UM LADO ERRADO DO CUBAL
Aqui há uns anos atrás,
Quatro ou cinco, sem favor,
A luz cá para o Cubal
Vinha dum velho motor.
E por ser luz tão escassa,
Luz sem ter nenhum jeito,
A Câmara Municipal
Tomou o assunto a peito.
Depois de reuniões,
De debates com fervor,
Resolveu a nossa Câmara
Comprar um novo motor.
Passado que foi algum tempo,
Não sei quanto, não ‘stou lembrado,
Eis que chega ao Cubal
O motor tão desejado.
Abrem-se buracos e valas,
Trabalha-se com euforia,
Estendem cabos e fios,
Seja de noite ou de dia.
Levantam-se uns quantos postes,
Tudo assenta que nem uma luva,
Deve-se apressar os trabalhos,
Faça sol ou haja chuva.
Depois de estar tudo pronto,
De tudo no seu lugar,
Chama-se o Governador
Que é preciso inaugurar.
E em tarde amena dum sábado,
Todos correm à central.
Todos querem ver o engenho
Que irá dar luz ao Cubal.
Entre profundo silêncio
E ânsia da multidão
Sua Excelência liga tudo
Carregando num botão.
Ao barulho daquela máquina,
Daquele engenho colosso
Junta-se o barulho de palmas
De todos em alvoroço.
Vêem-se aqui e além
Variados grupos de gente.
A alegria é bem expressa.
O regozijo é patente.
Ouvem-se várias opiniões,
Cada qual diz o que sente,
Uns que a máquina é boa
Outros que ela é excelente.
Todos pensam de igual modo
Exibindo um ar altivo,
Nunca mais faltará a luz.
Agora não há motivo.
Não sei quantos anos depois,
Não os contei um a um,
A Câmara pára o motor.
Vem a luz do Lumaum.
Tudo isto está certo
Por medida bem tomada
Não o motor será cuidado
E a instalação preparada.
Deste modo todos pensam.
P’ra dúvidas não há margem.
O motor irá dar luz
Se faltar a da barragem.
Porém, a semana passada,
Ó! Grande calamidade,
Faltou a luz da barragem
E ficou sem luz a Cidade.
Afinal o grande motor,
Aquele bloco altivo,
Não podia trabalhar,
Tinha d’estar inactivo.
Inactivo por desleixo.
Ou porque seria, então?
Só por desleixo, repito,
Eu não vejo outra razão.
E nada foi remediado,
O desleixo continuou:
O Cubal voltou à escuridão
Quando a luz ontem faltou.
Faltasse correia ou junta
De cortiça ou cartolina,
Houve tempo de mandar vir
Mesmo que fosse da China.
Falando de correia ou junta
Falo d’outros sobressalentes.
Deve é haver consideração
P’lo Cubal e suas gentes.
“Aquilo” custou dinheiro.
Custou o nosso suor.
Tratemo-lo bem, com cuidado
Mesmo até com muito amor.
Tem decerto um responsável
O Pelouro da parte eléctrica.
A ele pedimos medidas
Para situação tão tétrica.
Faça-se a instalação
Faça-se o que for melhor
P’ra na falta da barragem
Poder ligar-se o motor.
E se não se fizer assim,
Se ao mal não “botarem” mão,
P’ra que foram tantas “peneiras”
No dia da inauguração?
Cubal, 3/Abr./71
(Será que conseguiremos identificar o autor?)
Documento gentilmente cedido pela Helena Carvalho
Passagem para texto por Rui Gonçalves (Ruca)
1 comentário:
Seria interessante saber quem foi o autor destes versos.
Alguém sabe?
Ruca
Enviar um comentário