Convite / Memórias do Cubal! Fotografias de décadas revelam momentos e pessoas que marcaram a história do Cubal. Compartilha as tuas lembranças e histórias nos comentários ou por email: cubal.ruca@gmail.com Juntos, vamos enriquecer essa jornada no tempo!Respeito pelas memórias: Se alguém da foto, ou familiar, preferir a remoção, por favor, entre em contato. Preservar a história e o respeito pelas memórias é o meu compromisso.Junta-te a nós! Descubramos e celebremos o passado do Cubal! Ruca
26 novembro 2011
11 novembro 2011
4º Aniversário do Blogue do Cubal - Quatro anos a (re)unir cubalenses e amigos do Cubal
11 de Novembro
2007 -2011
***
Caros Amigos Cubalenses,
2007 -2011
***
Caros Amigos Cubalenses,
Num momento em que me encontro no estrangeiro, ocorre uma data muito significativa do nosso Blogue.
O NOSSO 4º ANIVERSÁRIO.
Estamos todos de parabéns!
Este nosso projecto continua bem vivo e a (re)aproximar muitos amigos.
Não gostaria que a data passasse, sem aqui deixar a minha gratidão a todos os amigos/as que tudo têm feito para que este nosso cantinho virtual continue a ser o principal ponto de encontro e de referência cubalense.
Muito Obrigado a todos os que têm colaborado e que nos têm visitado.
Abraço
Ruca
09 novembro 2011
O grande vocalista TONI DE MATOS, acompanhado pelo acordeonista e amigo das farras HERNANI CABRAL.
O amigo Hernâni Cabral guardou esta foto durante 45 anos e me mandou de um lugar qualquer do planeta...
UM VERDADEIRO TESOURO...!!!...
...Bons velhos tempos de aventuras e loucuras da adolescência ... com 18 anos ... com muito sangue nas guelras.....ahahahahahahaha...
Toni de Matos
UM VERDADEIRO TESOURO...!!!...
...Bons velhos tempos de aventuras e loucuras da adolescência ... com 18 anos ... com muito sangue nas guelras.....ahahahahahahaha...
Toni de Matos
05 novembro 2011
A RELÍQUIA , por Fernanda Valadas
A RELÍQUIA
(Juro que nao vou plagiar o nosso Eca de Queiroz)
(Juro que nao vou plagiar o nosso Eca de Queiroz)
Fevereiro de 1965, quadra antecedente ao Carnaval, o que equivale a dizer que estávamos em plena fase dos assaltos.
A "malta" do Instituto, incluindo os professores, combinaram um assalto a casa do Insp. Marques Monteiro.
Ficou tudo organizado antecipadamente. As mulheres levavam os "comes" e os homens os "bebes" (não sei se ainda se usam estes termos, mas no meu tempo era assim), o Alexandre Fonseca iria buscar as raparigas na sua carrinha Chevrolet, verde.
Chegou o dia e a azafama foi grande já que tínhamos de providenciar os "comes" ,as fantasias e as mascaras.
As 20,30h o Alexandre passou por minha casa, já com a Tucha e Anabela Espinha e dirigimo-nos para a casa da Palmira e Olga Santos, em frente ao Clube Recreativo. Aí, estava um grupo grande de rapazes que aproveitaram a boleia e de imediato subiram para a carrinha. Ficamos a espera da Olga e da Palmira, e como elas estavam a demorar muito, eu, a Tucha e Anabela
resolvemos descer e ir ver o que se passava.
A Palmira andava feita "barata tonta" a ultimar os preparativos com um semblante fechado e com a mãe D. Felismina seguindo-lhe os passos com uma recomendação:
-Mirinha, tem cuidado com o prato! É muito antigo. Era da minha mãe!
Acreditem que esta recomendação era tão repetitiva que mais parecia um disco rachado e cuja agulha não saia do mesmo lugar.
A Palmira, já saturada, respondia:
-Esta bem , mãe! Eu já ouvi isso! Esteja descansada que eu trago-lhe o prato.
Ela la se despachou e saiu com o dito prato na mao, com um guloso e apetitoso pudim de leite condensado (convém explicar aos mais novos que naquele tempo nao existiam , nem sacos plasticos, nem de viagem onde se pudessem acondicionar as
coisas). Todos levavam as maos ocupadas. Ja eatavamos a arrancar e ainda ouvimos a D. Felismina dizer:-Mirinha, cuidado com o prato
A carroceria da carrinha estava super-lotada e todos de pe e encostados uns nos outros la nos iamos equilibrando.
O Alexandre, sempre com aquele espirito brincalhao e jovial, arrancou da casa da Palmira com uma velocidade, um tudo ou nada, excessiva.
A proxima paragem era na casa da Cidalia, mais ou menos em frente a loja do Sr Pereira de Lemos e Parque Infantil.
Ao chegar a casa da Cidalia, o Alexandre em vez de reduzir gradualmente a velocidade fez uma travagem brusca.
Resultado: fomos todos jogados para a frente e o que levavamos nas maos estatelou-se no "chao" da carroceria.
Foi uma algazarra, uma gargalhada geral, uma alegria.
Mas... no meio de toda aquela algazarra, começou-se a ouvir alguem a chorar e em panico dizia:
-Ai o prato!!! Ai a minha mae! O que e que eu lhe vou dizer?!!! O que e que eu faço?!!! O que vai se de mim?!!!Ela avisou-me tantas vezes para ter cuidado!...
Quando nos apercebemos estava o prato estatelado no "chão" todo em pedaços e o pudim todo espapacado.
Nos, naquela euforia dos nossos 15 anos, nao compreendemos o dilema da Palmira e respondiamos:
-O prato e o menos, pena e o pudim tao bom que se perdeu!
La fomos para o assalto onde eu e todos os outros nos divertimos imenso ate altas horas da noite. So a Palmira nao desfrutou dessa alegria e sempre com um ar muito preocupado, volta que nao volta, punha a mao na testa e murmurava:
-Ai a minha mae. O que e que eu lhe vou dizer?Eu nao tenho coragem e nem quero pensar!
Quando a festa terminou, cada um recolheu os seus haveres e fomos para casa.
No dia seguinte todos estavamos curiosos para saber como a Palmira se tinha saido com a mae.
Pois é, a Palmira pregou uma mentirinha a mae dizendo que tinhamos de ir limpar a casa do Insp. Marques Monteiro e entao nessa altura traria o prato.
Como acabou esta estoria, sinceramente ja nao me recordo, mas acredito que nao foi muito facil a Palmira enfrentar a verdade perante a mae.
Alo Palmira, um grande abraco.
Luís Monteiro Caro Ruca, como calculas li com emoção a tua relíquia uma vez que destino da tão falada relíquia (prato antigo) era a casa do meu pai. Nessa altura devia eu estar na Escola de Oficiais em Mafra e longe dos "assaltos" da tão alegre e tropical Angola (vim depois como alferes para N.Lisboa). Penso que também estaria lá a minha irmã Teresa e o meu irmão mais novo Carlos. Beijão a todos e avisem-me do próximo assalto.
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Luís Monteiro Caro Ruca, como calculas li com emoção a tua relíquia uma vez que destino da tão falada relíquia (prato antigo) era a casa do meu pai. Nessa altura devia eu estar na Escola de Oficiais em Mafra e longe dos "assaltos" da tão alegre e tropical Angola (vim depois como alferes para N.Lisboa). Penso que também estaria lá a minha irmã Teresa e o meu irmão mais novo Carlos. Beijão a todos e avisem-me do próximo assalto.
04 novembro 2011
AO MEU QUERIDO E DOCE BERÇO… CIDADE DO CUBAL
DIFERENCIAÇÕES EDUCACIONAIS / SEDE DE VIDA…
Disse um dia Aristóteles... não digo tudo o que penso, mas penso tudo o que digo. Um pensamento que sendo dum tempo que já vai longe, em que outros valores se impunham, é algo que devia ser aplicado na comunicação nos dias de hoje. Tantas são as razões que nos levam a procurar um outro ser com que comunicar, muitas delas, se calhar as mais válidas até, não se baseiam numa solidão explicita, mas numa solidão intelectual, onde nos vemos rodeados de imensas pessoas,algumas mais próximas outras nem tanto, que não partilham dos nossos valores, e onde uma conversa com mais de quatro frases já é um testamento, ou onde a idade mental ainda está em fase embrionária e ainda que mostrando grandes promessas futuras, não tem letras, palavras, sentimentos próprios da bagagem de quem já leva alguns anos de vida... ou apenas onde nem sequer existe um patamar comum onde as palavras simples de um diálogo sem tempo, sem hora, sem idade e sem cor, possa ser plantado... A comunicação é como a água que sacia a mente, aquece a alma e dá vida redobrada ao corpo.Divinal quando nos cruzamos com alguém que nos faz sentir cada uma das palavras que nos escreve quando as lemos, e sentir uma vontade incontrolável de ir a correr para uma tela branca e deixar correr todas essas sensações, numa mistura deliciosamente caótica de factos do dia-a-dia, com memórias de um tempo ido, temperado pelos sonhos por viver,mas não por isso menos sentidos.Nunca entendi o que nos faz sentir por um outro ser humano,mesmo que apenas linguisticamente, aquela vontade de brincar com as palavras, aquela vontade de partilhar o que tão poucos sabem, mas que ali, naquele instante e para alguém que desconhecemos conhecendo no entanto tão bem, queremos contar... Conseguir transmitir por palavras sentimentos e sensações a quem nos lê, e esboçar um sorriso ou soltar uma gargalhada ao lermos um texto escrito por alguém que desconhecemos mas que entendemos, ser delicioso... Sempre achei que a vida era feita de momentos, de pequenos instantes que fogem ao tempo, onde nesse contratempo algo nos faz sorrir, por tudo, mesmo sendo por nada, pode ser apenas porque ao olharmos por cima do ombro, entre mil e uma caras iguais que se cruzam por ruas impessoais, vislumbramos dois seres tão especiais que fugazmente trocam um beijo carregado de um amor que já leva bodas de ouro pintadas,pode ser apenas porque por alguma razão inexplicável, uma gota única de água, presa na última das pequeninas nuvens que mancha um céu azul imaculado nos cai exactamente na pontinha do nariz, pode ser uma lágrima perdida entre duas dunas da vida, ou um sorriso rasgado num abraço apertado, um carinho imenso dum amor desmedido, ou apenas uma flor selvagem, singela, que teima em romper num lugar inóspito e árido... é assim…. Tal como foi assim que esbocei um sorriso quando o li, primeiro devagar, depois ganhando forma, como o Bolero de Ravel, que começa por um sussurro e vai ganhando corpo nas notas que se vão cruzando, nos sons que se vão misturando, como um rio que desce pela encosta da montanha e acaba numa cascata que só de a olharmos perdemos o fôlego... porque desagua num lago singelo que a acolhe em silêncio... é assim que se deve ouvir Ravel, tal como é assim que se deve ler, quem assim escreve, na absorção de cada palavra… É destes momentos sem tempo, que saciamos a nossa sede de Vida, aquela vida que é semente, é amor descontrolado, é rei sem trono, que se bebe sem nunca ficar saciado... faço uma pausa, e meio na diagonal atravesso as palavras que escrevo… prefiro não pensar se estão correctamente colocadas nas frases, prefiro não reler,porque certo é que quando relemos o que deixámos a Alma Rainha seus servos os dedos num corridinho ditar, decerto não passaria a censura de seu irmão, o Rei Razão, com sua certeza incerta tal ditame autorizar... brinco com as palavras, não com o sentido delas, deixo correr o pensamento, brincalhão, entre a crista de duas ondas que teimam em bater no mesmo areal, que teimam em agarrar a mesma estrela, e que na sua euforia trocam dois sorrisos dois olhares tímidos e dois momentos. Afinal a vida tem poucas certezas, e dessas, menos ainda acabam por justificar esse atributo, mas existe sempre aquele algo que é intocável, que nos faz sob qualquer circunstância esboçar um sorriso, que indiferente à intempérie permanece inócuo, tão certo como o céu que paira sob a nossa cabeça e ao mesmo tempo tão grande que não é dimensionável. Todos temos essa certeza, o nosso pequeno “happy thought” que podemos usar sem peso nem medida... isso sim faz deste mundo um “Wonderful World", já dizia o Louis... e assim te digo a ti “play it again SAM”... A minha janela estará sempre aberta para te ler... os meus dedos livres para te escrever, com a certeza que podendo não dizer tudo o que penso, penso, e sinto tudo o que escrevo…
*EduardoAFlórido.
28 outubro 2011
26 outubro 2011
Eventos cubalenses II
Abraços
25 outubro 2011
Sala de aulas da Escola Ind. Com. D. João II - Cubal, com o Prof. Victor Martins
Olá Ruca. descobri esta... foi tirada para ser enviada para Luanda, Ministério da Educação da altura. Enfim, tirando o prof. (eu...) pode ser que alguém se reconheça. Um abraço. Victor Martins |
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Alguém consegue identificar os atentos alunos nas aulas de electrotecnia E.I.C. D. João II, com o Prof. Victor Martins? Neste local eram as oficinas e laboratórios de electricidade?
Ruca
24 outubro 2011
Jovens cubalenses
Vamos identificar? Lá em baixo nos comentários.
Imagens Cedidas pela Elga e Letinha e remetidas para o nosso blogue pela Helena Carvalho
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Serviço público cubalense
Olá Ruca!
Gostaria de receber o Email da Mirecas filha do Sr. Valentim e também do Gi Vilares.
Um grande abraço.
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Caro Rui,Já entrei em contacto com o Gi Vilares que irá escrever-te. Quanto à Mirecas, não tenho qualquer informação da mesma. Pode ser que algum amigo nos forneça alguma informação.
Pede-se a quem souber informações as faça chegar.
Abraço
Ruca
Notícias dos Cubalenses e amigos do Cubal - Prof Victor Martins
Olá Caro amigo.
Como curiosidade, somente... terminei um texto com histórias ficcionadas, com "partidas" do Cubal. Uma parte. Histórias de caça mal sucedidas... As que nos fazem arrancar um sorriso ou uma gargalhada, mas, aqui o interessante também, algum quotidiano da nossa cidade... Histórias sobre o "Rebuge", que me perdoe, mas sem querer magoar ninguém, histórias do Valentim... Aquela da chegada dele do puto, a Benguela, em casa do cunhado, aquela em que o Valentim deu o Broklaxe que comprou ao Borges da farmácia aos funcionários na obra... A do esquentador no Sousa, com o bilhete do Rebuge... enfim... Os protagonistas são o Borges da oficina, eu, claro, o Franklin, o Matos, o meu colega Carvalho, da escola... Bom, muitas histórias são ficção, com fundos de verdade, porque aconteceram. Dado a que não me conformei com a nossa saída... Só agora fiz o meu exorcismo através deste texto com cerca de 200 páginas, em A4. Estou a fazer uma ronda pelas editoras, mas... Já tenho sorrido com as propostas de muitas editoras de vão de escada. Pretendem que o autor "pague literalmente" a edição... E muito mais... enfim... Enviei esse texto, inédito é claro, para muitos, mas para outros não o será, porque conheceram os protagonistas das histórias, mas dado a que entrei em quase tudo... "Salvo-seja"... Reservei-me ao direito de escrever estas memórias, mas que, repito, são de todos nós, os Cubalenses. São dois os contadores de histórias: António Conguluila e Carlos Calequisse. É uma homenagem que faço, uma, a um aluno do nosso Cubal, outro nome a um amigo que esteve comigo na pensão Bimbe em Nova Lisboa. Mas, no fundo, é claro... É este teu amigo, com saudades de tudo aquilo... Vou publicando algumas no meu site, o www.alemdosvidros.com Outras histórias têm a ver com a minha estadia em Serpa Pinto, em Sá da Bandeira e em Nova Lisboa. Muitas intimidades também estão por lá... Vamos ver o que se consegue. Entretanto, dado tratar-se de "literatura"... "Ai-ué"... Angolana, com muito termos pertencentes a vários dialectos, com a explicação devida do seu significado em rodapé, concorreu ao prémio Marquês de Valle-Flor para este ano. O resultado será divulgado no princípio do ano que vem... Claro que não tenho pretensões nenhumas... Mas é só para se saber que estou com a nossa gente ao ponto de ter escrito estas memórias, com histórias... Do "arco-da-velha". Afectos ao fim e ao cabo. Para que conste.
Um abração do Victor Martins
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Publico estas notas curiosas do Prof. Victor Martins, que nos ajudam também a conhecê-lo melhor e às suas outras facetas.
Ao Victor, aqui deixo publicamente o convite para enriquecer este nosso espaço com os seus testemunhos cubalenses ou outros. Já enviei o convite para ser autor do nosso blogue. Espero que aceite o mesmo.
Quanto à publicação do livro, deparei-me com o mesmo problema quanto pensei e tentei publicar um livros sobre o Cubal e seus testemunhos. O Projecto continua em pé, esperando um dia ter o tempo disponível (que bem tão precioso e tão escasso) e que me tem faltado.
Ao Victor Martins, aqui deixo esta solução/sugestão a ter em conta e em alternativa às Editoras que exigem ao autor o pagamento da Edição: Veja aqui e neste link um um exemplo
Abraço e apareça sempre!
Ruca
23 outubro 2011
Homenagem ao basquete, às basquetebolistas e corpo técnico feminino cubalense
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Prevejo alguma alegria e emoção cubalense, alí para os lados do Lobito.
Estarei enganado Celeste e Victor Alves?
Ruca
Prevejo alguma alegria e emoção cubalense, alí para os lados do Lobito.
Estarei enganado Celeste e Victor Alves?
Ruca
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Envio algumas fotos gentilmente cedidas pela Elga e Letinha
Helena Carvalho
Obrigado uma saudação especial.
Ruca
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Obrigado à Elga e Letinha pela cedência das imagens, bem como à Helena Carvalho que, com mais esta sua excelente colaboração ao enviar as mesmas, permitem a partilha destes (e dos outros que virão a seguir) belos testemunhos pela comunidade cubalense espalhada pelo Mundo.Obrigado uma saudação especial.
Ruca
RECORDAÇÕES DOS BONS VELHOS TEMPOS NO CUBAL, por Fernanda Valadas
Clube Beneficente e Recreativo do Cubal
Tema:- Cinema e seus envolvimentos
1ªParte
Anos 50/60
ÀS 4ªs e sábados
todas as tardes uma carrinha com uma grande campânula percorria as ruas do
Cubal anunciando o filme da noite, através da voz do Bibito Guerra, acompanhado
dos últimos sucessos musicais da época, rock and roll.
Após o almoço, era
grande a azáfama em minha casa, já que éramos uma família grande e tínhamos de cuidar
das toilettes. Passava-se a roupa a ferro (de carvão), punha-se goma nos
saiotes e laçarotes (água com farinha de trigo), engraxavam-se os sapatos (de
verniz com azeite e os brancos com Blanco), vincavam-se as calças do meu pai e irmãos,
punham-se as palhetas nos colarinhos das camisas, limpavam-se os casacos de
fazenda com café. Depois de tudo pronto, estendiam-se as roupas nas camas
respectivas para serem usadas na devida altura.
Jantava-se mais
cedo e depois, cada um ia preparar-se para a grande sessão.
Eu e a Anita éramos
despachadas em primeiro lugar. As minhas irmãs Olga e Lisete penteavam-nos e
punham-nos uns laçarotes no cabelo com 6 ou 7 cm de largura, cheios de goma que
na cabeça mais pareciam umas borboletas gigantes. Diga-se de passagem, que
nunca gostei muito desses atavios, mas, naquele tempo, o regime era: come e
cala!
A Olga e a Lisete
levavam mais tempo nos seus preparativos. Ripavam o cabelo para poderem fazer
grandes poupas e para isso usavam água e limão para as mesmas ficarem bem
firmes. Punham pó de arroz, rouge, creme Pound's, batom e no fim o perfume
muito em voga, Tabu.
Tudo pronto, havia
ainda que por uns cintos muitos largos que eram apertados ao máximo para fazerem
uma cinturinha o mais estreita possível.
Todos estes
preparativos levavam o seu tempo e o meu pai impaciente a espera no portão.
A sessão começava
as 21 horas, ia-se sempre com antecedência por causa das praxes.
Quando se chegava
ao clube, já os rapazes estavam no cimo da escadaria em alegres cavaqueiras,
mas sempre atentos a chegada das suas eleitas. Naquele tempo, um a simples
troca de olhares era uma grande emoção e felicidade.
Os homens levavam
as mulheres aos seus lugares dentro da sala, sem que antes o Alexandrino
cortasse os bilhetes, saiam e iam para o salão jogar bilhar, "ping
pong", beber uma cerveja ou fumar. As senhoras, dentro da sala, saiam dos
seus lugares e iam ter umas com as outras e aproveitavam aquele tempinho para
porem a conversa em dia.
Nós, as crianças,
entravamos com os nossos pais, mas depressa nos escapávamos e íamos para fora
jogar as escondidas ou ao "canhe", ou então andar num celebre baloiço
que o Zé Lemos tinha feito numa acácia em frente ao clube.
Às 21 horas
começava a sessão.
2ª Parte
O CINEMA
Tal como o meu pai,
havia um certo número de pessoas que tinham lugar cativo, o que equivale a
dizer que existiam um determinado grupo de crianças e jovens que marcavam presença
em todas as sessões. Crianças até 12 anos não pagavam" bilhete".
Vou fazer uso da
minha memória fim de enumerar o nome das crianças que, salvo raras excepções, não
faltavam a uma sessão.
Anabela e Zé Simões,
Graça Gouveia, Dália Botelho, Olga Santos, Palmira, Maria Sampaio, Céu Canais,
Ana Maria Paulista, Gaby Ferreira, Teresa Mota, Anita e Nanda Valadas, Henrique
Faria, Carlos e Silvério Falcão, Zé e Quim Queirós, Zé Lemos, Chico Valadas, Hernâni
Cabral, Fernando Alexandre, Luís e Cabolas, Vítor (hotel) e Vítor (algarvio),
Canais, Armando Ferreira, Necas e Carlos Abreu, e… outros mais que não recordo
de momento.
A sala era composta
por cadeiras de madeira todas ligadas umas as outras e a frente duas idas de
bancos corridos de cada lado da coxia. O lado direito era destinado aos rapazes
e o esquerdo as raparigas - não haviam misturas, homens eram homens e mulheres
eram mulheres- cada um no seu canto...
Naquele tempo, as
habituais tinham o seu lugar marcado e se a sala ficava superlotada, os não
habituais
Sentavam-se no chão,
onde por sinal dormiam grandes sonecas por não estarem habituados aquela
rotina.
A sessão abria com
"bonecos animados", O Sr. Pitosga, Tom e Jerry, Bugs Bunny, para
nossa tristeza eram apenas 5 ou 10 minutos. Seguidamente vinha um documentário,
umas vezes interessante, outros aborrecidos, para nas crianças, claro!
Completo delírio
eram os três estarolas. Ai sim! Toda a sala vibrava com gargalhadas
hilariantes.
Para nos, filmes
bons, eram aqueles em que o "artista" matava todos e nunca morria,
tais como: Índios e cow boys-Randolph Scott, John Wayne, Gary Cooper.Espadachins-
Zorro, Errol Flyn, Tyrone Power.Tarzan, Cantinflas, Fernandel, Sissi e posteriormente
filmes bíblicos, tais com Os 10 Mandamentos, Ben Hur,etc.. Quando o filme não
nos interessava, tínhamos duas alternativas, ou dormíamos nos bancos ou íamos lá
para fora brincar.
3ª Parte
O BALOIÇO
O Zé Lemos teve a
ideia de fazer um baloiço numa acácia que havia em frente ao clube velho.
Só que não era um baloiço
convencional, eu explico:
-Ele, Zé Lemos,
arranjou duas cordas de sisal das mais grossas e amarrou-as a uma pernada da acácia
a distância de 1,5/2 metros uma da outra. A fazer de assento, pôs um pau de
bambu dos mais grossos. Como sabem o bambu tem uma superfície demasiado lisa,
para além de ser cilíndrico.
Como já frisei
anteriormente, nos intervalos dos filmes ou quando achávamos que o mesmo era um
"barrete" íamos lá para fora brincar.
Naquele tempo a
primazia era ainda das meninas e, como tal, nos éramos as primeiras a saltar
para o baloiço e eles tratavam de nos empurrar. Até ai, tudo bem!
Conseguíamo-nos
sentar cinco ou seis, tal era o comprimento do mesmo. As que ficavam nos
extremos, agarravam-se as cordas, as outras agarravam-se umas as outras.
Quando nos começavam
a empurrar e o balanço já era grande, ai começava o festival do desequilíbrio...as
do meio escorregavam, agarravam-se as companheiras do lado que por sua vez também
se desequilibravam e acabávamos por ficar penduradas pelas articulações das
pernas, tipo trapezista, e com as mãos a segurar o pau de bambu, já que os
nossos apoios dos lados não nos serviam de nada. Ficávamos com o rabo todo para
baixo e os rapazes continuavam sempre a dar cada vez mais balanço e o resultado
eram tombos valentes com algumas esfoladelas mas, nem isso nos fazia desistir,
o que queríamos era andar.
Um certo dia, para
grande tristeza de todos, o baloiço já lá não estava, foi retirado.
Pelo que vim a
saber depois, começaram a surgir vozes de protesto de alguns pais, cujos filhos
apareciam com arranhões e esfoladelas, portanto, era uma diversão perigosa.
Tiraram-nos uma das
melhores diversões, hoje reconheço que com toda a razão, mas quando me recordo
ainda sinto vontade de rir pelas situações cómicas que o dito baloiço nos
proporcionava.
4ª Parte
O DESAPARECIMENTO MISTERIOSO
Certo dia, o filme
que projectavam era demasiado monótono, sem acção, compondo-se apenas de diálogos,
e já se sabe, para crianças isso não dá!
Eu, a minha irmã
Anita, a Anabela Simões, a Graça Gouveia e a Maria Sampaio, nesse dia, éramos
as únicas meninas espectadoras, a sala estava vazia.
Após o 2 intervalo,
e como o filme estava a ser um grande "barrete" para nos, uma a uma
fomo-nos deitando nas fiadas das cadeiras e adormecemos profundamente.
O filme terminou e
todo mundo saiu, incluindo os nossos pais pois não nos vendo nos bancos
pensaram que estávamos lá fora a brincar como tantas vezes acontecia.
Ao chegarem lá
fora, as meninas não estavam lá e então começaram a perguntar as pessoas que
ali estavam, só que a resposta era negativa. Pergunta aqui, pergunta ali, começou-se
a gerar pânico e como e natural, todo o mundo começou a procurar-nos a volta do
clube. Chamavam por nós mas...qual quê? Lá dentro não se ouvia e nos estávamos
na 3a dimensão do sono.
A certa altura a
Maria Sampaio acordou e ficou espantada por sermos as únicas pessoas dentro do salão
e estando o mesmo a media luz. Acordou-nos a todas e o nosso espanto também era grande. Não compreendíamos
nada do que se estava a passar!
As páginas tantas,
surge a mãe da Graça Gouveia, lá em cima no palco, onde ficava a máquina de
projectar e, mal nos viu, sem que nada nos dissesse, saiu a correr lá para
fora. Ai, ainda ficamos mais confusas, mal sabendo nos que a senhora foi a
correr avisar os outros do nosso aparecimento.
Tudo isto durou
cerca de 30/40 minutos após o término do filme. Calculem a preocupação dos
nossos pais.
Apesar de não
termos cometido nenhuma falta, não nos foram poupados alguns ralhetes com a ameaça
de que nunca mais nos levariam ao cinema.
Na próxima sessão lá
estávamos de novo, pois tudo tinha sido esquecido
5ª e última Parte
UM SOM DESLOCADO
Grande concentração
no filme. Sala cheia. Silencio absoluto.
Alguém, confiado no
controlo dos seus gases intestinais, achou que podia dominar "aquele"
que a viva força queria vir para a rua. Entreabriu-lhe a porta para que "ele"
saísse silencioso. Mas...qual quê?
O dito cujo tinha
estado tão oprimido, que, quando viu a porta da liberdade ali mesmo em frente,
abriu as goelas e deu um berro tão alto que ecoou por toda a sala.
Gargalhada geral,
risos convulsivos.
Houve-se uma voz:
-Oh Valadas, o que
foi isso?!!!!
-Valadas:
-Oh Valentim, não
tentes disfarçar!
Gargalhadas redobradas.
De repente, ouve-se
lá atrás uma voz:
-Esse não pagou
renda. Foi despejado!...
As gargalhadas
subiram de tom. Já ninguém dava atenção ao filme.
Do lado de fora
quase se jurava que se estava a assistir a uma comédia hilariante.
Ficou-se na dúvida.
Quem foi o autor? Valadas ou Valentim?
Lá no assento eterno
onde te encontras, perdoa-me meu pai, mas fiquei sempre com a desconfiança de
que foste tu.
Termina aqui o
ciclo do cinema e seus envolvimentos.
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