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| O imponente BMW 2800 CS |
Ainda hoje, fecho os olhos e lembro-me vividamente da rotina que antecedia a chegada de uma nova "máquina". Ele despedia-se de nós em casa, dizia que ia a Benguela ou ao Lobito apanhar o avião da DTA e rumava a Luanda. O objetivo? Adquirir mais uma "bomba" e regressar num instante. E assim era.
Recordo-me tantas vezes da sua chegada de regresso ao Cubal. Vinha de percorrer 600 ou 700 quilómetros, muitas vezes em estradas que não eram propriamente propícias a grandes velocidades ou a carros baixos. Chegava já de madrugada, "estoirado" após horas de condução, mas com o brilho nos olhos de quem trazia algo especial. A sua experiência em mecânica e um instinto inato faziam com que trouxesse sempre belas máquinas, que mais tarde faziam as delícias de diversos cubalenses que as adquiriam.
Mas houve uma viatura que marcou a nossa história familiar de forma diferente. Foi a sua última viatura em Angola: um magnífico BMW 2800 CS, matrícula ANL-30-70.
Curiosamente, este não veio de Luanda, mas foi adquirido, salvo erro, ao Dr. Pinto da Cruz, em Nova Lisboa. Foi neste carro, um verdadeiro ícone de design e potência, que vivi as melhores experiências de velocidade — um segredo cúmplice entre pai e filho, que "não era para se dizer".
Eu, ainda garoto, quando não tinha aulas, aguardava ansiosamente por aquela frase mágica:
"Júlia, vou ali a Benguela buscar umas peças para a oficina e já venho... levo o Ruquinha."
A minha mãe, Júlia, ficava sempre sobressaltada. Ela conhecia bem o "pé pesado" do meu pai e sabia que aquela viagem de ida e volta demoraria apenas duas horas e pouco. Mas a verdade é que, apesar da potência do carro, ele foi sempre muito responsável quando eu seguia a bordo.
Essas viagens eram um prazer indescritível. Não só as idas a Benguela, mas também os passeios à Ganda, à loja do Sr. Júlio Fonseca (outro grande amante de viaturas), onde o Sr. Romão tinha sempre uma tablete de chocolate pronta para me oferecer. Eram tempos de ouro.
Na foto acima, o BMW repousa imponente numa estrada de terra, num contraste belíssimo com a paisagem africana. Na foto abaixo, em Benguela, estamos eu e a minha mãe, testemunhas de uma época feliz.
Fica aqui o registo da sua última viatura em Angola e, acima de tudo, a saudade imensa de um pai extraordinário que merecia ainda estar connosco para partilhar estas memórias.
🖤Ruca
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| Eu e a minha mãe Júlia em Benguela |




