14 março 2015

A Mangueira, por Rodrigo (Bibito) Guerra

Deixem-me contar a história desta mangueira que está  plantada no sítio do meu cunhado Orlando, em Sto. Estevão, aqui a 140 Km de Salvador e cujas mangas nos têm deliciado todos os anos.

Trabalhava eu em uma firma que tinha um advogado, Dr. Hermínio, que viria a ser um grande amigo meu, infelizmente falecido prematuramente.

O Hermínio tinha um terreno na Ilha de Itaparica e resolveu ali plantar mangueiras, para o que comprou 600.
Entre estas 600 vinha uma quebrada que ele me deu.

Levei-a para Sto. Estêvão onde foi plantada com todo cuidado e aí está ela em toda sua saudável beleza. 

O Hermínio plantou as outras 599 na Ilha, como projetara mas, criava também gado naquele terreno e, certo dia, o pastor distraiu-se e os bois acabaram com elas todas.

Então, dizia-me o Hermínio: Rodrigo, seria melhor eu ter-lhe dado as 599 e ficado com essa quebrada que lhe dei.

Saudoso Hermínio, onde você estiver, pode-se orgulhar da mangueira que me deu!

Rodrigo (Bibito) Guerra


TIPOS QUE NUNCA ESQUECEM - O AGUIAR , por Bibito Guerra

Corria o ano de mil novecentos e quarenta e quatro. Era o mês de Agôsto. Desde o dia 15 o Cubal estava em festa! Não havia Clube e a festa era ao ar livre, num arraial montado num terreno baldio, ali no quarteirão em frente ao que seria, mais tarde, destinado à construcção do Recreativo. Barracas feitas com paus de sisal amarrados, cobertas a capim, serviam de abrigo às mais diversas atracções – tômbola, rifas, tiro ao alvo, bola ao pato, e, como não poderia deixar de ser, comes-e-bebes, a mais frequentada. Numa das laterais do terreno, uma barraca se destacava por ser mais elevada, tipo palafita, com um estrado de madeira leve montado sobre estacas fincadas no chão. Era a barraca destinada à banda de música do velho Sambo, do Bailundo, contratada para animar os festejos, não só percorrendo as ruas da povoação, desde os primeiros alvores do dia, como também para animar os bailes. Naquele Domingo, aconteceria um dos pontos altos do programa: uma corrida de bicicletas. Não pela corrida em si, mas pela velha e acirrada rivalidade Cubal/Ganda que ela representaria, desta feita personalizada por dois dos corredores que polarizavam as atenções e em quem, de um lado os Cubalenses e do outro os Gandenses, depositavam as suas esperanças. Pelo Cubal correria o Aguiar, um tansmontano franzino, nervoso, do tipo “mais-vale-quebrar-que-torcer” que encontrava, numa obstinação inabalável e vontade férrea, a farta compensação para o pouco físico com que era dotado. Pela Ganda, corria o Domingos, um jovem negro de porte atlético, todo músculos, esbanjando saúde, que os gandenses tinham ido buscar à Chimboa da Ganda, por não terem achado, em sua terra, alguém que tivesse aceitado a responsabilidade de defrontar-se com o Aguiar. Lá estavam os corredores postados na linha de partida, esperando o sinal para iniciar. O circuito era no sentido anti-horário, com a partida e chegada bem em frente ao arraial, curva à esquerda na esquina do quintalão do velho Valentim, (onde mais tarde seria o Armazém de Víveres do CFB), descida pela rua da Estação, curva à esquerda na esquina da loja do Guerra, em frente pela rua principal, nova curva à esquerda na esquina do Aurélio Pires (depois loja Candimba), subindo até à esquina do Pereira de Lemos e, de novo, curva à esquerda para passarem pelo arraial, começando tudo de novo. Seriam dez voltas no total. Tudo preparado soou o apito dando início à competição. Eram uns dez ou doze corredores, mas, logo à partida, dois se destacaram do pelotão. Isso mesmo, o Aguiar e o Domingos. Alarido geral dos assistentes. Logo na primeira curva, o Aguiar tomou a dianteira, aumentando a vantagem na segunda, muito próxima. A multidão que se aglomerava na linha de partida, se dividiu, correndo u para ambas as ruas transversais, do Nunes e do Cardoso, para verem os corredores passar pela rua principal. Para quem estava na primeira transversal, o Aguiar ainda mantinha a primeira posição. Porém, os da transversal do Cardoso já viram o Domingos com ligeira vantagem. Eis que surgiram na esquina do Pereira de Lemos! Já o Aguiar tomava a frente, mas por pouco tempo pois, por alturas do Valadas (futuro) o Domingos se adiantou e passou pelo arraial comandando o pelotão. A história repetiu-se, volta após volta. Mais leve e, provavelmente mais habilidoso, o Aguiar dava-se bem nas curvas. Porém, nas retas, as possantes e vigorosas pedaladas do Domingos não lhe deixavam a mínima chance. Já os cubalenses previam o desfecho e, possivelmente se lamentavam mentalmente por não terem marcado a meta de chegada logo após uma curva. Frustração para os cubalenses, euforia para os gandenses que gritavam feitos possessos a cada passagem dos dois contendores. A certa altura, os competidores passaram a ser só dois porque os restantes desistiram, uns por moto próprio e outros por impossibilidade pois, a cada passagem da dupla Aguiar/Domingos, a multidão tomava a pista completamente, ávida para ver o resultado na próxima curva. À esquina do Pereira de Lemos, se divisavam ter figuras avantajadas: o Miguel Fernandes, (tio do Silva ponta esquerda), o Bernardino Caetano e o Pereira da Silva. Três homenzarrões, companheiros inseparáveis, amigos de uma cerveja em dias de folga e para quem uma brigazinha era sempre bem acolhida. Na penúltima volta, quando os dois concorrentes desfaziam a curva, o Bernardino Caetano gritou para o Aguiar: - Força, Aguiar, que na última ele cai. Se bem o disse, melhor o fez. Na última volta, o Caetano já munido de uma tranca, pedida emprestada ao Pereira de Lemos, esperou os corredores e, à sua passagem, saltou à pista e desfechou uma trancada nas costas (1) do Domingos que perdeu o equilíbrio e se estatelou. Ato contínuo, o arraial transformou-se em campo de batalha. O chefe do posto administrativo, Santos Duarte, confiando na autoridade de que era investido e na farda que vestia, foi o primeiro a cair por terra com um sôco de um gandense. O Aguiar, chegando à meta não desceu da bicicleta, “foi descido”, a toque de bofetadas e pontapés, por um grupo de gandenses. A esta altura, generalizou-se a contenda. Era o arraial todo e suas adjacências, tomados pela desordem. Ali, o Jorge da Silva vibrava um tronco de folha de palmeira, das que serviam para enfeitar o arraial, na cabeça do Pinto, fotógrafo da Ganda, atingindo-lhe a orelha esquerda e prostrando-o desmaiado (2). Criança na época, lembra-me de ver meu pai seguro por um gandense que lhe mantinha os braços presos por trás enquanto outro o tentava esganar com o nó corrediço da gravata, que ele usava por pertencer à comissão de festas, e como o Parente o salvou daquela situação com uma cadeirada sobre a cabeça de um deles. A certa altura, um grupo de beligerantes foi de roldão contra uma das estacas que sustentava o estrado da banda, derrubando a barraca, instrumentos e músicos que, entretanto, tinham começado a tocar na tão boa quanto vã intenção de acalmar os ânimos. Foi uma mistura de gente, trompetes, trombones, saxofones, bombos, músicos e partituras espalhados pelo chão. A briga terminou com a chegada do Miguel Fernandes, o Bernardino Caetano e o Pereira da Silva que, distribuindo socos e pontapés à esquerda e à direita, puseram os gandenses à distância. Vocês pagam – gritavam eles – vocês pagam quando forem à Ganda. Nós estamos lá à vossa espera. Vocês não têm nada – gritavam os cubalenses – o Domingos é da Chimboa que vocês nem corredores têm. Nós vamos dar a taça ao Domingos, não a vocês. Assim, os cubalenses ficaram livres de (oh. Vexame dos vexames) entregar a taça para a Ganda. Entretanto, à noite, já tudo consertado, todos se divertiram num animado baile até ao raiar da aurora, com a participação de muitos gandenses que resolveram participar. Afinal, éramos todos amigos... Desde que não houvesse uma competição... . (1) Muitos cubalenses condenaram o gesto do Caetano que se justificava:- “Eu não o atingi. Apenas fiz menção. Ele é que se assustou e se desequilibrou”. (2) Até que saímos de Angola, trinta anos depois, o Pinto fotógrafo sofria de um problema no ouvido esquerdo. Bibito Guerra Salvador/Bahia/Brasil, 2002


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Pelo relevante comentário da Celeste e Vitor Alves,  para melhor visibilidade, e por o considerar bastante significativo e também como complemento ao excelente texto do Bibito aqui fica destacado:

Celeste Alves sábado, 14 março, 2015
É a segunda vez que comento este relato do Bibito Guerra e devo dizer que já o li várias vezes, tentando visualizar as ruas de terra batida, as casas, as pessoas ( que conheci já com filhos e alguns com netos.... ). A banda do Sambo que tão bem conheci, em miúda, pelas ruas de Benguela e no coreto do Jardim Lopes Mateus, traz-me à memória até alguns excertos das músicas.....sole, sole, sole olumbetá......, as folhas de palmeira a cobrir as estruturas feitas com sacambulos e as meninas da época, muito bonitas nas suas saias rodadas a ajudar as mães nas " barraquinhas" de diversão e de acepipes bem confeccionados....... Tão boa é a descrição do autor que parece que também fazemos parte da festa. Ri-me a bom rir com as peripécias dos intervenientes e constato que a célebre rivalidade......Ganda / Cubal, já vinha de longa data e não esmoreceu até aos dias em que pude apreciar, nos jogos de futebol, esse antagonismo quase instintivo. Bons e brilhantes tempos. Termos tido como amigo o saudoso Sr Aguiar, quando fomos para Benguela, depois de 1975, torna a narrativa mais engraçada, ao imaginar aquele senhor magro e tranquilo, protagonista de tais peripécias.........Parabéns Bibito, por tão brilhante e colorido relato. Obrigada Ruca, por nos proporcionares esta verdadeira " jóia" literária. Celeste Alves e Vitor Alves.


Read more: http://cubal-angola.blogspot.com/2015/02/tipos-que-nunca-esquecem-o-aguiar-por.html#ixzz3UMa6Cf8k

09 março 2015

Fui, à Foto Lig (8)




  • Maria Teresa Rodrigues Pena Obrigada Ruca por me fazeres recordar bons tempo. Bjs

  • Ruca Cubal Teresa, o Gil Julio Barros teve esta iniciativa. Eu apenas limitei-me deslocar à loja dele receber as fotografias, digitaliza-las e aqui colocar....  eu sei que o sentimento e as emoções são fortes quando nos revemos há umas décadas atrás (*). Já aconteceu comigo  beijinhos e abraços

    (*) este foi um dos objetivos para a criação do nosso blogue.

07 março 2015

Fui, à Foto Lig (4)


Judite Campos

Fui, à Foto Lig (3)

Fernanda Silva
("ponta esquerda")

Fui, à Foto Lig (2)

(karivera)

Fatima Silva Obrigada por esta bela recordação. Bjs

Fui, à Foto Lig (1)

Francisca Isilda Silva
(Chiquinha)

Hoje fui à Foto Lig...... acreditem.


No seguimento da amável mensagem, no livro de visitas - aqui http://goo.gl/cTDYBB, do Gil Barros, desloquei-me à sua loja em Benfica . Levei comigo o meu querido pai Raúl . É sempre com emoção que revemos os bons amigos.
O Gil chamou-me para me fazer entrega de algumas fotos com algumas carinhas bonitas do nosso tempo do Cubal.
Terei que as digitalizar e aqui colocar com a emoção de sempre. Espero que apreciem.
É sempre bom ir à Foto Lig!!!... o lema "para mais tarde recordar"... aplica-se na perfeição!

Obrigado Gil, pelo carinho de sempre e vontade enorme que tem demonstrado para que este cantinho virtual cubalense tenha, de vez em quando, algo de novo.... pode ser que o seu exemplo, seja seguido.

Forte abraço extensivo à família
Ruca


13 julho 2014

Caros amigos e conhecidos,
alguns verdadeiros Amigos me têm questionado pela minha ausência. Nada mais do que falta de tempo.
Preciso de tempo para outros hobbies ( p.ex. fotografia)que tinham ficado para trás, quando apurei que o blogue estava a servir uma comunidade. Dai todo o empenho que dei ao mesmo, que levou muitos a questionarem-me se "eu fazia algo mais do que o blogue"  A "missão" em reunir todos aqueles que se encontravam dispersos pelos quatro cantos, foi concluída , pois, hoje em dia, poderemos considerar que já todos sabemos uns dos outros. Daí que o esforço para continuar a alimentar quer o blogue quer a pagina do FB, me parece desenquadrado, aliás esse esforço me pareceu inglório, quando outras tecnologias foram surgindo permitindo outro tipo de interacção. Verifico que, entretanto , alguém se foi "apropriando" de fotos do blogue, sem me dar conhecimento e aos respectivos proprietários, condição essa referida no próprio blogue, objectivando fazerem também a sua página. Teria sido mais inteligente, sem dúvida, que me contactasse(m) demonstrando a disponibilidade para fazermos uma página do Cubal, a sério, reunindo sinergias e disponibilidades, aproveitando o património de imagens que o Cubal Angola Terra Amada detém, por cedência dos respectivos proprietários. Acredito que é mais fácil aceder ao blogue e retirar as imagens, do que ir à procura das mesmas como foi feito pelo Cubal Angola Terra Amada. Dá muito trabalho, sem dúvida 
Não é um adeus. Virei aqui de vez em quando. Tenho alguns projectos para as nossas imagens cubalenses que poderão vir a ser surpresa (num futuro).... pode ser... pode ser...
Uma saudação amiga e beijo e abraço às /aos que me têm enviado mensagens.(eles e elas sabem quem são):
Ruca

Cubalenses - Família Paulista

1.e 2.(Cristina Paulista) Com a minha irmã e os meus pais.
2.3.Na fila da frente: Terezinha, Paula, eu (Cristina), uma amiga e prima Belica.
Na fila de trás: Victor, Paula Ferreira, Dalila, Ivone, Carla (prima) e Violeta Ferreira e ?..
4.Eu (Cristina) ao colo da Joana 5.Cristina no Jardim Municipal 6. Eu e uma amiguita (Bébé)
Fotos e texto cedidos por Cristina Paulista

"Família e amigos"

1.Eu (Cristina Paulista) ao colo da Antonieta (enfermeira)
2.Com a minha irmã, mãe e Gracinha. 3.Sentadas: Linda Coelho e Graciela Soares
De pé: a minha tia Olga e a minha mãe Fátima
Rio Cubal (na Bumbua)
4.Dulce Faria, Álea Terra Paulista e Fátima Paulista 5.Manuel e Zeca Terra

Fotos/texto cedidos por Cristina Paulista

Paisagens do Cubal

1.
2.
3.A minha rua
4.
5.

Fotos: Ced. Cristina Paulista

15 novembro 2013

"Uma simples comunicação", por Jaime Marques de Almeida.

Decorreu na passado dia 5 de outubro, em Fornos de Algodres, o 24º Encontro dos Estudantes do Cubal. Os organizadores convidaram o cubalense Jaime Marques de Almeida, que começou a sua carreira profissional no Emissor Regional do Cubal, para proferir a habitual “lição de sapiência”. Por considerar muito pomposa a designação, o orador, cujo texto agora publicamos, preferiu chamar-lhe “uma simples comunicação”.

SEM RAIVA
Há 38 anos, nesta época do ano, muitos de nós começavam a desembarcar em Lisboa. Chegámos exaustos, tantas foram as humilhações passadas e tantos os perigos vencidos. Mas chegámos, chegámos de dentes cerrados – tamanha era a raiva.
Quase quatro décadas depois, aqui estamos, mais uma vez, a confraternizar. A confraternizar, sem raiva, como se alguns de nós não tivessem viajado em porões de barcos e aviões mais adequados ao transporte de gado (e neste aspeto em particular sei bem do que falo).
Foi talvez a maior ponte aérea da história. Mais de 900 voos de diferentes companhias aéreas despejaram em Lisboa quase 200 mil pessoas. Adoentadas, esfomeadas, esfarrapadas, mas pessoas!
Não foi fácil montar a ponte aérea, quer no plano político, quer no plano logístico. Amaciados pelo tempo, que tem esse condão, reagimos hoje com grande complacência às revelações que vão sendo feitas pelas personalidades que protagonizaram os acontecimentos da época, por um lado, e resultantes da abertura dos arquivos, por outro.
António Gonçalves Ribeiro, tenente-coronel na altura, que foi com um administrador da TAP reunir com o Presidente da República, General Costa Gomes, a quem o administrador da TAP disse que não era possível aumentar a capacidade de transporte, ouviu no final: «Pronto, foi feito tudo aquilo que podia ser feito, é impossível fazer mais». Mas alguém acrescentou: «Não há aviões. Eles que comeram a carne que roam os ossos».
Houve aviões. Houve aviões porque houve um homem que não desistiu. A ponte aérea funcionou graças à perseverança de António Gonçalves Ribeiro, a quem todos nós devemos um gesto de gratidão pelo que fez. Se muitos houvesse como ele, Portugal – reconheceu o militar em entrevista ao DN há três anos – não sairia com as calças «muito próximo dos calcanhares», mas talvez pelos joelhos.
Todos sabemos como evoluiu a situação em Angola e as consequências que teve. Não vale a pena abrir feridas já cicatrizadas. Contudo, é irónico saber-se hoje, como revela Alexandra Marques no seu livro Segredos da Descolonização de Angola, que o almirante Rosa Coutinho se tenha referido ao Acordo do Alvor como tendo sido «uma caldeirada à portuguesa”; que Mário Soares tenha visto o encontro da Penina como um «Jogo viciado»; e que para Manuel Monge, militar, a descolonização foi «aquilo que o MFA queria».
No livro Os Retornados Mudaram Portugal, Fernando Dacosta, que foi nosso convidado num dos anteriores encontros, e que tem abordado esta temática de forma séria e profunda, lembra-nos que havia quem defendesse o abandono dos brancos a fim de serem «atirados ao mar» pelos negros. Na redação do semanário O Jornal,  um dos responsáveis impediu Fernando Dacosta de escrever sobre os retornados com o argumento de «serem uns colonialistas reacionários que deviam expiar os seus crimes».
Muitos de nós têm ousado relatar em forma de livro a experiência do regresso, ou da fuga (como quiserem chamar-lhe). Ainda bem que o fazem. Folheei há dias o livro Angola, O horizonte perdido, de António Coimbra, onde o autor diz que a cada esquina era apelidado de explorador e entre os insultos mais suaves ouvia estes: «retornados de merda, voltem para junto dos pretos que andaram a roubar» ou ainda «vão-se embora, gatunos, não venham para aqui roubar o pão aos nossos filhos».
Há leituras menos dramáticas do que se passou. Renato Pereira, um amigo meu, ex-companheiro no Rádio Clube do Lobito e atualmente um empresário de sucesso no ramo da hotelaria, em Portimão, foi ouvido pela autora do livro S.O.S ANGOLA, os dias da ponte aérea, Rita Garcia, e recorda sem mágoa as peripécias do regresso. Diz Renato Pereira que «não foi tau mau como estava à espera» e para ele «o governo de então fez um trabalho espantoso para integrar tanta gente tão depressa». Usando como termo de comparação os portugueses que nunca saíram do país, Renato Pereira considerou-se um privilegiado, com o seguinte argumento: «Se eu pedisse um empréstimo, davam-no. Aos de cá não». Conclui o meu ex-colega Renato Pereira: «as pessoas tinham toda a razão em olhar-nos de lado, nós éramos os intrusos que arranjávamos empregos enquanto eles passavam dificuldades para trabalhar».
Deixo aqui estes dois pontos de vista, ambos respeitáveis, com a firme convicção de que no presente já não existem os de cá e os de lá. Hoje estamos todos do mesmo lado, somos todos de cá. Citando de novo Fernando Dacosta, «Se ontem o país viu dissolver o exterior de si (o império), hoje vê dissolver o interior de si – a identidade». Contem de novo connosco, acrescento eu, para o país sair do atoleiro.
Há, no entanto, uma mensagem que não quero deixar passar em claro. Embora aparentemente não venha a propósito, recordo-vos que o jornal brasileiro O Globo retratou-se há dias, admitindo ter errado ao apoiar o golpe militar de 1 de abril de 1964. Os atuais responsáveis do jornal são de opinião que o apoio foi um erro. E 49 anos depois assumiram-no. Por outro lado, no Chile, 40 anos depois, os representantes do sistema judicial vieram a público, há poucos dias também, assumir «a sua responsabilidade histórica» na instauração do regime de Pinochet. Consideraram chegado «o momento de pedir perdão às vítimas, aos seus familiares e à sociedade chilena».
Dito isto, há uma pergunta que deixo no ar: e, por cá, tantos anos passados, de todos os que cozinharam a “caldeirada à portuguesa”, quem nos vai surpreender, no mínimo, com uma palavra que tenha a dignidade, essa sim, de ser exemplar?
Enquanto esperamos – e a espera vai ser longa, acreditem -, reparem como o António Coimbra se refere ao Rio Cubal no livro Angola, O horizonte perdido: «…o rapaz gostava particularmente da Hanha, um lugar aprazível e de grande beleza situado nas margens do rio Cubal, onde extensos bananais e frondosas palmeiras sugeriam o paraíso».
Termino, desejando, com toda a sinceridade, que sejam felizes os que têm o privilégio de usufruir do paraíso onde tantos de nós cresceram e viveram. E que todos nós sejamos capazes de transformar o inferno em que vivemos no paraíso que merecemos.
No próximo ano cá estaremos!
Boa Noite.

30 outubro 2013

Cubalense procura cubalense (Rui Terra - Jaime Salinas)

Olá, Cubalenses!
Gostaria de saber, se me poderem informar,- dos contactos do Rui Terra ( Rui Carlos Augusto Terra), de quem sou amigo, e ex colega no Cubal, e em Benguela,- partilhávamos o mesmo quarto com o António Flórido). Muito obrigado !
Salinas.
Email : clicar

Cubal e o Morro da Tumba que serve de cenário

1.
Morro da Tumba a norte do Cubal
9 km em linha recta
2.
O Morro (Tumba?) visto do Cubal com a estação do C.F.B em primeiro plano
3.
Em primeiro plano o Cubal e lá longe a 9 km, o morro (Tumba ?) que nos habituámos a ver como cenário de fundo. Como exemplo temos a foto do Meno, no post anterior.
Serra ou Morro da Tumba
Extraida da Net

15 outubro 2013

Clube Desportivo Ferrovia do Cubal - Sócio 174 -

1. Cartão de sócio do "Clube Desportivo Ferrovia do Cubal"
2. Cartão de Desportista
" EQUIPA DE FUTEBOL - REPARADORA TRANSMONTANA"
3. Cartão de acesso à Piscina
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QUOTAS "EM DIA"
4. Quotas de sócio -1973
5. Quotas de sócio -1974 e 1975