Memórias do Cubal: O Zeca Neves e a música "infernal" do Recreativo
Por Rodrigo (Bibito) Guerra
Hoje trazemos mais uma deliciosa história verídica do nosso Cubal, saída diretamente do baú de memórias do Bibito Guerra. É um episódio castiço que nos transporta para as tardes de domingo e para a inconfundível atmosfera do nosso Clube Recreativo.
O protagonista desta história é o Zeca Neves.
Para quem se recorda da geografia da nossa terra, o Zeca Neves morava naquela casa situada na esquina da Rua do Comércio com a rua que subia em direção ao Recreativo, sendo vizinho da Loja Nunes.
A localização era privilegiada, mas tinha um "senão". Logo no quarteirão precisamente atrás da sua casa, ficava o Clube Recreativo do Cubal. E, como todos certamente se lembram, os domingos à tarde eram sagrados: o Clube ligava os seus altifalantes externos no volume máximo, espalhando música pela vila para atrair as pessoas para as suas famosas matinés dançantes.
Para desespero total do Zeca, o rapaz encarregado de colocar os discos tinha uma preferência muito particular por uma certa música. O problema é que o Zeca detestava essa canção, e o DJ, alheio ao sofrimento do vizinho, colocava o disco vezes sem conta, repetidamente.
Certo domingo, o Zeca perdeu a paciência. Os nervos chegaram ao limite. Saiu de casa decidido, foi até ao Clube, dirigiu-se à chamada Cabine de Som e abordou o rapaz que passava a música:
— Boa tarde, amigo — começou o Zeca, calmamente.
— Boa tarde, seu Zeca — respondeu o rapaz.
— Tem um disco que você coloca muitas vezes...
— É, seu Zeca, acho muito bonito!
— Eu também gosto muito e queria comprar um igual, mas não encontro em lado nenhum. Você não me pode vender esse?
O rapaz hesitou, preocupado com as regras do Clube:
— Não posso não, seu Zeca. Os discos são contados sempre e, se faltar um, vão descontar no meu salário.
— Quanto custa um disco desses? — insistiu o Zeca.
— Deve custar uns 30 escudos.
O Zeca, vendo a oportunidade, fez a sua oferta irrecusável:
— Eu vou-te pagar 50 escudos. Dá para comprar outro qualquer para a contagem dar certo e ainda sobra um trocado para você. Que acha disso?
Depois de uma rápida negociação, e com a promessa do lucro extra, o rapaz acabou por aceitar. O Zeca pagou o valor acertado e recebeu o disco nas mãos.
Reconstituição do momento em que o Zeca põe fim à música repetitiva.
No mesmo instante, perante o olhar atónito e incrédulo do rapaz da cabine — tal como podemos imaginar ou ver no vídeo —, o Zeca atirou o disco ao chão e pisoteou-o com vontade, fazendo-o em mil pedaços!
Foi assim, com uma medida drástica mas eficaz, que o Zeca Neves se livrou finalmente da tortura que era ouvir tal música, que lhe punha os nervos à flor da pele.
História verídica contada por Rodrigo (Bibito) Guerra.

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