CUBALENSE DE SUCESSO
Homenagem a um grande
amigo
“Abel A. Reis Parente”…
Há “38
anos” aquando da saída do Cubal…
Por
*Eduardo A. Flórido
Não vou, nem quero de modo algum, porque jamais seria
essa a intenção, e nem estou (muito menos) a fazer equiparações com quem quer
que seja (não faz parte do meu modo de ser, estar a ferir susceptibilidades),
apenas pretendo focalizar, homenageando aqui, alguém que pela sua tenacidade,
espirito de luta e muita, muita mesma, humildade, e porque não dizê-lo tb., à custa do
poder de um vincado caracter e responsabilidade de valor acrescido a um
profissionalismo exemplar (o seu grande triunfalismo) que do nada e a pulso,
mas sempre com uma fé indomável e uma tenacidade única o transformou, como
sendo o único CUBALENSE (talvez) a consegui-lo, criar num país estrangeiro,
mais propriamente na Republica Democrática do Congo (um país em que a guerra e
os interesses tribais se sobrepõe ao raciocínio de um bem estar constante), em
Kinshasa (Cidade com 15.000.000 de habitantes, muito mais de que Portugal
inteiro e à laia de curiosidade, cidade onde não existe um único semáforo), um
cargo de uma responsabilidade tremenda e que muitos poucos outros , com
formaturas, cursos, diplomas comprados ou não, conseguiram. O Abel conseguiu
fruto dessa componente que misturada com uma pontinha de sorte, o transformou
simplesmente como o terceiro homem de maior força na empresa que trabalha e dirige ( o topo da pirâmide é já ali). Empresa
essa que apenas é a maior em África, (nenhuma
com igualdade parecida na Europa) com sede na Bélgica. É o terceiro do topo na empresa, e segundo no
Congo, onde exerce e espraia com todo o
seu brio profissional, essa postura de leader, conseguida não por se mostrar
superior apenas por se mostrar muito
melhor, com o condão que só os leaders tem, de olhar de frente, olhos nos
olhos, conseguindo os seus intentos, sem deturpações mas acentuando a sua
diferença no seu modo simples e direto de se fazer obedecer.
Como amigo, sinto-me um privilegiado, por me
ter sido concedida essa honra, já que existe dentro daquele homem da minha
idade, uma franqueza espiritual que desarma os mais bem preparados, a uma luta
de igualdades. Por isso uma promessa a mim próprio (esta pequena homenagem,
para surpresa do mesmo) quando completou 60 anos de vida, festa a que fui
convidado mas que infelizmente não pude estar presente, por motivos que não
interessam, e que o Abel desde logo compreendeu, respeitou e aceitou, numa
pequena grande demonstração do porquê do seu singrar na vida profissional. A
empatia que faz deste SENHOR CAVALHEIRO, um Cubalense de sucesso…
Nascido de uma família de raros recursos
económicos e filho de (um Gentleman), Alfredo Serafim Parente e de uma Senhora
Maria José da Cruz Reis Parente (uma ternura imensa, de difícil esquecimento),
Abel faz na escola primária nº 40 com a professora Carmelina (quantos de nós abrimos os olhos sob a
sapiência desta mui nobre Senhora), traçando a 4ª classe com a nossa antiga,
mas inesquecível) professora Olga e efetuando assim os primeiros anos da primária. Fazendo logo
nessa altura a admissão, isto nos anos de 1958/1961 . Depois disto e como o dinheiro não abunda Abel
começa a trabalhar e continua os estudos durante a noite (numa vontade indómita de
vencer), na Escola Comercial e Industrial D. João II, tendo a particularidade de no primeiro ano
fazer dois anos de estudos num só letivo, para isso tendo contribuído de modo
decisivo o Padre José Ribeiro, professor de português (no tempo em que saber
falar português era um luxo, falar, escrever elevar na cara dos professores era
um aparte que também não se dispensava aos ditos trabalhadores-estudantes – o
que não me mata endurece e educar-me-á), sendo a bondade do professor Quadrado
elucidação aos problemas que a matemática
apresentava (mas que nós sem máquina de calcular, nem outros apetrechos
de salas atualmente computorizadas, nos íamos safando como podíamos, com
classificações reais e nunca por achados
adquiridos por interpostas pessoas) e ajudado também ainda em francês (que mais
tarde no Congo lhe vem a ser extremamente vantajoso por uma questão de destino)
por um professor de Raça Negra, inédito, minimamente na época. O estudo noturno
apenas havia começado porque Abel,
começara a trabalhar, com 10 anos de idade, o dinheiro não abundava naquela
doce e simpática família que era composta por mais 6 irmãos (Milú, Fátinha, Yota, Vandita, Beto
e Dinho) e era preciso começar a fazer pela vida… E assim na Chimboa em 1961, dia 20 de Agosto na Sociedade Isidro de
Oliveira & Irmão, mais conhecido
como o DUNGUIN, inicia a sua vida profissional… Dois anos depois, de trabalho
árduo regressa ao Cubal, deixa a Chimboa
e ingressa na Sociedade António Nunes & Herdeiros
(D. Piedade), mas a empresa anterior,
reconhecendo a sua capacidade de luta, e queda natural para a distinção de se
fazer sentir pelo melhor, consegue depois de uma conversa a bem com a empresa,
onde Abel se encontrava (Dª PIEDADE), consegue reaver este património humano de
raro valor, e voltá-lo a metê-lo nos seus quadros. Ingresso feliz onde em 1969,
como Técnico de Vendas, antigo Caixeiro Viajante, começa a viajar por Angola,
fazendo crescer uma profissão que começava a desabrochar, naquele País
Africano, antiga colónia portuguesa. Vive e trabalha no Cubal, Vila Mariano
Machado (Ganda), Sá da Bandeira, Quilengues,
toda a zona que compõe Benguela a Nova Lisboa e ainda entre Sá da Bandeira, Matala, Quipungo, Freixieiro, Chibia, Humpata
até General Roçadas.
Havia sido criado mais um nómada na sociedade
Angolana. E como qualquer nómada que se preze, eis que aos 18 anos se apaixona,
de um modo de enlouquecer como só os putos-homens o sabem fazer, e numa terra
que é particularmente grata a três grandes amigos, ao Abel que descobre ali o
seu grande amor, a outro amigo em comum, Manuel Fernando Carona, e ao autor
desta homenagem e a terra em questão… CALUQUEMBE. Encontra, no entanto a teimosia desmedida de
pais que sonhavam alguém que fosse, socialmente falando diferente, do meu e
querido amigo Abel, pois a fama de qualquer Caixeiro Viajante era de longe
superior a um qualquer marinheiro, pois sempre foram rotulados, de homens que
não poderiam ver uma burra de saias… Mas o Abel é imparável e sem hesitações
foge para Sá da Bandeira, com a jovem
por quem se apaixona e dessa maravilhosa ligação sempre contrariada
pelos pais da paixão do Abel, surge um rebento, mas o destino arma ciladas e
aquela que acontece ao nosso bom amigo é terrível, pois tanto a mãe, como o
filho falecem para desespero deste
grande Homem.
Não desarma e volvido tempos casa com Maria
da Conceição (Senhora Natural de Ponte de Lima) que infelizmente e volvidos
tempos também vem a falecer…
Desespero absoluto de um menino_homem que
jamais se dá por vencido.
Entretanto com todos estes contratempos aproxima-se, aquele
que foi o maior êxodo de todos os tempos, na história mundial e o ano de 1974,
com a chegada da libertação dos cravas, perdão dos cravos, abrevia em passo
acelerado todo um conjunto de circunstancias que um dia em plena Baía Farta, na
saída de uma frota de Barcos matriculados como Americanos da Sociedade Frifar
(pesqueira), Abel sem se despedir de ninguém e apenas com a roupa que levava no
corpo, e sem dinheiro, consegue entrar no mesmo barco, onde se encontravam bem
mais do que 100 famílias, todas elas ligadas direta ou indiretamente, à
propriedade dos ditos Barcos. Desses todos havia um rato de porão, chamado ABEL
PARENTE. É descoberto porque diariamente havia pessoas que se davam
extremamente mal da forma como o comer era confecionado. Abel sem comer já
havia alguns dias, apresenta-se ao comandante e diz que está ali sem licença de
ninguém apenas pretendia fugir de Angola
e informa o mesmo (Comandante) das suas grandes qualidades de cozinheiro que
desconfiado acaba por anuir ao pseudo-cozinheiro ABEL. Assume a chefia da
cozinha e consegue em poucos dias de viajem ganhar a simpatia e a
agradabilidade de toda a componente humana que desesperadamente fugia de
Angola.
Fazem escala no Gabão, onde são terrivelmente
recebidos, Abel apesar de não saber fluentemente francês, é o único que
consegue, já que toda a tripulação do navio só falava inglês e Português, faz-se passar por mercenário. O proprietário
dos barcos, encontrava-se no Zaire, com o então presidente daquele país GENERAL
MOBUTU, que tenta conseguir convencer o mesmo (proprietário) a fazer
investimentos naquele País Africano. Contrariando, toda a tripulação que
pensava ir para os EUA., indo parar às mãos do Presidente Congolês (naquele
tempo Zaire), que os recebe com toda a pompa e circunstância, no Porto de
Banana, Vila costeira de MUANDA, em
Agosto de 1974.
Abel devido ao cativo que foi fazendo e da
simpatia distribuída, começa por ganhar grande notoriedade e começa por se
tornar imprescindível na formação da sociedade que, por ordem suprema do
presidente MOBUTU é criada com o nome de SAGREL, mudando tempos mais tarde para SAPEZA. Começa por ir à pesca
com os marinheiros onde servia de interprete, num francês todo revezado, mas
com maior ou menor grau de entendimento, já que com as mão tb., se fala
muitíssimo. Depois desta primeira fase, pouco
duradoira, passa a ocupar-se da
comercialização do peixe fornecido pela SAPEZA, às Forças Armadas Zairenses. É
deste modo que passa à gestão da própria empresa, até o ano de 1976, altura em
que a SAPEZA, cria uma sociedade Agrícola, onde é dada ao Abel uma nova missão:
Começar com plantações de café, mais tarde virando-se tb., para a Plantação da Seringueira
(Seringueira é o
nome vulgar de uma planta do gênero Hévea,
família Euforbiácea, que foi
introduzida na Bahia por volta de 1906. A sua dispersão natural está
circunscrita aos limites da região Amazônica Brasileira, porém mostrando grande
adaptabilidade aos mais variados ambientes. A espécie Hévea Brasileira (Wild. Ex. A. Juss.) Muell. Arg é a mais
explorada economicamente, por produzir látex de melhor qualidade e com elevado
teor de borracha. Como o ZAIRE , é um país de acessos impossíveis e sem as
mínimas condições de comunicação a
entidade patronal, para o Abel poder idealizar todo um trabalho pretendido,
oferece-lhe condições extras, premiando-o com resultados previamente estabelecidos.
No entanto essa mesma sociedade constituída com o fim Agrícola, é adquirida em
1983, por um conjunto de Judeus, donos da SOCIEDADE L. HASSON & FRÈRE (esta
empresa encontra-se no Congo desde 1936), onde no ano 2000, ABEL passa a incorporar o estatuto de Diretor Comercial,
o 3º homem forte da empresa sediada na Bélgica, o segundo no Congo.
Antes porém em 1977, desloca-se a PORTUGAL em
particular, e à Europa em Geral pois este Senhor tem família espalhada em todo
o mundo, à procura da mesma e vem gozar 45 dias
que rapidamente se transforma em 9 meses. Depois do mato Zairense
esquece-se de tudo e todos, hospeda-se no Hotel Diplomático em Lisboa, na
cidade do Porto resolve ficar no Batalha (é perdoável o homem vinha com os
olhos em bico e à que gastar o que se
poupou durante anos tirando a barriga da miséria, barriga e não só) e com
bolsos cheíssimos de dólares, o Abel fica encandeado pelas luzes da ribalta…
Visita Régua, Lamego, Tabuaço (terra do pai), vai para
a Bélgica, Londres, Barcelona, e volta a Portugal, onde se hospeda durante seis
meses, no Hotel Miramonte em Colares, onde depois volta para o Zaire, quando se lhe acaba o dinheiro que trouxera,
e graças às gorjetas que dava em notas de dólares, quando lhe abriam as portas
do carro ou elevador, pensando naturalmente
que se tratava alguém dono de uma petrolífera, já que o esbanjar era
incontido, e o nosso querido amigo sentia-se bem praticando o bem, oferecendo
positivamente dinheiro por atos de simpatia…
Compreensivelmente, já que no Congo, as vindas à cidade eram de três em
três meses e era comemorado durante dois dias, umas brutas refeições e algumas
miúdas à mistura, para que não se encarquilhassem as unhas dos pés…
Mas voltar teria que ter a anuência da entidade
patronal que se sentiu desrespeitada, por o Abel, sem consentimento prévio ter
feito de Portugal o Paraíso, que infelizmente não é, nem nunca foi e cada vez
mais difícil será. Mesmo assim Abel , destemido como sempre viaja de novo para
o Congo e consegue depois de uma reunião exaustiva voltar à sua condição de
trabalhador da empresa e com o mesmo cargo, onde o patrão talvez com uma
mentalidade diferente da Portuguesa (Patrões tacanhos), percebeu na perfeição
que o Abel tivera tido, ou houvera feito a sua despedida de menino torturado de
um passado não distante e voltara como um novo homem a encarar o desafio que o
esperava e que pacientemente vai construindo visionando todo o futuro de um
modo que se altera visivelmente e de forma acentuada no seu padrão de vida,
pelos novos desafios que constantemente a empresa lhe lança de um modo único,
mas sempre inovador.
Abel chega ao topo. Continua por lá e será muito
difícil de tirá-lo da poltrona, tal o sucesso feito à base de um trabalho estruturado,
com 12 horas mínimas de entrega diária à empresa, empresa essa virada cada vez
mais a um futuro promissor. À sua responsabilidade tem, atualmente, cerca de
300 pessoas, mas quando dirigia a parte Agrícola,
chegou a ter sob o seu comando cerca de 1.000 trabalhadores, inquestionável
competência , sem dúvida. Entretanto casa no Zaire, com uma Senhora_Mulher (em
todo o sentido da palavra) Régine Devignaud (filha de pai belga e mãe zairense)
e tem como filhos Eric (Luxemburgo),
Claude (Arusha-Tanzania) André (Oklahoma-EUA), Carlos (Atalanta-EUA), David
(Açores), Sónia (Luanda-Angola), Rosalie (Bélgica) e a Bela Violeta (Lisboa).
Nesta onda de filhos sobressai um caso especifico que
é o de Violeta, (dignifica em todo o sentido humano, quer do Abel, quer da Regine,
sua esposa, numa história de amor que minimamente, não deixa de ser comovente
e que não deixa de transbordar a alegria
de ser amigo destes dois seres com um coração de ouro) uma menina que Abel
conheceu tinha ela três anos e estava num mercado em Beni, vila no interior do
Zaire com uma pessoa de família. Abel andava às compras e repara numa menina
querida que inocentemente lhe sorri, pois que do alto dos seus tês anos apenas
vê a felicidade, por saber sorrir… Abel fica contagiado e conversa com a pessoa que acompanha a criança, e na mente ficar-lhe-ia
ideia de adoção, de Violeta. Faz todo o caminho a pensar aquilo que a bondade
do seu enormérrimo coração não dispensa um único segundo, o carinho com que
tinha sido atingido, pelo olhar de Violeta. Chegado a casa não podendo ocultar
a emotividade conta à esposa, toda a sua ideia em relação à emoção de tentar a adoção
daquela que hoje, por excelência é uma bela mulher. De imediato Regine (esposa)
recusa a ideia , já que sente que os filhos que têm são suficientes para a
composição daquele lar onde transborda amor… Mas o destino tem peças que se
encaixam na perfeição e especialmente quando as ditas são talhadas de um modo
de todo único, por um SER que sabiamente compõe o puzzle de modo único e enternecedor,
cheio de amor e dedicação. Abel nada
mais diz a Régine e esta uns dias depois tem de ir à mesma praça onde o Abel
havia sido apanhado desprevenido por um sorriso cativante e cheio de amor de
alguém que havido sido eleita para continuar no caminho daquele maravilhoso
casal. Acontece o mesmo a Regine num mercado com, talvez a capacidade superior a 100 ou + do de Lisboa.
À sua chegada a casa , de imediato, Regine conta a
Abel, que encontrara uma linda menina,
como nunca houvera visto igual e que gostaria que Abel anuísse à ideia de adoção.
Este imediatamente faz ver a Regine a sua recusa ao pedido que lhe
fizera, nos dias anteriores, mas
contrafeito diz à esposa, que iria ver a menina, mas só depois em comum
tomariam a decisão, já que ela também lhe negara um pedido seu feito
anteriormente e sobre um tema parecido. Mas esqueceram-se ambos dos tramas que
o destino nos compõe, e nos rasteira, de quando em vez…
Assim na realidade acontece, e um belo dia os dois,
dirigem-se à Feira e mais ou menos aonde se dera o primeiro encontro… Abel e Regine são surpreendidos pela criança,
que quando os vê, de imediato corre para eles e abraça ternamente Abel, que não
se contêm e muito a custo retêm as lágrimas que lhe querem brotar dos olhos,
por de imediato ter reconhecido, a mesma menina por quem ele fizera o pedido a Regine,
e esta por sua vez sufoca à reação, pelo acontecimento único e guiado
certamente pelo SER superior de nos conduz diariamente a todos e que conseguiu de um modo
subtil levar para aquela família, mais um elemento, que hoje com 20 anos, é uma
bela mulher, com qualidades excecionais, frequentando a Universidade com
distinção, dos sobredotados. Uma menina_senhora de elevada moral, que faz
sobressair a sua educacional forma de
estar, de simpatia e de sentir, com quem dá gosto de lidar, enfim uma filha_menina_mulher
exemplar.
Hoje com uma situação profissional invejável tenho
acompanhado, eu e o nosso querido amigo MANUEL FERNANDO CARONA e sua Exma. Família.,
toda a componente que forma este SENHOR, E SUA TODA FAMILIA, no homem feliz e extraordinariamente
brincalhão mas com a responsabilidade que todos a nós, os anos se foram
encarregando de moldar.
E assim Abel dá-se ao luxo de duas vezes por ano na
altura da Páscoa e Natal, vir a este País, embora por destino tb., faça outras
paragens, onde lentamente, mas de um modo seguro, vai juntamente com irmãos e
restante família criando o seu Universo para que um dia possa encarar o futuro,
quando ele escolher o País da sua vida reformista, para pátria e vivendo uma
velhice sem sobressaltos que sinto que ele gostaria de transmitir a outros
Cubalenses, como aliás, já o fez a um, que não irei citar o nome, por uma
questão de lealdade e respeito na amizade que nos une, numa oportunidade única
e soberana que esse mesmo certamente não terá qualquer outra chance, já que há
minha frente Abel e sabendo de antemão que a pessoa em causa tem dotes de
culinária excelente, lhe ofereceu frontalmente emprego, sem discussão de
ordenado, apenas lhe perguntando, de um modo simples, mas de uma dignidade
tremendamente suprema, quanto precisaria de dinheiro em Portugal mensalmente,
para que no Congo dirijisse um restaurante para que o pessoal que tinha na
empresa, pudesse descontraidamente lá comer? Mais disse-lhe Abel, poderia levar
a esposa que se encarregaria da confeção e a pessoa em causa da gerência da do
mesmo? Fiquei estupefacto, porque a pessoa focada, desempregado,
cubalense de gema, prontificou-se de imediato, à negação do que tão
humildemente lhe era proposto. E isto claro está, sem qualquer problema de
alojamento, naquele pais africano, pois o Abel, arranjar-lhe-ía casa (parte da
sua própria - com direito a segurança particular), e um ordenado ao casal para
terem uma vida de dignidade absoluta. Mais tarde Abel confessa-me que se o
mesmo lhe houvesse pedido, 4 ou 5.000 euros lhe teria dado o emprego, sem
hesitações, isto claro está, posto mensalmente em Portugal, havendo ainda a
parte a ser discutida daquilo que haveria de ter o mesmo e sua digníssima
esposa no Congo. Mas infelizmente dá DEUS nozes a quem não tem dentes…
Abel, hoje um cidadão do mundo, três nacionalidades
distintas, Português, Angolano e Congolês. Referenciável. Astuto. Inteligente. Audaz.
Perspicaz. Um enormérrimo amigo,
sem adjetivos que o dignifiquem mais, pois a sua essência determinante, a bela
família com que se faz acompanhar e alguns excelentes amigos, fazem dele um SENHOR_CAVALHEIRO
de sucesso, definido por termos práticos, mas essencialmente atingível ao ponto
que se propõe alcançar, numa dignidade absolutista.
Quando vivia em Kisangani terceira cidade do Congo era
o representante da comunidade Portuguesa além de receber o Embaixador de
Portugal quando por lá passava… Também é
convidado a todas representações diplomáticas de outros Países. Como
representante da Comunidade e orador Principal, recebeu o então Presidente da Republica Dr. Mário Soares (o tal que não paga multas, o Estado Português que o faça, ou seja, nós
portugueses), numa visita especial aquela cidade.
É o Vice Presidente do Concelho de Administração da Casa dos Portugueses, Colégio Português de Kinshasa, Vice Presidente da assembleia Geral da Amicale
Sportive Kinoise, um Club Português, que
outrora foi o orgulho de toda a comunidade.
Convidado permanente e por Excelência da Embaixada Portuguesa.
Todas as delegações oficiais Portuguesas visitam as instalações, desses dois
patrimonios da nossa cultura (sejam ministros, secretários de estado, ou uma
qualquer delegação oficial, bem como qualquer Universidade em visita de Estudo,
o que aliás acontece frequentemente), sendo o seu relacionamento com as
autoridades congolesas, INCONTORNAVEL, seja ao nível da Comunidade, ou da Sociedade
onde trabalha (uma das mais antigas se não a mais antiga do país) pois é uma das
pessoas mais representativas em qualquer Instituição. Na Sociedade chegaram a
trabalhar 45 Portugueses em simultâneo,
hoje com as guerras os Europeus em geral e os Portugueses em particular, já não
querem ir para o interior.
Trabalham atualmente na Sociedade em Kinshasa expatriados,
dois Portugueses, um Italiano, um Belga, um Egípcio e vinte e dois Indianos. Tem
no entanto, entre os varios restaurantes nos Supermercados, dois geridos por Portugueses .
Os fins de Semana são passados em Jantares com amigos,
em restaurantes, piqueniques, visitas turísticas e à noite um copo numa das
centenas das discotecas existentes dessa imensidão de cidade, que tem mais
habitantes do que Portugal inteiro, onde cerca de 20.000 são brancos,
pertencendo só à ONU (MONUC) cerca de 10.000, e onde sobressai a sua amizade com o embaixador de Portugal
JOÃO PERESTRELO.
Enfim entre atividades desportivas e outras Abel é um
dos exemplos mais típicos de Kinshasa e nas
instituições de que faz parte organizam-se festas como o São João e outras
tipicamente Portuguesas.
Durante todo o Mês de Março há um torneio de futebol
com 12 equipas de Comunidades diferentes e no jantar de entrega de taças que é
feita pelo especialmente convidado para o efeito, Embaixador JOÃO PERESTRELO, e além disso por
norma segue de Portugal um artista de variedades convidado para o efeito e
encerramento de festas ou torneios, tendo por sentimento único uma forma direta
de matar saudades da terra Lusa.
Independentemente de toda esta azáfama, o Abel este
ano resolveu comemorar, os seus anos (60) em Portugal e para o efeito convidou uma pessoa pelo número de anos vividos (60)
oferecendo viagens a várias das que estiveram presentes e das mais variadas
nacionalidades, desde Canadiana, Belga, Congolesa, Portuguesa. Pagamento esse
que lhe deu um certo orgulho por se tratar de pessoas amigas que com ele
partilham o Congo, de um modo sublime e de maneira honesta. A estes convidados
há a juntar muitíssimos outros, que durante três dias fizeram de Portugal, o
seu paraíso preferido, numa organização superior, e elucidativa da capacidade
deste homem que não deixou de levar os convivas aos pontos mais turísticos,
graças a autocarros alugados anteriormente e com essa finalidade. Mas o mais
bonito estava para acontecer e para surpresa do Abel e da esposa, eis que os
filhos e amigos surpreendentemente os contemplam com bilhetes
para ANGOLA.
E assim de novo Abel, vai voltar aos pontos mais
inimagináveis e sufocantes quando finalmente chega a Luanda, depois de 38 anos
separados, de toda aquela panóplia de maravilhas, que nos continua a amargurar
a alma, pelo facto das saudades, que ainda teimosamente persiste a nos
transportar a sítios, onde a cobardia de certos homens nos fez deixar parte da
nossa carne, vida e alma e nos faz fervilhar todo o sangue existente e que sem
parar nos ferve nas veias, de um modo direi mesmo voraz…
Não sei aonde, mas tenho a certeza que certamente, um
dia, um dia, vingar-nos-emos categoricamente. É preciso ter paciência, nem que
seja de Elefante, mas que isso acontecerá,
não haja dúvidas, mas a memória persiste, fomos espoliados, perdemos a
nossa identidade, mas nunca seremos RETORNADOS, MUITO MENOS APÁTRIDAS, SEREMOS
SEMPRE REFUGIADOS DE GUERRA, DE ORIGEM PORTUGUESA E MAIS GRAVE AINDA NO PAÍS
QUE NOS DEVERIA TER AGRADECIDO POR CÁ TERMOS VINDO PARAR.
HONROSAMENTE, POR MIM ESCREVO, FAZEMOS PARTE DA HISTÓRIA MUNDIAL, PERTENCEMOS AO MAIOR
EXÔDO DA MESMA.
SOMOS, FELIZMENTE, FEITOS DE OUTRA FIBRA.
Não roubamos, não matamos e engrandecemos muito
naturalmente tudo, por onde passamos e se alguém tiver duvidas vejam o exemplo
vivo do caso aqui delatado, que depois de 38 anos, volta às origens, dia 07 de
Fevereiro deste 2012.
Chegado a Capital, trata de toda a sua documentação de
cidadão Angolano, de seguida, a dia 10, vai até Benguela por estrada (via Porto
Amboim_Novo Redondo). No dia seguinte vai com a irmã, com a filha e a esposa à
Campa da falecida avó Leonor, depositar flores em sua homenagem…
Dia 12, parte para Quilengues, aonde visita a campa
dos seus pais e da sua antiga esposa.
Dia 13, passeia pela Baía Azul, Baía Farta, Lucira,
onde tenta almoçar, mas nada encontra, aproveita então e vai a Santo António,
entre Baía Azul e Benguela, onde aproveita durante a tarde para visitar o
Lobito…
Dia 14 parte para a origem da sua essência a cidade do
Cubal, vê o que pode , porque um misto de sensações invade-o, vontade de ficar
e vontade de partir imediatamente, tal a muita miséria que encontra, e ao muito
abandono que tudo se encontra, embora haja casos que a melhoria em relação a
todo um resto é altamente notória.
Vai à serração do Valentim, mesmo ao lado de uma das casas aonde morou a Srª Dª MAGNA e repara que as velhas máquinas
ainda lá se encontram, não resiste, chora copiosamente, as lembranças do
passado recaem na sua memória como se tratasse de uma experiência tida no dia
anterior. Os anos haviam passado e imagina apenas, como se segundos houvessem
sido adiantados aos ponteiros do tempo… Percorre tudo o que há para percorrer,
chorando convulsivamente.
Vai à escola onde começou a estudar, a primária nº 40
é recebido como sendo o professor Abel e com autorização superior assiste a aulas
da 4ª classe.
Vai almoçar e telefona ao Amigo Carona a perguntar-lhe
coisas do passado, porque de repente a emotividade apagar-lhe-ía, os sítios da
memória onde se encontrava. O Carona em Gouveia, entra em Contacto com o
Eduardo Dinis Chaves (grande amigo), este de pronto vai ter com ele, ao antigo
HOTEL ABREU, agora transformado em Restaurante_Hotel. Estava bem entregue.
A partir desse instante o Eduardo, transporta-o como
um cicerone, pelo nosso antigo berço e de imediato partem em direção ao Chico
Chiputia, que nem é português, nem é angolano,
conforme justifica a falta de documentos que não tem, em absoluto, um sem nacionalidade … Vê rapidamente tudo aquilo que tem para ver,
pois um misto de sensação inebriante e diferente assola-o, vivendo a fantasia de se encontrar no passado de um
presente vividamente carregado de sonhos infantis bem diferentes e amplamente
distinguidos, pela realidade que vai encontrando. Desilusão enorme quando
repara no antigo campo de aviação, agora apenas transformado em caminho de
cabras…
A cidade aumentou de tamanho devido a um crescimento
inusitado de centenas de Sanzalas. Depois de alguma permanência onde as
saudades são rapidamente debeladas Abel,
mostra-se impotente, pelo dissabor de encontrar aquela que foi berço da sua
infância e sem mais que fazer, apenas, depois de algumas horas passadas resolve
regressar a Benguela e repartir, em direção ao Waco Kungo (antiga Cela-Santa
Comba), via Bocóio, onde sua irmã tem uma fazenda turística. Ai chegado, ainda
com os olhos marejados de lágrimas, pela saudade de um passado morto e muito
difícil de ser ressuscitado, permanece três dias. Depois disso volta a Benguela
e parte da Catumbela com destino a Luanda de avião. Aqui chegado permanece
alguns dias, visita as sempre magnificas ilhas de Luanda e Mussulo…
Diversas jantaradas,
com amigos e pessoas conhecidas, arranca para Sá da Bandeira, de avião. De
carro visita, o maravilhoso ex-libris da Huíla, o Cristo-Rei, Tundavala,
percorre a Serra da Leba, com todo o seu explendor, sacado a um qualquer filme
das 1001 noites , até Moçamedes. Já ali,
ruma até Porto Alexandre, e no caminho mostra a planta única carnívora
existente Welvichia Mirabilis. E de novo Sá da Bandeira, donde diretamente de
avião parte para a Capital de Angola: Luanda. Mais umas visitas pela Cidade
Bela e inconfundível, capital... O dia da partida aproxima-se e a 3 de Março
novamente o Zaire (Congo) via Brazzaville. Terminara o que durante 38 anos o
havia perseguido, numa pergunta inevitável, como se encontraria a cidade que o
havia visto acordar para o mundo?
Conclusões ao alcance de qualquer um… Por mim está
feito.
Ao Abel, um abraço de respeito pelo tudo alcançado, e
por tudo o mais que vier a conseguir.
Sabermos dignificar alguém com admiração pela obra
criada é fruto de inteligência, só ao alcance de amigos, que jamais se sentirão
defraudados, pela valorização de quem foi connosco criado…
E que Deus na sua infinita misericórdia, ampare sempre
todos os meus amigos, para sentir sempre a doce sensação de um complemento
preenchido, pelo facto da valorização daqueles que me são queridos… Dessa forma serei muito mais rico, já que a
componente mental e humana que me envolve é na sua essência mais profunda,
quanto mais elevada ela for e muito mais real, carregada pela sinfónica mestra
da vida: a dor, onde os felizes, pouco conhecem dela (vida)…
PELO TEU EXEMPLO, PELA TUA CORAJEM, PELA TUA OUSADIA,
PELA TUA ABNEGAÇÃO, PELA TUA VERDADE, E PELA TUA BONDADE NUNCA É, NEM NUNCA
SERÁ TARDE PARA UM OBRIGADO SENTIDO, SENTIDAMENTE..
ÉS EXEMPLO, MEU VELHO…
*Eduardo@ugusto
O Comboio perto do Cubal
Armazéns da Coca-Cola
(Antigos Armazéns Elisa)
Club Recreativo do Cubal
Club
Desportivo Ferrovia do Cubal
Escola Primária nº 40 na Cidade do Cubal
Escola Primária de do Cubal – Um Professor
Especial
Olha, Olha, levemente, como quem
olha para mim, aluno não será certamente e professor não fixa assim. É
Inspector.
Na, também, minha sala de 4ªclasse.
Dois colegas em franca confraternização…
A
Abel e a sua perdição o leite azedo
- No Restaurante Ex-Hotel Abreu…
Aí estão eles, os três da Videirada,
Eduardo Dinis Chaves, Abel Reis Parente, e Chico Chiputia (Grandes Amigos,
inesquecíveis aliás),
REVIVENDO O PASSADO.
Abel e Esposa a apreciarem a feitura
da farinha de milho- Cubal
Esta é a Menina_Senhora,
que DEUS ofereceu primeiro ao Abel e
depois à sua esposa e mais tarde aos dois, de seu nome Violeta
PARA O ABEL – DE ANGOLA /
Eduardo A. Flórido.