10 janeiro 2008

A ALMA DO CUBAL

O Ruca colocou-me um enorme problema ao convidar-me a escrever algo aqui.
Este sítio é mais do que um conjunto de fotos. Do meu ponto de vista é o centro da alma cubalense.
Depois de muito reflectir, resolvi colocar dois poemas nunca mostrados a ninguém. Perceberão porquê.
A duas pessoas que me dizem muito.


ANOITECE
(A meu Pai)

Anoitece
E o céu cobriu-se de mil estrelas
Lá muito longe, entre Rigel e Altair
Encontro aquela que sempre procuro
Nova, com a luz de milhões de velas
Acendeu-se, quando decidiste partir
E brilha intensamente no céu escuro
Anoitece
E quando olho fixamente essa estrela
Sinto que ficou tanto, tanto por dizer
Que nem sei bem por onde começar
Sei que tenho de preencher esta tela
Com cores que te possam dar prazer
Que possam mostrar-te o sol e o luar
Anoitece
Penso em tudo aquilo que me deste
Pitágoras e o milagre da hipotenusa
Arquimedes mergulhando no banho
Sandokan, Cyrano, o princípe Oreste
Neruda, Leonardo e a sua bela musa
Chopin, Galileu, África sem tamanho
Anoitece
Sei que a natureza tem horror ao vazio
Sei que a gravidade nos impede de voar
E que varia na razão inversa da distância
Sei que temos sempre a vida por um fio
Sei que deste tudo o que tinhas para dar
Sei tudo isto que aprendi desde a infância
Anoitece
Deste-me tudo sem pedir nada em troca
Apenas pelo puro prazer de me ver crescer
Ensinaste-me que o sonho comanda a vida
Ensinaste-me a ver que não há fio sem roca
Ainda assim, sinto que ficou tanto por dizer
Tanto, que sinto permanentemente esta ferida
Anoitece
Aproveito para te dizer o que me vai na alma
Que deveria ter dito antes e já não pode ser
A verdade é que só há pouco tempo percebi
Como a luz do teu mundo era doce e calma
E só agora ganhei coragem para te dizer
Que gosto muito, muito, muito de ti.


MEU IRMÃO

De madrugada
A noite ainda cintilava de estrelas
Destacou-se do bando
E voou
Um voo alto, definitivo, sem retorno
Para lá das últimas cordilheiras
E
Acendeu uma candeia no tecto do céu
Mais uma
Junto a tantas outras
Derramando luz no nosso caminho
Recordando quem somos
Ausência
Tantas ausências
Estalam no meu peito
E
A alma quase verga
Na saudade roendo em cada dia
Sonho que voa serenamente noutros bandos
Aproveitando os ventos de feição
Esperando por nós
Um dia, juntos de novo
Voaremos sem pressas
No acolhedor azul infinito.
Um dia...

Henrique






3 comentários:

Rui - "Ruca" disse...

Caro Henrique,
Muito obrigado por partilhares, neste nosso blog, algo que te é tão querido e pessoal.
Fico sem palavras pela beleza daquilo que transmites.
Um abraço
Ruca

Anónimo disse...

RUI - "RUCA", obrigado pela oportunidade de aqui estar. Parabéns pelo trabalho Histórico que estás a firmar não só pelo nosso CUBAL mas tb pela excepcional participaçao para o futuro de uma zona de Angola.
A minha chapelada e um kuata peka.
**
A ti meu Querido irmão Henrique, para além da grande qualidade de estilo do poema AO MEU IRMÃO, quero contigo partilhar a emoção por que me fizeste passar. um xi-coraçao e obrigado por mais este momento de partilha e Solidariedade.
Necas

Rui - "Ruca" disse...

Meu Caro Necas,
Mto obrigado pelas tuas palavras.
Se tiveres fotos ou outros documentos, estás convidado (nem era necessário o convite) EM PARTILHAR E PARTICIPAR.
um abração
ruca