07 março 2008

Ainda o "Semanário Sul" 06 de Maio de 1972 - E a "bomba" estoirou no Cubal.

DEPOIMENTO DO PRESIDENTE FERNANDO NEVES


O malfadado caso das irradiações dos jogadores «Bibe» e «Porto» do Recreativo do Cubal já fez correr muita tinta e certamente ainda fará correr mais. A inqualificável atitude do árbitro Duarte de Carvalho e a infeliz decisão da Associação Provincial de Futebol puseram uma mancha negra no Desporto Provincial. Atitudes desta natureza não prestigiam nem fomentam o desporto pelo contrário, desvirtuam-no. E mais triste se torna o facto, quando é o organismo máximo do Futebol Provincial a colaborar em tamanhas calamidades.

Acredito que o Sr. Duarte de Carvalho — que de árbitro só tem o apito — tenha sido agredido, mas se o foi isso não se verificou por parte dos atletas do Recreativo mas sim por alguns espectadores. Aquele senhor não pode, honestamente, acusar nenhum dos nossos atletas de o terem agredido e a prová-lo está o facto de ter indicado, no intervalo que antecedeu o prolongamento, o nome de alguns atletas que ele considerava expulsos e como o Delegado do clube ao jogo tivesse protestado, o árbitro resolveu autorizar que esses atletas continuassem em jogo e em sua substituição pôs na «lista negra» outros e até dá a impressão — isto é inadmissível num árbitro— que estava a brincar às escondidas.
Outros factos há que bradar aos céus: — O caso do Porto, do Waldir e do Canais que jogaram até ao fim e foram castigados. O Waldir, que pode ser apontado como exemplo de desportista, e que nesse jogo de triste memória que há-de pesar na depauperada consciência do tal homem do apito, não praticou nenhuma incorrecção para com a equipa de arbitragem nem para com qualquer adversário, foi castigado com 8 jogos de suspensão. O Canais que abandonou o jogo por lesão teve a mesma «sorte».
Ninguém compreende. Só o tal homem — a quem puseram um apito na boca, — é que sabia qual era o objectivo a atingir. Entretanto, depois de lermos a fotocópia do boletim que redigiu... ficámos a saber quais eram os seus propósitos—dar a machadada fatal no Recreativo do Cubal. As razões que o levaram a isso não sei e nem se conseguirão apurar e até será bom que não se possam descobrir...
Depois destas vergonhas todas, eis que surge o escândalo maior — A Provincial de Futebol a apoiar as vergonhosas «façanhas» dum indivíduo sem carácter nem personalidade.

Outra coisa que não conseguimos compreender é o facto da Provincial adoptar vários critérios. Quero referir-me ao célebre caso do ANGOLA-MOÇAMBIQUE nos Coqueiros e outros... Conforme já tive oportunidade de dizer aos microfones do Rádio Clube de Benguela, não creio que os legisladores tenham feito um Regulamento só para o Cubal e outro para o resto do território Nacional.
Enfim, que Deus lhes perdoe!
Vamos ver como vai terminar tudo isto. Para já, o Clube entregou a defesa dos seus 2 atletas irradiados, a um conceituado causídico de Luanda cujo recurso foi entregue à entidade competente. Temos fundamentadas esperanças que tudo se resolva em bem pois ainda confiamos na justiça dos homens porque estamos certos que o órgão da Associação Provincial de Futebol que irá apreciar o recurso é composto por Homens com «H» grande.
Desejo apenas acrescentar que toda a população do Concelho do Cubal está revoltada e repudia a decisão injusta da Provincial. A provar o que afirmo temos o movimento de solidariedade com subscrições e assinaturas que se geraram e a manifestação efectuada no dia 30/4, que dizem bem do inconformismo de todos.
Para terminar, quero agradecer ao «SUL» a oportunidade que me deu para fazer estes esclarecimentos publicamente, pois ao pugnar por esta causa está defendendo o desporto da Província, que por este andar não vai parar longe!
JOSÉ FERNANDO NEVES

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