Olá Caro Ruca, Olá Amigos Cubalenses.
Divagando no tempo, recordando as coisas boas e más, que a vida nos reserva, há as que ficam para sempre gravadas na nossa mente. Nascido e criado no seio de uma família de humildes camponeses, numa pequena aldeia do concelho de Torres Vedras, depois de fazer a escolaridade obrigatória, ao tempo a 4ª classe, vim para então vila de Torres Vedras iniciar aquela que viria a ser a minha principal profissão, caixeiro de comércio alimentar. Nos anos 60-61 eclodia a Guerra Colonial em Angola, tinha eu 15 anos, para ser franco nunca me passou pela cabeça que um dia teria que tomar parte nessa guerra, os anos foram passando e eu ficava mais perto da hipótese de ter de ir à guerra.
Ingressei nas fileiras do exército em Outubro de 1966 e em Dezembro de 1967, embarquei no paquete Vera Cruz com destino à Angola. A 11 de Dezembro cheguei a Luanda, nesse mesmo dia rumei à minha primeira morada, Grafanil e aí permaneci 5 dias, dali parti para o Leste, Alto do Quíto. Foram duros dias de viagem em camions civis sem assentos, mas lá cheguei. Comigo viajavam mais 180 camaradas. Devo dizer que alguns dias depois já tinha a noção de que a guerra não era a brincar, todos os dias soavam tiroteios e foi assim durante 14 meses. Como tínhamos dado boa conta da missão a que fomos destinados, ao fim de 14 meses recebemos ordem de marcha para o sul da província, Lobito e Benguela. Não sabíamos mas calculávamos que seria melhor. No Munhango diziam-nos que íamos para a praia e não havia guerra.
Há precisamente 40 anos, concluídos hoje dia 4 de Fevereiro que eu chegava a uma bonita cidade com o nome de Cubal, a mais nova cidade de Angola. Eram 4 horas da manhã e ali fiquei com mais 30 camaradas os restantes seguiram para Benguela. Dia 5 às 8 horas da manhã já passeava pelas ruas da cidade. Parecia um sonho toda aquela tranquilidade, as pessoas alegres rumavam às suas ocupações e eu interrogava-me, mas esta gente não saberá que há uma guerra na província. É claro que sim por isso nós ali estávamos, e antes de nós os que rendemos nessa semana.
Meus caros os dias as semanas e os meses que se seguiram foram simplesmente bons. Bons porque havia descanso, porque nos sentíamos bem no seio da população, não vou repetir o que já várias vezes aqui testemunhei acerca disso, simplesmente excepcional, razão pela qual hoje sou mais um Cubalense no meio de todos vós, e passaram 40 anos.Por tudo o que na minha mente ficou gravado de bom e de mau, foi bom conhecer a vossa cidade, foi bom conhecer e conviver com muitos de vós, de tal forma que, hoje é dia de recordar esses bons momentos.
Para ti Ruca e para todos os Cubalenses onde quer que se encontrem,
AQUELE ABRAÇO.
Pedro Jorge