónimo sou eu o Fernando Carona
ResponderEliminarUM ANÓNIMO, MANUEL FERNANDO CARONA, DELIRANTEMENTE BEM DISPOSTO...
ResponderEliminarTENS TODA A RAZÃO, O CÃO ESTAVA BASTANTE DOENTE DEPOIS DE COMER O PUDIM...
CASASTE COM UMA SENHORA DE SÁ DA BANDEIRA E QUE SE ENCONTRAVA EM CALUQUEMBE, A DAR AULAS, MAS NUNCA EM CACONDA.DIGA-SE NO ENTANTO QUE ESTA BELA VILA, TINHA UM POVO DE SE LHE TIRAR O CHAPÉU.
UM ABRAÇO A TODOS...
EDUARDO
Eduardo, Acho que agora todos estamos à espera da história... sim aquela do comboio mala ;-)... acredito que tenhas a arte e engenho para a contar ;-))
ResponderEliminarAbraços
Ruca
RUI: A HISTÓRIA DO COMBÓIO MALA É DEMASIADAMENTE COMPLICADA, PARA QUE NATURALMENTE SEJA AQUI DELATADA. NO ENTANTO E JÁ QUE O N/ AMIGO CARONA, ABRIU O LEQUE, QUEM SABE SE EU UM DIA DESTES NÃO A CONTO??? MAS TERÁ, FORÇOSAMENTE DE SER DEMASIADAMENTE CAMUFLADA, POIS TRATA-SE DE ALGO QUE FAZ ARRIPIAR , E APENAS EU E O CARONA SABEMOS O PRÓPRIO SIGNIFICADO,MAS SEMPRE TE AVANÇO QUE É ACERCA DE UMA POBREZINHA QUE NÃO TINHA DINHEIRO PARA A COMPRA DE VESTIDOS COMPRIDOS E FOI ENTÃO QUE APARECEU O LOBO_BOM. MAS ESTE QUANDO APARECEU TODOS TREMEMOS, E TIVEMOS MEDO, QUE POR QUALQUER IRONIA DO DESTINO SE TRANSFORMASSE EM LOBO MAU...
ResponderEliminarFELIZMENTE HAVIA MUITO CAÇADOR E O LOBO, TB ., ENTENDEU ISSO E CONTINUOU A SER BONZINHO...
PODE SER QUE DEPOIS EU AVANCE COM A DITA OU A RECOMECE NOUTRO CONTEXTO DA CAÇADA.
UM ABRAÇO PARA TI E OUTRO PARA O CARONA.