AO EDUARDO FLÓRIDO
"NOÇÕES IRREAIS - NATAL 2010"
Podes imaginar o que o bom do Canais, depois de ter lido pela 3ª vez consecutiva esta enorme palestra orquestrada pelo competentíssimo Sr. Eduardo A. Flórido, (não é troca de galhardetes), vai descalçar a bota para, em 1º lugar, agradecer imenso a parte do reconhecimento de eu ser o maior de todos os tempos como futebolista. Depois temos a 2ª parte que é a mais complicada. Bastar-me a mim mesmo para arranjar argumentos que possam sustentar esta tese que me envolve (eu nunca fui o maior), e vou tentar explicar-te a ti e aos nossos amigos Cubalenses essa farsa em q vivem os pseudo craques. Sabes q em "terra de cegos quem tem olho é rei", e a mim esse provérbio assenta-me bem. E agora vou contar-te e desmistificar só um bocadinho da minha vida, já q eu não escrevo, e nunca joguei futebol como um profissional, portanto n posso nem devo ser comparado a um craque, esses sim, os verdadeiros q nos conhecemos,Ronaldos & Cª ou como o Sr. Eduardo Flórido, q escreve como um sábio, sabe o q diz e depressa, escreve o q sente sem nunca se enganar, aceita desafios...segundo parece vai aceitar um (através deste blog), isto é um craque da escrita. Posso dizer-te que sou um "habitué" dos bons livros, portanto sei o que digo. Da maneira como escreves, és uma revelação, não estou a exagerar. Também não sei o teu grau de escolaridade e posso dizer que também não sei quem és, (profissionalmente), sei só q escreves e bem.
Tenho também lido crónicas do meu amigo Sampaio sobre o Cubal, e a opinião geral é de que ele poderia fazer mais qualquer coisinha porque tem jeito para isto. Para começar e cumprindo aquilo a que me propus aqui alinhavar, posso afirmar que no tempo das velhas glórias do Cubal, (isto é só p/ as gerações mais recentes), passaram por lá grandes futebolistas ainda no tempo da bola "quadrada", como por exemplo o tio do Cristina, jogador do Recreativo que conheceste, o grande Chapeleiro q poucos conheceram e passou pelo Cubal fugazmente, os guarda-redes Palma do CFB e o Coelho, enfim e outros tantos. E agora para tua desilusão, foram tão bons jogadores ou melhor ainda, para falar por ex.do Lemos, o Cristina, o Porto, o Fernandes, etc., enfim todos eles grandes craques do Cubal. Eu sei q ganhei muito com esta geração de jogadores de " luxo " do meu tempo e por aí fiquei entre os melhores, mas n o melhor. Eu comecei a dar os meus primeiros toques no Portugal de Benguela como iniciado, aos noves anos e fui p/ o Cubal em 1958 com 12 anos, salvo erro, onde fiz o meu primeiro jogo já pelos Seniores do Ferrovia com 13 anos, contra Caimbambo, a quem o Cubal ganhava sempre por mais de cinco. No dia da minha estreia sob a visão do treinador Caetano, mais um Ferroviário, joguei sózinho contra onze do lado contrário e só vencemos por 1-0 com o golo por acaso marcado por mim, depois de ter passado por muitos da defesa contrária, aí foi um delírio, porque diziam que tinha nascido um craque e no Domingo seguinte lá estava o dobro ou o triplo das pessoas num jogo contra o Marco de Canaveses que ganhámos por 4-0, com três golos do Canais. Nesse jogo joguei pouco, mas marquei muitos golos, só. Enfim, assim nasceu um mito, mas não passou disso. Infelizmente nesse tempo nem botas tínhamos para jogar bom futebol, outros tempos, sem dúvida. Eu pensava que o futebol era isto e a partir daqui fui fazendo exibições pouco convincentes, mas era sempre o melhor, segundo me diziam, lá está o q atrás eu dizia " na terra de cegos...". Na nossa Terra o desporto era mesmo isto, apareciam " craques " todos os dias e o futebol tinha uma função social. É certo q através do futebol de salão, fiz grandes exibições e aí acho q hoje mais novo teria futuro, mas o tempo não volta p/trás. A nível do futebol regional, ainda durante uns anitos consegui sobrepor-me, mas já em 1965, quando começaram os campeonatos oficiais do Distrital de Benguela, onde por acaso a n/equipa n tinha craques, levava-mos abadas de até 9-0, mas só nos dois primeiros anos, porque depois os cinco anos seguintes do Distrital foram nossos. Também jogámos a nível Provincial, onde fizemos as exibições possíveis contra equipas de maior gabarito...Independente de Porto Alexandre, com esta fomos eliminados em nossa casa por não conseguirmos vencê-los (2-2) e aqui acabou a carreira "internacional " do Recreativo do Cubal. Entretanto tinha entrado para o Banco, cujo oficio como Bancário contrariou sempre a minha vontade em continuar a dar o pontapé na bola como eu gostava. Não vou dizer q não tive momentos de glória, mas não passaram de lugares comuns, como tantos outros na minha carreira. No entanto o meu nome ficou sempre associado aos melhores futebolistas, mas pouco mais do que isso. Como vês, caro Amigo, assim se resume a vida de um craque (pseudo-craque).
Para a próxima não me atribuas nomes q eu não mereço, temos de ser humildes.
Um grande abraço para ti e tua Exma Família, de quem me tenho esquecido, do teu pai Flórido, cunhado Raúl e irmãos por exemplo.
Boas Festas e "Hasta la vista".
Do amigo CARLOS CANAIS.
------------------------------------------------------------------
O Carlos Canais, em resposta ao meu tio Eduardo Flórido, presenteia-nos com este testemunho histórico, de algumas facetas desconhecidas ou melhor, que o tempo fez esquecer à maioria dos cubalenses.
Obrigado ao Carlos Canais e ao Eduardo Flórido, por nos darem este prazer de revivermos "momentos cubalenses"
Podem continuar caros amigos e a esperança é que mais amigos se juntem a nós nestas histórias...
Abraço e Boas Festas.
Rui Gonçalves (Ruca)