O passado presente…
À minha querida professora OLGA.
Ao meu bom amigo MANUEL FERNANDO CARONA.
De quando em vez, avivo a memória com factos que se tornaram de todo inesquecível, nem que por muito eu venha a persistir numa cruzada de atravessar desenfreadamente luas e sóis, sempre com uma febre louca de vida, cada vez mais intensa, me possa tentar fazer esquecer a maravilhosidade de ter pertencido a uma geração destemperada, na sua ânsia de descoberta de vida sentida, que inúmeras vezes nos delicia no levantamento do véu que cobre o baú de memórias escondidas. Muitas certamente já carregadas de TEIAS, mas nunca de ARANHA e sim de saudades, difíceis de descarregar pela sua emocionalidade, num confronto com as actuais formas educacionais que nos vão distanciando, cada vez mais, como um barco ao sabor da maré, numa tempestade gigantesca de, faça-se o que se fizer, vivam sem darem a origem a uma sequencialidade, de governabilidade educacional que nos possam fazer traduzir e transmitir, aquela educação-mestra a filhos e por nós recebida de professores, oriundos de formações de diferença superior, onde a acompanhante “CINCO OLHOS”, régua maldita, para alguns (o meu caso), com que diariamente era brindado, sem contemplações, mas acabando esses bons Samaritanos (professores a sério), por me deixarem em paz por que inúmeras vezes depois de cinquenta reguadas, minimamente, em cada mão, com uma desfaçatez tremenda, dava-me gozo, levar a sala ao rubro, perguntando ao autor da façanha, se já havia terminado (ai que saudades), ou haveria continuidade, pois certamente eu poderia esperar enquanto ele descansava, era o caos… além das mãos, já inchadas, pela dose de cultura aplicável, SEM MAGALHÃES, era bombeado com meia dúzia de chapadas, de uma aplicação em forma extraordinária e a preceito que nem mesmo assim era motivo, para eu deixar de sorrir, já que tanto as doses, umas e outras, de cultura ensaiadas em laboratórios, presenciados por toda a turma, ávida de ver o colega apanhar nas fuças (só doíam as primeiras), valendo a verdade que nunca nenhum professor tenha tido o condão, de ver uma lágrima vertida, no meu rosto…
Até que um dia…
E nestas coisas há e haverá sempre uma primeira vez, a professora Olga (Querida Professora, como gostaria de saber de si), sabendo da minha artimanha na psicologia da RÉGUA APLICADA e no meu modo de contra ataque, resolve dar-me uma dupla ensinadela, das grandes, que certamente jamais se esquecerá, ela e o outro dos autores da proeza, que já estará a sorrir, por se lembrar deste tão específico episódio, neste acto tão singelo de amizade…
Dª. Olga, chama-me ao quadro e trama-me, uma divisão com 4 algarismos, e eu começo desde logo, com uma carinha de carneiro mal morto, a esfregar as mãos nos calções (qual calças qual carapuça, aquilo era régua de dedicação machista numa escola mista), a pensar quando começaria o arraial. Logicamente haveria de começar o aquecimento antes de se dar inicio à partida, propriamente dita…
Mas a excelente professora, desta vez, pensa de um modo muito mais airoso, subtil até e contra_ataca de uma forma, direi quase “macabra”, com certamente a intenção de acabar e arrumar de uma vez por todas, como a minha arte de psicologia-filosófica e para espanto meu e restante turma chama o calmeirão, naquela altura, parecia o GOLIAS (+- 1,90m), o meu querido amigo MANUEL FERNANDO CARONA (amigo?), para ir fazer a conta ao quadro. O nosso amigo quase adivinhando, o que se iria passar de seguida, chega acompanhado de um sorriso sarcástico, e em meia dúzia de gizadelas, resolve a divisão. E eis que a minha querida mestra, sem papas na língua, se vira para o CARONA e lhe diz, depois de lhe passar a régua para a mão: NANDO, dá cinco reguadas ao Eduardo, para ver se futuramente ele não se esquece de fazer contas de dividir. Santo Deus, pensei, não ser merecedor daquela barbaridade. Minimamente ficaria sem braço, tal a ferocidade vislumbrada, ferocidade de prazer sádico, na face daquele que, ainda hoje me dá o privilégio de ser um bom e grande amigo.
O Carona acaricia a régua e eu vejo aquele monstro (com todo o respeito NANDO), armado a preparar-se para me dar cabo, do braço, sem se lembrar das tropelias, que quando saíamos da escola fazíamos em conjunto.
Quis o destino que eu ficasse de frente para a professora, ficando o castigador de costas para a mesma, dizendo-me esta, se queria, ver se me continuava a rir, depois da flagelação, que o meu excelente (?), colega me iria prestar.
Sinceramente pensei, saio daqui maneta. Ao Carona, nunca o tinha visto tão feliz, sorridente, preparando-se para tão tremendo acto lúdico. Estico a mão, fecho os olhos, e como sempre em situações difíceis peço a Deus que não me abandone. Muito a custo consigo abrir um olho e vejo o nosso amigo, a fazer uma curvatura de 180º, com a régua, ou seja com o seu pequenino braço, salvo seja (safa), penso e deixo-me estar com a mão quietinha, antes porém olhando para a professora Olga, que com um sorriso tem a desfaçatez de me piscar o olho, como a transmitir-me que aquele seria o dia que ela gostar-me-ia e ver, a voltar aos convites e esperar pelo descanso dos autênticos regueiros (homens da régua) …
Chegado o momento o Carona dispara, felizmente era a primeira vez que praticava aquele exercício, que nada tinha a ver com contas de dividir, e sim mais com regras de cálculo, e todos sabemos que sem treinos não há habilidosos, nem habilidade que nos salve, mas se atentarmos à particularidade foi exactamente essa a minha salvação, quando a régua (a bala do atirador), passa junto do alvo (a minha mão), esta até abanou, devido à deslocação do ar, porém sem o mínimo toque já que o meu querido colega falha escancaradamente e sem que ninguém o estorvasse, pois não era preparado para aquelas andanças e DEUS conseguiu ouvir as minhas preces. Mas o mais bonito ainda estava para acontecer… Sem encontrar a resistência do destino (a minha querida mão), a régua na sua marcha imparável, vai ao joelho do NANDO, e de imediato lhe abre um grande corte no mesmo, saltando-lhe a régua da mão, indo directamente também ao joelho da professora OLGA coisas do raio), fazendo-lhe tb., um grande golpe, tendo logo de seguida ela (Professora Olga) e o meu querido amigo (Nando), recorrido ao SINDICATO, onde o bondoso Enfº Sr. Costa, de uma só vez, se deu ao luxo de fazer, o curativo de dois joelhos, perante as gargalhadas que eu soltava quando os dois chegaram dos seus respectivos curativos, feitos no local acima referenciado. Eu vencera, mais uma vez, e de uma cajadada matara, não dois, mas sim três coelhos.
O meu querido colega CARONA, nunca mais se mostrou tão afoito, em dar reguadas aos colegas, a minha querida professora OLGA, provou do seu próprio veneno, e com aquela professora, a terrível “CINCO OLHOS”, nunca mais foi usada naquela sala de aulas.
Esta VIDA REAL, penso ter acontecido, na 3ª ou 4ª Classe, ano 62 ou 63, (ESCOLA PRIMÁRIA Nº 40), se a memória não me atraiçoa…
Voltarei em breve…
Um abraço a todos,
Até lá.
*Eduardo A. Flórido