04 maio 2015

Cubal e cubalenses (2), por Eva Barata

1 -Eva Barata e amigos (quem identifica)

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3 -Um pic nic no Cubal.A minha mãe ,Madalena Barata é  a 2ª senhora à esquerda.

4 -O Sr. encostado ao jipe é meu pai Rogério Barata gerente do Banco de Angola na altura

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6 -Banco de Angola no Cubal
Por cima, a minha casa

Cubal e cubalenses, por Eva Barata

Eva Barata

Eva Barata e irmão_ (nome?)__________

Eva Barata

03 maio 2015

"Dia da Mãe" - À minha mãe Júlia

Ruca e mãe Júlia - Angola - Nova Lisboa / Huambo  anos 60

Mãe

Conheço a tua força, mãe, e a tua fragilidade.
Uma e outra têm a tua coragem, o teu alento vital.
Estou contigo mãe, no teu sonho permanente na tua esperança incerta
Estou contigo na tua simplicidade e nos teus gestos generosos.
Vejo-te menina e noiva, vejo-te mãe mulher de trabalho
Sempre frágil e forte. Quantos problemas enfrentaste,
Quantas aflições! Sempre uma força te erguia vertical,
sempre o alento da tua fé, o prodigioso alento
a que se chama Deus. Que existe porque tu o amas,
tu o desejas. Deus alimenta-te e inunda a tua fragilidade.
E assim estás no meio do amor como o centro da rosa.
Essa ânsia de amor de toda a tua vida é uma onda incandescente.
Com o teu amor humano e divino
quero fundir o diamante do fogo universal.

António Ramos Rosa, in 'Antologia Poética' 

02 maio 2015

"O Alves", por Bibito Guerra

O ALVES
 
Era de Benguela mas visitava frequentemente o Cubal.
Pai do nosso grande amigo Victor Alves de que todos se devem recordar não só por ter sido bancário no Cubal como também pela grande atividade desportiva e colaboração que prestou ao nosso Recreativo que graças ao dinamismo do Victor viu a sua equipe de futebol disputando o campeonato angolano.
Porém, era o Victor ainda criança quando certa noite a população do Cubal viu a sua rotina quebrada pelo barulho de um avião sobrevoando a povoação, melhor, uma avionete como se chamavam os pequenos monomotores de dois lugares.
Toda a gente saiu de casa, às pressas, para apreciar o inédito espetáculo.
O avião deu uma volta larga e retornou.  Desta vez, ao passar sobre a povoação, cortou o motor e de lá de cima se ouviu uma voz que gritava:
-          Mandem carros para o campo! Mandem carros para o campo!
O povo não acreditava no que ouvia tal era o espanto e, de novo, calando o motor à passagem, o mesmo apelo:
-          Mandem carros para o campo!
Saindo do estupor inicial causado pela surpresa, todos começaram a movimentar-se,  gritando sugestões,  tentando, enfim, colaborar na tentativa unânime de salvar o aflito piloto.
-          Lanternas! Vamos levar lanternas! Quem tem lanterna? – indagava um.
-          Qualquer coisa que dê luz. Archotes. Vamos fazer archotes. – aventava outro.
-          Vamos depressa. O homem está em dificuldade. – incentivava um terceiro.
-          Eu levo uma vela... -
-          Toquem o sino da Igreja...
A esta altura, a pequena povoação habitualmente pacata, era sacudida por um movimento frenético. Carros, (que não seriam mais de cinco naquela época);  vultos  munidos de lanternas de mão; outros, portando potentes farolins de caça; ainda outros, pelos lados do bairro dos ferroviários, com lanternas de cabeça, acessório obrigatório do equipamento profissional dos maquinistas; todos surgindo dos mais diversos pontos e movimentando-se rapidamente com o mesmo objectivo.
Ninguém se preocupou em tocar o sino da Igreja como foi sugerido nem foi necessário porque os ferroviários em serviço no depósito de máquinas, impedidos de colaborar, abriram as goelas das locomotivas ali estacionadas soltando seus estridentes apitos. Estranhas e imprevisíveis as rações humanas.
O inusitado movimento, a gritaria, os apitos, provocaram não só desmaios entre senhoras como também um violento ataque de riso a outra cujo nome não me ocorre, mas com a curiosa alcunha de “Pior”.
Finalmente, com o campo referenciado, o pequeno avião aterrissou por sobre alto capim e “bissapas” já que, por falta de demanda, não era capinado havia longos meses.
Todos acorreram curiosos para ver quem ajudaram a salvar e os gritos de alegria foram ainda maiores quando o piloto assomou e reconheceram nele o velho amigo Alves.
-          Estava quase sem gasolina. Se vocês atrasassem, eu teria aterrado mesmo  na rua  -  foi gritando, enquanto desembarcava, referindo-se com certeza à rua principal que era a única iluminada.
Foi um bom motivo para dali irem para o Hotel Central, único ponto social naquele tempo e ali vararem a noite bebendo e ouvindo o Alves contar a história pormenorizadamente e peripécias outras que passara pelos vastos céus da nossa Angola.
Afinal, havia que aproveitar pois ninguém sabia quando é que o Cubal teria outro caso que o tirasse da pacata rotina de pequena povoação.

Bibito Guerra
Salvador/Bahia/Brasil

21 março 2015

Fui, à Foto Lig (24)


Fui, à Foto Lig (23)


Fui, à Foto Lig (22)


Fui, à Foto Lig (21)


Fui, à Foto Lig (20)



Fui, à Foto Lig (19)


Miss Cubal
1971

Fui, à Foto Lig (18)


Fui, à Foto Lig (17)


Fui, à Foto Lig (16)


14 março 2015

Fui, à Foto Lig (13)

Ligia Faria

A Mangueira, por Rodrigo (Bibito) Guerra

Deixem-me contar a história desta mangueira que está  plantada no sítio do meu cunhado Orlando, em Sto. Estevão, aqui a 140 Km de Salvador e cujas mangas nos têm deliciado todos os anos.

Trabalhava eu em uma firma que tinha um advogado, Dr. Hermínio, que viria a ser um grande amigo meu, infelizmente falecido prematuramente.

O Hermínio tinha um terreno na Ilha de Itaparica e resolveu ali plantar mangueiras, para o que comprou 600.
Entre estas 600 vinha uma quebrada que ele me deu.

Levei-a para Sto. Estêvão onde foi plantada com todo cuidado e aí está ela em toda sua saudável beleza. 

O Hermínio plantou as outras 599 na Ilha, como projetara mas, criava também gado naquele terreno e, certo dia, o pastor distraiu-se e os bois acabaram com elas todas.

Então, dizia-me o Hermínio: Rodrigo, seria melhor eu ter-lhe dado as 599 e ficado com essa quebrada que lhe dei.

Saudoso Hermínio, onde você estiver, pode-se orgulhar da mangueira que me deu!

Rodrigo (Bibito) Guerra


TIPOS QUE NUNCA ESQUECEM - O AGUIAR , por Bibito Guerra

Corria o ano de mil novecentos e quarenta e quatro. Era o mês de Agôsto. Desde o dia 15 o Cubal estava em festa! Não havia Clube e a festa era ao ar livre, num arraial montado num terreno baldio, ali no quarteirão em frente ao que seria, mais tarde, destinado à construcção do Recreativo. Barracas feitas com paus de sisal amarrados, cobertas a capim, serviam de abrigo às mais diversas atracções – tômbola, rifas, tiro ao alvo, bola ao pato, e, como não poderia deixar de ser, comes-e-bebes, a mais frequentada. Numa das laterais do terreno, uma barraca se destacava por ser mais elevada, tipo palafita, com um estrado de madeira leve montado sobre estacas fincadas no chão. Era a barraca destinada à banda de música do velho Sambo, do Bailundo, contratada para animar os festejos, não só percorrendo as ruas da povoação, desde os primeiros alvores do dia, como também para animar os bailes. Naquele Domingo, aconteceria um dos pontos altos do programa: uma corrida de bicicletas. Não pela corrida em si, mas pela velha e acirrada rivalidade Cubal/Ganda que ela representaria, desta feita personalizada por dois dos corredores que polarizavam as atenções e em quem, de um lado os Cubalenses e do outro os Gandenses, depositavam as suas esperanças. Pelo Cubal correria o Aguiar, um tansmontano franzino, nervoso, do tipo “mais-vale-quebrar-que-torcer” que encontrava, numa obstinação inabalável e vontade férrea, a farta compensação para o pouco físico com que era dotado. Pela Ganda, corria o Domingos, um jovem negro de porte atlético, todo músculos, esbanjando saúde, que os gandenses tinham ido buscar à Chimboa da Ganda, por não terem achado, em sua terra, alguém que tivesse aceitado a responsabilidade de defrontar-se com o Aguiar. Lá estavam os corredores postados na linha de partida, esperando o sinal para iniciar. O circuito era no sentido anti-horário, com a partida e chegada bem em frente ao arraial, curva à esquerda na esquina do quintalão do velho Valentim, (onde mais tarde seria o Armazém de Víveres do CFB), descida pela rua da Estação, curva à esquerda na esquina da loja do Guerra, em frente pela rua principal, nova curva à esquerda na esquina do Aurélio Pires (depois loja Candimba), subindo até à esquina do Pereira de Lemos e, de novo, curva à esquerda para passarem pelo arraial, começando tudo de novo. Seriam dez voltas no total. Tudo preparado soou o apito dando início à competição. Eram uns dez ou doze corredores, mas, logo à partida, dois se destacaram do pelotão. Isso mesmo, o Aguiar e o Domingos. Alarido geral dos assistentes. Logo na primeira curva, o Aguiar tomou a dianteira, aumentando a vantagem na segunda, muito próxima. A multidão que se aglomerava na linha de partida, se dividiu, correndo u para ambas as ruas transversais, do Nunes e do Cardoso, para verem os corredores passar pela rua principal. Para quem estava na primeira transversal, o Aguiar ainda mantinha a primeira posição. Porém, os da transversal do Cardoso já viram o Domingos com ligeira vantagem. Eis que surgiram na esquina do Pereira de Lemos! Já o Aguiar tomava a frente, mas por pouco tempo pois, por alturas do Valadas (futuro) o Domingos se adiantou e passou pelo arraial comandando o pelotão. A história repetiu-se, volta após volta. Mais leve e, provavelmente mais habilidoso, o Aguiar dava-se bem nas curvas. Porém, nas retas, as possantes e vigorosas pedaladas do Domingos não lhe deixavam a mínima chance. Já os cubalenses previam o desfecho e, possivelmente se lamentavam mentalmente por não terem marcado a meta de chegada logo após uma curva. Frustração para os cubalenses, euforia para os gandenses que gritavam feitos possessos a cada passagem dos dois contendores. A certa altura, os competidores passaram a ser só dois porque os restantes desistiram, uns por moto próprio e outros por impossibilidade pois, a cada passagem da dupla Aguiar/Domingos, a multidão tomava a pista completamente, ávida para ver o resultado na próxima curva. À esquina do Pereira de Lemos, se divisavam ter figuras avantajadas: o Miguel Fernandes, (tio do Silva ponta esquerda), o Bernardino Caetano e o Pereira da Silva. Três homenzarrões, companheiros inseparáveis, amigos de uma cerveja em dias de folga e para quem uma brigazinha era sempre bem acolhida. Na penúltima volta, quando os dois concorrentes desfaziam a curva, o Bernardino Caetano gritou para o Aguiar: - Força, Aguiar, que na última ele cai. Se bem o disse, melhor o fez. Na última volta, o Caetano já munido de uma tranca, pedida emprestada ao Pereira de Lemos, esperou os corredores e, à sua passagem, saltou à pista e desfechou uma trancada nas costas (1) do Domingos que perdeu o equilíbrio e se estatelou. Ato contínuo, o arraial transformou-se em campo de batalha. O chefe do posto administrativo, Santos Duarte, confiando na autoridade de que era investido e na farda que vestia, foi o primeiro a cair por terra com um sôco de um gandense. O Aguiar, chegando à meta não desceu da bicicleta, “foi descido”, a toque de bofetadas e pontapés, por um grupo de gandenses. A esta altura, generalizou-se a contenda. Era o arraial todo e suas adjacências, tomados pela desordem. Ali, o Jorge da Silva vibrava um tronco de folha de palmeira, das que serviam para enfeitar o arraial, na cabeça do Pinto, fotógrafo da Ganda, atingindo-lhe a orelha esquerda e prostrando-o desmaiado (2). Criança na época, lembra-me de ver meu pai seguro por um gandense que lhe mantinha os braços presos por trás enquanto outro o tentava esganar com o nó corrediço da gravata, que ele usava por pertencer à comissão de festas, e como o Parente o salvou daquela situação com uma cadeirada sobre a cabeça de um deles. A certa altura, um grupo de beligerantes foi de roldão contra uma das estacas que sustentava o estrado da banda, derrubando a barraca, instrumentos e músicos que, entretanto, tinham começado a tocar na tão boa quanto vã intenção de acalmar os ânimos. Foi uma mistura de gente, trompetes, trombones, saxofones, bombos, músicos e partituras espalhados pelo chão. A briga terminou com a chegada do Miguel Fernandes, o Bernardino Caetano e o Pereira da Silva que, distribuindo socos e pontapés à esquerda e à direita, puseram os gandenses à distância. Vocês pagam – gritavam eles – vocês pagam quando forem à Ganda. Nós estamos lá à vossa espera. Vocês não têm nada – gritavam os cubalenses – o Domingos é da Chimboa que vocês nem corredores têm. Nós vamos dar a taça ao Domingos, não a vocês. Assim, os cubalenses ficaram livres de (oh. Vexame dos vexames) entregar a taça para a Ganda. Entretanto, à noite, já tudo consertado, todos se divertiram num animado baile até ao raiar da aurora, com a participação de muitos gandenses que resolveram participar. Afinal, éramos todos amigos... Desde que não houvesse uma competição... . (1) Muitos cubalenses condenaram o gesto do Caetano que se justificava:- “Eu não o atingi. Apenas fiz menção. Ele é que se assustou e se desequilibrou”. (2) Até que saímos de Angola, trinta anos depois, o Pinto fotógrafo sofria de um problema no ouvido esquerdo. Bibito Guerra Salvador/Bahia/Brasil, 2002


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Pelo relevante comentário da Celeste e Vitor Alves,  para melhor visibilidade, e por o considerar bastante significativo e também como complemento ao excelente texto do Bibito aqui fica destacado:

Celeste Alves sábado, 14 março, 2015
É a segunda vez que comento este relato do Bibito Guerra e devo dizer que já o li várias vezes, tentando visualizar as ruas de terra batida, as casas, as pessoas ( que conheci já com filhos e alguns com netos.... ). A banda do Sambo que tão bem conheci, em miúda, pelas ruas de Benguela e no coreto do Jardim Lopes Mateus, traz-me à memória até alguns excertos das músicas.....sole, sole, sole olumbetá......, as folhas de palmeira a cobrir as estruturas feitas com sacambulos e as meninas da época, muito bonitas nas suas saias rodadas a ajudar as mães nas " barraquinhas" de diversão e de acepipes bem confeccionados....... Tão boa é a descrição do autor que parece que também fazemos parte da festa. Ri-me a bom rir com as peripécias dos intervenientes e constato que a célebre rivalidade......Ganda / Cubal, já vinha de longa data e não esmoreceu até aos dias em que pude apreciar, nos jogos de futebol, esse antagonismo quase instintivo. Bons e brilhantes tempos. Termos tido como amigo o saudoso Sr Aguiar, quando fomos para Benguela, depois de 1975, torna a narrativa mais engraçada, ao imaginar aquele senhor magro e tranquilo, protagonista de tais peripécias.........Parabéns Bibito, por tão brilhante e colorido relato. Obrigada Ruca, por nos proporcionares esta verdadeira " jóia" literária. Celeste Alves e Vitor Alves.


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