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03 novembro 2025

7) De Escola Técnica elementar a Industrial e Comercial! O salto do Ensino no Cubal em 1967

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(Documento: Decreto n.º 47 799, publicado no Diário do Governo, n.º 165, I Série, de 17 de Julho de 1967)

Avançamos rapidamente na nossa cronologia! Se o quarto documento (Decreto n.º 46519 de 1965 ) nos mostrou a criação da **Escola Técnica Elementar** no Cubal, este sétimo documento — o **Decreto n.º 47 799**, de **17 de Julho de 1967** — demonstra o rápido desenvolvimento da nossa Vila e a resposta do Governo à procura por formação profissional!

A reclassificação: Mais estudos, mais futuro

O preâmbulo do decreto explica o motivo desta reclassificação: satisfazer as necessidades resultantes do "progresso industrial e comercial verificado na província de Angola" e reclassificar escolas para uma **"maior extensão dos estudos nelas ministrados"**

E a Vila Cubal, menos de dois anos após a fundação da sua primeira escola técnica, é a principal beneficiária! O **Artigo 1.º** decreta formalmente:

Citação do Artigo 1.º:

"São elevadas à categoria de **escolas industriais e comerciais** as Escolas Técnicas Elementares de Henrique de Carvalho e **do Cubal**, ambas de frequência mista, nelas passando a funcionar:


  1. Ciclo preparatório do ensino secundário;
  2. Cursos de formação de: Electromecânico, Formação Feminina, e Geral de Comércio;
  3. Secções preparatórias para os institutos industriais e comerciais.

É um salto quântico na qualidade e diversidade da educação oferecida no Cubal!  De "Elementar", passamos a ter **cursos industriais** (Electromecânico, Trabalhos Manuais, Electricidade, Serralharia e Grafias ) e **cursos comerciais** (Geral de Comércio).

Isto reforça a narrativa que temos vindo a construir: o Cubal não era apenas um concelho no mapa; era um **polo em crescimento industrial e comercial** que exigia mão de obra qualificada. Os símbolos no nosso brasão (o gado e o sisal) ganham agora um novo complemento: a **formação técnica**!

O Decreto também extingue a Escola Elementar a partir da data de funcionamento da nova escola, garantindo que todo o pessoal transite para a nova instituição, mantendo os seus direitos.


🔎 O legado da Escola Industrial e Comercial do Cubal

Esta é uma das instituições mais importantes na memória de muitos cubalenses. Com a criação de novos quadros de pessoal (Art. 2.º), a escola ganhou uma nova vida e mais capacidade de ensino.

Quem estudou no **Ciclo Preparatório**, no curso de **Electromecânico** ou na **Formação Feminina** desta Escola?  Quem lecionou?  

Partilhem connosco as vossas memórias, fotos e histórias desta época dourada da educação no Cubal!

Saudações Cubalenses!

Ruca

02 novembro 2025

5) 🏛️ A história também passa pela PIDE: O Decreto de 1965 (há 60 anos) que criou o Posto da Polícia no Cubal.

 

(Documento: Portaria n.º 21 612, publicada no Diário do Governo, n.º 247, I Série, de 30 de Outubro de 1965.)

Damos hoje continuidade à nossa série de documentos oficiais do Diário do Governo. Depois de estabelecermos a identidade administrativa (concelho, distrito) e social (escola técnica, brasão) do Cubal, partilho convosco um documento que aborda a realidade política e de segurança da época: a **Portaria n.º 21 612**, de **30 de Outubro de 1965**.

Acredito, firmemente, que a história da nossa "Terra Amada" deve ser contada na sua totalidade, sem omissões. E o contexto colonial da década de 60 incluía a presença da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), o organismo de polícia política do Estado Novo.

O Cubal no mapa da PIDE

O sumário da Portaria indica a criação de vários postos da PIDE em diversas localidades de Angola. E, no texto do decreto, o **Cubal** é formalmente incluído nesse mapa:

Citação da Portaria n.º 21 612:

"[...] sejam criados os postos da Polícia Internacional e de Defesa do Estado nas localidades de Miconje, no distrito de Cabinda, Luremo, no distrito de Henrique de Carvalho, Gimbe, Lutembo, Muié e Ninda, no distrito de Moxico, Calai e Dirico, no distrito de Guando Cubango, Baía dos Tigres, no distrito de Moçâmedes, Gabela, no distrito de Cuanza-Sul, e **Cubal, no distrito de Benguela**, na província de Angola, todos dependentes da delegação do referido organismo com sede em Luanda [...]".

O objetivo do decreto era garantir a distribuição do pessoal (efetivo e eventual) da Polícia, consoante as necessidades do serviço. A inclusão do **Cubal, no Distrito de Benguela**, neste conjunto de localidades demonstra que a Vila tinha uma importância estratégica ou populacional que justificava a instalação de um posto desta natureza. Para a nossa história, é um facto administrativo inegável.


🔎 O Nosso Compromisso com a história completa

A publicação destes documentos — sejam eles sobre educação, brasões, ou segurança — permite-nos ter uma visão completa e sem filtros da vida e da administração do Cubal nos anos 60. O nosso papel aqui é o da memória, documentando o que a lei da época estabeleceu.

Continuarei a procurar estes registos oficiais para o nosso blogue. Juntem-se a mim nesta jornada de resgate da história do Cubal.

Saudações Cubalenses!

Ruca

31 outubro 2025

4) 🎓 A aposta no futuro: O Decreto de 1965 que fundou a Escola Técnica elementar no Cubal!

 


🎓 A aposta no futuro: O Decreto de 1965 que fundou a Escola Técnica elementar no Cubal!

(Documento: Decreto n.º 46 519, publicado no Diário do Governo, n.º 200, I Série, de 4 de Setembro de 1965.)

A nossa série de documentos históricos continua a desenhar a linha do tempo da nossa comunidade! Depois de termos visto o estatuto de concelho, a integração distrital e o nosso brasão de armas, chego agora a um decreto que representa uma aposta fundamental no futuro: o **investimento na educação**.

O documento de hoje é o **Decreto n.º 46 519**, de **4 de Setembro de 1965**, emanado pela Direcção-Geral do Ensino do Ministério do Ultramar. O seu sumário é claro: criam-se escolas de ensino técnico em várias províncias ultramarinas.

O Reconhecimento do crescimento escolar do Cubal

A justificação para a criação de novos estabelecimentos de ensino em Angola, S. Tomé e Príncipe e Timor é clara: "O ritmo de crescimento das populações escolares ultramarinas impõe que periodicamente se criem novos estabelecimentos de ensino."

E a nossa Vila, recém-consolidada como concelho e com um brasão oficial, merecia esse passo. O texto refere especificamente:

Citação do Decreto n.º 46 519 (Justificação):

"Na província de Angola os índices de frequência escolar justificam também a criação de escolas técnicas elementares em Henrique de Carvalho e **no Cubal** (...)"

Isto significa que o Cubal tinha, naquela altura, **índices de frequência escolar** que justificavam a criação de uma instituição que oferecesse formação profissional e técnica. E, formalmente, no **Artigo 3.º**, a medida é decretada:

Artigo 3.º:

"São criadas na província de Angola duas escolas técnicas elementares, sendo uma localizada **no Cubal** e outra em Henrique de Carvalho, ambas de frequência mista."

Em 1965, o Cubal era mais do que um nome num mapa administrativo; era uma **comunidade em crescimento**, com jovens que necessitavam de formação para contribuir para o desenvolvimento económico local (pecuária e sisal, como vimos no brasão!). A Escola Técnica Elementar foi, sem dúvida, uma peça chave no desenvolvimento social e profissional da nossa "Terra Amada"!


🔎 O Nosso Apelo à Comunidade Cubalense

Se já publicámos os pilares da administração e da identidade, agora chegamos ao pilar da **formação**! É fundamental que as memórias desta Escola Técnica  não se percam.

**Fomos alunos da Escola Técnica elementar do Cubal?** Temos fotografias, diplomas, histórias de professores ou colegas? A vossa contribuição é vital! Partilhem-nas comigo!

Saudações Cubalenses! Ruca

3) ⚜️ O simbolismo do Cubal : O Decreto que criou o Brasão e a Bandeira da Vila Cubal em 1964

 



(Documento: Decreto n.º 45 618, publicado no Diário do Governo, n.º 69, I Série, de 21 de Março de 1964.)

Depois de mergulharmos nos documentos que comprovam o estatuto administrativo do Cubal como concelho,  trago-vos algo que toca diretamente na nossa **identidade e orgulho**: o decreto que estabeleceu o nosso **Brasão de Armas**, a **Bandeira** e o **Selo** oficiais!

O documento em questão é o **Decreto n.º 45 618**, de **21 de Março de 1964**, que surge para alterar o escudo de armas que havia sido concedido em 1963. Este novo decreto detalha, de forma heráldica e solene, os símbolos que a Vila Cubal teria direito a usar.

Os símbolos da Vila Cubal: A Riqueza da Terra

A descrição das Armas é particularmente rica, ligando a nossa simbologia à terra e à economia da região. O Artigo único do decreto define o seguinte:

Armas (Brasão):

  • **Fundo de verde**, simbolizando a fertilidade e a esperança.
  • Um **boi passante, de prata**, que representa a riqueza pecuária, um pilar económico da nossa região.
  • Em **chefe**, ou seja, no topo do escudo, **três plantas de sisal, de ouro**, alinhadas em faixa. O sisal foi, durante décadas, um motor essencial da economia do Cubal.
  • **Coroa mural, de prata, de quatro torres**, que é o símbolo heráldico reservado às vilas.
  • Listel branco com a designação: **«Vila Cubal»**.

Bandeira e Selo:

  • A **Bandeira** foi definida como **esquartelada de amarelo e vermelho**.
  • O **Selo** continha a mesma composição das armas, com os dizeres: **«Câmara Municipal da Vila de Cubal»**.

É emocionante ver o nosso passado rural e económico — o gado e o sisal — eternizados no nosso brasão! Este decreto é mais do que lei; é um retrato oficial da nossa identidade, publicado em Paços do Governo da República a 21 de Março de 1964.


🔎 O que nos dizem estes símbolos?

Estes três documentos históricos publicados hoje dão-nos uma visão completa do Cubal em 1964: o estatuto de concelho, a integração no Distrito de Benguela e, agora, a sua identidade visual e heráldica. Eu continuarei a procurar por mais documentos que iluminem a história da nossa "Terra Amada"!

Se têm recordações, fotos ou histórias relacionadas com o boi, o sisal, ou a Câmara Municipal da Vila Cubal daquela época, partilhem-nas comigo!

Saudações Cubalenses!

16 janeiro 2025

PARA A HISTÓRIA DO CUBAL

Mais uma acha para a fogueira.

O ARQUIVO HISTORIAL DA CIDADE

Todas as pátrias, todas as terras e todos os homens, têm a sua génese, na sobrevivência das comunidades em que se inserem e nos imperativos que determinam a identificação do Homem com a sua ecologia. Isto é, os homens nascidos junto ao mar sentem, naturalmente, quando afastados da vibração do movimento das ondas, nostalgia do ambiente que lhes foi negado e o saudosismo dos poentes que deram o colorido cristalino às suas vidas. Da mesma forma, os homens que nasceram no campo, quando separados da paisagem tranquila das serras e dos montes, do verde repousante dos campos e do marulhar das águas dos rios que deram melodia à sua juventude, vivem na alma a angústia do quadro saudosista, do vazio do lar que lhes serviu de berço e o perfume dos pinheiros que crepitam nas lareiras nas longas noites de frios invernos.
Paradoxalmente, na imprecisão de elementos históricos acessíveis, da génese cronológica desta cidade, como terra e como comunidade, temos de nos conformar, valendo-nos de elementos dispersos e perdidos na poeira dos tempos, porque nem sempre existem, com oportunidade, no tempo e no espaço, os historiadores que submersos no silêncio da investigação persistente, escrevam com precisão formativa e honesta, as epopeias humanas, para que se sublimem como exemplo para os tempos fora, as gestas corajosas dos gigantes do passado, cuja memória nos cumpre honrar.
Portanto, paradoxalmente, o Cubal nasceu do ancestral espírito de aventura dos portugueses e, curiosamente, na simbiose de um homem que deixou o mar para se embrenhar na quietude emocionante e misteriosa da selva virgem e do silêncio das savanas agrestes. Mas foi a experiência do mundo que conheceu, da evolução que cuidadosamente estudou, que o dinamizou e inspirou na tentação de ser o primeiro a fixar-se numa terra que mais tarde encontrou a sua razão de ser na agricultura do agave, planta exótica e vinda de longe, que constitui essência de vida e destino de uma cidade, que o é, das mais promissoras na geopolítica e na geoeconomia de Angola.
E é natural inferir-se que foi justamente o denodo do marinheiro na osmose da persistente coragem do homem do campo, onde quase todos temos a nossa origem, que o fez enfrentar corajosamente a agressividade do clima e a dureza da terra, para que anos volvidos na ampulheta do tempo, esta terra fosse o que hoje é, como valor económico, como conjunto social, como povo sempre insatisfeito no anseio de progresso da sua urbe, esta realidade portuguesa que o sabe ser, entre os que mais orgulhosamente sentem, como portugueses de Angola, espanto, surpresa e quase inverosímil presença do luso-tropicalismo, cujas raízes se alimentam da seiva do ecuménico humanismo que os portugueses sempre admiravelmente revelaram ao Mundo.
O Cubal, na versão memorizada daqueles cujas rugas profundas no rosto, fazem adivinhar as canículas vividas nos sucessivos anos de trabalho árduo ao sol dos trópicos, humedecendo a dura terra que desbravaram, com o suor gotejante das suas frontes generosas, salgando as gargantas com as lágrimas que sorviam no saudosismo dos seus lares distantes e mastigavam no delírio febril das doenças, privadas de tudo e no desconforto de um ambiente inóspito e primitivo que só o seu estoicismo conseguia vencer; desses homens, cujos cabelos brancos lembram os cacimbos passados e constituem marcos imperecíveis da gesta humana que aqui foi escrita no passado, do que deles ouvimos em serões confabulatórios, permitir reunir os elementos conotantes da origem do Cubal. Sim. Temos de perguntar: - Como teria nascido o Cubal?
O Cubal nasceu da aventura de um homem cuja coragem e dignidade foi estímulo para a inspiração de muitos outros e que, depois dele, se fixaram e transformaram a terra agreste que era, na urbe prometedora que hoje se ergue para orgulho de todos nós.
O Cubal, que hoje comemora a efeméride do sexto ano, como jovem e das mais aliciantes cidades de Angola , nasceu da presença de um homem chamado Joaquim Francisco Ferreira, o “Yola-Yola”, como lhe chamavam os nativos. Oficial da marinha mercante portuguesa, despediu-se em Luanda, do navio a que pertencia, pelo seu inconformismo em face de decisões que considerou injustas e de que foi vítima, que se opunham a éticas fundamentais e inalienáveis de uma vivência moldada nos princípios da sua honra e dignidade e o levaram a desvincular-se da vida a que se devotara, procurando, longe dos homens que lhe feriram a alma, uma nova vida, onde pudesse realizar o seu sonho de viver tranquilo, no contacto saudável com a natureza mais agreste, mas mais leal, que às vezes compensa até com generosidade, os sacrifícios que se lhe dedicam.
Assim, Joaquim Francisco Ferreira, deixou Luanda e dirigiu-se para o Sul tendo chegado à Hanha a 24 de Junho de 1878, ali se fixando como comerciante e tendo adquirido aos autóctones oito glebas confinantes, fez-se agricultor e instalando uma fazenda que mais tarde se chamou Várzea de São João da Lutira. Fez uma grande plantação de cana sacarina e montou uma indústria que ao tempo tinha uma dimensão surpreendente. E Joaquim Ferreira foi, na Hanha, não só o comerciante, o agricultor, o industrial e até o grande juiz dos diferendos sociais e humanos dos povos da região, tão grande era o seu prestígio, a sua formação moral, a sua dignidade, o humanismo com que se conduzia e o seu elevado espírito de justiça. E de tal modo que facilmente conseguiu junto do Soba da região de nome Catoto, acabar com a pena de morte que então ali vigorava, como castigo para certos crimes, e que os nativos aceitavam com o seu ancestral espírito fatalista. No contexto do seu prestígio granjeado entre o próprio povo insere-se a atitude do Soba Catoto que sempre o procurava para o veredicto final das mais graves questões da sua gente que o Joaquim Ferreira sempre conciliava e resolvia dentro das leis portuguesas, mais humanas e cristãs, que persistentemente ia instilando nas mentalidades primitivas e incultas dos nativos.
Por razões a que já nos referimos, em artigo que assinamos, em “A Província de Angola” de 15 de Agosto de 1967 sobre o Cubal, que não repetimos por ocioso, Joaquim Ferreira, em 1923, veio para o Cubal onde construiu a primeira casa que embora com a traça primitiva alterada, ainda hoje existe à entrada da cidade, à esquerda e próxima da passagem de nível.
O segundo europeu que se instalou no Cubal e aqui construiu a segunda casa, foi Teodoro José da Cruz, pai do saudoso advogado de Benguela e quase lendária figura do seu historial, Dr. Amilcar Barca da Cruz, um dos homens mais cultos que conhecemos e com quem passamos longos e proveitosos serões. Depois, vieram as primeiras brigadas do caminho de ferro que aqui se instalaram provisoriamente.
Mas, como começou o Cubal como região agrícola e portentoso produtor de sisal?
Foi Francisco Severino de Lima, que construiu no Lobito as primeiras casa de madeira para o Estado e que ao Cubal um dia se deslocou enfeitiçando-se pela região e aqui, demarcando um terreno que anos depois deu origem às Fazendas Kiskerhof e Santana e Pires onde inicialmente se fizeram culturas de milho, gergelim e outros produtos característicos da região.
Algum tempo depois, outro advogado de Benguela, o Dr. Baltasar Aguian, avô do brilhante causídico Dr. Paula Azeredo e do grande cirurgião ortopédico do Porto, Dr. Luís Azeredo, procedeu também a importantes demarcações que durante bastantes anos foram dirigidas e desenvolvidas, entre elas a Chimbasse – pelo filho do Dr. Aguian, Paula Azeredo (pai), figura de extraordinária iniciativa e homem de grande humanismo nas suas relações e contactos com os autóctones, que se dedicou ao comércio, agricultura e pecuária e a quem os nativos, pela sua grande actividade e pelo facto de andar sempre de calções de caqui, chamavam o “Kamindumbo”, do “dumbo” com que designavam nesse tempo o caqui.
Em fins de 1913, um ano antes da primeira Grande Guerra, Francisco Severino de Lima, em face do contacto que tinha no Lobito, com os marinheiros dos navios que ali chegavam, teve conhecimento da existência de uma planta que se desenvolvia sem grandes cuidados nas regiões tropicais, o que o entusiasmou, conseguindo que lhe trouxessem das Filipinas, dois sacos de “bolbilhos” que colocou em viveiros e depois plantou em 15 hectares de terreno, no local onde hoje se situa a Administração do Concelho e o prédio de Sebastião das Neves. Foi, portanto, ao que consta, a primeira plantação de sisal da região ou mais propriamente de agave. Todavia, por razões que se perderam no tempo, mas que se deduz e justifica pela falta de conhecimento da industrialização do agave, Francisco de Lima não deu sequência à plantação, que entretanto foi crescendo sem o menor aproveitamento.
Entretanto pouco tempo depois, nasceram as plantações do Cuemba e a Fazenda Aurora, fruto de uma sociedade constituída por portugueses e alemães que fizeram plantações experimentais a partir dos bolbilhos, do Severino de Lima. E em 1927 surgiram no Cubal os alemães Luís e Hanse Spits, com o propósito de fazerem duas plantações, uma na margem esquerda do rio Cubal, onde depois foi a Fazenda Rio-Bom e a segunda no Calenguer.
Em 1929, dois anos depois, fundou-se a “Angola Stats” no Alto Catumbela , que anos depois foi transferida para o Membassoco por se ter reconhecido que este local oferecia melhores condições para o desenvolvimento da planta. Nesse mesmo ano Walter John fundou o “Alto Cubal”, em 1932, Hanse Kisker ergueu a Fazenda Agrícola Kiskerhof. Três anos decorridos, Hernest Marshall iniciou as plantações de sisal no Lompungo (Ganda); em 1937, Sebastião das Neves, esse eterno jovem do Cubal, e que além de pioneiro tem sido dos mais vibrantes entusiastas pelo seu progresso, fundou no Mungué-Cubal, a Fazenda Elisa.
Depois, a história contemporânea e portanto dos nossos dias, que todos conhecemos, cujos pormenores nos abstemos de enunciar para não tornar a descrição fastidiosa, por extensa, mas que fazem parte da gesta humana desta terra que um dia deverá ser escrita por um estudioso, pela justiça que todos devemos ao passado e ao magnífico exemplo dos homens e das mulheres que fizeram do Cubal e onde, uma vez mais, se revelou a sublimidade do espírito fraterno, ecuménico e cristão dos portugueses que souberam viver em paz com os autóctones, com os ingleses que por aqui passaram, e com os alemães cuja colónia ainda hoje aqui permanece, constituindo exemplo de organização as suas fazendas, permanentemente de comportamento cívico, de trabalho e convivência saudável. Isto demonstra, à saciedade, que houve sempre nesta terra, lugar para todos fosse qual fosse a sua origem raça ou credo.
Em 14 de Junho de 1961, é oficialmente fundado o Concelho do Cubal, sendo seu primeiro Administrador Horácio Lusitano Nunes e, ao tempo, Governador de Benguela, essa portentosa figura do escol administrativo, Hortêncio de Sousa. Em Dezembro desse mesmo ano, a Junta local transforma-se em Câmara Municipal e, em 23 de Janeiro de 1968, há precisamente seis anos, a então Vila do Cubal, é elevada por mérito próprio e desejo da sua gente à categoria de cidade de Angola, em cerimónia a que presidiu o então Governador-geral Rebocho Vaz.
E assim entramos no tempo da actual cidade do Cubal e da sua realidade como comunidade humana, perante as suas potencialidades económicas presentes e futuras e bem merece, pela sua expressão significativa no contexto angolano e pelo mais elementar espírito de justiça, que nos debrucemos sobre a sua História, que é a história da grei que tornou férteis os campos e ergueu cidades numa autêntica epopeia de sacrifício e trabalho, como causa determinante dos seus parâmetros económico-sociais.
Cubal, nasceu portanto, da epopeia da permanente luta do homem sobre a terra e da gesta da sua determinação, consciente da autenticidade portuguesa e da sua maneira de estar no mundo, num mundo onde quase sempre os outros nunca tinham chegado. E se assim nasceu, assim terá de continuar, agora com mais responsabilidades, não só porque é cidade, como terá de começar a pensar conscientemente na verdadeira programática do seu futuro, que não poderá continuar circunscrito às flutuações das cotações internacionais do sisal.
O Cubal necessita de estruturar o seu amanhã, a partir de hoje, diversificando culturas, organizando a pecuária e inserindo-se no contexto dos centros industriais de produção. É evidente que isso se não consegue de repente, com o simples toque de uma varinha mágica, principalmente quando não abundam os recursos e falta a coragem e a capacidade de iniciativa. Mas, certos estamos, que o actual Governo lhes não negará as hipóteses possíveis de realização a que tem juz, desde que os problemas sejam equacionados com o realismo indispensável à sua prossecução. Isto é, facultando-lhe no que compete ao Estado, a experiência e nível dos técnicos oficiais e da própria Universidade – pois é para isso que eles existem – instalando parques de máquinas de que todos equanimemente possam beneficiar, principalmente os de mais modestos recursos, organizando convenientemente os Serviços de Veterinária, para apoio a uma pecuária que deve ser olhada com o maior interesse, facilitando e estimulando a criação de indústrias adaptadas às suas condições ecológicas e climáticas, curando com a urgência que se impõe, da Comarca que necessita, melhorando os níveis de ensino e olhando objectivamente para uma eficiente Escola de Artes e Ofícios dirigida ao apoio das Fazendas e à própria agricultura e tudo o mais que constitui o conjunto básico das infra-estruturas que o Cubal necessita para prosseguir como merece, na sua senda evolutiva.
A Câmara Municipal, presidida hoje por um dos seus filhos, com tradições paternas de verdadeiro pioneirismo e por uma pleiade de homens de boa vontade que constituem a sua vereação, tem revelado um dinamismo relevante e saudável e cedo nascerão os frutos da sua honesta dedicação. Que os munícipes os estimulem com o seu apoio e os ajudem nas suas dificuldades.
Muitas são efectivamente as dificuldades, para atender com a oportunidade desejada, aos imperativos de uma jovem cidade onde muita coisa falta e das mais dramáticas e evidentes, as instalações hoteleiras que aliciem visitantes e homens de negócios que aqui se têm de deslocar. Mas, certos estamos, que isso e o mais que é manifesto, virá com o tempo.
Do municipalismo, disse recentemente o Governador deste Estado, Santos e Castro com a coragem do Governador moderno que é, do político inteligente que se tem revelado e na autenticidade do homem de Angola que estratifica a acção sobrepondo-a às ultrapassadas dialécticas que faziam ganhar tempo mas que a nada conduziam disse Santos e Castro, dizíamos nós que “grandes ou pequenas, as cidades não são apenas amontoados de edifícios que se multiplicam sem regras, nem campo para árbitros ou ganâncias especulativas. Nada nelas pertence a um só. A legitimidade indispensável da propriedade privada não pode ir além do que fira ou diminua o que pertence ao foro do bem comum e é património de todos e da cidade em si própria. Viver em sociedade – e a sociedade urbana é bem complexa – exige regras que defendam todos e cada um, e fazê-las cumprir é o primeiro dever dos municípios (...). Têm as Câmaras Municipais de ser persistentes e generosas. Fazer uma grande cidade é missão de tão altos e globais objectivos humanos e sociais que não consente abdicações. (...Que as Câmaras não sejam mesquinhas em nenhuma das suas realizações”.
Estas palavras, estes conceitos, enunciados por quem exerceu funções cimeiras no municipalismo metropolitano e onde deixou obra de grande valia, devem constituir estímulo e autêntica doutrina para quem tem, como a Vereação do Cubal, a responsabilidade de a transformar numa grande cidade.
Alegra-nos saber, que vai ser finalmente instalada no Cubal, uma fábrica para o aproveitamento do seu principal produto, unidade que será instalada com máquinas novas, depois de cuidado estudo técnico-económico para a produção principal de um artigo que Angola importa com dispêndio de preciosas divisas: os sacos, justo é que felicitemos o Governo de Santos e Castro por tão útil como feliz decisão, pois desta vez, instala-se em local próprio e dentro de racionais regras tecnológicas, uma unidade própria e o dinheiro do contribuinte é, felizmente neste caso e nesta unidade industrial, aplicado com gestão inteligente e meritória. E dizemos isto, porque continuamos a condenar, por prejudicial a Angola a instalação de indústrias novas com máquinas velhas e, principalmente que o estado, mal avisado ou menos identificado, auxilie com o dinheiro do contribuinte, sociedades anónimas, com provas negativas de gestão e erros primários de estruturação. Felizmente desta vez fez-se – ou vai fazer-se – o que é racional e inteligente.
Mas o Cubal necessita de mais indústrias e carece, como também preconizou Santos e Castro, que a empresa produtora de energia eléctrica processe rapidamente a ampliação das suas linhas de alta tensão, de forma a alimentar a maior parte das povoações e fazendas desta região, com energia acessível e a preços comportáveis, evitando-se cada vez mais, o dispêndio com importações de motores diesel, com manutenções dispendiosas e o consumo de gasóleo que temos de importar.
Mas, nem só ao Estado se devem pedir as ajudas de que se carece porque ele não pode, por si só, nesta corrida contra o tempo em que todos estamos empenhados, resolver tudo o que é necessário dentro dos imperativos das prioridades a que nenhuma planificação se pode eximir.
Tudo leva a crer, para os que acompanham, lendo e ouvindo o que se passa no Mundo, que os preços do sisal se manterão na alta por bastante mais tempo, pois as fibras sintéticas, seu principal concorrente, derivadas do petróleo, serão cada vez mais caras, porque o preço do petróleo, já não voltará a ser o que foi. É que, por muito estranho que pareça, foi a Venezuela quem primeiro provocou a alta dos preços e não os árabes, como agora se revela. Ora, é preciso abjurar a ideia e tomarmos consciência de que não devemos continuar a ser um país colonizável, que exporta mão de obra e matérias primas. Temos consequentemente, de começar a fabricar os nossos próprios produtos para os valorizar e para isso temos de criar indústrias. E quando dizemos indústrias, não nos referimos a “fabriquetas” utopicamente transformadoras, que servem quase sempre – e apenas – para que alguns pseudo-industriais, transfiram para a Metrópole, em sobrevalorizações de facturas de máquinas e matérias primas que importam, acabadas ou quase acabadas, que apenas servem para provocar o hiperbólico aumento do custo de vida, acabando por venderem pelo dobro o que mais economicamente se poderia importar por metade do seu preço.
Precisamos, isso sim, de indústrias com I maiúsculo, que produzam artigos baratos, que criem lugares de trabalho e que programem obras sociais, porque o trabalhador tem de ser olhado como elemento humano, produtivo e indispensável.
Portanto, não podendo o Estado atender a tudo, compete àqueles que devem ao Cubal a sua independência económica, o bem estar que desfrutam, terem uma visão realista do futuro da terra e das suas próprias fazendas, retribuindo em gratidão o muito que lhe deve. Isto é, têm de começar a pensar em investir na indústria, na construção civil, em melhorar as condições técnicas e produtivas das suas próprias fazendas, estruturando-as racionalmente e beneficiando-as tanto no aspecto tecnológico como nas condições sociais e humanas do trabalhar. Inclusivamente, tentando novas experiências de diversificação de produtos e não esquecendo que é hoje mais do que nunca, necessário promover socialmente o mais válido elemento da comunidade, o Homem.
Ter ideias, defendê-las e lutar por elas, só dignifica o Homem, dando-lhe personalidade e tornando-o cidadão à altura dos seus deveres e direitos. E está suficientemente provado que não há povo evoluído e progressivo, se for atrasado, pouco desenvolvido, se despersonalizados forem os seus cidadãos. Esta é uma verdade incontroversa, tanto mais evidente quanto mais difícil for a crise que nos atormente e nos avassale. Mas ser cidadão evoluído e consciente significa estar atento e intervir com todos os recursos ao seu alcance. Que possa agir e pensar com discernimento e acerto na solução de quantas situações difíceis e problemas intrincados nos assoberbem. Assim, o homem de ideias é, pressupostamente, uma pessoa responsável e sempre que a noção de responsabilidade exista em consciência, não nos desamparará o dever das obrigações que nos são impostas tanto pelas nossas necessárias exigências, como pela nossa tributação social.
As grandes crises sociais são sempre precedidas por actos insólitos e ideias extraviadas e foram sempre conjuntos de irregulares propósitos que desvairaram os homens e o mundo para a consumação de grandes calamidades. Há assim, fenómenos cíclicos que temos de recordar e muitos dos dramas humanos foram precisamente provocados pelos que apenas pensavam com egoísmo, tudo exigindo em seu proveito e nada querendo dar em troca na redistribuição das riquezas para que todos contribuem no contexto da economia de uma Nação ou comunidade.
É isso que queremos recordar, no aspecto social, político e humano aos homens desta terra – e de tantas outras – que a elas tudo devem da sua realização.
O Concelho do Cubal caminha a passos largos para as 100.000 almas e necessita consolidar no presente o futuro que deseja e não só como região agrícola e produtora de sisal, mas enraizando-se na pecuária e na indústria. O sisal não deverá continuar a constituir só por si, a sua única razão de ser. Que se faça pois, o “ponto da situação” e se pense no futuro para que os homens de hoje não tenham de merecer amanhã, dos seus filhos, o julgamento minimizado da sua falta de visão, a crítica pela mesquinhez do seu espírito e o julgamento que a História lhes não perdoará. Que o Cubal seja, pois, com as suas potencialidades materiais e humanas, orgulho de todos nós, como afirmação imperecível da gesta portuguesa num continente que grandes nações abandonaram ao primeiro sopro dos desencantados ventos da História e onde nós ficamos e permanecemos, pelos imperativos conscientes da civilização que trouxemos, pela humanização do trabalho a que nos devotamos, pelo sentimento do valor da pessoa humana e pela convivência cristã, admirável e surpreendente da realidade da nossa maneira de estar no Mundo.
Humberto Lopes
Cubal, 1974

16 dezembro 2007

Cubal - História -1

1-Zorra - Na fotografia , Sr. Sebastião das Neves e Catoto

2 -Casa na Lunda - Cubal (1930)

3- Primeira plantação de Sisal - SANTANAS , NEVES & Cª (1937)

4- Sisal - Chegada de folha à fábrica de desfibra "FAZENDA FERNANDO ALBERTO"

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