02 novembro 2025

5) 🏛️ A história também passa pela PIDE: O Decreto de 1965 (há 60 anos) que criou o Posto da Polícia no Cubal.

 

(Documento: Portaria n.º 21 612, publicada no Diário do Governo, n.º 247, I Série, de 30 de Outubro de 1965.)

Damos hoje continuidade à nossa série de documentos oficiais do Diário do Governo. Depois de estabelecermos a identidade administrativa (concelho, distrito) e social (escola técnica, brasão) do Cubal, partilho convosco um documento que aborda a realidade política e de segurança da época: a **Portaria n.º 21 612**, de **30 de Outubro de 1965**.

Acredito, firmemente, que a história da nossa "Terra Amada" deve ser contada na sua totalidade, sem omissões. E o contexto colonial da década de 60 incluía a presença da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), o organismo de polícia política do Estado Novo.

O Cubal no mapa da PIDE

O sumário da Portaria indica a criação de vários postos da PIDE em diversas localidades de Angola. E, no texto do decreto, o **Cubal** é formalmente incluído nesse mapa:

Citação da Portaria n.º 21 612:

"[...] sejam criados os postos da Polícia Internacional e de Defesa do Estado nas localidades de Miconje, no distrito de Cabinda, Luremo, no distrito de Henrique de Carvalho, Gimbe, Lutembo, Muié e Ninda, no distrito de Moxico, Calai e Dirico, no distrito de Guando Cubango, Baía dos Tigres, no distrito de Moçâmedes, Gabela, no distrito de Cuanza-Sul, e **Cubal, no distrito de Benguela**, na província de Angola, todos dependentes da delegação do referido organismo com sede em Luanda [...]".

O objetivo do decreto era garantir a distribuição do pessoal (efetivo e eventual) da Polícia, consoante as necessidades do serviço. A inclusão do **Cubal, no Distrito de Benguela**, neste conjunto de localidades demonstra que a Vila tinha uma importância estratégica ou populacional que justificava a instalação de um posto desta natureza. Para a nossa história, é um facto administrativo inegável.


🔎 O Nosso Compromisso com a história completa

A publicação destes documentos — sejam eles sobre educação, brasões, ou segurança — permite-nos ter uma visão completa e sem filtros da vida e da administração do Cubal nos anos 60. O nosso papel aqui é o da memória, documentando o que a lei da época estabeleceu.

Continuarei a procurar estes registos oficiais para o nosso blogue. Juntem-se a mim nesta jornada de resgate da história do Cubal.

Saudações Cubalenses!

Ruca

31 outubro 2025

4) 🎓 A aposta no futuro: O Decreto de 1965 que fundou a Escola Técnica elementar no Cubal!

 


🎓 A aposta no futuro: O Decreto de 1965 que fundou a Escola Técnica elementar no Cubal!

(Documento: Decreto n.º 46 519, publicado no Diário do Governo, n.º 200, I Série, de 4 de Setembro de 1965.)

A nossa série de documentos históricos continua a desenhar a linha do tempo da nossa comunidade! Depois de termos visto o estatuto de concelho, a integração distrital e o nosso brasão de armas, chego agora a um decreto que representa uma aposta fundamental no futuro: o **investimento na educação**.

O documento de hoje é o **Decreto n.º 46 519**, de **4 de Setembro de 1965**, emanado pela Direcção-Geral do Ensino do Ministério do Ultramar. O seu sumário é claro: criam-se escolas de ensino técnico em várias províncias ultramarinas.

O Reconhecimento do crescimento escolar do Cubal

A justificação para a criação de novos estabelecimentos de ensino em Angola, S. Tomé e Príncipe e Timor é clara: "O ritmo de crescimento das populações escolares ultramarinas impõe que periodicamente se criem novos estabelecimentos de ensino."

E a nossa Vila, recém-consolidada como concelho e com um brasão oficial, merecia esse passo. O texto refere especificamente:

Citação do Decreto n.º 46 519 (Justificação):

"Na província de Angola os índices de frequência escolar justificam também a criação de escolas técnicas elementares em Henrique de Carvalho e **no Cubal** (...)"

Isto significa que o Cubal tinha, naquela altura, **índices de frequência escolar** que justificavam a criação de uma instituição que oferecesse formação profissional e técnica. E, formalmente, no **Artigo 3.º**, a medida é decretada:

Artigo 3.º:

"São criadas na província de Angola duas escolas técnicas elementares, sendo uma localizada **no Cubal** e outra em Henrique de Carvalho, ambas de frequência mista."

Em 1965, o Cubal era mais do que um nome num mapa administrativo; era uma **comunidade em crescimento**, com jovens que necessitavam de formação para contribuir para o desenvolvimento económico local (pecuária e sisal, como vimos no brasão!). A Escola Técnica Elementar foi, sem dúvida, uma peça chave no desenvolvimento social e profissional da nossa "Terra Amada"!


🔎 O Nosso Apelo à Comunidade Cubalense

Se já publicámos os pilares da administração e da identidade, agora chegamos ao pilar da **formação**! É fundamental que as memórias desta Escola Técnica  não se percam.

**Fomos alunos da Escola Técnica elementar do Cubal?** Temos fotografias, diplomas, histórias de professores ou colegas? A vossa contribuição é vital! Partilhem-nas comigo!

Saudações Cubalenses! Ruca

3) ⚜️ O simbolismo do Cubal : O Decreto que criou o Brasão e a Bandeira da Vila Cubal em 1964

 



(Documento: Decreto n.º 45 618, publicado no Diário do Governo, n.º 69, I Série, de 21 de Março de 1964.)

Depois de mergulharmos nos documentos que comprovam o estatuto administrativo do Cubal como concelho,  trago-vos algo que toca diretamente na nossa **identidade e orgulho**: o decreto que estabeleceu o nosso **Brasão de Armas**, a **Bandeira** e o **Selo** oficiais!

O documento em questão é o **Decreto n.º 45 618**, de **21 de Março de 1964**, que surge para alterar o escudo de armas que havia sido concedido em 1963. Este novo decreto detalha, de forma heráldica e solene, os símbolos que a Vila Cubal teria direito a usar.

Os símbolos da Vila Cubal: A Riqueza da Terra

A descrição das Armas é particularmente rica, ligando a nossa simbologia à terra e à economia da região. O Artigo único do decreto define o seguinte:

Armas (Brasão):

  • **Fundo de verde**, simbolizando a fertilidade e a esperança.
  • Um **boi passante, de prata**, que representa a riqueza pecuária, um pilar económico da nossa região.
  • Em **chefe**, ou seja, no topo do escudo, **três plantas de sisal, de ouro**, alinhadas em faixa. O sisal foi, durante décadas, um motor essencial da economia do Cubal.
  • **Coroa mural, de prata, de quatro torres**, que é o símbolo heráldico reservado às vilas.
  • Listel branco com a designação: **«Vila Cubal»**.

Bandeira e Selo:

  • A **Bandeira** foi definida como **esquartelada de amarelo e vermelho**.
  • O **Selo** continha a mesma composição das armas, com os dizeres: **«Câmara Municipal da Vila de Cubal»**.

É emocionante ver o nosso passado rural e económico — o gado e o sisal — eternizados no nosso brasão! Este decreto é mais do que lei; é um retrato oficial da nossa identidade, publicado em Paços do Governo da República a 21 de Março de 1964.


🔎 O que nos dizem estes símbolos?

Estes três documentos históricos publicados hoje dão-nos uma visão completa do Cubal em 1964: o estatuto de concelho, a integração no Distrito de Benguela e, agora, a sua identidade visual e heráldica. Eu continuarei a procurar por mais documentos que iluminem a história da nossa "Terra Amada"!

Se têm recordações, fotos ou histórias relacionadas com o boi, o sisal, ou a Câmara Municipal da Vila Cubal daquela época, partilhem-nas comigo!

Saudações Cubalenses!

2) O Cubal na estrutura Administrativa de Angola: Um olhar mais profundo sobre o Concelho e o Distrito de Benguela



(Documento: Excerto do Diário do Governo, referente ao Art. 54.º, sobre a divisão administrativa de Angola.)

As minhas incursões pelo Diário da República continuam a dar frutos! Depois de termos visto a formalização do Cubal como concelho em 1962, encontrei agora outro decreto-lei que nos oferece um olhar ainda mais detalhado sobre a estrutura administrativa de Angola, e claro, sobre a nossa querida Terra Amada.

Este documento clarifica a organização da província para fins de "administração local", e é aqui que o Cubal volta a ganhar destaque.

A estrutura da Província e o lugar do Cubal

O artigo que encontrei, o **Art. 54.º**, é bastante claro sobre como o território se dividia:

Citação do Art. 54.º - 1:

"Para os fins de administração local, o território da província divide-se em concelhos, que se formam de freguesias e se agrupam em distritos. Onde, excepcionalmente, não possam criar-se freguesias existirão postos administrativos."

Esta é a base da administração local da época. E, tal como no decreto anterior, o ponto **i)** foca-se diretamente no nosso **Distrito de Benguela**, enumerando os concelhos que o compunham:

Citação do Art. 54.º - 1, ponto i):

"i) Distrito de Benguela: concelho de Benguela, concelho do Lobito, concelho da Ganda, concelho do Balombo, concelho do Cubal e concelho do Bocoio;"

É fascinante ver como, repetidamente, o **Concelho do Cubal** é solidificado e reiterado nestes documentos oficiais. Isso não só reforça a nossa importância administrativa na região de Benguela, mas também nos ajuda a compreender a estrutura e o funcionamento da sociedade cubalense naqueles tempos.

Estas são as leis que moldaram o nosso território e que definiram o Cubal como o concelho que conhecemos e amamos. Cada uma destas citações é um tijolo na construção da nossa memória histórica!


🔎 Continuo a descobrir e a partilhar as nossas raízes legais!

Como vos prometi, continuarei a mergulhar nos arquivos do Diário da República. É através destes documentos, por vezes esquecidos, que conseguimos reconstruir a linha do tempo da nossa "Terra Amada".

Por favor, continuem a visitar o blogue e, se tiverem acesso a outros documentos, mapas ou histórias que revelem mais sobre a história legal ou administrativa do Cubal, partilhem-nos comigo!

Documento completo

Pelo interesse, para investigadores e a quem interessar









Saudações Cubalenses!

1) O Cubal no Diário do Governo de 1962: A inclusão legal no Distrito de Benguela



(Documento: Decreto n.º 44 325, publicado no Diário do Governo n.º 101, Série I, de 4 de Maio de 1962.)

O nosso arquivo de memórias e história enriquece-se hoje com um documento de peso que  encontrei durante as minhas pesquisas no Diário da República, o nosso arquivo de legislação portuguesa:

Trata-se do **Decreto n.º 44 325** , emanado pelo **Ministério do Ultramar** [cite: 35], que faz parte de uma atualização fundamental do **Estatuto Político-Administrativo da Província de Angola** [cite: 41], visando, entre outros aspetos, uma "mais exacta representação de todos os distritos"[cite: 39].

Onde entra o Cubal na Lei?

O valor deste documento para a história do Cubal reside na sua oficialização legal da nossa terra no mapa administrativo de Angola. A lei reformula o Artigo 51.º do Estatuto [cite: 46], listando detalhadamente as áreas abrangidas por cada distrito[cite: 96]:

No ponto 9), o decreto refere-se ao **Distrito de Benguela**[cite: 89], e o que lemos é a prova oficial da nossa organização territorial:

Citação do Artigo 51.º, n.º 9):

"Distrito de Benguela: concelho de Benguela, concelho do Lobito,  concelho da Ganda, concelho do Balombo e concelho do Cubal;" [cite: 105]

Em 1962, o Estado Português formalizava e consolidava a posição do **Cubal como um *concelho* integrante do Distrito de Benguela**[cite: 105]. Esta menção legal, impressa no Diário do Governo, é a prova oficial da importância administrativa da nossa terra naquele período da história de Angola[cite: 40].


🔎 O Arquivo Histórico é nosso e continuo a procurar!

Estes documentos legais, aparentemente frios, são na verdade **os pilares que sustentam a história e a memória da nossa Terra Amada**. Eu continuarei a procurar e a partilhar convosco estes achados, pois acredito que só assim se constrói o nosso rico arquivo.

É por isso que convido toda a comunidade cubalense a juntar-se a mim. Se encontrarem ou tiverem acesso a documentos oficiais, mapas, ou outros registos que ajudem a traçar a linha do tempo da nossa vila/cidade, partilhem-nos com o blogue!

Saudações Cubalenses!

A TUA HISTÓRIA VALE OURO!



A TUA HISTÓRIA VALE OURO! 

ATENÇÃO, CUBALENSES! 📢

O sábio do Cubal (também conhecido como "o Guardião das Memórias") está de volta! O Homem não brinca em serviço: Ele quer a tua história, os teus documentos, as tuas fotos antigas... e até a receita secreta daquele bolo de mandioca da tua avó (se tiver papel e data, conta!).

Para quê? Para celebrarmos juntos a nossa terra, Cubal, Angola Terra Amada! 🌍

O nosso Guardião está a pedir por favor (com a elegância de quem já viu de tudo, do C mais antigo ao U mais recente, passando pelo B da barragem, o A do amor e o L da lenda).

Não deixes as tuas memórias a apanhar pó na arca! Chegou a hora de serem estrelas! 

  • Tens documentos do tempo do Caparandanda?
  • Tens aquela foto de 1970 da tua formatura?
  • Tens a carta onde o teu pai pedia a mão da tua mãe?

PARTILHA! A tua história é o tijolo que falta para construir o nosso blogue de luxo.

**Para desvendar os segredos de Cubal, a Terra Amada, e enviar as tuas relíquias, o endereço é: Cubal.Ruca@gmail.com ** ➡️ https://cubal-angola.blogspot.com ⬅️

👉 Clica, envia e ajuda a escrever o livro de ouro de Cubal! Juntos, somos a lenda!

Saudações cubalenses

Ruca

 

⭐ Resgate Histórico: O cartão de Sócio N.º 523 do Clube Beneficente e Recreativo do Cubal

(Imagem: Cartão de Sócio N.º 523 do Clube Beneficente e Recreativo do Cubal, enviado por Carlos Monteiro)

O nosso amigo Carlos Monteiro presenteia-nos hoje com mais uma preciosa memória cubalense e um pedaço da história da sua família!

Trata-se do cartão de Sócio N.º -523- do histórico **Clube Beneficente e Recreativo do Cubal**, pertencente ao seu pai,  Antonio Saraiva da Fonseca Monteiro.

Este singelo, mas riquíssimo, documento transporta-nos de imediato para a **vida social e comunitária do Cubal de outros tempos**. O Clube, enquanto ponto de encontro e coração das atividades recreativas e beneficentes, era um pilar essencial na nossa "Terra Amada". É um vislumbre autêntico do que era fazer parte da sociedade cubalense.

O Carlos Monteiro partilha connosco uma curiosidade que a história, agora partilhada, nos ajuda a corrigir e a recordar com um sorriso: apesar do registo oficial no cartão indicar "Conceição," o apelido correto do seu pai era, na verdade, **Fonseca**. Pequenos lapsos que não diminuem o valor desta relíquia!

Grato pela partilha deste documento que enriquece o nosso blogue **CUBAL Angola Terra Amada**!


📢 Memórias Cubalenses: O Passado Vive no Presente!

Este cartão de sócio do Clube Beneficente e Recreativo do Cubal, que nos foi carinhosamente enviado pelo Carlos Monteiro, é mais do que um pedaço de papel: é um **tesouro da nossa história coletiva**.

✨ Apelo à Comunidade Cubalense:

O blogue **CUBAL Angola Terra Amada** existe para todos nós! Assim como o Carlos Monteiro, convidamos cada um a abrir as suas gavetas e baús de recordações.

  • Tens **fotografias antigas** do Cubal?
  • Tens **documentos, postais, ou bilhetes de eventos** da nossa terra?
  • Tens **histórias, lendas, ou poemas** que marcaram a tua vida no Cubal?

Partilha-os connosco!

A tua contribuição é **vital** para mantermos viva a chama do Cubal e para construirmos, juntos, o mais rico e completo arquivo de memórias da nossa Terra Amada.

Obrigado, Carlos Monteiro, por este incentivo! **

Junta-te a nós, e partilha a tua história!**

Saudações Cubalenses!

29 outubro 2025

Homenagem a José Arménio de Almeida Fontoura - Meno Fontoura : O guardião das memórias do Cubal

 

14 anos após a sua mensagem, um tributo à paixão e ao inesgotável espírito de partilha.

Em 4 de novembro de 2010, no nosso blogue, José Arménio de Almeida Fontoura – o "Meno Fontoura" – deixou uma mensagem que transcende o tempo. Mais do que um post, é um documento vivo, uma declaração de amor incondicional à sua terra natal.

Hoje, prestamos homenagem a Meno Fontoura pela sua generosidade e pelo seu apelo à união, que não só mobilizou uma comunidade, mas também nos legou um retrato detalhado e comovente da vida em Cubal.


I. O VIBRANTE APELO À AÇÃO

A essência da mensagem de Meno Fontoura foi um chamamento fervoroso à participação. Ele reconheceu a oportunidade que a plataforma digital oferecia e insistiu para que os Cubalenses a aproveitassem:

"Gostaria de pedir a todos os Cubalenses que aproveitemos esta oportunidade para nos MANIFESTARMOS, escrevendo uma pequena mensagem, enviando fotos e também consultando o site..."

O seu respeito estendeu-se aos que mantinham viva a memória, como José Luís Pena, que o apelou a não se "deixar desencorajar", e nomes como Henrique Faria e Tomané. O seu pedido era claro e apaixonado: "NÃO ABANDONEM" e colaborem, enriquecendo o espaço online com documentos que recordassem o Cubal. Esta é a prova de um homem que via na partilha o único caminho para preservar a história coletiva.


II. AS RAÍZES PROFUNDAS: O TESTEMUNHO PESSOAL

Para Meno Fontoura, o apelo era indissociável da sua identidade. Ele apresenta-se com a precisão de quem conhece e ama profundamente as suas origens, alicerçando a sua mensagem em factos biográficos que o ligam intrinsecamente à vila:

  • Nascimento e Família: Nasceu no Cubal a 14 de julho de 1959. Os seus pais, Francisco e Aurora Fontoura, eram comerciantes na Camunda, na rua Diogo Cão. A menção da casa e loja, "feitas pelo senhor Fonseca", localiza a memória na arquitetura e no quotidiano da vila.

  • Percurso Educacional: Do seu tempo de estudante, descreve um percurso que moldou a sua juventude: a Escola Primária n°40 (perto do quartel da tropa portuguesa), a Escola Preparatória (Trindade Coelho) e a Escola Industrial e Comercial D. João II (curso geral de eletricidade). Recorda professores icónicos como o Carracho, o Engenheiro Falcão, o Maia (matemática) e o falecido Leonel, lembrado pela sua "famosa sabatina".


III. O LÉXICO DA SAUDADE: A Galeria de Cubalenses

O clímax desta homenagem reside na torrente de nomes que Meno Fontoura evoca, transformando a mensagem numa espécie de censos afetivo. Ele tece uma tapeçaria social da vila, lembrando amigos, vizinhos, colegas, comerciantes e figuras públicas, um testemunho inigualável da vida comunitária:

  • Vizinhos e empresários: Menciona quem ficou no Cubal até 1981 e depois, como o tio João Alberto Fontoura(do Chissongo), D. Júlia (comerciante da Camunda), o Nascimento da Camunda, o Raul mecânico, pai do Ruca e a Elsa cabeleireira.

  • Os Amigos de sempre: Recorda o Luis Alberto Benites de Sousa (do boteco e discoteca "Rebita"), Alzira Guedes Resende (seu par na dança "a barra da minha saia"), e o grupo que ia apanhar esquilos na estrada da Ganda.

  • As Instituições locais: Os pontos de referência social e comercial são eternizados: o Tipoia (onde comprava o alpino), o Chiputia (onde se jogava matraquilhos), o Horacio da moagem (onde brincava às escondidas), a Peixaria dos Canavezes, o Bar João, e o Carrasqueiro e seu minimercado.

  • Figuras Notáveis: Desde a D. Cândida parteira (que ele e Benites de Sousa foram chamar de urgência), ao Pratas do cinema, ou o China ("campeão de motocrosse e orgulho dos jovens").

O seu rol de memórias estende-se ainda aos momentos de lazer: as Mini-Hondas, os piqueniques na lagoa do Johne e no Chissongo, os clubes Recreativo e Ferrovia, e até as "caçadas de crianças" de rolas e pombos-verdes, com fisgas e pressão de ar.


IV. O Legado da Esperança

A mensagem de José Arménio de Almeida Fontoura é um ato de profunda generosidade. Ao nomear e descrever, ele assegura que estas pessoas, estes lugares e estes momentos não serão esquecidos.

A sua voz, que ressoou em 2010, permanece como um farol para a comunidade Cubalense espalhada pelo mundo. A sua conclusão, inspirada em Olga Valadas, é o epitáfio perfeito para o seu espírito:

"um cubalense nunca desiste! de encontrar mais cubalenses conhecidos."

Meno Fontoura cumpriu o seu papel de contador de histórias e mobilizador de afetos. A sua partilha, repleta de "Ai que saudades !!!", é a mais sentida homenagem que se pode fazer à força e resiliência da identidade de Cubal. O seu texto é, e continuará a ser, um abraço à distância para todos os que partilham esta saudade.

Abraço Meno e obrigado pela tua dedicação e apoio ao blogue , ao nosso blogue

Ruca


🗞️ Tesouros do passado: Cubal, a "Sisalândia", rumo a sede de Concelho e ao progresso!



Apesar da baixa qualidade da imagem disponibilizada, é com grande entusiasmo que partilhamos hoje um documento histórico notável, cedido gentilmente pelo António Freitas de Oliveira. Trata-se de um artigo de revista, com o título expressivo "CUBAL vai ser sede de concelho e deseja também uma agência do BANCO DE ANGOLA", que nos transporta diretamente para um momento crucial na história do nosso vibrante  Cubal.

Uma época de otimismo e evolução

O texto, provavelmente publicado num período de pré-elevação ou pouco depois da crise do preço do sisal, capta na perfeição o espírito de luta e a ambição dos habitantes de Cubal. A "aspiração máxima" da povoação era clara: ascender à categoria de vila e sede de concelho.

🌿 Cubal, a “Sisalândia”: O artigo destaca o papel de Cubal como um dos maiores produtores de sisal de Angola – uma designação que a ligava intrinsecamente à sua economia agro-pecuária e aos seus "férteis terrenos".

A luta pelo reconhecimento

O artigo enfatiza que a elevação a sede de concelho seria a "efectivação de um sonho" alicerçado na sua crescente importância. A data de 1959 é mencionada como um ano de promessa para este passo em frente – um sonho que viria a concretizar-se. Para o registo histórico, o Cubal foi elevado à categoria de vila e sede de concelho em 14 de junho de 1961.

Os pilares do progresso desejado:

  • Infraestruturas: Construção de edifícios para a sede da Administração, Comissão Municipal, Fazenda, Correios, e a ampliação do Hospital.

  • Economia: O desejo de novas indústrias e a consolidação do setor do sisal, incluindo oficinas e armazéns.

  • Serviços Bancários: A necessidade urgente de uma agência do Banco de Angola, devido aos 200 km de distância até à agência mais próxima (em Benguela), demonstrando o crescente volume de transações comerciais, industriais e agrícolas.

O texto conclui com uma nota de forte confiança no futuro: "Só assim é que se compreende o progresso e só assim é que Angola caminhará para o futuro."


🏛️ Uma viagem no tempo

As fotografias que acompanham o artigo são um tesouro à parte, mostrando:

  • "Modernas construções" (a parte superior da imagem).

  • Uma "casa de arquitectura original" no Cubal (no centro).

  • Um edifício em construção.

Estes registos visuais são um testemunho tangível da arquitetura e do ímpeto de desenvolvimento urbano da época.

Agradecemos profundamente ao António Freitas de Oliveira por partilhar connosco esta peça de incalculável valor para a memória de Cubal. Ela recorda-nos que as cidades são feitas de sonhos e de esforços que, tal como o Cubal, procuraram e mereceram o seu lugar de destaque no mapa.


Convidamos os nossos leitores: Têm memórias, histórias ou mais informações sobre esta época do Cubal? Partilhem connosco nos comentários! Seria ótimo enriquecer esta narrativa.

Obrigado

Ruca


 

28 outubro 2025

A bagagem invisível do retorno


 

Imagem extraída da internet

Chegar a Lisboa, vindo do caos de Luanda em Outubro de 1975, não foi um regresso, foi uma aventura de sobrevivência que começou muito antes da Ponte Aérea.

Eu nasci no Cubal, uma pequena cidade angolana que se tornou, de um momento para o outro, no epicentro de sonhos desfeitos. Os meus pais, Raúl e Júlia, tiveram de deixar para trás a vida que construíram ali. Carregámos umas poucas malas e a esperança de nos safarmos.

Lembro-me daquele tempo como uma sucessão de despedidas sem adeus. Deixei para trás os amigos da infância, companheiros de aventura que, de repente, foram varridos do meu horizonte. A guerra civil alastrava e, na pressa, não houve tempo para promessas de reencontro. Há amigos que se perderam para sempre naquele êxodo, irmãos de brincadeira que nunca mais encontrei, cujos destinos me assombram até hoje. Eles são a parte invisível da minha bagagem.

A vida na província e, depois, em Luanda, transformou-se num jogo de sobrevivência onde o terror era o som de fundo. Antes da fuga final, vivi as horas intermináveis refugiado em casa, debaixo do receio constante, enquanto lá fora se degladiavam em fortes confrontos militares o MPLA, a FNLA e a UNITA. Ouvíamos ao longe o ribombar, e depois, o silêncio tenso.

Lembro-me da primeira vez que senti o forte cheiro da pólvora dos morteiros e bazucas – uma realidade crua, bem diferente dos filmes. A guerra que se degladiava entre os movimentos de "libertação" não era espetáculo; era a realidade violenta que nos envolvia e nos expunha a efeitos que uma criança nunca deveria conhecer. O medo entrava-nos pelas janelas e obrigava-nos a encolher, dependentes unicamente da proteção e coragem do meu pai Raúl e da minha mãe Júlia.

A viagem até Luanda, onde fomos parar, foi o primeiro pesadelo. De Benguela e do Lobito, embarcámos num frágil barco pesqueiro, o Kalua. Éramos gente a mais para uma embarcação que dançava perigosamente ao sabor das ondas.

Chegámos a Luanda, uma cidade sitiada, e a nossa paragem foi um quartel militar. As filas para o sustento eram intermináveis, a incerteza corroía o espírito.

Finalmente, conseguimos um lugar naquela que ficou conhecida como a grande Ponte Aérea. A fotografia do aeroporto, com o seu caos de pessoas e bagagens, é um espelho desse dia: milhares de desalojados, à espera de um avião que nos levasse para a capital do Império que se desmoronava. Fomos num avião da Swissair, voando sobre um passado que ficava para trás, rumo a um futuro incerto.

A aterragem em Lisboa marcou o fim da fuga, mas o início de uma nova e árdua batalha. Fomos acolhidos por familiares – anjos que nos deram teto e a ajuda necessária para recomeçar.

Olho para trás e percebo o preço dessa transição. Aqueles desassossegos marcaram-me para a vida. Mas as cicatrizes mais profundas ficaram na minha querida mãe, Júlia. A ansiedade da guerra e do retorno deixou nela uma marca que nunca desapareceu, o custo invisível da sobrevivência.

Os meus pais foram lutadores e empreendedores. Com resiliência e a vontade de viver que traziam, refizeram a vida.

Em 2020, quando a vida finalmente parecia mais ou menos equilibrada, o meu querido pai, Raúl, partiu. Partiu sem ter a oportunidade de desfrutar plenamente do tempo que merecia, depois de tanto lutar.

Restam-me as memórias: a força do Kalua, o cheiro da pólvora, o abraço dos meus pais e as faces dos amigos perdidos. São histórias difíceis, por vezes duras de lembrar, mas são a base de quem sou: um filho do Cubal, feito em Portugal. Honro o sacrifício e a resiliência do Raúl e da Júlia. A nossa bagagem mais importante nunca foram as malas; foi a vontade de viver.

Rui (Ruca)

27 outubro 2025

📣 Tesouros do Passado no Cubal: Que segredos guarda a mala de porão? 🚢



1. Imagem cedida por Carlos Monteiro
2. Imagem restaurada por Ruca (Cubal Angola Terra Amada!


Hoje temos uma partilha muito especial do nosso amigo Carlos Monteiro, que nos traz um pedacinho da história de família ligada ao nosso Cubal.

O Carlos encontrou esta etiqueta colada numa mala de porão dos seus pais, numa época em que o seu pai era funcionário do prestigiado Banco Totta-Standard no Cubal, antes de ser transferido para Cabinda.

A etiqueta original, como se pode ver na primeira imagem, mostra os efeitos do tempo, mas graças ao nosso esforço de restauro (vejam a segunda imagem!), conseguimos trazer de volta a clareza deste documento!


O Documento restaurado: UNITRANSPORTES CUBAL

  • Original: [Imagem da etiqueta original, desbotada]

  • Restaurada: [Imagem da etiqueta restaurada com UNITRANSPORTES CUBAL nítido]

No documento, lemos:

  • UNITRANSPORTES (em destaque)

  • Um emblema de bandeira com o nome "UNIT" ou semelhante.

  • CAUTELA N.º 9809 (com o número manuscrito)

  • VOLUMES 5 (com o número manuscrito)

  • CUBAL

O que seria a UNITRANSPORTES?

Pelo nome e pelo contexto de ser uma etiqueta de bagagem/carga para uma viagem de transferência (do Cubal para Cabinda), tudo indica que a UNITRANSPORTES seria uma empresa de transportes ou de transitários que operava na Angola da época. Estes serviços eram essenciais para movimentar bens e pertences pessoais de funcionários e colonos através das longas distâncias, provavelmente utilizando o Caminho de Ferro de Benguela (CFB), que atravessa o Cubal, e a ligação marítima.

A "Cautela" e os "Volumes" eram, certamente, o número de registo da encomenda e a quantidade de malas ou caixotes confiados à empresa para serem levados até ao destino.


🗣️ A nossa comunidade Cubalense é chamada a participar!

Esta pequena etiqueta é um grande testemunho da vida e da logística do Cubal noutros tempos.

Cubalenses e amigos de Angola Terra Amada, ajudem-nos a decifrar mais esta história!

  1. Alguém se lembra ou conhece a UNITRANSPORTES? Que tipo de serviços prestava esta empresa no Cubal?

  2. Banco Totta-Standard é uma memória forte! Que histórias têm sobre o banco e o seu papel na vida económica do Cubal?

  3. Reconhecem o emblema da bandeira ao centro? Que organização, clube ou empresa representaria?

Comentem e partilhem as vossas memórias! Juntos, mantemos viva a história da nossa Terra Amada!

27 julho 2025

A perda de uma amiga e colaboradora participativa do nosso blogue: uma homenagem à nossa Ondina - "Diny Querido"

 

O nosso coração está pesado. Nestes últimos dias, a nossa comunidade ficou mais pobre com a partida de várias pessoas queridas, e a notícia do falecimento da nossa Diny Querido é, sem dúvida, um golpe duro. Diny, a nossa querida cubalense, deixou-nos fisicamente, mas a sua memória e o seu espírito de comunidade ficarão para sempre connosco.

Para quem a conheceu, a Diny era uma senhora no trato, com um coração enorme e uma energia contagiante. Foi uma das grandes e mais ativas colaboradoras do nosso blogue, entre 2008 e 2011. Sempre atenta, partilhou connosco muitas imagens e histórias do Cubal, ajudando a manter viva a nossa memória coletiva.

Mas talvez o seu papel mais importante tenha sido como a grande mentora e articuladora dos encontros de cubalenses. Com a sua simpatia e dedicação, a Diny foi incansável na tarefa de reunir as pessoas. Recordamos, com saudade, os e-mails que me enviou em 2011 e noutros anos, numa altura em que as redes sociais ainda davam os primeiros passos, a pedir ajuda para atualizar contactos e organizar o 23º Encontro. A sua proatividade, a sua educação e a sua vontade de ligar as pessoas foram uma inspiração para todos nós.

Agradecemos profundamente à Miló Carrasqueiro e  à prima da Diny a Any Querido Mendes, por nos ter dado a notícia e por ter partilhado connosco a dor da família. O funeral da nossa querida Diny já se realizou  (neste sábado 26.07.2025) na Covilhã e, tal como a sua prima referiu, agora o que mais importa é que ela esteja em paz.

Deixamos um grande beijo e um abraço forte a todos os familiares e amigos. Que Deus conforte os vossos corações neste momento de imensa dor. Ficam as boas memórias de uma mulher que foi fundamental para a nossa comunidade.

Se quiserem rever as contribuições da Diny, podem consultar este link: https://cubal-angola.blogspot.com/search/label/Ced.%20Diny%20Querido


Ruca

21 julho 2025

Uma sentida homenagem a Carlos Canais - colaborador participativo do nosso blogue


É com profunda dor e consternação que recebemos a notícia do falecimento de Carlos Canais, um nome que ficará para sempre gravado na memória de todos os cubalenses e daqueles que, como a nossa família, tiveram a sorte de privar com a sua amizade genuína e incondicional.

O Carlos era mais do que um amigo; era uma ponte viva para as nossas memórias, um guardião de histórias e um participante ativo na preservação da nossa história coletiva, conforme tão bem demonstrou nas suas valiosas contribuições para o nosso blogue. A sua partida deixa um vazio imenso, um silêncio onde antes ressoavam as suas memórias, o seu carinho e a sua sabedoria.

Neste momento de luto e saudade, os nossos pensamentos e mais sentidos pêsames dirigem-se a Ofélia Canais, seu amor e companheira de tantos anos, pilar da sua vida e parte inseparável da sua história. Que a força do amor que vos uniu possa ampará-la e confortá-la nesta hora tão difícil.

Estendemos também as nossas sinceras condolências a todos os seus amigos e familiares. Que encontrem na união e nas recordações dos momentos vividos com o Carlos a força para superar esta perda irreparável.

A sua memória permanecerá viva em cada canto do Cubal, em cada história partilhada, em cada lembrança das suas palavras e do seu sorriso.

Eterna Saudade, Carlos Canais.

Com o mais profundo pesar,

Ruca - amigo e admirador de Carlos Canais


Links para alguns momentos com o Carlos . Obrigado Carlos  pelo enorme contributo neste nosso blogue cubalense. 

Outras histórias Cubalenses - por Carlos Canais

https://cubal-angola.blogspot.com/2010/12/nocoes-reais-natal-de-2010-por-eduardo.html

https://cubal-angola.blogspot.com/2010/12/resposta-ao-eduardo-florido-nocoes.html

https://cubal-angola.blogspot.com/2011/02/estorias-do-cubal-ao-senhor-fernando.html

Equipa maravilha do Cubal com Carlos Canais 

Recordações dos bons velhos tempos , por Nanda Valadas 

E a "bomba" estoirou no Cubal...




14 julho 2025

Um batizado no Cubal: Memórias, fé e a marca do tempo nas nossas tradições - 15-01-1966



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Duas fotografias preciosas, partilhadas pela nossa  Nanda Valadas, que nos transportam para um dia de celebração e convívio no Cubal: um batizado, repleto daquela juventude que tanto animava a nossa vila.

Estas imagens não são apenas registos de um evento religioso; são retratos de pessoas, de laços e de uma cultura. A protagonista deste dia especial, a bebé Maria José, a Zezinha, que fará 60 anos em agosto próximo, tinha apenas quatro meses quando foi batizada. É fascinante ver como o tempo passa e estas fotos nos permitem regressar àquele momento de inocência e alegria.

Na primeira foto, a Nanda ajuda-nos a identificar um grupo de pessoas queridas. Vemos o Fernando Santana ( Santanita), e o António Maia. Ali está também o Fernando Van der Kellen (Cabolas), e claro, a própria Nanda Valadas com a sua afilhada bebé Maria José. Reconhecemos ainda a Locas Almeida e a saudosa Cidália, que infelizmente já nos deixou. O Padre Zé está presente a celebrar o sacramento, e podemos ver o pai da bebé, o Juca Branco, de costas, e também a irmã do Padre Zé, Mariazinha, ali mais atrás. É uma fotografia que irradia a atmosfera familiar e de comunidade.

Depois, na segunda foto, a Nanda continua a trazer-nos os nomes: o Vítor Rodrigues "Algarvio", novamente o Cabolas, a bebé e a Nanda Valadas, a Locas Almeida, a Anabela Faustino, o Padre Zé e o Juca Branco, o pai. Como sublinha a Nanda, "a foto não é somente  o batizado que interessa, mas também,   as pessoas que lá estão". E que pessoas! Um verdadeiro mosaico da nossa comunidade de então.

Há uma particularidade que a Nanda faz questão de realçar e que nos remete para as tradições daquele tempo: a forma como "nós, Mulheres, usávamos o véu, a mantilha". Ela explica que, apesar de o Papa Paulo VI ter abolido o uso do véu em 1965, foi difícil largar esse costume, tanto que a própria Nanda se recorda de usar o véu na Igreja ainda em 1968. Como ela refere, hoje em dia, as gerações mais novas "nem sabem o que isto é, porque é que usam o véu", mas para nós, era um sinal de respeito e fazia parte da nossa cultura. A mulher, ao entrar na igreja, tinha de usar a mantilha.

Todo este batizado se deu numa grande festa na casa do Juca Branco, onde "os jovens estavam lá todos". Dá para sentir a alegria e a energia que emanava daquele convívio.

Um agradecimento enorme à Nanda Valadas por partilhar estas preciosidades e por nos guiar através delas com as suas memórias tão detalhadas. São estas partilhas que nos permitem reviver e compreender melhor o Cubal de antigamente.

Ruca

13 julho 2025

Uma janela para o nosso passado: O Sisal do Cubal -Angola nos Anos 50

1950 - Fazenda Caviva ou Fazenda Elisa - confirmada que é Fazenda Elisa (vidé adenda infra)

Esta imagem que a Nanda Valadas tão generosamente nos oferece é mais do que uma simples fotografia; para mim, é um portal para a Angola dos anos 50, uma época de intensa atividade agrícola e tantas transformações sociais. Ela captura um momento crucial na plantação de sisal – a fase do corte das folhas –, e o mistério em torno da sua localização exata, seja a Fazenda Caviva ou a Fazenda Elisa, apenas acrescenta um charme instigante a esta peça histórica. Aquele(s) monte(s) ao fundo é um elemento identificador que certamente provocará a memória e o conhecimento de muitos de vocês, despertando um debate rico e participativo.

O sisal, introduzido em Angola no início do século XX, ganhou uma relevância económica enorme, especialmente a partir da década de 1940. A sua fibra, resistente e versátil, era amplamente utilizada na produção de cordas, sacos, tapetes e outros produtos essenciais para a indústria e o comércio mundial. Fazendas como a que vemos aqui eram, sem dúvida, verdadeiros pilares da economia colonial, empregando centenas, por vezes milhares, de trabalhadores e moldando paisagens e comunidades.

Consultando o estudo "A Agricultura Tradicional em Angola nos anos 60 do século XX" da Alexandra Guillemin de Matos e Silva Neves, que encontrei por pesquisa, compreende-se melhor  o contexto desta atividade. Embora o estudo se foque nos anos 60, ele oferece uma visão abrangente da estrutura e da importância da agricultura no período colonial, para além da agricultura tradicional. A monocultura do sisal, embora economicamente pujante, trouxe consigo desafios e complexidades sociais, económicas e ambientais, temas que merecem a nossa reflexão histórica.

Esta imagem, com os seus trabalhadores curvados sobre as plantas, o esforço visível e a paisagem ao fundo, convida-me a uma viagem no tempo. Desperta não só a curiosidade sobre a técnica de corte do sisal – um trabalho árduo e manual – mas também sobre as vidas daqueles que dedicavam os seus dias a esta laboriosa tarefa. Que histórias teriam aquelas pessoas? Que sonhos acalentavam?

Para muitos de nós, tenho a certeza, esta fotografia será um gatilho para a "saudade" – a palavra tão portuguesa que encapsula um misto de nostalgia, afeto e um certo anseio por um tempo que já não existe. Saudade das paisagens, dos cheiros, dos sons das fazendas, da convivência, e de um Cubal/Angola que, embora distante no tempo, permanece viva na nossa memória e nos nossos corações.

Por isso, convido todos vocês, meus amigos leitores cubalenses e não só, a partilhar as vossas memórias, conhecimentos e, quem sabe, a desvendar o mistério da localização desta fazenda. Que este debate enriqueça ainda mais a já tão valiosa missão do nosso blogue, de preservar e divulgar a rica história de Cubal e de Angola.

Muito obrigado, Nanda Valadas, por partilhares mais esta relíquia. E a todos vocês, por fazerem parte desta comunidade tão especial!

Saudações

Ruca

[INÍCIO DA ADENDA/NOTA]

Atualização e Confirmação de Localização: A Fazenda Elisa

É com grande satisfação que podemos agora confirmar e detalhar o local exato desta histórica fotografia! Graças à valiosa contribuição do João Abreu, um dos nossos atentos e conhecedores leitores , ficamos a saber que esta plantação de sisal é, de facto, na Fazenda Elisa.

Para quem conhece a zona, o João Abreu elucida que a fazenda se localiza "antes de chegar à sede quando se desce a reta que vem do Cubal e fica do lado direito." E o tal morro que procurávamos identificar, aquele elemento que pensámos que poderia ser uma boa pista, é precisamente o que "divide a fazenda do Sr. Matos (Membassoko ou Marco de Canaveses) e a Fazenda Elisa", onde o próprio João Abreu nasceu, e onde também viveram o Chico Valadas e muitas outras pessoas. Ficamos a saber que esta foto foi tirada precisamente na época do corte da folha, o que reforça o momento de trabalho intenso que já tínhamos destacado.

A estas palavras juntam-se as memórias do Armando Cardoso, que em 1966 trabalhou algum tempo na Fazenda do Sr. Matos, Membassoko, mostrando como estas terras estavam interligadas pelo labor do sisal.

E a São Prates reforça a dimensão da presença do sisal na região do Cubal, mencionando as fazendas Ramieira, Fazenda Elisa, Caviva e Malongo. As suas palavras ressoam com uma verdade inegável: "O Sisal, era dono e senhor dessas belas terras.... Eram extensões de plantações de Sisal que se perdiam de vista, e que davam emprego a centenas de trabalhadores. O Sisal, era uma das riquezas do País". A sua frase final, "E tudo o vento levou.....", traz um tom melancólico, mas profundamente real, sobre as mudanças que o tempo trouxe a estas paisagens e a esta atividade que foi tão vital.

Com estas achegas, a nossa imagem ganha ainda mais profundidade e contexto, permitindo-nos "visitar" este pedaço de Angola com um mapa mais completo nas mãos. A todos os que contribuíram, o meu mais sincero obrigado! A vossa participação é o que torna o nosso blogue um verdadeiro arquivo vivo de memórias.

[FIM DA ADENDA/NOTA]

Ruca

10 julho 2025

Cubal em festa e emoção – Um retrato da nossa gente - 6 de Fevereiro de 1966

vamos identificar?

 

No dia 6 de Fevereiro de 1966, o Cubal foi palco de uma verdadeira celebração – um dia em que o coração da nossa terra se uniu para se despedir de um homem que representava a ordem e a tradição militar do Cubal, o Alferes Barros. Esta imagem que hoje partilhamos no blogue “Cubal Angola Terra Amada” vai muito além de um simples registo fotográfico; é um testemunho vivo de um capítulo marcante na história da nossa comunidade.

A fotografia, conforme a mensagem carinhosa recebida da Fernanda Valadas, eterniza um momento de emoção e festa no Clube Ferrovia do Cubal. Ali reuniram-se dezenas de cubalenses, pessoas que ao longo dos anos se tornaram família, amigos e vizinhos. Entre os que se destacam estão nomes que hoje permanecem na memória colectiva e que fazem parte do nosso quotidiano, demonstrando a forte identidade e coesão dos nossos valores.

Naquele dia, a despedida não foi apenas do Alferes Barros, o comandante do destacamento militar, mas também de outros militares que, cumprindo a sua missão, se preparavam para regressar ao continente Português. O ambiente no Clube Ferrovia era de uma energia inconfundível – uma mistura de orgulho, nostalgia e esperança, onde cada rosto contava uma história e cada sorriso era uma promessa de recomeço.

Os ecos dessa festa permanecem vivos na memória dos que estiveram presentes e nos relatos de quem, como a Fernanda, guarda com carinho os detalhes de cada instante. A imagem capta o movimento de um grupo tão numeroso e diverso que os nomes se perdem na multidão, mas a essência desta despedida permanece gravada na alma do Cubal: a certeza de que cada adeus é também um novo começo, e que a nossa terra amada está sempre em movimento, rumo ao futuro.

Partilhamos esta narrativa com o propósito de preservar a história e a identidade do Cubal, num tributo à memória daqueles que construíram, com coragem e determinação, os alicerces da nossa comunidade. Que esta recordação seja uma ponte entre o passado e o presente, inspirando-nos a continuar a trilhar o mesmo caminho de fé, união e progresso que sempre caracterizou o nosso Cubal.


NB: tantos amigos /conhecidos. Quem identifica? Vamos lá puxar por essa memória coletiva


Ruca


Sabores do Cubal: Uma manga, dois sorrisos, 1968

Nanda e Vítor Rodrigues ( algarvio )

 🍃 Uma manhã como poucas, daquelas que parecem parar o tempo. Em pleno Cubal, a 4 de agosto de 1968, Nanda Valadas partilha este instante especial — colhido direto da árvore, uma manga que diz tudo sem precisar de palavras. Ao lado, o Vítor Rodrigues (algarvio), cúmplice de sorrisos e memórias que o tempo não apaga.

👒 Vestidos de leveza e alegria, os dois parecem saborear  o fruto tropical, envoltos na paisagem que marcou gerações. 

📸 Mais que uma foto, este registo é um tributo à simplicidade e à beleza dos momentos vividos em Cubal — uma terra amada, onde cada manhã tem sabor próprio e cada rosto conta um pedaço da nossa história.

Ruca

04 julho 2025

14 de agosto de 1966: Amizade e despedida na Barragem do John, Cubal

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As imagens que hoje a Nanda Valadas nos traz são um testemunho vibrante de um dia inesquecível na Barragem do John, no Cubal, a 14 de agosto de 1966. Mais do que simples fotografias, são fragmentos de um tempo onde a amizade e o convívio se entrelaçavam com a imponência da paisagem local.

Na primeira fotografia, somos brindados com a presença carismática da Teresa, da própria Nanda ,  Locas Almeida e o Coelho, irmão das  Alexandrina e Esmeralda Coelho. Posam junto a um enigmático painel, cujas inscrições, embora desgastadas pelo tempo, nos dão uma ideia de avisos ou diretrizes daquele local – provavelmente algo relacionado com as "instalações hidroelétricas" e a "autorização da gerência". Há um ar de cumplicidade entre eles, um sorriso que nos diz que estavam a viver um momento especial. A Barragem do John era um ponto de encontro, um local emblemático para passeios e convívio, e esta imagem capta essa atmosfera.

A segunda imagem complementa na perfeição a primeira, focando-se na Nanda Valadas. Sentada descontraidamente sobre uma rocha, com a grandiosidade da Barragem do John como pano de fundo. A água a cair em cascata, a força da natureza em contraste com a tranquilidade da pose da Nanda. É uma fotografia que respira a leveza e a beleza da juventude, e que ao mesmo tempo nos recorda a beleza natural do Cubal.

Sabemos que este dia marcou a despedida do Inspetor Marques Monteiro, o que adiciona uma camada de emoção a estes registos. Momentos como estes, de convívio e adeus, ficam gravados na memória e, felizmente, nestas preciosas fotografias. São mais do que apenas rostos e lugares; são memórias que nos ligam a um passado partilhado, a uma "Terra Amada" que nunca esquecemos.

Muito obrigado, Nanda, por continuares a partilhar estas pérolas que tanto enriquecem o nosso blogue e as nossas recordações!

Ruca

1.1 pormenores


1.2 pormenores


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