05 março 2011

Cubalenses

1. Rocha, amigo de João Porto e Júlio Tipoia
2. Virgílio Costa
3. Carmen Fontoura
4.Adozinda Porto, minha irmã no dia do seu casamento na Igreja do Cubal 5. Adozinda Porto e Virgílio Costa
6. Adozinda, Virgílio Costa, Manuel Porto, Odilia Palma, Artur Costa, Maria Silva Costa, Generosa Porto, José Manuel, Graça Martins, Araújo, José Maria Lago Bom (mucoca), João Porto e... Diny Querido
7. Maria Odilia Palma, filha da D. Conceiçao Palma e Francisco Palma

02 março 2011

Cubalenses

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Eu (Diny Querido),meus pais (TONECA e MARINA) tia MANELA, meus avós(FRANCISCO QUERIDO e JULIETA), tia MILAY, tio MENDES, ANY e BETO QUERIDO MENDES, primo RAÚL

Cubalenses

1. em cima da esq. para a dt:PAULA MAGALHÃES, DINY QUERIDO,PALMIRA CARVALHO SILVIA embaixo da esq.para a dt:ARLETE ISABEL DUARTE HELENA
2. Meu Pai ANTONIO QUERIDO, Eu, Pai do JAIME MARQUES DE ALMEIDA em frente à loja do meu avô paterno, onde mais tarde foi a Gardenia
3. CRISTINA PINTOZINHA, ELISABETH RIBEIRO, PALMIRA CARVALHO (dentro do carro)ORLANDO MARTA NEVES, DAVID SARMENTO, JORGE TOME, PAULA MAGALHÃES (de capacete) NININHA MAGALHÃES MILÓ CARRASQUEIRO, DINY QUERIDO (cortada na foto)
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Como sempre, convido à legendagem...

01 março 2011

Memórias de uma infância e juventude plena, por Fernanda Valadas

Há anos que tento organizar a minha memória a fim de poder expor por escrito, retalhos da minha vida cubalense desde a infância a adolescência, e, acreditem, são tantas as histórias (estórias) e situações por que passei que me causam uma certa dificuldade na escolha.
 
Vou iniciar este ciclo falando de mim: 
-Quem não conhecia aquela   miúda "Maria Rapaz" que andava de calções, jogava a bola e hóquei em patins, andava de motorizada, brigava, e, sobretudo brincava de igual para igual com os rapazes e que sem saber já impunha o direito e igualdade dos sexos?
-Onde fui buscar inspiração para ter sido como fui? 
-Lembram-se dos livros da escritora britânica Enid Blyton?
-Lembram-se dos seus livros " As Aventuras dos Cinco"?  Comecei a ler esses livros quando andava na 3 classe, aos 8 anos de idade e quem mos emprestava era a Nazaré Miranda.
Eu lia e relia aquelas aventuras e... Como me faziam sonhar.
 A Zé era o meu ídolo e a personagem com a qual me identificava e foi a poder disso que tive uma infância e juventude recheadas de aventuras com situações caricatas, dramáticas, cómicas, de coragem, de perigo, de brigas, etc., etc., etc..
 
Poderia desde já começar a narrar essas situações, mas, vou guarda-las para mais tarde e poder assim recordar os grandes e bons velhos amigos que fui fazendo nessa época e que ainda hoje persistem no meu coração.
 
Quero agradecer a todos eles o facto de terem contribuído na formação do meu carácter e personalidade.
 
Da próxima vez começo a contar os flagrantes da minha vida.
 
Até lá,
Um grande abraço 
Fernanda Valadas

VIDA REAL Nº 3 - Eduardo A. Flórido

ESPAÇO DEDICADO AO CUBAL E ÀS SUAS GENTES COM HISTÓRIAS VERDADEIRAS PASSADAS, POR ALGUNS DOS SEUS FILHOS, DESCONHECIDAS (Histórias) DE TODOS. NO CUBAL E NÃO SÓ.

ANO 1974.

RELEMBRANDO O MANUEL FERNANDO CARONA, ESSE GRANDE AMIGO…

Depois de um Curso de Sargentos Milicianos (durabilidade de mais ou menos 6 meses, entre recruta e especialidade), cursado na E.A.M.A., (Escola de Aplicação Militar de Angola), Nova Lisboa e que infelizmente devido a um 25 de Abril muito mal camuflado, sou quatro dias depois, por ordens superiormente emanadas, promovido a 2º Furriel, eu e todos quantos frequentamos a dita, para mais, dois dias volvidos, nos caírem em cima as divisas de 1º Furriel (Como entretanto devido a provas físicas excelentes, e com valorização em todos os testes, sou chamado ao comandante da E.A.M.A., onde me perguntam, se eventualmente, não teria interesse em ingressar no Curso de Oficiais Milicianos, havendo no entanto um senão que foi a origem da não aceitação, teria que começar de novo em Janeiro de 75, uma nova recruta visionada a Oficiais. Penso e chego à conclusão que não seria em nada vantajoso, pois perderia cerca de um ano de exército, assim sendo mostro-me irredutível e avanço 12 meses no espaço e no tempo) … Para quem esperava que as mesmas divisas) só aparecessem 18 meses depois, começava tudo por ser airoso e de certo modo até interessante, a vida militar que tínhamos de fazer voluntariamente obrigados… e com o ordenado que pagavam, como estava desarranchado e Caconda era considerada, como zona de 50% de guerra (17.250$00, salvo erro), sentia-me como um rei, na barriga, inchadíssimo.
Antes porém, devo acrescentar, que muita malta da minha idade, vou fazer em 17 de Abril 58 anos, tinha assentado praça na dita E.A.M.A., casos do MANUEL FERNANDO CARONA, FERNANDO JORGE VAZ FAUSTINO, FERNANDO REBELO DE FREITAS E OUTROS DOS QUAIS JÁ NEM ME RECORDO NOMES (onde estão meus amigos?), mas que directa ou indirectamente, continuam no sótão do pensamento, por nos terem separado e mandado, em prol da defesa de uma Pátria que hoje e aqui em Lisboa teria que ser muito mais bem guardada, já que o grande mal que avassala este País, nunca foi as Províncias Ultramarinas e sim os tachos que se iam perdendo, enquanto as ditas (províncias Ultramarinas) estavam cada vez mais seguras, fruto duma estreita colaboração de pessoas de bem, independentemente de raças e credos, fortalecidas por estruturas humanas, vincadamente superiores, mas enfim isso não são contas do meu rosário.
Aquando da especialidade, sou abordado pelo meu grande amigo, MANUEL FERNANDO CARONA que me pergunta sem pestanejar: Eduardo, que especialidade escolheste? Sem as mínimas reticências digo-lhe apenas Atirador Especial e tu NANDO? Eu, eh pá, pela adrenalina, vou para os pára-quedistas. Fiquei boquiaberto, mas enfim, o NANDO, contra-ataca, porque vais para atirador? Tento explicar-lhe que aquela era a especialidade que me obrigaria de todo, saber um pouco de tudo e sentir-me-ia muito mais à vontade controlar do que ser controlado. Entre um abraço e um sentimento de irmão despeço-me do meu grande amigo, ficando quase com a convicção que certamente não o voltaria a encontrar tão cedo, mas a vida, a vida, sempre a vida, surpreende-nos, em cada esquina dobrada…
Depois da respectiva promoção, esfrego as divisas no chão, para não parecer um novato e sim velhinho de guerra e vou directamente para o Regimento de Infantaria, Sá da Bandeira, onde, devido às excelentes provas prestadas na E.A.M.A., peço para ingressar nessa bela Vila de Caconda, para onde aliás de imediato sou destacado. Para ali, CACONDA, só havia uma vaga e essa por direito próprio, pelas notas, conseguidas na recruta e como era o primeiro a escolher, nem hesitei. Relativamente perto de casa, estava como queria, passava o dia na pensão de Caconda, pensão do Sr. Lito, indo ao quartel de quando em vez para não dar muito nas vistas, embora me tivessem dado, toda a responsabilidade do PAIOL, DA SECÇÃO DE JUSTIÇA E DE INFORMAÇÕES SECRETAS. Nada mau, para um puto de 20 anos, nada mau… Uma odisseia, no mínimo. Na pensão LITO, a quem mando um abraço se me estiverem a ler, sou tratado que nem um LORD. O Lito e a sua esposa davam-se ao trabalho de terem a posta de Bacalhau assada e preparada para diariamente ser devorada às 7,30H, da manhã, posta de Bacalhau e um bife com um ovo a cavalo e respectivas batatas fritas, tudo isto muito bem regadinho com café com leite, à disposição, até quanto bastasse, ainda com pãozinho com manteiga (mensalidade de 1750$00, pequeno-almoço, almoço, jantar, cama e roupa lavada, caríssimo não?) …
Assim vou passando os dias…
Até que um dia, encontrava-me de Sargento de Dia, e estando no meu gabinete (lindo, não?) da Secção de Justiça, um cabo avisa-me, Furriel está lá fora, outro camarada seu, que foi destacado aqui para Caconda e pretende apresentar-se. O.K., vamos lá conhecer o homem. Entretanto o Cabo balbucia-me entredentes, o homem tem um cabedal que é de meter medo. Não acredito no que oiço porque de imediato me vem à cabeça que era o Carona (mais tarde baptizado por mim como sendo KIKO), que teria sido destacado para CACONDA. Não, penso, devo estar a sonhar o CARONA estará infelizmente nos pára-quedistas, impossível ser esse meu grande amigo. Chego à varanda e vejo com os olhos humedecidos pela emotividade da situação, o FERNANDO CARONA, ali especado à espera que alguém lhe pudesse dar as boas vindas. Grito-lhe e de imediato parto ao seu encontro, que numa confraternização de irmão de sangue se deliciam por se terem voltado a encontrar, sem imaginar, as histórias que iriam perpetuar naquela vilazeca do interior, e que histórias SANTO DEUS.
E como em todo o conto verídico há aquelas que naturalmente se podem falar e há e haverá sempre as outras que são tabu, de serem reveladas, pois por si só elas são de uma grandiosidade tão tremendamente forte que se fossem delatadas, certamente seriam, delapidadas do seu valor de preciosismo e tornar-se-iam como se de vulgaridades se tratassem, e quando no real nada disso sucede, dessas no entanto, não falarei.
Caconda era uma vila conhecida, por ser uma zona esotérica, como deverão e por uma questão de respeito a mim próprio e às intervenientes, apelidá-las-ei de Senhoras XXX. E esotérica porque corria por Angola inteira que havia uma água muito especial, nessa dita vila, que quem lhe a desse e caso se bebesse era casamento garantido.
Entretanto o Carona, desarrancha-se e começa por comer tb., na pensão do Sr. LITO e respectiva esposa. Ponho o BOM GIGANTE, ao par de todas as situações, e com o passar do tempo como nada há a fazer, informo-o como bom amigo, o cuidado a termos pelos convites que naturalmente surgissem, indo eu ao cumulo de lhe dizer que quando lhe oferecessem algo, o aceitasse sempre com a mão esquerda, maneira correcta de a água não fazer efeito, e cortar todo o mal que naturalmente pudesse conter, pois todos sabemos que não há bruxas, mas que existem, existem, isso não duvidem.
Começa a correr por Caconda entretanto a noticia que havia dois furriéis, solteirinhos, bons mocinhos, que nada tinham a ver com os outros porque estes eram mais finos, nem dormiam no quartel, e comiam na pensão LITOS, onde diariamente à hora do almoço, se começou a ver um movimento feminino demasiadamente inusitado, e muito distinto do que aquilo que até há bem pouco tempo se passava. Começam tb., a chover convites para festas particulares que duma forma subtil, vamos nos esquivando, aterrorizados pela tal dita água que podia contaminar, qualquer comida ingerida, lembrando no entanto eu, ao Carona, que se naturalmente nós fossemos, pegar tudo com a esquerda, não fosse o diabo tecê-las. Mas a muito custo, diga-se de passagem, sempre nos esquivámos com desculpas mais esfarrapadas e inocentes possíveis, pois os nossos 20 anos, sem a maturidade de hoje, eram uma catástrofe. E como havia tanta tentação de 30 e tantos anos… mas havia que aguentar, aquilo não estava para folias, e o casamento obtido daquela forma muito menos no n/ horizonte. Abro aqui um parêntesis, muito especial à Lucília, esposa do Carona, porque tenho a certeza que o ÓPTIMO GIGANTE KIKO, nada lhe escondeu, e ela na sua bondade certamente compreenderá tudo quanto se passou e aliás o que vou contar a seguir, já foi motivo de risota na sua bela casa, onde vivem.
Um belo dia, almoçava eu o NANDO, na pensão, quando aparece alguém a perguntar pelo furriel Flórido ou Carona.
De imediato uma mocinha aparece, trazendo um pudim de leite feito pelas Senhoras XXX, que nos diz, que as mesmas teriam muito gosto que nós o comêssemos como sobremesa naquele dia. Comovidos agradecemos e prontificamo-nos a provar o mesmo, assim que acabássemos de Almoçar. Findo o mesmo, olhamos para o pudim e dividimo-lo ao meio ou seja metade para cada um e vai daí a primeira colherada, eis que eu solto um grito que se ouve na pensão toda: Cuidado Nando, olha a água. O Nando de imediato pára e desatámo-nos a rir, mas pelo sim e pelo não, não houve pudim de leite para ninguém.
O Sr. LITO e a esposa, tinham nessa altura um cão que andava sempre solto no quintal da Pensão e vai daí o nosso bom iluminado Carona, propõe-me: Eh! Pá, se isto nos faz mal a nós, tb., certamente fará ao Cão, vamos-lhe dar a ver o que acontece, dito e feito. Chamado o cão, o mesmo não se faz rogado comeu o pudim inteirinho em menos de um fósforo, ou enquanto o diabo esfrega um olho…
Esquecemos o assunto cada um foi para o seu quarto, tratar da sua higiene pessoal, e sinceramente nunca mais nos lembrámos, nem do pudim, nem do cão, nem das Senhoras XXX.
Como sempre depois de uma soneca, uma hora, arrancamos para o quartel. A casa das ditas senhoras, ficava perto do mesmo e forçosamente teríamos de passar à porta. E foi aí que os nossos corações de homens de 20 anos, gelaram totalmente quando avistamos o cão a quem tínhamos dado o pudim, a espumar e a ladrar desenfreadamente, com o rabo todo esticado, mostrando um rosnar que nunca tínhamos visto naquele bicho que lidava connosco diariamente, num frenesim de loucura total, como se buscasse algo que ainda hoje não percebi o que seria, apenas que era possuído por força estranha e demasiadamente assustadora. DIREI MESMO ATERRADORA.
Gostaria que o meu grande amigo Carona fizesse a confirmação desta história.
Mas finalizo, que se não houvera, jamais houve festa que fosse frequentada por nós…
Foi um exemplo demasiadamente ATERRADOR, que tem o seu término, volvidos dias, quando o cão sem saber-se porquê, morre repentinamente.


Com cordialidade…
Até um dia destes,
*Eduardo A. Flórido
Edasilf@live.com.pt

28 fevereiro 2011

Estórias do Cubal. Ao Senhor Fernando Carona, por Carlos Canais

Sr.Fernando Carona
Meu Caro amigo, sempre te vi como um grande Senhor, porque tu eras maior que o resto da malta desse tempo e metias respeito!...sabes, talvez antes de teres vindo ao mundo (eu tenho 65 anos, no Cubal existia a Lei do Mais Forte). Tal e qual, portanto tu com certeza nasceste uns anitos depois, e então desconheces estes pormenores. Quem chegasse à nossa terra, tinha de ser testado da cabeça aos pés e havia sempre um chefe da manada que tinha essa função, testar os maçaricos. Comigo assim aconteceu e a vários níveis (caramba, arranjo sempre estórias), começando logo na escola quando cheguei ao Cubal pela 2ª vez em 1957 (a 1ª foi em 1947). Então tinha uma colega no colégio do Vitor Ribeiro da Silva que era a Marília Moreira (não sei se se recordam desta senhora), por acaso é quase minha vizinha também hoje, e como ia a contar, a mesma já me conhecia de Benguela, onde éramos mesmo vizinhos,e então a nossa amiga notou que eu não fui ao intervalo das aulas e por isso chamou-me de imediato à atenção, dizendo: Carlos, tu tens de ir jogar futebol ao intervalo das aulas, porque senão há um Senhor lá fora que te vai bater...eu achei imensa graça ao que ela acabara de dizer e comecei a rir, mas ela insistiu e eu tive de deixar a sala de aulas e saí como estava determinado. Quando coloquei os pés na rua, já havia por ali uma pequena confusão, que não entendi e nem estava para isso. Mas, e há sempre o maldito "mas", alguém se acercou logo de mim a perguntar-me se sabia jogar à bola...assustei-me com a "violência" que aquela pergunta me tinha sido dirigida, e de repente lembrei-me o que o bela da Marília me tinha dito, e respondi de imediato "SIM", e lá fomos jogar à bola. Azar do adversário,porque para se fazer a escolha deste jogador desconhecido, houve um certo burburinho, mas como estava o Manel do outro lado da equipa que ganhava sempre, o novo podia jogar pela equipa mais fraca. Bom, foi o bom e o bonito, porque os mais fortes não se entendiam e começaram na zaragata uns contra os outros. "Grande rivalidade" entre estas equipas, pensava o pobre do Canais, pois eu não me percebi de inicio que o problema já se estendia cá para o meu lado. Já estava a meter golos demais e não sabia é que tinha a culpa de não ter sido escolhido para a equipa que estava a perder...eles não tinham culpa de nada daquilo, pois desconheciam que eu já tinha jogado futebol infantil no Portugal de Benguela, por três épocas, mas não chegaram a saber deste pormenor, porque acho que naquele momento iam querer partir-me ao meio para deixar de haver confusão. Resultado, ganhámos por 6 -0 à equipa do Manel, e isso foi uma grande ofensa. Resumindo contei mais uma estória, só para explicar ao Carona porque o chamei de Senhor. O Manel naquela altura parecia o pai do resto do pessoal, pois era grande como tu e parecia um touro a bufar durante os encontros de futebol, que por acaso se realizavam da parte debaixo do adro da nossa igrejinha onde pontificavam as árvores, mas nós aproveitávamos esta situação porque para além de as fintarmos também fintávamos os adversários, quando antes não chocávamos contra as elas. E comecei a ter respeito pelos GRANDES. Está assim explicado o meu "trauma", Sr. Carona. Bom já deves ter entendido que isto foi mais um argumento para o Canais contar mais uma estória dos VELHOS TEMPOS.
Um abraço do Canais.

Outras estórias cubalenses, Por Carlos Canais

Aos Cubalenses
O meu amigo Eduardo que me desculpe, mas desta vez não vou comentar a linda narrativa que acabou de oferecer à "terrível" professora Olga, mas tão só contar também a minha estória, que por ironia do destino também faz parte o mesmo actor o Sr, Fernando Carona.
Eram uma vez três heróis que numa longínqua noite do ano de 1970, resolveram fazer uma caçada nocturna. Acontecia que o mais velho necessitava de arranjar alimento para os seus cães que aquela data se encontravam em casa do Sr Mário Paulo, familiar do Sr.Celestino e Arlete Guerra que bem conhecem concerteza. Combinámos sair por volta das 22 horas e arrancámos em direcção ao morro do Tumba, localizado por detrás da Fazenda Elisa. Ao chegarmos perto do local, notámos que alguém andava tal como nós a passear na noite Africana. Bom, por este motivo parámos quando circulávamos próximo de uma Fazenda de Sisal. Eu tinha deixado a guerra cerca de seis meses antes e por este motivo senti-me na obrigação de proteger os meus colegas de aventura e disse simplesmente para nos abrigarmos dentro de uma tonga de sisal e esperar pelos próximos acontecimentos. Nós seguíamos a nossa viagem na carrinha do Cunha que ia a conduzir e atrás estavam os atiradores, dos quais o Sr.Fernando Carona fazia parte. Bom, esperámos assim cerca de 20 minutos e como o inimigo não aparecia, decidimos arrancar em direcção ao nosso objectivo. Entretanto fomos obrigados a passar pelo interior da Fazenda,cujo nome não me recordo, onde se encontravam alguns nativos à volta de uma fogueira. Perguntámos se por acaso tinham visto alguém que se deslocava para ali ou que por aí tivesse passado, mas a resposta foi negativa. Como experiente guerreiro nesse momento enganei-me porque acreditei no inimigo e esse nosso pequeno descuido quase nos foi fatal. Entretanto seguimos viagem já mais à vontade, porque o perigo já tinha ficado para trás, mas era pura ilusão...porque no nosso regresso, depois de matarmos só um coelho, demos de frente com os faróis de um carro que nos encandeou. O Cunha que ia a conduzir, fez de imediato uma retirada estratégica, engrenando uma marcha atrás, mas esqueceu-se que iam dois infelizes na parte traseira do carro...e então fomos ao chão e deixei de ver o Carona, que por ironia do destino tinha caído e batido com a cabeça no chão e desmaiou.Parece que o fiscal de caça e o ajudante agarraram de imediato nele que teve de confessar quem ia com ele. Mas de inicio negou saber quem seriam os amigos. Entretanto foi preso e foi com o fiscal para depois confessar que o outro que conduzia o carro era o Cunha. Mas o inimigo não nos abandonou, porque como eu entretanto estava escondido debaixo de uma velha folha de sisal que tinha mais de dois metros de altura. eles procuraram aterrorizar-me dizendo que me davam um tiro, o que aconteceu alguns minutos depois. Por minha sorte não fui atingido, mas a bala atingiu a folha que estava por cima de mim, mas assustei-me um pouco. Eu não podia imaginar que fora da guerra também estava na iminência de ser atingido...e só não aconteceu por milímetros. Entretanto agora a guerra era comigo, porque não estava identificado e "porque tinham de apanhar esse sacana que estava escondido". Ali permaneci debaixo da planta de sisal talvez trinta a quarenta minutos e estava a dois metros do inimigo...mas eles tinham um osso duro de roer, porque depois de quase levar um tiro estava disposto a contra atacar e esperei a qualquer momento o segundo que talvez me levasse desta para melhor...mas não aconteceu e talvez também para bem deles...porque eu estava com uma arma de bala e via perfeitamente o fiscal e o ajudante delineados pelo luar que pronunciava a silhueta dos dois, mas não tive coragem sequer de pensar o que poderia acontecer. Eu estava inerte e assim continuei, mas apesar de estarmos numa noite de Junho em que o frio era intenso, transpirava abundantemente. Acho que me distraí um pouco embrenhado nos meus pensamentos e até já tinha pensado como havia de vender o meu Datsun 1600 S, para pagar as custas do Tribunal...depois talvez tenha acordado e notei que estava só. Levantei-me muito rapidamente, corri por uma picada dentro do sisal e para meu espanto espatifei-me num enorme buraco, mas quis o destino que não me ferisse. Tive de recobrar as forças, verificar se estava maltratado e como notei que estava bem, saí de lá a correr, tal como tinha entrado. Estava desejoso de chegar a uma ponte que passava o rio para a outra margem, para me safar em direcção a qualquer destino, menos aquele...mas a ponte estava ocupada pelos fiscais, que sabiam perfeitamente que aquele era o único ponto de passagem. Pois, para contrariar o rio tinha galgado as margens cerca de 100 m para cada lado e eu naquele momento estava no meio do rio sem notar. Sim, eram duas horas da madrugada e havia um foco constante vindo da ponte que me tentava localizar. Pensei e voltei a pensar o que fazer à vida, mas lá encontrei um meio de passar a noite...em cima de uma mangueira. Subi não sei como, mas senti-me muito protegido naquele momento, porque ali ninguém me via, e acordei às seis da manhã. Desci da dita mas o fiscal ainda permanecia por ali, mas eu não sabia o resto da estória. Então resolvi passar o rio bem cheio através de uns caniços e paus e consegui colocar-me na outra margem. Eu levava calçado umas botas de borracha de cano alto bem cheias de água e assim corri entre vinte e trinta Km. até à Fazenda Elisa. Quem me salvou foi o Fernando Pessoa que me levou até a casa. Entretanto o Cunha foi acordado à noite pelo Carona na presença do Fiscal, para que me fossem procurar ao sitio onde desapareci, mas eles disseram sempre que não me conheciam...uns valentes, porque este pequeno pormenor foi a nossa sorte. Eles foram perdoados pelo fiscal porque ainda eram jovens, pois só a mim que era um malfeitor é que eles queriam levar a tribunal...
Um abraço do Canais