10 março 2011

Sugestões de estórias a partir da diáspora.

Caros amigos cubalenses.
Penso que, a par de criar mais uma grande onda de entusiasmo no nosso blog, seria bom que cada um relatasse a história que nós e nossos pais vivemos, há cerca de 35 anos, uns dias antes da saída do Cubal e outros tantos após a chegada a Portugal. 
Alguns de nós em caravana até á África do Sul e só depois para Lisboa, utilisando os mais variados meios de transporte, aviões, paquetes e até barcos de pesca, com mil agruras e perigos vividos. 
Haverão certamente relatos emocinantes e penso que cada um poderia usar ou não um qualquer pseudónimo, conforme seu desejo. 
Seriam um conjunto enorme de histórias muito valorosas, e talvez o Ruca deseje iniciar a série e dar-lhe um titulo. Um abraço grande para todos. 
ATLMOTOCAR

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 Caro ATL ( agora já sei o que era o ATL ;-))
Aqui fica a sua sugestão.
Parece-me também um tema para aqui ser exposto e este espaço DIÁSPORA CUBALENSE ser, a meu ver, o mais indicado.
Acredito que muitas estórias não sejam as mais agradáveis por aquilo, que a maioria de nós passou. Estou a lembrar-me sobretudo de alguns momentos de ansiedade e medo por que passamos, como por ex. os combates ferozes entre os movimentos políticos e que assistimos  dentro de casa no Cubal, onde balas perdidas nos perfuravam as vidraças e paredes pondo a vida em perigo. Estes últimos meses anteriores a Novembro de 1975 marcaram-me  indelevelmente, face ao perigo em que estivemos expostos e ao " cheiro" da pólvora" de uma guerra que não queríamos e das  horríveis histórias que ouvíamos contar.
Outros momentos poderão ser  relembrados como quando uma enorme coluna de viaturas e de cidadãos em fuga da guerra , provenientes desde a ex-Nova Lisboa com destino ao Litoral,  pernoitaram em casa dos meus pais  onde, de uma forma ou de outra lá conseguiram comer alguma coisa e descansar.
Outras estórias, foi o nosso regresso definitivo. Os meus pais com bilhetes da TAP no bolso (que ainda os temos) para Lisboa, e na ausência de aviões, tiveram que recorrer a uma salvação que foi virmos num barco pesqueiro (célebre Kalua, não me esqueço do nome) entre o Porto do Lobito e Luanda. Viagem de uma noite e parte do dia num barco pesqueiro "à pinha" de gente e acredito que foi uma sorte termos chegado sãos e salvos a Luanda, face à agitação marítima, cujas ondas entravam na pequena embarcação e nos encharcava os ossos e as poucas bagagens que levávamos..E em Luanda enquanto não apanhávamos um avião na célebre ponte aérea.... lembro-me das condições terríveis onde ficamos durante uma série de dias...Num Quartel Militar onde dormíamos no chão e não só...até que tivemos uma avião da Swissair que nos retirou de um grande pesadelo que foram os últimos meses.. .poderemos falar de muita coisa, Caro amigo ATL, mas não sei, no meu caso pessoal, se me fará muito bem ao espírito... pode ser .... pode ser....
Grande abraço
Rui Gonçalves (Ruca)




VIDA REAL Nº 4 - Eduardo A. Flórido

ESPAÇO DEDICADO AO CUBAL E ÀS SUAS GENTES COM ESTÓRIAS (HISTÓRIAS) VERÍDICAS PASSADAS, POR ALGUNS DOS SEUS FILHOS, DESCONHECIDAS DA MAIOR PARTE, DOS ALI NATOS E HABITANTES. NO CUBAL E NÃO SÓ…

CLUBE FERROVIA DO CUBAL…

ANO DE 1969…
Mais um enlace matrimonial a fazer furor na nossa bela cidade… Os noivos (sigilo absoluto sobre o seu nome e respectivas famílias), convidam o clã Flórido que se apresenta ao acto solene, primeiro na igreja e depois neste mesmo clube desportivo a fim de apadrinharem, a jura de amor eterno, num copo de água memorável, e de fazer lamber as beiças, pelas iguarias com que cada convidado era presenteado. O Ferrovia engalanado a preceito, fora o local escolhido, e bem, pois juntamente com o Recreativo, 98% (+-), era sempre a predilecção de todos os convivas a este género de cerimónia. Ao começar o assalto a todo o género de ementa que naturalmente diversificava e em muito em relação àquilo que actualmente se processa em Portugal, por exemplo, deixa todos indecisos por onde deverão começar a esquentar o motor (estômago), para mais tarde com a postura, um tanto ou quanto já meio zonza, ou zonza inteira, numa perdição total, comerem e beberem escancaradamente sem olhar o preceito da (in) delicadeza educacional, marimbando-se positivamente, para princípios de regras civilizacionais e de postura válida, devido à graduação de uma subida desmedida e acentuada de álcool, que o organismo começa a assimilar.
Momento esperado pacientemente, pelo autor destas linhas, que apesar dos seus 15/16 anos, quando isto acontece, o combinado com outros não presentes e não convidados começa por ser posto à prova…
Esgueiro-me, nessa altura, facilmente entre as cortinas (penso ainda hoje, serem de veludo vermelho, ou não seriam?) fingindo, uma qualquer brincadeira, para o não levantamento de suspeitas, mas já com ela fisgada de chegar à última porta, oposta ao palco, conforme atempadamente combinado com os meus compinchas, e abrir os fechos da dita, porque a verdadeira comemoração, daquele sempre grandioso acto, começaria, quando os meus verdadeiros amigos estivessem presentes. Fechos abertos e portas sem serem tocadas (não fosse o diabo tecê-las), porque depois era só empurrá-las por fora… E tinha a certeza absoluta que ninguém iria verificar se a porta estaria aberta ou fechada, porque todos sabíamos que aquela, era uma das poucas que o salão tinha, que muito dificilmente era aberta, logo poderíamos ficar descansados, pois nunca seria visionada se estaria bem ou mal fechada.
O tempo voa, e finalmente chega tudo ao fim. Rostos cansados, bebedeiras, algumas, e as despedidas do costume… Os noivos entretanto, já haviam partido para as merecidas férias, e descanso (?) respectivo, numa viajem de núpcias, que ainda hoje recordarão, porque os intervenientes desta brincadeira jamais o esquecerão, certamente.
À saída, juntamente com os meus pais e irmãos, encontro-me com o Amadeu da Silva Ramos, vulgo “Ramitos” (filho do Ramos das Panelas), um dos componentes do grupo que me vem perguntar se está tudo preparado. À minha resposta positiva, ele indica-me que todos os outros componentes do famigerado grupo de comilões, já esta tudo de boca à banda, para fazermos a nossa festa, com a comida daquele bendito recém-casal e respectiva família.
Digo ao meu pai que fico por ali, com o Ramitos e este sempre de um modo pouco simpático, fita-me e tenta que eu zarpe com ele. Bênção dos Céus, a minha mãe intervêm e diz para o meu pai que me deixe estar e avisa-me para eu não demorar muito… A minha mãe anui a este pedido, porque a minha casa, era já ali a dois passos…
Vamos para o parque e já lá estão todos os componentes da trupe, o Toninho Xamiço (grande amigo), o Abel (actualmente no Congo Ex-Belga), o Campanera, o Ximoque, o Carona, e uns tantos outros que devido aos anos passados, naturalmente me vou esquecendo de nomes, mas que de modo algum serão esquecidos. Éramos 12, na totalidade. E já todos juntos apenas aguardávamos que a luz se fechasse para avançarmos, em grande cerco, sem dó nem piedade, para empurrarmos a nossa entrada secreta e trazermos para o parque toda a comida, bem como assim bebidas e doces que sabíamos ser a delícia dos nossos esfomeados estômagos…
Finalmente apaga-se a luz…
O Ramitos de imediato puxa por uma pequena lanterna e preparamo-nos, deixando passar algum tempo, não fosse alguém voltar atrás, para uma invasão pacífica e sem condenação, já que não é pecado, roubar para comer (apesar de eu ter a barriga cheia) …
Dirigimo-nos 4 à porta (os outros 8 ficavam de vigia), que eu anteriormente deixara aberta, e apenas com um pequeno empurrão eis-nos a afastar as cortinas, pois o faustoso banquete encontrava-se ali à nossa mercê. Lentamente, mas de modo vigoroso, começamos por trazer tudo o que nos vem às mãos, sem nos preocuparmos, com a luz da lanterna do Ramitos, tal não era necessário. Fomos e viemos quatro vezes, tendo montado em pleno parque o nosso grande piquenique, que ia desde o marisco, passando por as mais variadas carnes, até doces (incluindo grande parte do bolo de noiva), de chuparmos os dedos e… irmos buscar mais.
Tinha chegado a hora…
A festança ia começar, e começou sempre dentro do maior silêncio possível, não fosse alguém aparecer. Comida a rodos, doces sem fim e bebidas para quem se quisesse servir e se naturalmente terminasse, o armazém recheadíssimo estava a dois passos para que nos servíssemos à vontade…
Tudo pleno de beleza, e grandiosidade que de repente é interrompido por uma voz potente e de pouca animosidade, um Guarda-Nocturno, muito conhecido no Cubal, e que por respeito aqui não menciono o seu nome (já não se encontra entre nós, infelizmente), se dirige a mim e me diz num tom aterrador: Amanhã quem te vai aquecer as costas é o teu pai, porque lhe vou contar tudo o que se está aqui a passar.
Eu havia sido o primeiro a ser reconhecido, mas enquanto vai avançando, acaba por descortinar todos os outros e sem papas no dedo, começa a apontar o nome de todos os prevaricadores ali existentes. Eu num tom de súplica, peço-lhe encarecidamente que tal não o faça, pois apenas havia deixado a porta aberta, para comemorar, com os amigos não convidados, a felicidade daqueles que naquele dia haviam dado o nó e era tb., um modo de assim podermos confraternizar um pouco celebrando a nossa amizade, entre aqueles que não haviam sido convidados.
O dito guarda-nocturno, depois da minha explanação comovente, pergunta-nos, o que estávamos a comer, claro está de imediato convidámo-lo a assentar, CONFRATERNIZANDO CONNOSCO. De soslaio, olha-nos a todos e de improviso passa-nos um correctivo, cinco estrelas, ou seja daqueles memoráveis, que jamais serão esquecidos, porque termina, dizendo-nos que iria esquecer o que acabara de ver, rasgando de imediato o papel, com uma particularidade, iria comer connosco, desde que houvesse alguém que fosse buscar um champanhe, para servir de cama ao suculento repasto. Como por artes mágicas, apareceram de imediato duas, a quem o sujeito sublinhado de imediato, com leitão há mistura, as virou num ápice, obrigando-nos no entanto, a prometer que nenhum de nós havia estado ali.
DEVER E PROMESSA CUMPRIDA. É QUEBRADA DESTA FORMA, PARA APENAS SERVIR DE MOMENTO DE BOA DISPOSIÇÃO ENTRE TODOS, POR QUEM ESTE APONTAMENTO, SOBRE O PASSADO FOR LIDO… E SEM NUNCA DELATAR NINGUÉM A NÃO SER OS INTERVENIENTES DE BRINCADEIRAS SAUDÁVEIS QUE HOJE NOS TRANSPORTAM, A UM TEMPO IDO, MUITO MAIS SAUDÁVEL DO QUE ESTE PRESENTE, SEM FUNDAMENTO E SEM DESTINO…
SEI QUE DO CÉU, O BOM HOMEM ME ESTARÁ A OLHAR E A SORRIR, DIZENDO PARA OS SEUS BOTÕES: AS PALAVRAS DOS PUTOS DO ANTIGAMENTE VALIAM MUITO MAIS DO QUE A INTEGRIDADE PLENA DE CERTOS SABICHÕES QUE PROLIFERAM POR AÍ, NA NOSSA PRAÇA, ACTUALMENTE…
BEM-HAJA, AMIGO E QUE DEUS ESTEJA CONSIGO…

Com cordialidade…
Até já,
*Eduardo A. Flórido
Edasilf@live.com.pt

08 março 2011

Apelo à participação cubalense

Caro cubalense e amigo do Cubal!
Não te limites a observar e a admirar os testemunhos do nosso blogue. Só com a ajuda e participação de todos, poderemos ter um blogue actualizado, com fotos e outros documentos.
Participa, enviando testemunhos (texto, imagens, poesias etc) sobre o Cubal e cubalenses. O email para onde deves enviar é : cubal.ruca@gmail.com
Vamos continuar na partilha de emoções!
Saudações cubalenses
Rui Gonçalves (Ruca)

Feliz Dia Internacional da Mulher - 2011



A todas mulheres deste mundo e com um carinho especial às mulheres cubalenses, 
aqui vai a minha homenagem por este dia tão significativo.
Um abraço
Rui (Ruca)


06 março 2011

HISTÓRIA DO CUBAL "SUBSÍDIOS PARA A MONOGRAFIA DO CUBAL"

Sebastião das Neves
(autor deste texto e do seguinte)
1930 - Ano de chegada a Angola
SUBSÍDIOS PARA A MONOGRAFIA DO CUBAL;
Fazer história é tarefa ingrata, especialmente, quando se pretende relatar o passado, com verdade e sem paixões.
O presente apontamento, que tenta contribuir para uma monografia do Cubal, é um trabalho sem pretensões. Apenas o incluímos, neste livro (Três Continentes uma Vida), por achar pertinente integrar algumas páginas dedicadas à nossa terra de adopção.
Elaborámos este esboço monográfico a partir de elementos recolhidos ao longo dos 44 anos que vivemos na região à qual, orgulhosamente, oferecemos, permanentemente, o melhor da nossa capacidade e dedicação.
Para fazer a História do Cubal há dois factores fundamen­tais a considerar: os factores humano e físico. Ainda que ambos sejam interdependentes, consideramos neste capítulo a compo­nente humana, pois a componente física — o Caminho de Ferro de Benguela — será abordada em capítulo diferenciado.

Como premissa básica queremos começar por destacar que a região da Hanha, onde se insere o Cubal, conheceu relativa importância, antes da construção do caminho de ferro.
Em 1878 a área Administrativa de Benguela era vastíssima. Abrangia toda a zona litoral desde Benguela a Novo Redondo, penetrando para o interior até às regiões do Seles, Bailundo, Huambo, Caconda, estendendo-se ainda até Camocuio, perto de Moçâmedes.
Só em Caconda existia uma pequena ocupação de europeus, um Posto Militar, designado por Capitania Mor, e em Quilengues uma Missão Católica.
A força militar instalada em Caconda funcionava como filtro coordenador da nossa penetração a partir de Benguela, via Dombe Grande, pelas margens do Rio Coporolo.
Em Quilengues definiam-se como que dois novos e impor­tantes ramos de penetração: um, via Hoque para a Huila, onde estava já implantada uma Missão Católica; o outro dirigido a N'Gola, Caconda e Bié.
Era em N'Gola que os nativos hostis ofereciam tenaz resis­tência à penetração dos portugueses que pretendiam atingir o “interland” designação genérica que se dava a todo o interior.
N'Gola podia considerar-se então uma zona, altamente, estratégica, tal como em terminologia moderna, hoje diríamos. Estava localizada sobre a montanha no prolongamento da Serra da Cheia. No sopé existiam picadas que facilitariam a almejada penetração.
Os nativos não viam, entretanto, com bons olhos o devassar das suas terras. Parece-nos que não haveria justificação plausível para a hostilidade dos nativos, quanto a nós, explicada, apenas, na existência de heterogéneos grupos tribais e, especialmente, na falta de contactos com o litoral onde, pelo contrário, a presença portuguesa era bem aceite.
O certo é que foi necessário ultrapassar múltiplas dificul­dades para que a nossa penetração se concretizasse. E, ela só foi possível, não, como muitos poderão supor, pela força das armas mas pela instalação dos verdadeiros colonizadores pacíficos: os comerciantes, que tal como Silva Porto, Fraga e tantos outros, foram verdadeiros «heróis da Paz».
Corria, como já referimos, o ano de 1878. Surge, em Luanda um homem que, com uma coragem indómita, arrostando, prati­camente, com o desconhecido, pretende dirigir-se a Caconda. Inicia a viagem, a pé, em Luanda seguindo pelas margens do Rio Cuanza. Em seguida atravessa a região do Seles, Benguela e Dombe Grande. Ao longo das margens do Rio Coporolo atinge a Hanha, segue para Caluquembe até que, finalmente, chega a Caconda, terra, ao tempo, com certa influência europeia.
A viagem empreendida por Joaquim Francisco Ferreira, assim se chamava o intrépido sertanejo, não teve grandes pro­blemas na zona onde os nativos, obstinadamente, nos eram hostis. Essa facilidade resultou do traçado inteligente que imprimiu ao seu caminho, pois a cerca de cem quilómetros de Quilengues, continuou a marcha pela margem do Rio Coporolo, rumo a Caluquembe, já em pleno planalto de Caconda evitando, assim, tacticamente, a passagem por N'Gola.
Poder-se-á imaginar, entretanto, no aspecto físico e psicoló­gico, a dimensão da empresa a que Joaquim Francisco Ferreira meteu ombros. Os seus instrumentos de orientação eram apenas uma bússola e um rudimentaríssimo mapa da região. Quanto às condições de sobrevivência basta que as imaginemos em pleno sertão e recuando, no tempo, até 1878.
A distância que percorreu estima-se, em termos rodoviários, actuais, em mil cento e cinquenta quilómetros!
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in Sebastião das Neves -"TRÊS CONTINENTES UMA VIDA"

Quem era Joaquim Francisco Ferreira- «Yola-Yola» ?

Quem era Joaquim Francisco Ferreira?
Joaquim Francisco Ferreira, minhoto por nascimento, era oficial da Marinha Mercante Portuguesa.Abandonou, em Luanda, o navio, a cuja tripulação per­tencia, por inconformismo com decisões de que foi vítima e que considerou, profundamente, atentatórias da sua dignidade. Huma­namente, revoltado, procurou longe dos homens que lhe feriram a alma, uma nova vida onde pudesse realizar-se, convivendo com a Natureza agreste, mas por vezes bem pródiga no seu reconhecimento àqueles que se lhe dedicam.Na sua imensa caminhada até Caconda, seus olhos e seu espírito ficaram presos à Hanha, quando por ali passou.A Hanha localizada no sopé de uma cordilheira, constitui uma planície que faz lembrar a lezíria ribatejana. A confluência dos Rios Coporolo e Lutira determina vasta extensão de terras irrigáveis e, como tal, férteis que permitiriam realizar alguns dos sonhos que transportava na sua bagagem mental.A Hanha persistia no seu pensamento. Assim a permanên­cia em Caconda foi de curta duração, ainda que a zona fosse, ao tempo, um «empório comercial». Em breve decide regressar ao local que o encantara e, em 24 de Junho de 1878, ali volta para se radicar e instalar uma vasta plantação de cana sacarina e, a partir dela, uma destilaria que funcionou até 1912, data em que, por Decreto, emanado de Lisboa, foi encerrada.A Fazenda instalada por Joaquim Francisco Ferreira era constituída por um conjunto de oito glebas adquiridas a sete nativos “seculos” (Nativos velhos e respeitáveis) de seus nomes:Matende, Chinamba, Cassapa, (proprietário de duas glebas), Candel, Capingana, Gungue e Diomer.Os originais das escrituras notariais celebradas entre Joa­quim Francisco Ferreira e estes nativos, estão na posse do autor. Em Angola, estas glebas foram registadas, na Conservatória de Benguela, sob a designação única de Várzea de São João da Lutira, no ano de 1898. Em Angola, em pleno Século XIX, os Portugueses já procediam assim.A breve trecho Joaquim Francisco Ferreira é alcunhado com a sugestiva designação de «Yola-Yola» que em língua nativa significa «o homem que está sempre a rir».O Ferreira além de ter criado os sectores agrícola e indus­trial, a que já nos referimos, alargou a sua actividade aos sectores comercial e pecuário.Construiu uma «frota» de carros «bóer» cada um puxado por 20 bois, devidamente, treinados.Para começar o Ferreira rompe a machado uma picada com cerca de 200 quilómetros, em direcção a Benguela. Mais tarde rasga nova picada, desta vez, até Caconda. Apenas, por curiosidade acho valer a pena referir que em 1930 esta ligação com Caconda era ainda utilizada.O tempo ia correndo. O Ferreira estabelecia um vai e vem constante com Benguela utilizando a sua «frota». Nessas deslo­cações transportava quer os produtos da sua própria produção quer aqueles que adquiria na região. Era, assim, o verdadeiro incentivador do comércio da vasta região que se estendia entre Benguela, Caconda e Huambo. Para além dos produtos próprios, comerciava em cera, mel, couros e gado, únicas produções a que os nativos, então, se dedicavam.Apesar da eficiência da frota, os transportes não eram, como se pode calcular, tarefa fácil. Os carros “bóer” não se podiam deslocar, permanentemente. As deslocações dependiam das condições climáticas. No período das grandes chuvas os rios não davam passagem e no período seco escasseava comida e água para os animais.Cada viagem durava cerca de duas semanas. O Domingo era dia de descanso. O percurso diário oscilava entre trinta a trinta e cinco quilómetros.De quando em vez surgia o inesperado: trovoadas violen­tíssimas acompanhadas por chuvas diluvianas obrigavam a sus­pender a viagem, às vezes, por duas ou três semanas.A região da Hanha progredia. Um segundo europeu, Carlos Rebelo de Matos, instala-se na margem esquerda do Rio Lutira, no prolongamento do Rio Coporolo. Entretanto, o comporta­mento do Matos desagrada às populações nativas. Em contrapar­tida o prestígio do Ferreira estava definitivamente firmado.Um dia, os povos da Hanha saturados com as sucessivas injustiças e diatribes praticadas pelo Matos, decidem eliminá-lo.Entretanto em função do respeito que votavam ao «Yola-Yola» quiseram, antes de actuar, ouvir a sua opinião.Alta madrugada, o soba Catoto chefiando as populações, armadas e sedentas de vigança, procuram o Ferreira dando-lhe conta dos seus intentos. Ainda que as relações entre os dois euro­peus não fossem famosas, talvez, até más, o Ferreira demons­trando o mais elevado tacto diplomático e alto senso humano consegue convencer o soba Catoto que seria apenas o Governador de Benguela quem poderia fazer justiça, em nome de El-Rei de Portugal.O Ferreira põe à disposição do soba e dos principais con­selheiros, carros bóer para que, com a facilidade possível, atin­gissem Benguela e aí expusessem o problema.Corria o princípio do nosso século. O Catoto chega a Ben­guela e consegue demonstrar a quem de direito, o peso das suas razões. Como consequência, imediata, o Governador determina a saída do Matos da região da Hanha, local onde jamais poderia regressar.Para o cumprimento desta decisão é destacada uma força militar incumbida de trazer, para Benguela, o Matos morto ou vivo. O causador do problema não oferece qualquer resistência e a missão foi cumprida sem outras complicações. Uma vez mais, o senso de Joaquim Francisco Ferreira estava demonstrado.Um outro facto nos parece relevante para realçar a perso­nalidade de Joaquim Francisco Ferreira, pois que para além de importante agricultor e de evoluído industrial, o «Yola-Yola» foi, fundamentalmente, o colonizador na boa e exacta acepção do termo. A forma especial como soube estabelecer e defender as relações pessoais com os povos da área, até então, extremamente, rebeldes, pode classificar-se de notável.O seu comportamento comercial e social conquista a ami­zade e, fundamentalmente, o respeito dos povos que o rodeavam.O exemplo que pretendemos referir é bem expressivo, da sua influência junto dos autóctones e, muito em especial, da forma como o Ferreira sentia de perto os problemas humanos. Reside no processo hábil e inteligente como conseguiu fazer abolir, na região da Hanha, a pena capital, então, ainda cruelmente imposta pelas autoridades tradicionais. Com o argumento de que a pena de trabalhos forçados perpétuos seria muito mais dura (pois era... eterna), o Ferreira consegue que os crimes sujeitos à pena capital, passem a ser punidos por tal processo.(…)Em consequência da intervenção militar na zona da Hanha, determinada pelos problemas criados pelo Carlos Rebelo de Matos, o Governo sente, pela primeira vez, a importância económico-social da região. Por isso instala, como elemento de sobera­nia, perto da nascente do Rio Songue (junto ao riacho Ubir), um Posto Militar dependendo, em directo, da Capitania-Mor de Caconda. Este Posto é instalado sob a chefia de um sargento do Exército. Tempos depois a localização do Posto é transferida para o lugar do Lumba, no sopé da Montanha. Torna-se, então, Posto sob jurisdição civil e tem como primeiro Chefe, Teodoro José da Cruz, cidadão de origem brasileira e pai de uma figura quase lendária, de Benguela, o advogado Amílcar Barca da Cruz.Anos volvidos, o Posto da Hanha conhece nova localização, à beira da estrada Benguela-Caconda, no alto do Songue.A localização ideal do Posto ainda não tinha sido encon­trada. E, assim, nova mudança; agora para o Caviva, no sopé da Serra Útuo-Muno (cabeça de homem), ainda, na berma da mesma estrada. Foi então, seu responsável, o Chefe Jácome de Aguiam.Vivia-se o primeiro ano do Século XX. No Cubal, na Ganda, em toda a Hanha, nada havia sido realizado, rumo ao desenvolvimento efectivo. A vida real da região era determinada, apenas, pela radicação dos nativos nas zonas marginais dos rios e, fundamentalmente, pelas actividades desenvolvidas pelo Yola-Yola.Nesta altura o Joaquim Francisco Ferreira tem conheci­mento do ambicioso projecto da construção de um caminho-de-ferro, que iria ligar o litoral à África Central. O cepticismo do Ferreira era grande. Não olvidava o fracasso havido na ligação ferroviária Catumbela-Benguela.Entretanto, neste momento, mas sempre relacionado com o factor humano da fundação do Cubal, teremos que referir a criação do Caminho de Ferro. Em próximo capítulo abordaremos tal como já referimos, o tema Caminho de Ferro de Benguela.É entre 1903/1904 que os técnicos ingleses, incumbidos da construção da veia de aço que rasgaria as entranhas da enorme Angola, atingem o Cubal com o levantamento e picotagem da linha, visando o Rio Cubal acima da confluência dos dois rios do mesmo nome que o formam: Rios “Cubal da Ganda” e “Cubal da Hanha”.Nesta altura o Ferreira acha oportuno contactar, directa­mente, esses técnicos e consegue obter informações sobre o tra­çado da linha, e, até, da localização das próximas instalações que apoiariam o empreendimento.De posse das preciosíssimas informações e com a argúcia de sempre, aproveitou-as, da melhor forma, iniciando de imediato a construção de uma casa comercial, que localizou ao lado esquerdo daquela que em 1974, ainda existia e era conhecida por “Casa do Catoto” «Catoto» — Alcunha do filho mestiço do Ferreira, de seu nome Joaquim Francisco Ferreira Júnior.Assim, foi a casa do «Yola-Yola» a primeira casa do Cubal a que se seguiu a de Teodoro José da Cruz, que depois de refor­mado, se dedicou ao comércio. Esta casa situou-se, na margem esquerda do rio, abaixo da velha ponte de caminho de ferro, a cerca de 3000 metros do local previsto para as instalações do C. F. B. e da casa de Joaquim Francisco Ferreira. Achamos, deveras, curiosa a justificação de Teodoro José da Cruz acerca do local escolhido para a construção; — poderia chegar a casa sempre que quisesse, mesmo na altura pluvial alta quando o rio transbordasse as margens. Só com carros «bóer» se poderia, então, fazer a travessia e, mesmo assim, nem sempre. Ele, Teo­doro, nem sequer possuía carro «bóer»...
A CHEGADA DO «MONSTRO DE FERRO»
Em 2 de Maio de 1908 o primeiro comboio atinge o Cubal. Durante vários anos foi o «2 de Maio» o Dia do Cubal, como homenagem à Companhia do Caminho de Ferro de Benguela, não esquecendo que o desenvolvimento da região se processou a partir da passagem desse “monstro de ferro”. Nesta altura as únicas edificações existentes, no Cubal, eram, além das duas casas já referidas, o apeadeiro do C. F. B. e o barracão que lhe servia de oficina de apoio-Entre 1912 e 1914 é criado o Concelho da Ganda que inte­gra o Posto da Hanha. Para que o Administrador do novo Con­celho pudesse visitar este Posto, tinha que deslocar-se de comboio até ao Cubal e depois utilizar a picada aberta pelo Ferreira.Anos correram. Em 1925, o Ferreira adoeceu, gravemente, e caminhou rumo ao Cubal para apanhar um comboio que o le­vasse até Benguela em busca de melhoras. Quis o Destino que na ponte do Rio Cubal (da Ganda), às portas da povoação que fun­dara, ao edificar a primeira casa, que a Vida se lhe extinguisse dentro do carro onde era transportado. Se o Ferreira se aperce­beu da morte, talvez sentisse alguma compensação, pois morrer junto de algo que se criou e amou é, quanto a nós, uma espécie de privilégio. O «Yola-Yola» teve, assim, a felicidade maior, de cerrar para sempre seus olhos diante da realidade que ele próprio criara: o CUBAL. Em 1928, com o desenvolvimento da povoação, o Posto Administrativo, instalado no Caviva, passa enfim para o Cubal, ainda que mantendo a designação de Posto da Hanha. Foi seu primeiro Chefe, Cristóvão de Lima. Só em 1961, em 14 de Junho, é fundado o Concelho do Cubal, tendo como primeiro Administrador, Horácio Lusitano Nunes. Era ao tempo Governador do Distrito de Benguela, o Inspector Administrativo Hortênsio de Sousa.O novo Concelho passou a integrar o antigo Posto da Hanha, que pertencia ao Concelho da Ganda, agora designado de Posto Sede e, ainda, o Posto de Caimbambo, pertencente ao Concelho de Benguela.Mais tarde foram criados dois novos Postos: Quendo e Hanha, que com o Posto Sede e o de Caimbambo formaram Concelho, pelo menos, até Novembro de 1974.Funcionava como órgão municipal a Junta Local que, por decisão superior prosseguiu a sua acção, ainda que por curto espaço de tempo, pois em 6 de Dezembro de 1961 foi transfor­mada na primeira Câmara Municipal.Em 23 de Janeiro de 1968 o Cubal atinge como que a sua emancipação sendo elevado à dignidade de Cidade, verdadeira coroa de glória para os seus obreiros.
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in Sebastião das Neves -"TRÊS CONTINENTES UMA VIDA"

05 março 2011

Cubalenses

1. Rocha, amigo de João Porto e Júlio Tipoia
2. Virgílio Costa
3. Carmen Fontoura
4.Adozinda Porto, minha irmã no dia do seu casamento na Igreja do Cubal 5. Adozinda Porto e Virgílio Costa
6. Adozinda, Virgílio Costa, Manuel Porto, Odilia Palma, Artur Costa, Maria Silva Costa, Generosa Porto, José Manuel, Graça Martins, Araújo, José Maria Lago Bom (mucoca), João Porto e... Diny Querido
7. Maria Odilia Palma, filha da D. Conceiçao Palma e Francisco Palma

02 março 2011

Cubalenses

1.
2.
3.
4.
5.
Eu (Diny Querido),meus pais (TONECA e MARINA) tia MANELA, meus avós(FRANCISCO QUERIDO e JULIETA), tia MILAY, tio MENDES, ANY e BETO QUERIDO MENDES, primo RAÚL

Cubalenses

1. em cima da esq. para a dt:PAULA MAGALHÃES, DINY QUERIDO,PALMIRA CARVALHO SILVIA embaixo da esq.para a dt:ARLETE ISABEL DUARTE HELENA
2. Meu Pai ANTONIO QUERIDO, Eu, Pai do JAIME MARQUES DE ALMEIDA em frente à loja do meu avô paterno, onde mais tarde foi a Gardenia
3. CRISTINA PINTOZINHA, ELISABETH RIBEIRO, PALMIRA CARVALHO (dentro do carro)ORLANDO MARTA NEVES, DAVID SARMENTO, JORGE TOME, PAULA MAGALHÃES (de capacete) NININHA MAGALHÃES MILÓ CARRASQUEIRO, DINY QUERIDO (cortada na foto)
4.
5.
Como sempre, convido à legendagem...

01 março 2011

Memórias de uma infância e juventude plena, por Fernanda Valadas

Há anos que tento organizar a minha memória a fim de poder expor por escrito, retalhos da minha vida cubalense desde a infância a adolescência, e, acreditem, são tantas as histórias (estórias) e situações por que passei que me causam uma certa dificuldade na escolha.
 
Vou iniciar este ciclo falando de mim: 
-Quem não conhecia aquela   miúda "Maria Rapaz" que andava de calções, jogava a bola e hóquei em patins, andava de motorizada, brigava, e, sobretudo brincava de igual para igual com os rapazes e que sem saber já impunha o direito e igualdade dos sexos?
-Onde fui buscar inspiração para ter sido como fui? 
-Lembram-se dos livros da escritora britânica Enid Blyton?
-Lembram-se dos seus livros " As Aventuras dos Cinco"?  Comecei a ler esses livros quando andava na 3 classe, aos 8 anos de idade e quem mos emprestava era a Nazaré Miranda.
Eu lia e relia aquelas aventuras e... Como me faziam sonhar.
 A Zé era o meu ídolo e a personagem com a qual me identificava e foi a poder disso que tive uma infância e juventude recheadas de aventuras com situações caricatas, dramáticas, cómicas, de coragem, de perigo, de brigas, etc., etc., etc..
 
Poderia desde já começar a narrar essas situações, mas, vou guarda-las para mais tarde e poder assim recordar os grandes e bons velhos amigos que fui fazendo nessa época e que ainda hoje persistem no meu coração.
 
Quero agradecer a todos eles o facto de terem contribuído na formação do meu carácter e personalidade.
 
Da próxima vez começo a contar os flagrantes da minha vida.
 
Até lá,
Um grande abraço 
Fernanda Valadas

VIDA REAL Nº 3 - Eduardo A. Flórido

ESPAÇO DEDICADO AO CUBAL E ÀS SUAS GENTES COM HISTÓRIAS VERDADEIRAS PASSADAS, POR ALGUNS DOS SEUS FILHOS, DESCONHECIDAS (Histórias) DE TODOS. NO CUBAL E NÃO SÓ.

ANO 1974.

RELEMBRANDO O MANUEL FERNANDO CARONA, ESSE GRANDE AMIGO…

Depois de um Curso de Sargentos Milicianos (durabilidade de mais ou menos 6 meses, entre recruta e especialidade), cursado na E.A.M.A., (Escola de Aplicação Militar de Angola), Nova Lisboa e que infelizmente devido a um 25 de Abril muito mal camuflado, sou quatro dias depois, por ordens superiormente emanadas, promovido a 2º Furriel, eu e todos quantos frequentamos a dita, para mais, dois dias volvidos, nos caírem em cima as divisas de 1º Furriel (Como entretanto devido a provas físicas excelentes, e com valorização em todos os testes, sou chamado ao comandante da E.A.M.A., onde me perguntam, se eventualmente, não teria interesse em ingressar no Curso de Oficiais Milicianos, havendo no entanto um senão que foi a origem da não aceitação, teria que começar de novo em Janeiro de 75, uma nova recruta visionada a Oficiais. Penso e chego à conclusão que não seria em nada vantajoso, pois perderia cerca de um ano de exército, assim sendo mostro-me irredutível e avanço 12 meses no espaço e no tempo) … Para quem esperava que as mesmas divisas) só aparecessem 18 meses depois, começava tudo por ser airoso e de certo modo até interessante, a vida militar que tínhamos de fazer voluntariamente obrigados… e com o ordenado que pagavam, como estava desarranchado e Caconda era considerada, como zona de 50% de guerra (17.250$00, salvo erro), sentia-me como um rei, na barriga, inchadíssimo.
Antes porém, devo acrescentar, que muita malta da minha idade, vou fazer em 17 de Abril 58 anos, tinha assentado praça na dita E.A.M.A., casos do MANUEL FERNANDO CARONA, FERNANDO JORGE VAZ FAUSTINO, FERNANDO REBELO DE FREITAS E OUTROS DOS QUAIS JÁ NEM ME RECORDO NOMES (onde estão meus amigos?), mas que directa ou indirectamente, continuam no sótão do pensamento, por nos terem separado e mandado, em prol da defesa de uma Pátria que hoje e aqui em Lisboa teria que ser muito mais bem guardada, já que o grande mal que avassala este País, nunca foi as Províncias Ultramarinas e sim os tachos que se iam perdendo, enquanto as ditas (províncias Ultramarinas) estavam cada vez mais seguras, fruto duma estreita colaboração de pessoas de bem, independentemente de raças e credos, fortalecidas por estruturas humanas, vincadamente superiores, mas enfim isso não são contas do meu rosário.
Aquando da especialidade, sou abordado pelo meu grande amigo, MANUEL FERNANDO CARONA que me pergunta sem pestanejar: Eduardo, que especialidade escolheste? Sem as mínimas reticências digo-lhe apenas Atirador Especial e tu NANDO? Eu, eh pá, pela adrenalina, vou para os pára-quedistas. Fiquei boquiaberto, mas enfim, o NANDO, contra-ataca, porque vais para atirador? Tento explicar-lhe que aquela era a especialidade que me obrigaria de todo, saber um pouco de tudo e sentir-me-ia muito mais à vontade controlar do que ser controlado. Entre um abraço e um sentimento de irmão despeço-me do meu grande amigo, ficando quase com a convicção que certamente não o voltaria a encontrar tão cedo, mas a vida, a vida, sempre a vida, surpreende-nos, em cada esquina dobrada…
Depois da respectiva promoção, esfrego as divisas no chão, para não parecer um novato e sim velhinho de guerra e vou directamente para o Regimento de Infantaria, Sá da Bandeira, onde, devido às excelentes provas prestadas na E.A.M.A., peço para ingressar nessa bela Vila de Caconda, para onde aliás de imediato sou destacado. Para ali, CACONDA, só havia uma vaga e essa por direito próprio, pelas notas, conseguidas na recruta e como era o primeiro a escolher, nem hesitei. Relativamente perto de casa, estava como queria, passava o dia na pensão de Caconda, pensão do Sr. Lito, indo ao quartel de quando em vez para não dar muito nas vistas, embora me tivessem dado, toda a responsabilidade do PAIOL, DA SECÇÃO DE JUSTIÇA E DE INFORMAÇÕES SECRETAS. Nada mau, para um puto de 20 anos, nada mau… Uma odisseia, no mínimo. Na pensão LITO, a quem mando um abraço se me estiverem a ler, sou tratado que nem um LORD. O Lito e a sua esposa davam-se ao trabalho de terem a posta de Bacalhau assada e preparada para diariamente ser devorada às 7,30H, da manhã, posta de Bacalhau e um bife com um ovo a cavalo e respectivas batatas fritas, tudo isto muito bem regadinho com café com leite, à disposição, até quanto bastasse, ainda com pãozinho com manteiga (mensalidade de 1750$00, pequeno-almoço, almoço, jantar, cama e roupa lavada, caríssimo não?) …
Assim vou passando os dias…
Até que um dia, encontrava-me de Sargento de Dia, e estando no meu gabinete (lindo, não?) da Secção de Justiça, um cabo avisa-me, Furriel está lá fora, outro camarada seu, que foi destacado aqui para Caconda e pretende apresentar-se. O.K., vamos lá conhecer o homem. Entretanto o Cabo balbucia-me entredentes, o homem tem um cabedal que é de meter medo. Não acredito no que oiço porque de imediato me vem à cabeça que era o Carona (mais tarde baptizado por mim como sendo KIKO), que teria sido destacado para CACONDA. Não, penso, devo estar a sonhar o CARONA estará infelizmente nos pára-quedistas, impossível ser esse meu grande amigo. Chego à varanda e vejo com os olhos humedecidos pela emotividade da situação, o FERNANDO CARONA, ali especado à espera que alguém lhe pudesse dar as boas vindas. Grito-lhe e de imediato parto ao seu encontro, que numa confraternização de irmão de sangue se deliciam por se terem voltado a encontrar, sem imaginar, as histórias que iriam perpetuar naquela vilazeca do interior, e que histórias SANTO DEUS.
E como em todo o conto verídico há aquelas que naturalmente se podem falar e há e haverá sempre as outras que são tabu, de serem reveladas, pois por si só elas são de uma grandiosidade tão tremendamente forte que se fossem delatadas, certamente seriam, delapidadas do seu valor de preciosismo e tornar-se-iam como se de vulgaridades se tratassem, e quando no real nada disso sucede, dessas no entanto, não falarei.
Caconda era uma vila conhecida, por ser uma zona esotérica, como deverão e por uma questão de respeito a mim próprio e às intervenientes, apelidá-las-ei de Senhoras XXX. E esotérica porque corria por Angola inteira que havia uma água muito especial, nessa dita vila, que quem lhe a desse e caso se bebesse era casamento garantido.
Entretanto o Carona, desarrancha-se e começa por comer tb., na pensão do Sr. LITO e respectiva esposa. Ponho o BOM GIGANTE, ao par de todas as situações, e com o passar do tempo como nada há a fazer, informo-o como bom amigo, o cuidado a termos pelos convites que naturalmente surgissem, indo eu ao cumulo de lhe dizer que quando lhe oferecessem algo, o aceitasse sempre com a mão esquerda, maneira correcta de a água não fazer efeito, e cortar todo o mal que naturalmente pudesse conter, pois todos sabemos que não há bruxas, mas que existem, existem, isso não duvidem.
Começa a correr por Caconda entretanto a noticia que havia dois furriéis, solteirinhos, bons mocinhos, que nada tinham a ver com os outros porque estes eram mais finos, nem dormiam no quartel, e comiam na pensão LITOS, onde diariamente à hora do almoço, se começou a ver um movimento feminino demasiadamente inusitado, e muito distinto do que aquilo que até há bem pouco tempo se passava. Começam tb., a chover convites para festas particulares que duma forma subtil, vamos nos esquivando, aterrorizados pela tal dita água que podia contaminar, qualquer comida ingerida, lembrando no entanto eu, ao Carona, que se naturalmente nós fossemos, pegar tudo com a esquerda, não fosse o diabo tecê-las. Mas a muito custo, diga-se de passagem, sempre nos esquivámos com desculpas mais esfarrapadas e inocentes possíveis, pois os nossos 20 anos, sem a maturidade de hoje, eram uma catástrofe. E como havia tanta tentação de 30 e tantos anos… mas havia que aguentar, aquilo não estava para folias, e o casamento obtido daquela forma muito menos no n/ horizonte. Abro aqui um parêntesis, muito especial à Lucília, esposa do Carona, porque tenho a certeza que o ÓPTIMO GIGANTE KIKO, nada lhe escondeu, e ela na sua bondade certamente compreenderá tudo quanto se passou e aliás o que vou contar a seguir, já foi motivo de risota na sua bela casa, onde vivem.
Um belo dia, almoçava eu o NANDO, na pensão, quando aparece alguém a perguntar pelo furriel Flórido ou Carona.
De imediato uma mocinha aparece, trazendo um pudim de leite feito pelas Senhoras XXX, que nos diz, que as mesmas teriam muito gosto que nós o comêssemos como sobremesa naquele dia. Comovidos agradecemos e prontificamo-nos a provar o mesmo, assim que acabássemos de Almoçar. Findo o mesmo, olhamos para o pudim e dividimo-lo ao meio ou seja metade para cada um e vai daí a primeira colherada, eis que eu solto um grito que se ouve na pensão toda: Cuidado Nando, olha a água. O Nando de imediato pára e desatámo-nos a rir, mas pelo sim e pelo não, não houve pudim de leite para ninguém.
O Sr. LITO e a esposa, tinham nessa altura um cão que andava sempre solto no quintal da Pensão e vai daí o nosso bom iluminado Carona, propõe-me: Eh! Pá, se isto nos faz mal a nós, tb., certamente fará ao Cão, vamos-lhe dar a ver o que acontece, dito e feito. Chamado o cão, o mesmo não se faz rogado comeu o pudim inteirinho em menos de um fósforo, ou enquanto o diabo esfrega um olho…
Esquecemos o assunto cada um foi para o seu quarto, tratar da sua higiene pessoal, e sinceramente nunca mais nos lembrámos, nem do pudim, nem do cão, nem das Senhoras XXX.
Como sempre depois de uma soneca, uma hora, arrancamos para o quartel. A casa das ditas senhoras, ficava perto do mesmo e forçosamente teríamos de passar à porta. E foi aí que os nossos corações de homens de 20 anos, gelaram totalmente quando avistamos o cão a quem tínhamos dado o pudim, a espumar e a ladrar desenfreadamente, com o rabo todo esticado, mostrando um rosnar que nunca tínhamos visto naquele bicho que lidava connosco diariamente, num frenesim de loucura total, como se buscasse algo que ainda hoje não percebi o que seria, apenas que era possuído por força estranha e demasiadamente assustadora. DIREI MESMO ATERRADORA.
Gostaria que o meu grande amigo Carona fizesse a confirmação desta história.
Mas finalizo, que se não houvera, jamais houve festa que fosse frequentada por nós…
Foi um exemplo demasiadamente ATERRADOR, que tem o seu término, volvidos dias, quando o cão sem saber-se porquê, morre repentinamente.


Com cordialidade…
Até um dia destes,
*Eduardo A. Flórido
Edasilf@live.com.pt

28 fevereiro 2011

Estórias do Cubal. Ao Senhor Fernando Carona, por Carlos Canais

Sr.Fernando Carona
Meu Caro amigo, sempre te vi como um grande Senhor, porque tu eras maior que o resto da malta desse tempo e metias respeito!...sabes, talvez antes de teres vindo ao mundo (eu tenho 65 anos, no Cubal existia a Lei do Mais Forte). Tal e qual, portanto tu com certeza nasceste uns anitos depois, e então desconheces estes pormenores. Quem chegasse à nossa terra, tinha de ser testado da cabeça aos pés e havia sempre um chefe da manada que tinha essa função, testar os maçaricos. Comigo assim aconteceu e a vários níveis (caramba, arranjo sempre estórias), começando logo na escola quando cheguei ao Cubal pela 2ª vez em 1957 (a 1ª foi em 1947). Então tinha uma colega no colégio do Vitor Ribeiro da Silva que era a Marília Moreira (não sei se se recordam desta senhora), por acaso é quase minha vizinha também hoje, e como ia a contar, a mesma já me conhecia de Benguela, onde éramos mesmo vizinhos,e então a nossa amiga notou que eu não fui ao intervalo das aulas e por isso chamou-me de imediato à atenção, dizendo: Carlos, tu tens de ir jogar futebol ao intervalo das aulas, porque senão há um Senhor lá fora que te vai bater...eu achei imensa graça ao que ela acabara de dizer e comecei a rir, mas ela insistiu e eu tive de deixar a sala de aulas e saí como estava determinado. Quando coloquei os pés na rua, já havia por ali uma pequena confusão, que não entendi e nem estava para isso. Mas, e há sempre o maldito "mas", alguém se acercou logo de mim a perguntar-me se sabia jogar à bola...assustei-me com a "violência" que aquela pergunta me tinha sido dirigida, e de repente lembrei-me o que o bela da Marília me tinha dito, e respondi de imediato "SIM", e lá fomos jogar à bola. Azar do adversário,porque para se fazer a escolha deste jogador desconhecido, houve um certo burburinho, mas como estava o Manel do outro lado da equipa que ganhava sempre, o novo podia jogar pela equipa mais fraca. Bom, foi o bom e o bonito, porque os mais fortes não se entendiam e começaram na zaragata uns contra os outros. "Grande rivalidade" entre estas equipas, pensava o pobre do Canais, pois eu não me percebi de inicio que o problema já se estendia cá para o meu lado. Já estava a meter golos demais e não sabia é que tinha a culpa de não ter sido escolhido para a equipa que estava a perder...eles não tinham culpa de nada daquilo, pois desconheciam que eu já tinha jogado futebol infantil no Portugal de Benguela, por três épocas, mas não chegaram a saber deste pormenor, porque acho que naquele momento iam querer partir-me ao meio para deixar de haver confusão. Resultado, ganhámos por 6 -0 à equipa do Manel, e isso foi uma grande ofensa. Resumindo contei mais uma estória, só para explicar ao Carona porque o chamei de Senhor. O Manel naquela altura parecia o pai do resto do pessoal, pois era grande como tu e parecia um touro a bufar durante os encontros de futebol, que por acaso se realizavam da parte debaixo do adro da nossa igrejinha onde pontificavam as árvores, mas nós aproveitávamos esta situação porque para além de as fintarmos também fintávamos os adversários, quando antes não chocávamos contra as elas. E comecei a ter respeito pelos GRANDES. Está assim explicado o meu "trauma", Sr. Carona. Bom já deves ter entendido que isto foi mais um argumento para o Canais contar mais uma estória dos VELHOS TEMPOS.
Um abraço do Canais.

Outras estórias cubalenses, Por Carlos Canais

Aos Cubalenses
O meu amigo Eduardo que me desculpe, mas desta vez não vou comentar a linda narrativa que acabou de oferecer à "terrível" professora Olga, mas tão só contar também a minha estória, que por ironia do destino também faz parte o mesmo actor o Sr, Fernando Carona.
Eram uma vez três heróis que numa longínqua noite do ano de 1970, resolveram fazer uma caçada nocturna. Acontecia que o mais velho necessitava de arranjar alimento para os seus cães que aquela data se encontravam em casa do Sr Mário Paulo, familiar do Sr.Celestino e Arlete Guerra que bem conhecem concerteza. Combinámos sair por volta das 22 horas e arrancámos em direcção ao morro do Tumba, localizado por detrás da Fazenda Elisa. Ao chegarmos perto do local, notámos que alguém andava tal como nós a passear na noite Africana. Bom, por este motivo parámos quando circulávamos próximo de uma Fazenda de Sisal. Eu tinha deixado a guerra cerca de seis meses antes e por este motivo senti-me na obrigação de proteger os meus colegas de aventura e disse simplesmente para nos abrigarmos dentro de uma tonga de sisal e esperar pelos próximos acontecimentos. Nós seguíamos a nossa viagem na carrinha do Cunha que ia a conduzir e atrás estavam os atiradores, dos quais o Sr.Fernando Carona fazia parte. Bom, esperámos assim cerca de 20 minutos e como o inimigo não aparecia, decidimos arrancar em direcção ao nosso objectivo. Entretanto fomos obrigados a passar pelo interior da Fazenda,cujo nome não me recordo, onde se encontravam alguns nativos à volta de uma fogueira. Perguntámos se por acaso tinham visto alguém que se deslocava para ali ou que por aí tivesse passado, mas a resposta foi negativa. Como experiente guerreiro nesse momento enganei-me porque acreditei no inimigo e esse nosso pequeno descuido quase nos foi fatal. Entretanto seguimos viagem já mais à vontade, porque o perigo já tinha ficado para trás, mas era pura ilusão...porque no nosso regresso, depois de matarmos só um coelho, demos de frente com os faróis de um carro que nos encandeou. O Cunha que ia a conduzir, fez de imediato uma retirada estratégica, engrenando uma marcha atrás, mas esqueceu-se que iam dois infelizes na parte traseira do carro...e então fomos ao chão e deixei de ver o Carona, que por ironia do destino tinha caído e batido com a cabeça no chão e desmaiou.Parece que o fiscal de caça e o ajudante agarraram de imediato nele que teve de confessar quem ia com ele. Mas de inicio negou saber quem seriam os amigos. Entretanto foi preso e foi com o fiscal para depois confessar que o outro que conduzia o carro era o Cunha. Mas o inimigo não nos abandonou, porque como eu entretanto estava escondido debaixo de uma velha folha de sisal que tinha mais de dois metros de altura. eles procuraram aterrorizar-me dizendo que me davam um tiro, o que aconteceu alguns minutos depois. Por minha sorte não fui atingido, mas a bala atingiu a folha que estava por cima de mim, mas assustei-me um pouco. Eu não podia imaginar que fora da guerra também estava na iminência de ser atingido...e só não aconteceu por milímetros. Entretanto agora a guerra era comigo, porque não estava identificado e "porque tinham de apanhar esse sacana que estava escondido". Ali permaneci debaixo da planta de sisal talvez trinta a quarenta minutos e estava a dois metros do inimigo...mas eles tinham um osso duro de roer, porque depois de quase levar um tiro estava disposto a contra atacar e esperei a qualquer momento o segundo que talvez me levasse desta para melhor...mas não aconteceu e talvez também para bem deles...porque eu estava com uma arma de bala e via perfeitamente o fiscal e o ajudante delineados pelo luar que pronunciava a silhueta dos dois, mas não tive coragem sequer de pensar o que poderia acontecer. Eu estava inerte e assim continuei, mas apesar de estarmos numa noite de Junho em que o frio era intenso, transpirava abundantemente. Acho que me distraí um pouco embrenhado nos meus pensamentos e até já tinha pensado como havia de vender o meu Datsun 1600 S, para pagar as custas do Tribunal...depois talvez tenha acordado e notei que estava só. Levantei-me muito rapidamente, corri por uma picada dentro do sisal e para meu espanto espatifei-me num enorme buraco, mas quis o destino que não me ferisse. Tive de recobrar as forças, verificar se estava maltratado e como notei que estava bem, saí de lá a correr, tal como tinha entrado. Estava desejoso de chegar a uma ponte que passava o rio para a outra margem, para me safar em direcção a qualquer destino, menos aquele...mas a ponte estava ocupada pelos fiscais, que sabiam perfeitamente que aquele era o único ponto de passagem. Pois, para contrariar o rio tinha galgado as margens cerca de 100 m para cada lado e eu naquele momento estava no meio do rio sem notar. Sim, eram duas horas da madrugada e havia um foco constante vindo da ponte que me tentava localizar. Pensei e voltei a pensar o que fazer à vida, mas lá encontrei um meio de passar a noite...em cima de uma mangueira. Subi não sei como, mas senti-me muito protegido naquele momento, porque ali ninguém me via, e acordei às seis da manhã. Desci da dita mas o fiscal ainda permanecia por ali, mas eu não sabia o resto da estória. Então resolvi passar o rio bem cheio através de uns caniços e paus e consegui colocar-me na outra margem. Eu levava calçado umas botas de borracha de cano alto bem cheias de água e assim corri entre vinte e trinta Km. até à Fazenda Elisa. Quem me salvou foi o Fernando Pessoa que me levou até a casa. Entretanto o Cunha foi acordado à noite pelo Carona na presença do Fiscal, para que me fossem procurar ao sitio onde desapareci, mas eles disseram sempre que não me conheciam...uns valentes, porque este pequeno pormenor foi a nossa sorte. Eles foram perdoados pelo fiscal porque ainda eram jovens, pois só a mim que era um malfeitor é que eles queriam levar a tribunal...
Um abraço do Canais

25 fevereiro 2011

RELEMBRAR O CÓDIGO DE CONDUTA

Meus caros amigos e amigas,
Permitam-me, a todos relembrar o código de conduta do nosso blog:

Este blog foi criado com grande amor e com um único fim:
A partilha de emoções entre todos os Cubalenses e amigos do Cubal. Acredito sinceramente, que o mesmo fomente o debate saudável e possibilite novas ligações entre pessoas. Algo que está a acontecer dando-me, por isso, um enorme prazer. Como administrador deste blog informo que NÃO TOLERAREI, qualquer tipo de comentário que possa ferir a dignidade de quem quer que seja, bem como incitamento ao ódio relativamente a grupos com base na raça ou etnia, religião, deficiência, sexo, idade, posição social e orientação sexual, bem como ameaças directas de violência contra determinada pessoa ou grupo de pessoas. Penso que não será necessário a aplicação de um código de conduta para garantir "boas maneiras" , porque parto do pressuposto que todos somos pessoas de bem e dignas desta comunidade de amigos. Apesar disso, reitero a informação anterior de que NÃO TOLERAREI DE MODO ALGUM, comentários sobre a capa do anonimato ou não, que sejam no meu entendimento, ofensivos para qualquer um de nós. Creiam que tenho meios para detectar e apagar de imediato essas mesmas mensagens.
Quem não quiser acatar estas regras, convido-o a NÃO ACEDER OU A NÃO COMENTAR O NOSSO  http://cubal-angola.blogspot.com/
Obrigado
Ruca

23 fevereiro 2011

VIDA REAL Nº 2 - Eduardo A. Flórido


O passado presente…


À minha querida professora OLGA.

Ao meu bom amigo MANUEL FERNANDO CARONA.

De quando em vez, avivo a memória com factos que se tornaram de todo inesquecível, nem que por muito eu venha a persistir numa cruzada de atravessar desenfreadamente luas e sóis, sempre com uma febre louca de vida, cada vez mais intensa, me possa tentar fazer esquecer a maravilhosidade de ter pertencido a uma geração destemperada, na sua ânsia de descoberta de vida sentida, que inúmeras vezes nos delicia no  levantamento do véu que cobre o baú de memórias escondidas. Muitas certamente já carregadas de TEIAS, mas nunca de ARANHA e sim de saudades, difíceis de descarregar pela sua emocionalidade, num confronto com as actuais formas educacionais que nos vão distanciando, cada vez mais, como um barco ao sabor da maré, numa tempestade gigantesca de, faça-se o que se fizer, vivam sem darem a origem a uma sequencialidade, de governabilidade educacional que nos possam fazer traduzir e transmitir, aquela educação-mestra a filhos e por nós recebida de professores, oriundos de formações de diferença superior, onde a acompanhante “CINCO OLHOS”, régua maldita, para alguns (o meu caso), com que diariamente era brindado, sem contemplações, mas acabando esses bons Samaritanos (professores a sério), por me deixarem em paz por que inúmeras vezes depois de cinquenta reguadas, minimamente, em cada mão, com uma desfaçatez tremenda, dava-me gozo, levar a sala ao rubro, perguntando ao autor da façanha, se já havia terminado (ai que saudades), ou haveria continuidade, pois certamente eu poderia  esperar enquanto ele descansava, era o caos… além das mãos, já inchadas, pela dose de cultura aplicável, SEM MAGALHÃES, era bombeado com meia dúzia de chapadas, de uma aplicação em forma extraordinária e  a preceito que nem mesmo assim era motivo, para eu deixar de sorrir, já que tanto as doses, umas e outras, de cultura ensaiadas em laboratórios, presenciados por toda a turma, ávida de ver o colega apanhar nas fuças (só doíam as primeiras), valendo a verdade que nunca nenhum professor tenha tido o condão, de  ver uma lágrima vertida, no meu rosto…
Até que um dia…
E nestas coisas há e haverá sempre uma primeira vez, a professora Olga (Querida Professora, como gostaria de saber de si), sabendo da minha artimanha na psicologia da RÉGUA APLICADA e no meu modo de contra ataque, resolve dar-me uma dupla ensinadela, das grandes, que certamente jamais se esquecerá, ela e o outro dos autores da proeza, que já estará a sorrir, por se lembrar deste tão específico episódio, neste acto tão singelo de amizade…
Dª. Olga, chama-me ao quadro e trama-me, uma divisão com 4 algarismos, e eu começo desde logo, com uma carinha de carneiro mal morto, a esfregar as mãos nos calções (qual calças qual carapuça, aquilo era régua de dedicação machista numa escola mista), a pensar quando começaria o arraial. Logicamente haveria de começar o aquecimento antes de se dar inicio à partida, propriamente dita…
Mas a excelente professora, desta vez, pensa de um modo muito mais airoso, subtil até e contra_ataca de uma forma, direi quase “macabra”, com certamente a intenção de acabar e arrumar de uma vez por todas, como a minha arte de psicologia-filosófica e para espanto meu e restante turma chama o calmeirão, naquela altura, parecia o GOLIAS (+- 1,90m), o meu querido amigo MANUEL FERNANDO CARONA (amigo?), para ir fazer a conta ao quadro. O nosso amigo quase adivinhando, o que se iria passar de seguida, chega acompanhado de um sorriso sarcástico, e em meia dúzia de gizadelas, resolve a divisão. E eis que a minha querida mestra, sem papas na língua, se vira para o CARONA e lhe diz, depois de lhe passar a régua para a mão: NANDO, dá cinco reguadas ao Eduardo, para ver se futuramente ele não se esquece de fazer contas de dividir. Santo Deus, pensei, não ser merecedor daquela barbaridade. Minimamente ficaria sem braço, tal a ferocidade vislumbrada, ferocidade de prazer sádico, na face daquele que, ainda hoje me dá o privilégio de ser um bom e grande amigo.
O Carona acaricia a régua e eu vejo aquele monstro (com todo o respeito NANDO), armado a preparar-se para me dar cabo, do braço, sem se lembrar das tropelias, que quando saíamos da escola fazíamos em conjunto.
Quis o destino que eu ficasse de frente para a professora, ficando o castigador de costas para a mesma, dizendo-me esta, se queria, ver se me continuava a rir, depois da flagelação, que o meu excelente (?), colega me iria prestar.
Sinceramente pensei, saio daqui maneta. Ao Carona, nunca o tinha visto tão feliz, sorridente, preparando-se para tão tremendo acto lúdico. Estico a mão, fecho os olhos, e como sempre em situações difíceis peço a Deus que não me abandone. Muito a custo consigo abrir um olho e vejo o nosso amigo, a fazer uma curvatura de 180º, com a régua, ou seja com o seu pequenino braço, salvo seja (safa), penso e deixo-me estar com a mão quietinha, antes porém olhando para a professora Olga, que com um sorriso tem a desfaçatez de me piscar o olho, como a transmitir-me que aquele seria o dia que ela gostar-me-ia e ver, a voltar aos convites e esperar pelo descanso dos autênticos regueiros (homens da régua) …
Chegado o momento o Carona dispara, felizmente era a primeira vez que praticava aquele exercício, que nada tinha a ver com contas de dividir, e sim mais com regras de cálculo, e todos sabemos que sem treinos não há habilidosos, nem habilidade que nos salve, mas se atentarmos à particularidade foi exactamente essa a minha salvação, quando a régua (a bala do atirador), passa junto do alvo (a minha mão), esta até abanou, devido à deslocação do ar, porém sem o mínimo toque já que o meu querido colega falha escancaradamente e sem que ninguém o estorvasse, pois não era preparado para aquelas andanças e DEUS conseguiu ouvir as minhas preces. Mas o mais bonito ainda estava para acontecer… Sem encontrar a resistência do destino (a minha querida mão), a régua na sua marcha imparável, vai ao joelho do NANDO, e de imediato lhe abre um grande corte no mesmo, saltando-lhe a régua da mão, indo directamente também ao joelho da professora OLGA coisas do raio), fazendo-lhe tb., um grande golpe, tendo logo de seguida ela (Professora Olga) e o meu querido amigo (Nando), recorrido ao SINDICATO, onde o bondoso Enfº Sr. Costa, de uma só vez, se deu ao luxo de fazer, o curativo de dois joelhos, perante as gargalhadas que eu soltava quando os dois chegaram dos seus respectivos curativos, feitos no local acima referenciado. Eu vencera, mais uma vez, e de uma cajadada matara, não dois, mas sim três coelhos.
O meu querido colega CARONA, nunca mais se mostrou tão afoito, em dar reguadas aos colegas, a minha querida professora OLGA, provou do seu próprio veneno, e com aquela professora, a terrível “CINCO OLHOS”, nunca mais foi usada naquela sala de aulas.
Esta VIDA REAL, penso ter acontecido, na 3ª ou 4ª Classe, ano 62 ou 63, (ESCOLA PRIMÁRIA Nº 40), se a memória não me atraiçoa…

Voltarei em breve…
Um abraço a todos,

Até lá.
*Eduardo A. Flórido  

Comentários da Lourdes Morais

Ruca

Faço votos para que estejam todos bem. Ruca já não escrevo há muito tempo. E como a saudade bateu à porta aqui estou de novo. Olha gostei muito do que a Olga Valadas escreveu em 1993 e agradeço à Nanda
Valadas que compartilhou com todos uma coisa tão bonita. Eu sempre soube que a Olga cantava muito bem mas sou franca, não lhe conhecia o dom da escrita. Não me admira que a filha Isabela escreva tão bem. A Nanda também escreve muito, muito bem, só que agora anda um pouquinho preguiçosa. A família Valadas tem esse privilégio: escrever bem. Também adorei o que o teu tio Eduardo Flórido escreveu e espero que continue a fazê-lo para nos deliciar a todos. Agora só falta mesmo o nosso amigo Canais, meter a mão à obra e começar a escrever, pois ele tem também o dom da escrita Gosto de ir ao n/Cubal e ter sempre assunto para ler. Claro que fico sempre com um nó na garganta e com as lágrimas no canto do olho, mas isso é um defeito meu. Também gostei de ver as fotos que a Graciete Cabral e a Emília Cunha mandaram.
Só foi pena a Emília ter ficado sem o seu querido marido. Quero apresentar à Emília os meus sentimentos, mas a vida é assim mesmo. Mas são coisas que custam muito. Também vi alguma coisa escrita pelo Luís Monteiro, que conheci muito bem, pois andamos no colégio da D.Cecília. Também me lembro muito bem da irmã dele a Teresa Monteiro. Mando beijinhos para eles. Também vi o que o filho do Fernando Matos escreveu. Eu também fui colega do Fernando na D.Cecília. E também vi o pedido dos filhos do Mandinho ( grande jogador ) que foi meu colega na Câmara Municipal do Cubal.
Espero que os cubalenses continuem a dar notícias. Ruca muito obrigada por continuares a dar-nos notícias dos nossos amigos. O que fariamos sem ti?.Andávamos sem saber nada dos cubalenses. Mais uma vez obrigada . Beijos para todos os cubalenses.
Por hoje é tudo. Beijos para a Xana e teus pais. Um abraço do Morais. De mim recebe um beijo muito grande da amiga
Lourdes Morais