ESPAÇO DEDICADO AO CUBAL E ÀS SUAS GENTES COM ESTÓRIAS (HISTÓRIAS) VERÍDICAS PASSADAS, POR ALGUNS DOS SEUS FILHOS, DESCONHECIDAS DA MAIOR PARTE, DOS ALI NATOS E HABITANTES. NO CUBAL E NÃO SÓ…
CLUBE FERROVIA DO CUBAL…
ANO DE 1969…
Mais um enlace matrimonial a fazer furor na nossa bela cidade… Os noivos (sigilo absoluto sobre o seu nome e respectivas famílias), convidam o clã Flórido que se apresenta ao acto solene, primeiro na igreja e depois neste mesmo clube desportivo a fim de apadrinharem, a jura de amor eterno, num copo de água memorável, e de fazer lamber as beiças, pelas iguarias com que cada convidado era presenteado. O Ferrovia engalanado a preceito, fora o local escolhido, e bem, pois juntamente com o Recreativo, 98% (+-), era sempre a predilecção de todos os convivas a este género de cerimónia. Ao começar o assalto a todo o género de ementa que naturalmente diversificava e em muito em relação àquilo que actualmente se processa em Portugal, por exemplo, deixa todos indecisos por onde deverão começar a esquentar o motor (estômago), para mais tarde com a postura, um tanto ou quanto já meio zonza, ou zonza inteira, numa perdição total, comerem e beberem escancaradamente sem olhar o preceito da (in) delicadeza educacional, marimbando-se positivamente, para princípios de regras civilizacionais e de postura válida, devido à graduação de uma subida desmedida e acentuada de álcool, que o organismo começa a assimilar.
Momento esperado pacientemente, pelo autor destas linhas, que apesar dos seus 15/16 anos, quando isto acontece, o combinado com outros não presentes e não convidados começa por ser posto à prova…
Esgueiro-me, nessa altura, facilmente entre as cortinas (penso ainda hoje, serem de veludo vermelho, ou não seriam?) fingindo, uma qualquer brincadeira, para o não levantamento de suspeitas, mas já com ela fisgada de chegar à última porta, oposta ao palco, conforme atempadamente combinado com os meus compinchas, e abrir os fechos da dita, porque a verdadeira comemoração, daquele sempre grandioso acto, começaria, quando os meus verdadeiros amigos estivessem presentes. Fechos abertos e portas sem serem tocadas (não fosse o diabo tecê-las), porque depois era só empurrá-las por fora… E tinha a certeza absoluta que ninguém iria verificar se a porta estaria aberta ou fechada, porque todos sabíamos que aquela, era uma das poucas que o salão tinha, que muito dificilmente era aberta, logo poderíamos ficar descansados, pois nunca seria visionada se estaria bem ou mal fechada.
O tempo voa, e finalmente chega tudo ao fim. Rostos cansados, bebedeiras, algumas, e as despedidas do costume… Os noivos entretanto, já haviam partido para as merecidas férias, e descanso (?) respectivo, numa viajem de núpcias, que ainda hoje recordarão, porque os intervenientes desta brincadeira jamais o esquecerão, certamente.
À saída, juntamente com os meus pais e irmãos, encontro-me com o Amadeu da Silva Ramos, vulgo “Ramitos” (filho do Ramos das Panelas), um dos componentes do grupo que me vem perguntar se está tudo preparado. À minha resposta positiva, ele indica-me que todos os outros componentes do famigerado grupo de comilões, já esta tudo de boca à banda, para fazermos a nossa festa, com a comida daquele bendito recém-casal e respectiva família.
Digo ao meu pai que fico por ali, com o Ramitos e este sempre de um modo pouco simpático, fita-me e tenta que eu zarpe com ele. Bênção dos Céus, a minha mãe intervêm e diz para o meu pai que me deixe estar e avisa-me para eu não demorar muito… A minha mãe anui a este pedido, porque a minha casa, era já ali a dois passos…
Vamos para o parque e já lá estão todos os componentes da trupe, o Toninho Xamiço (grande amigo), o Abel (actualmente no Congo Ex-Belga), o Campanera, o Ximoque, o Carona, e uns tantos outros que devido aos anos passados, naturalmente me vou esquecendo de nomes, mas que de modo algum serão esquecidos. Éramos 12, na totalidade. E já todos juntos apenas aguardávamos que a luz se fechasse para avançarmos, em grande cerco, sem dó nem piedade, para empurrarmos a nossa entrada secreta e trazermos para o parque toda a comida, bem como assim bebidas e doces que sabíamos ser a delícia dos nossos esfomeados estômagos…
Finalmente apaga-se a luz…
O Ramitos de imediato puxa por uma pequena lanterna e preparamo-nos, deixando passar algum tempo, não fosse alguém voltar atrás, para uma invasão pacífica e sem condenação, já que não é pecado, roubar para comer (apesar de eu ter a barriga cheia) …
Dirigimo-nos 4 à porta (os outros 8 ficavam de vigia), que eu anteriormente deixara aberta, e apenas com um pequeno empurrão eis-nos a afastar as cortinas, pois o faustoso banquete encontrava-se ali à nossa mercê. Lentamente, mas de modo vigoroso, começamos por trazer tudo o que nos vem às mãos, sem nos preocuparmos, com a luz da lanterna do Ramitos, tal não era necessário. Fomos e viemos quatro vezes, tendo montado em pleno parque o nosso grande piquenique, que ia desde o marisco, passando por as mais variadas carnes, até doces (incluindo grande parte do bolo de noiva), de chuparmos os dedos e… irmos buscar mais.
Tinha chegado a hora…
A festança ia começar, e começou sempre dentro do maior silêncio possível, não fosse alguém aparecer. Comida a rodos, doces sem fim e bebidas para quem se quisesse servir e se naturalmente terminasse, o armazém recheadíssimo estava a dois passos para que nos servíssemos à vontade…
Tudo pleno de beleza, e grandiosidade que de repente é interrompido por uma voz potente e de pouca animosidade, um Guarda-Nocturno, muito conhecido no Cubal, e que por respeito aqui não menciono o seu nome (já não se encontra entre nós, infelizmente), se dirige a mim e me diz num tom aterrador: Amanhã quem te vai aquecer as costas é o teu pai, porque lhe vou contar tudo o que se está aqui a passar.
Eu havia sido o primeiro a ser reconhecido, mas enquanto vai avançando, acaba por descortinar todos os outros e sem papas no dedo, começa a apontar o nome de todos os prevaricadores ali existentes. Eu num tom de súplica, peço-lhe encarecidamente que tal não o faça, pois apenas havia deixado a porta aberta, para comemorar, com os amigos não convidados, a felicidade daqueles que naquele dia haviam dado o nó e era tb., um modo de assim podermos confraternizar um pouco celebrando a nossa amizade, entre aqueles que não haviam sido convidados.
O dito guarda-nocturno, depois da minha explanação comovente, pergunta-nos, o que estávamos a comer, claro está de imediato convidámo-lo a assentar, CONFRATERNIZANDO CONNOSCO. De soslaio, olha-nos a todos e de improviso passa-nos um correctivo, cinco estrelas, ou seja daqueles memoráveis, que jamais serão esquecidos, porque termina, dizendo-nos que iria esquecer o que acabara de ver, rasgando de imediato o papel, com uma particularidade, iria comer connosco, desde que houvesse alguém que fosse buscar um champanhe, para servir de cama ao suculento repasto. Como por artes mágicas, apareceram de imediato duas, a quem o sujeito sublinhado de imediato, com leitão há mistura, as virou num ápice, obrigando-nos no entanto, a prometer que nenhum de nós havia estado ali.
DEVER E PROMESSA CUMPRIDA. É QUEBRADA DESTA FORMA, PARA APENAS SERVIR DE MOMENTO DE BOA DISPOSIÇÃO ENTRE TODOS, POR QUEM ESTE APONTAMENTO, SOBRE O PASSADO FOR LIDO… E SEM NUNCA DELATAR NINGUÉM A NÃO SER OS INTERVENIENTES DE BRINCADEIRAS SAUDÁVEIS QUE HOJE NOS TRANSPORTAM, A UM TEMPO IDO, MUITO MAIS SAUDÁVEL DO QUE ESTE PRESENTE, SEM FUNDAMENTO E SEM DESTINO…
SEI QUE DO CÉU, O BOM HOMEM ME ESTARÁ A OLHAR E A SORRIR, DIZENDO PARA OS SEUS BOTÕES: AS PALAVRAS DOS PUTOS DO ANTIGAMENTE VALIAM MUITO MAIS DO QUE A INTEGRIDADE PLENA DE CERTOS SABICHÕES QUE PROLIFERAM POR AÍ, NA NOSSA PRAÇA, ACTUALMENTE…
BEM-HAJA, AMIGO E QUE DEUS ESTEJA CONSIGO…
Com cordialidade…
Até já,
*Eduardo A. Flórido
Edasilf@live.com.pt