Obrigado,
Jaime, pela mensagem que nos ofereceste no facebook. Mas também gostava de a
ver aqui nas colunas do nosso Cubal-Angola-Terra Amada.
Há
anos, sugeri aqui nas nossas páginas, que todos nós, relatássemos, como cada um
melhor entendesse, os passos mais significativos da nossa vinda e radicação
neste pedacinho de Portugal. Penso que todos nós, agora 40 anos passados,
podemos contar alguns episódios e peripécias, como se estivéssemos reunidos
debaixo de uma árvore no convívio do Luso. Não perdemos nada e fica para a
história. Mesmo qualquer atitude menos digna, já atingiu a caducidade. Penso
que só o Ruca, aderiu nessa altura, é minha sugestão. Foi bom.
Alguns de nós sofreram mais que outros, outros que sentiram menos, não
por serem mais ou menos lúcidos, mas pelas circunstâncias que nesses momentos
se lhes depararam. Hoje lembro com saudade alguns problemas dessa fase.
Eu, no
Cubal, vivia com a Foto Lig, tinha um táxi que trabalhava especialmente para a
Repartição de Finanças, para os Delegados de Saúde e do Ministério Publico. Além
disso era agente da Companhia de Seguros A NACIONAL e também da
Agencia de Viagens EXPRESSO, do Lobito. Vendiam-se muitos bilhetes TAP
para a metrópole, que custavam cerca de 14.000 angolares e eu tinha uma
comissão de 4 %. Como eu, não precisava de levantar essas comissões ao
fim de cada ano, verificava quanto tinha em crédito, fixava o meu olhar nos
hemisférios do mapa-mundo, e mandava emitir um bilhete LOBITO-LUANDA-LISBOA-RIO,
etc. etc- LOBITO, com respectivas reservas de hotéis. Nos anos
seguintes, a cena repetia-se para outros cantos do globo. Mas quando os
meus pés pisavam de novo os aeroportos do Lobito ou de Benguela, levantava os
olhos para os céus, feliz por voltar ao meu paraíso.
Como todos os anos, vinha a Lisboa, tinha que utilizar hotel, alugar
carro, etc., um dia pensei em alugar uma casa, comprar carro e guardá-lo numa
garagem, e que servia também para qualquer amigo que cá viesse, aproveitar a
casa e carro. Realizei estas ideias e passado um tempo, aliando as
minhas ideias ás de um meu irmão, também fotografo e que residia em Moçâmedes. Pensamos
que, como não eramos pessoas ricas, não nos podíamos dar ao luxo de vir para
Lisboa, armados em ricaços. Depois pensamos em montar uma loja de
fotografia em Lisboa, que só funcionaria 6 meses por ano. No verão lisboeta eu
estaria cá 2 ou 3 meses, ele os outros 3 meses, obteríamos qualquer rendimento
para essas férias e depois, os restantes meses, na nossa querida Angola.
E assim montamos uma loja de fotografia, junto á igreja dos Anjos. Mas
NUNCA, NUNCA, NUNCA, nos passou pela cabeça deixar de viver
nessa terra amada. Sempre pensei passar toda a minha vida, nessas
paragens e muito especialmente no nosso querido Cubal.
Morava eu na casa de esquina em frente á casa do padre Zé,
onde havia morado o Raul, quando numa certa noite, um nosso amigo cubalense me
bateu á porta, dizendo que tinha a cabeça a prémio e pedindo um empréstimo de
todos os dólares que eu tivesse, porque tinha que ir imediatamente para a
África do Sul. Eu emprestei-lhe os dólares e rands que tinha.
Até hoje..................
No dia seguinte fui ao Lobito, e com os contactos que tinha na
Companhia Colonial e na Nacional, arranjei maneira de embarcar a mulher e os
filhos no primeiro paquete que chegou ao Lobito. E daí, fiquei vivendo
no Cubal. Formei um trio, com o Borges da farmácia e o Vilaça, e todos
os dias era assado um cabritinho ou um leitãozinho, num forno que havia nas traseiras
da sede do Ferrovia. O Vilaça, esgotou o stock dos vinhos de boas marcas que
tinha na loja. Eu, lavadeiras também tinha, só que surgiu um
problema. A certa altura, eu só tinha uma camisola para uma, um lençol para
outra, umas calças para outra e já não tinha mais roupa suja que chegasse para
todas. Mas enfim, com estes sacrifícios todos, lá íamos vivendo.
Depois com os contactos dos amigos da EXPRESSO LOBITO, adquiri 12
bilhetes-viagens do LOBITO-LUANDA-LISBOA-LUANDA, e nesse período de Outubro e
Novembro, fiz umas 12 viagens. Cheguei a despachar bagagem em Luanda, ir
em fila para o avião, dar uma volta e embarcar com outro bilhete no avião do
dia seguinte, com mais respectiva bagagem, que se ia aglomerando nos armazéns
do aeroporto de Figo Maduro, e aproveitava as manhãs para ir ao Banco de
Angola, trocar uns tantos contos por angolares, com cada bilhete TAP. Angolares
trocados por escudos, na zona da Maianga em Luanda, também era usual.
Depois, foi ter que tentar esquecer o nosso querido Cubal e o
nosso estilo de vida. Sem dar por isso, quando a independência
aconteceu, eu tinha em Lisboa, casa, carro, loja e uns patacos, tudo aconteceu
por mera casualidade, pois NUNCA me passou pela cabeça,
deixar de viver na nossa querida Angola. As coisas foram acontecendo e
simples e naturalmente, originadas talvez somente pelo meu espirito de viajar e
aproveitar a vida.
Mas também aconteceram casos menos agradáveis, que com a força da
minha juventude dessa época, se foram vencendo.
Mas também, um caso engraçado. Em princípios de 1974, comprei em
STUTGART um Mercedes novo, importei para Angola, e em meados de 1974, vendi-o a
um amigo cubalense. Ele trouxe o Mercedes quase novo para e metrópole, e
eu deixei o dinheiro no Banco de Angola. Inteligência
negativa........
Depois, fui fixando mais a minha vida em Lisboa, quási sem
dificuldades, trabalhando sempre honestamente, encontrando aqui e ali angolanos
e cubalenses amigos, até que surgiu o primeiro encontro no Luso, que
proporcionou uma verdadeira loucura de alegria e prazer.
E agora, que já cá cantam 78 Setembros, vamos
levando a cruz ao calvário o maior período de tempo que consiga. Um abraço para
todos.
Gil Barros